Apocaliptica escreveu:Interessante isto de perceber quando estamos agindo por influência externa. Assumir estas escolhas é uma coisa que se adquire com o tempo. Fazer o que queremos, inclusive admitindo que os outros nos influenciaram, é também agir por vontade própria. Na verdade, seria uma escolha entre tantas, a que nos pareceu mais adequada, mesmo sendo para nos enquadrar em algum contexto que seja também de nosso interesse.
Só que ai já é outra estória né Apoc?
Seria como ter que escolher entre dois caminhos, você acha a estrada da direita melhor, o grupo discute e escolhe a da direita, você racionalmente prefere esse caminho e concorda com o grupo que é a opção mais adequada mesmo.
Eu me refiro a coisas mais complexas...
Tipo, uma vez minha irmã ficava fazendo pressão em uma menina e em mim, para gente namorar, porque ela gostava da menina (mesmos ela sendo casada), mas em menos de duas semanas, a menina virou o diabo aos olhos dela, unicamente por pressão das pessoas que trabalhavam conosco.
Vou resumir a historia.
Uma garota onde eu trabalhava tinha um marido, como o trabalho era noturno e ela voltava pra casa muito tarde, ele começou a se mostrar muito ciumento e passou a agredi-la.
Ele queria que ela fosse demitida, então um belo dia, apareceu lá (era um negão de 1.85, careca e bombadão), e ameaçou o segurança do local (outro armário), disse que sabia que ele era um cara legal, mas que daria trabalho pra ele, que iria distribuir tiro no local e que tinha pena de quem trabalhava lá.
Isso deixou os funcionários com medo, a primeira reação do gerente foi dizer: "Que pena, vou ter que demiti-la". Claro, foi apoiado pelos funcionários.
Todos ficaram putos com o negão e queriam que ele fosse lá novamente para lincha-lo...
O patrão foi da política de apoiar a garota e disse que cachorro que ladra não morde.
Bem, ela continuou trabalhando, um dia que saiu muito tarde e ao chegar em casa, apanhou novamente, dessa vez, ao ponto de decidir sair de casa.
Saiu pra trabalhar normalmente, mas sabendo que não voltaria.
Contou pro pessoal do trabalho e todos se mostraram comovidos, mas ninguém quis se envolver, preferiram se omitir, visto que não era problema deles. Bem, o cara já tinha ameaçado e o pessoal ficou com medo da reação do cara agora que a garota tinha decidido larga-lo.
Eu, entretanto, preferi não me omitir e, já que ela não tinha onde ficar, levei-a para minha casa.
Até ai tudo bem, era uma menininha de 18 anos, muito imatura e sonhadora, mas divertida e que se dava bem com todos no trabalho, principalmente com o gerente.
Eu também, religioso celibatario, gente fina com todos, sempre prestativo, inteligente, saia pro bar com eles pra bater papo e tinha amizade e bom relacionamento com todos no salão.
No dia seguinte, quando ela e eu chegamos pra trabalhar, todos estavam de cara virada com ela e, vieram tirar satisfação comigo, dizendo que eu não deveria me envolver, que ela não valia nada, que eu estava me metendo em assunto que não era da minha conta, etc... Enfim, eu disse que ninguém é obrigado a se meter e, que cada um deve cuidar de sua própria vida, mas que se eu queria deixar ela ficar em casa até arrumar outro lugar, isso era problema meu e de mais ninguém.
Chegou ao ponto de, nesse mesmo dia, eu me irritar e larga o pessoal no meio do serviço... o mesmo ocorreu com ela, em um momento diferente e por um motivo diferente.
Minha irmã, trabalhava lá, mas nessa semana estava de folga, quando soube da historia, ficou feliz em saber que ela estava em casa... disse mais uma vez que eu deveria aproveitar agora que ela estava solteira, pra namorar com ela...
Após voltar ao trabalho, foi rapidamente contaminada pelo grupo.
O resultado final, é que a garota virou o demônio na boca das pessoas, era mentirosa, não valia nada e, ou ela estava me usando (o panaca apaixonado) ou eu (o espertalhão tarado) estava ajudando ela porque queria "come-la" (alias, nossa recém formada amizade, também gerou ciúmes, pois ela era a garota mais desejada do local, e olha que eu contei que era celibatário).
Em fim, a garota acabou sendo demitida duas semanas após largar o marido. Todos se voltaram contra mim (inclusive minha irmã) e o marido dela, virou o coitadinho da história...
Alguns chegaram a comentar: "Olha o que essa menina faz com o coitado, ele vem lá de longe todo dia implorar para que ela volte pra ele... tadinho, ela não sente nem pena dele..."
Eu é claro, fui demitido um mês depois dela.
O interessante, é que como éramos divididos em dois setores, (salão e cozinha) as reações nos dois setores foram diferentes.
A cozinha apenas se omitiu, mas mantiveram amizade com ela e comigo (mesmo porque eu era muito amigo da chefe de cozinha), o salão se voltou contra nós dois, o líder era o gerente medroso que queria demiti-la desde a ameaça do cara.
O interessante é que entrou um cara novo no salão (que hoje é o novo gerente), bem no meio da confusão, quando ela já estava em minha casa.
Como ele acabara de entrar, ficou imune ao grupo e, como estava fazendo amizade com todos, inclusive com nós dois, por vezes me perguntava o porque de tanto drama em cima da menina e principalmente, porque o drama comigo, sendo que eu era gente fina com todos.
Enfim, minha irmã fazia parte do salão, era muito amiga do gerente que era o que mais tinha medo e, que fez mais pressão na menina e em mim lá dentro, bastou um dia de trabalho, para minha irmã esquecer que vivia dizendo para gente namorar e, passou a engrossar as vozes querendo a menina fora de lá (e passou a fazer a mesma campanha em casa).
Serio, é o típico comportamento irracional que leva a coisas como a insanidade nazista, só que em menor escala.
Veja que chegaram ao ponto de transformar a coitadinha que todos tinham pena, em diabo e, o cara que ameaçou todo mundo e que estavam querendo linchar, virou o coitadinho... Essa transformação toda ocorreu em apenas duas semanas... Loucura!:emoticon197:
O caso da minha irmã, ilustra bem a diferença entre opinião pessoal e pensamento imposto pelo grupo.