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Para acadêmicos, EUA hoje hostilizam a ciência

Enviado: 31 Out 2005, 14:44
por Aurelio Moraes
Uma acirrada discussão sobre o ensino da evolução nos colégios norte-americanos está provocando uma crise de confiança entre os cientistas, e alguns importantes acadêmicos alertam que a própria ciência está sendo atacada.

Em menos de um mês, o presidente interino da Universidade Cornell e o reitor da Escola de Medicina da Universidade Stanford se manifestaram sobre o assunto, alertando em termos dramáticos para as consequências em longo prazo.

"Entre as forças mais significativas está a maré de sentimento anticientífico que parece ter seu núcleo em Washington, mas se estende por toda a nação", disse Philip Pizzo, da Stanford, em carta postada no site da escola em 3 de outubro.

Em seu discurso sobre o "estado da universidade", na semana passada, Hunter Rawlings, da Cornell, falou do desafio para a ciência representado pela tese do "design inteligente", que se opõe à teoria da evolução, amplamente aceita pelos cientistas.

Para Rawlings, essa polêmica está ampliando as divisões políticas, sociais, religiosas e filosóficas na sociedade norte-americana. "Quando uma divisão ideológica substitui a troca de informações, resulta um dogma, e a educação sofre", afirmou.

Defensores do "design inteligente" argumentam que certas formas da natureza são complexas demais para terem surgido da seleção natural. Seriam, portanto, obra de um "designer", que pode ou não ser identificado como Deus.

ÀS TURRAS COM BUSH

Nos últimos cinco anos, a comunidade científica travou várias polêmicas com o governo Bush por causa de questões tão diversas quanto o aquecimento global, a pesquisa com células-tronco e a proteção ambiental. Importantes cientistas também acusaram o governo de politizar a ciência, tentando manipular dados para suas necessidades e ignorando outras pesquisas.

Cristãos evangélicos e fundamentalistas construíram uma poderosa influência dentro do Partido Republicano, e nenhum de seus membros, nem mesmo Bush, pode se dar ao luxo de ignorar as opiniões desse grupo.

Isso ficou muito claro neste ano no caso Terri Schiavo. Republicanos aprovaram no Congresso uma lei que obrigaria os médicos a manterem a mulher viva em um estado vegetativo persistente, contrariando o desejo do marido dela. O próprio Bush na ocasião se manifestou a favor de uma "cultura da vida". Por ordem judicial, Schiavo deixou de ser alimentada e morreu.

O ensino ou pelo menos a menção ao "design inteligente" nas aulas de biologia está em jogo num tribunal da Pensilvânia e em várias secretarias de ensino do país.

As autoridades educacionais de Dover, na Pensilvânia, estão sendo processadas por pais de alunos, com apoio da União Americana das Liberdades Civis, por terem obrigado as escolas a lerem para seus alunos nas aulas de biologia uma breve nota informando que a teoria da evolução não é comprovada e que há falhas nela.

A nota mencionava o "design inteligente" como uma teoria alternativa e recomendava aos alunos que lessem um livro que a explica melhor.

O biólogo Kenneth Miller, da Universidade Brown, acha que a retórica do movimento antievolucionista já conseguiu distanciar a ciência de uma grande parte da população que segue o fundamentalismo cristão.

"Isso está alienando os jovens da ciência. Basicamente diz a eles que a comunidade científica não merece confiança e que é preciso abandonar os princípios da fé para se tornar um cientista, o que de forma alguma é verdade", afirmou.

Por outro lado, o acadêmico conservador Michael Novak, do American Enterprise Institute, acha que a única forma de reaproximar ciência e religião é ensinando o "design inteligente" nas escolas.

"Ter um antagonismo entre ciência e religião é loucura", disse ele em um fórum sobre a questão nesta semana.

Os defensores do "design inteligente" negam ser contra a ciência e afirmam ter seguido um método científico para chegar às suas conclusões.

