O Meu tipo de ateismo - A caverna do ateu e o poder ilusório de Deus.
Por: NadaSei
A maioria aqui deve estar familiarizada com o mito da caverna, de Platão, nele é feita uma analogia sobre como nossa realidade pode ser distorcida e como a ciência pode remover essas distorções.
Ciência nesse caso, como sinônimo de "conhecimento" e não no significado moderno mais conhecido dessa palavras.
O mais interessante no mito é como a analogia transmite a intensidade da ilusão, a grande diferença entre as sombras e o mundo real.
Platão acaba citando o que é conhecido no hinduismo como sendo um dos três véus de Maya, no caso do mito, ele descreve parte do Maya mental.
O interessante é que se eu for tentar falar com alguns ateus sobre o véu de Maya, talvez eles o conheçam como sendo o poder ilusório de Deus, pois é assim que os três véus de Maya são mais conhecidos entre os religiosos.
Sendo Maya o poder de Deus e sendo isso um conceito religioso, ao tentar falar sobre isso com esses ateus, eles acabam pensando que isso é besteira, pura crendice que não merece atenção... Uma besteira como o karma e outros conceitos religiosos...
Já se eu for falar sobre o mito da caverna, vou conseguir muitos comentários interessantes por parte desses mesmos ateus.
Se o mito da caverna descreve um dos véus de Maya, porque ao tentar falar sobre o Maya com esses ateus tudo fica difícil?
O problema está no dogmatismo e no achar que sabe, quando na realidade não sabe.
Também é interessante notar que esse tipo de ateu, normalmente também está familiarizado com a frase "só sei que nada sei" e suas implicações, e por isso, pensa estar imune a esse erro.
É interessante também que essa frase encontra seus equivalentes nas religiões, como por exemplo, em um dos versos do Tao Te King, um dos livros sagrados do Taoismo.
Muito do que se aprende com a filosofia e psicologia, também se aprende com a religião, além de outras coisas que, só aprendemos na religião.
A religião é uma fonte de conhecimento como qualquer outra (e não só ela, mas linhas místicas também), mas na cabeça desses ateus, a religião vira apenas crença sem sentido, estórinhas pra boi dormir, crenças pra pessoas sem muito conhecimento e/ou sem capacidade de questionar e raciocinar sem cair em erros e falácias.
Uma das coisas que leva esses ateus a pensar assim, é o "pensar que sabe o que é religião", na realidade pouco sabem sobre o assunto... mas acham que sabem.. esquecem que pensar que se sabe algo, é como padecer de um mal. (como diria Lao Tsé).
Não fiquem bravos, nem todo ateu é assim, mas uma boa parte deles cai nesse erro quando o assunto é religião.
Isso nem é um erro muito absurdo, é um erro comum e facilmente justificável, uma ilusão apoiada pelo véu de Maya, criada e disseminado principalmente pelos próprios teístas... esses ateus apenas se deixam cegar por essa ilusão.
Por mais incrível que pareça, na religião encontramos a explicação para essa questão.
Veja, quando eu falo sobre a existência dos três véus de Maya que iludem os homens, eu estou dizendo que não podemos acreditar nas coisas, pois existe no mundo uma ilusão que engana nossas percepções, distorce nossa realidade.
Na própria religião encontramos esse alerta.
Bem, qual o problema então?
O problema é que alguns ateus e grande parte dos teístas, olham para a religião, mas não a vêem de verdade... Enxergam apenas sua sombra e, como os prisioneiros da caverna no mito de Platão, pensam que essa sombra é a religião em si. Esse é o véu de Maya mental agindo.
Nesse caso o teísta segue essa sombra como um gato peseguindo a própria sombra, sem perceber que aquela sombra não é real, enquanto o ateu percebe que a sombra não é real, mas comete o erro de achar que não existe um objeto real criando aquela sombra.
Quando o ateu tenta dizer ao teísta que aquilo é uma sombra, o teísta não se convence, pois acredita que aquela sombra é real. O Ateu fica inconformado com isso, não entende como alguém pode não perceber o que é tão obvio.
O interessante é que quando alguém tenta dizer ao ateu que, apesar da sombra não ser real, ela é uma sombra formada por um objeto real, o ateu também não se convence, pois acredita que nenhum objeto está formando aquela sobra, acredita que a sombra é tudo o que existe. (ele comete um erro semelhante ao do teísta, mas não se dá conta disso).
Ele "pensa que sabe" o que é aquilo, quando na realidade não percebe que ele só conhece a sombra, mas não faz idéia do que seja o objeto real.
Bem, o mito da caverna fala sobre como o conhecimento nos ajuda a eliminar as ilusões e as crenças, e nos permite conhecer a realidade das coisas.
No mito aqueles que só conhecem as sombras, estão aprisionados na caverna.
