Dante, the Wicked escreveu:Bem... nem tudo que se alega ser um teste crucial realmente o é. Uma pena cair mais vagarosamente que uma bola de bilhar não falseia a proposição "a velocidade de queda dos corpos independe de suas massas", já que a deve-se levar em conta a resistência do ar. O teste crucial deveria ser feito no vácuo ou com corpos que oferecem baixíssima resistência. Da mesma forma, aquele que mostrar uma ave que em muito lembra um corvo fora o fato de suas penas serem brancas, antes de alegar que "todos corvos são pretos" é falso, deve antes provar que aquilo que tem na gaiola é mesmo um Corvus corax.
Eu julgo que o exemplo que cedi se adequa como "teste crucial" popperiano.
O problema é que o empreendimento científico possui uma parte humana que não pode ser ignorada, conforme Kuhn analisou e descreveu. Cientistas também possuem tradições e muitos deles irão responder aos dissidentes invocando hipóteses auxiliares de seu modelo para explicar as anomalias.
Dante, the Wicked escreveu:Quanto a "as primeiras anomalias são resolvidas com hipóteses auxiliares", digamos que a própria teoria do Popper pode ser "salva" alegando que ao adicionar qualquer hipótese a uma teoria, tem-se uma nova teoria.
Assim, uma teoria T ao ser falseada e salva por uma hipótese auxiliar, não é mais a teoria T, mas sim a teoria T'. depois ter-se-ia as teorias T'', T''', T'''' etc. Até o ponto que não há mais o que salve a teoria.
Para Lakatos, as hipóteses auxiliares são parte integrante do "projeto de pesquisa" do paradigma vigente, que esperamos que receba seus updates e correções menores ao longo do tempo, não é algo "fixo". No sentido estrito do senso, entretanto, Popper estaria correto.
O que se observa é que vários paradigmas possuem um "limite" de pequenas alterações que podem receber; após isso, surgem novas concepções de se observar o mundo, como a transição entre a Gravitação Newtoniana para a Relatividade Geral.
O conhecimento científico em muitas instâncias é "progressivo", "cumulatório" somente até certo limite, quando ele desencadeia uma revolução.
Dante, the Wicked escreveu:E Azathoth, ainda falta explicar que estória é esta de "existem diferentes metodologias empregadas por disciplinas científicas distintas". Não é porque um astrônomo olha num telescópio enquanto um microbiólogo olha num microscópio que os critérios de cientificidade mudam de uma ciência para outra.
Microbiologia é em grande parte uma ciência experimental e desde o último século, aplicada. Astronomia é em boa parte uma ciência histórica que se habilita a formular hipóteses que descrevem eventos que ocorreram uma vez no passado.
Muitas hipóteses na microbiologia podem ser testadas realizando experimentos em condições controladas em laboratórios. A astronomia em grande parte não goza desse empirismo, mas através de observações podemos confirmar, por exemplo, nossos modelos de origem do sistema solar ao observar outros sistemas estelares em formação ( o que algumas vezes é chamado de "experimento natural" ).
Ambas ciências naturais que você citou são testáveis, possuem o mesmo rigor científico, mas suas metodologias para aquisição de conhecimento são distintas. O que eu combato é a visão caricatural, algorítmica de "método científico".