AMERICANOS REJEITAM A EVOLUÇÃO

Há anos existe um relacionamento turbulento entre os norte-americanos e as principais teorias científicas. Neste mês, por exemplo, uma pesquisa da CBS mostrou que 51 por cento dos entrevistados consideram que o homem foi criado, já na sua forma atual, por Deus. Outros 30 por cento acham que a criação foi guiada por Deus. E só 15 por cento acham que os humanos evoluíram de formas menos avançadas de vida ao longo de milhões de anos.

Outras pesquisas mostram que só um terço dos norte-americanos adultos aceitam a teoria do Big Bang como origem do universo, embora esta seja virtualmente inconteste entre os cientistas de todo o mundo.

"Quando perguntamos às pessoas o que elas sabem de ciência, apenas pouco menos de 20 por cento se mostram cientificamente alfabetizados", disse Jon Miller, diretor do Centro de Comunicação Biomédica da Universidade Northwestern.

Ele acha que a ciência, especialmente a matemática, é mal lecionada na maioria das escolas, o que leva à falta de bons cientistas e à ignorância científica em geral.

Os alunos norte-americanos se saem relativamente mal em competições internacionais de matemática e ciências. Em 2003, por exemplo, os estudantes dos EUA ficaram em 24o. lugar numa prova de matemática para pessoas de 15 anos, abaixo de colegas de muitos países europeus e asiáticos.

Os cientistas lamentam a falta de candidatos norte-americanos qualificados para cursos de pós-graduação e doutorado. Atualmente, cerca de um terço das vagas são preenchidas por alunos estrangeiros.

Para Miller, a insistência de boa parte dos norte-americanos na tese da criação divina terá implicações políticas no futuro.

"O século 21 será o século da biologia, e vamos nos confrontar com centenas de importantes questões de políticas públicas, que exigem alguma compreensão de que toda a vida está interconectada."

http://noticias.terra.com.br/ciencia/in ... 38,00.html

Re.: Para acadêmicos, EUA hoje hostilizam a ciência

Enviado: 31 Out 2005, 19:34
por Huxley
Existe mais americanos que acreditam que os homens conviveram com os dinossauros que aqui no Brasil.O triste é que muitas pessoas acreditam que não existe encantamento em se descubrir os mistérios do mundo aprendendo ciência de boa qualidade.Acham que apenas a religião é capaz disso.Uma prova disso é que os livros de Carl Sagan vendiam menos que os relinchos imprimidos em celulose por parte de astrólogos.E vale também destacar que nos EUA não existe uma religião predominante, aí a exploração da fé é uma atividade empresarial bem eficiente,contribuindo para a alienação religiosa.

Re.: Para acadêmicos, EUA hoje hostilizam a ciência

Enviado: 31 Out 2005, 19:48
por DarkWings
Em outras palavras: o futuro é escuro.

Re.: Para acadêmicos, EUA hoje hostilizam a ciência

Enviado: 01 Nov 2005, 08:12
por Aurelio Moraes
Isso só vai mudar quando os Vulcanos nos visitarem...

Enviado: 01 Nov 2005, 13:31
por Carlos Castelo
É, a nação mais poderosa do mundo está cada vez mais fabricando um bando de alienados. Aqueles que nascem num ambiente religioso extremista e que crescem estudando cracionismo nas escolas, muito dificil irá procurar uma carreira cientifíca.

A situação piora ainda mais quando se tem um presidente como esse Bush, O vaca louca, ditando as diretrizes da nação.

Re.: Para acadêmicos, EUA hoje hostilizam a ciência

Enviado: 01 Nov 2005, 13:51
por aknatom
Viram que ele quer por mais um extremista de direita no supremo tribunal? Daí a coisa fedeu...

Re.: Para acadêmicos, EUA hoje hostilizam a ciência

Enviado: 04 Abr 2007, 16:54
por Pug