Isso inclusive me lembra uma frase de um religioso muito criticado: "Conheceis a verdade e ela vos libertará".
Ela me parece bem pertinente nesse ponto do post.
A proposta da religião é entre outras coisas, nos permitir conhecimento de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, um dos objetivos é a verdadeira ciência, o outro é a verdadeira liberdade.
Principalmente em religiões orientais, um dos assuntos mais falados é a ilusão em que vivemos e o longo caminho que temos que percorrer para nos livrarmos dela.
O conhecimento elimina ilusões, religião é conhecimento e, por isso, elimina ilusões.
É inclusive interessante ver alguns ateus que, após estudar filosofia e, por buscar a filosofia oriental, acabam estudando um pouco de Budismo, Taoísmo, ou Confucionismo, percebendo o quanto de conhecimento existe nessas fontes, terminam por NEGAR que sejam verdadeiramente religiões... "São na verdade um tipo de psicologia misturada com filosofia a moda oriental", dizem eles...
Eles se recusam a acreditar que tal conhecimento possa ser adquirido na religião.
Praticamente todo mundo cai nesse erro quando o assunto é religião, mas um dia tem que se livrar dele.
Basta não se apegar a crenças ou a pontos de vista dogmático, basta ter humildade e saber que sempre erramos e, por mais inteligentes e estudados que sejamos, sempre nos deixamos cegar por todo tipo de ilusão e sempre temos algo novo a aprender.
O mais importante é não ter apego a idéias pré estabelecidas, mesmo porque, religião exige um estudo e pratica que poucas pessoas tem.
A maioria das pessoas desse fórum que tiver a minha idade (27 anos), estuda matemática e ciências já há uns 20 anos, nada mais natural que tenham um bom conhecimento sobre as ciências, assim como nada mais natural que não tenham o mesmo tipo de conhecimento sobre a religião.
A religião necessita do mesmo estudo e pratica que a matemática, por exemplo... Não ser um grande conhecedor do assunto é extremamente natural, principalmente em um mundo onde a sombra da religião nos é apresentada desde que nascemos, por pessoas como os Edirs Macedos da vida e, o máximo de conhecimento que costumamos ter, é de algumas passagem da confusa bíblia cristã (que depende MUITO mais da pratica que do estudo em si), ou de algumas coisas ditas por outra ciência, como pela historia, por exemplo.
É assim que o Maya mental sobre a a religião é criado em nossas mentes e nos afasta da verdade... Nos iludindo com verdadeira maestria, a ilusão é perfeita e, por isso, muitos se recusam a acreditar que possa realmente ser apenas uma ilusão.
Uma coisa que todo mundo que pretende ser cético deveria fazer, mesmo que não tenha interesse em conhecer um pouco mais sobre religião, é compreender que como sabe pouco sobre o assunto, deve evitar julgamentos sobre o tema e, reconhecer ao menos a "possibilidade" e "viabilidade" da religião como fonte de ciência. A religião se baseia em fatos, não em crenças.
Esse tipo de ateu que eu cito, é justamente o tipo de ateu que eu mesmo já fui um dia e, o erro da "pensar que sabia" sobre o assunto, foi um erro em que cai... Minha surpresa foi grande quando comecei a estudar o assunto...
Só pra finalizar, vou até contar como foi.
Eu tinha acabado de ler o livro "A Queda" de Albert Camus, um livro fantástico diga-se de passagem, mas de um existencialismo pesado e muito fatalista em suas observações, pois não propõe nenhum tipo de solução ao fato apontado...
Bem, achei o livro bastante "pesado" e andava lendo e assistindo muita coisa "pesada" nessa mesma época, de fato eu sempre me identifiquei muito com o pensamento existencialista e isso era bem forte nessa época... então achei um livro sobre "meditação" nas coisas de meu falecido pai.
Bem, eu pensei: "porque não ler uma coisa bem ZEN pra aliviar a carga desse ultimo livro, ao menos vou me divertir com as bobagens disso aqui e ver o tipo de falácia que usam..."
Eu não podia estar mais enganado, minha primeira surpresa foi perceber que o livro era ainda mais pesado que o A queda e, que não tinha nada de ZEN naquilo.
A segunda surpresa foi perceber o quanto aquilo era racional, mesmo que fosse irreal, era extremamente lógico e não caia em falácias e erros de raciocínio como eu pensava, eram apenas coisas bastante lógicas e, apesar de altamente improváveis, eram ao menos "possibilidades" bastante racionais.
A terceira e mais agradável surpresa, foi perceber um nível alto de conteúdo filosófico, de conhecimento sobre a mente humana e de verdades sobre o comportamento humano apontadas no livro.
Depois disso acabei tendo o interesse em "investigar" melhor o tema religião e deu no NadaSei que vocês conhecem aqui... (isso é um incentivo, não uma ameaça
