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O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:55
por Joe
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É fato: o aquecimento global está derretendo as calotas polares. Mas ninguém esperava que isso acontecesse com tanta rapidez.

Mesmo em sua melhor época, a estação de esqui de Chacaltaya, nos Andes bolivianos, nunca ameaçou a posição de Aspen, no Colorado. Ela oferecia uma pista de 800 metros e um precário equipamento para levar os esquiadores de volta ao topo, onde os esperava um chá de folhas de coca para aliviar o mal da altitude. Afinal, a 5 260 metros, Chacaltaya era a estação de esqui mais alta em todo o mundo. "Ela nos deu muitas glórias", diz Walter Laguna, presidente do clube de montanhismo da Bolívia. "Costumávamos organizar campeonatos sul-americanos aqui."

Essa época dourada ficou no passado. A prática do esqui nesse local improvável dependia de uma pequena geleira que servia de pista razoável ao recobrir-se de neve durante a temporada de chuvas na Bolívia. Porém, quando a estação foi inaugurada, em 1939, a geleira já estava diminuindo. No ano passado, tudo o que restava ali eram três pequenas áreas de gelo áspero, a maior das quais com apenas algumas centenas de metros de extensão. E o equipamento de transporte dos esquiadores atravessa campos pedregosos. Laguna acredita que ainda dá para adiar o fim da estação. Talvez o clube possa produzir neve artificial; talvez seja possível levar para lá blocos de gelo e reconstituir a geleira. Contudo, no longo prazo, admite, não há futuro para Chacaltaya.

Das mais altas montanhas aos pólos, o planeta vem perdendo seu gelo permanente com rapidez. Até mesmo os cientistas que vinham monitorando Chacaltaya desde 1991 previam que a geleira ainda resistiria por mais alguns anos. Não surpreende o fato de as geleiras estarem derretendo em virtude do aquecimento ocasionado pela emissão de gases, lançados por automóveis e indústrias, que causam o efeito estufa. O que intriga é que, nos últimos tempos, a redução do gelo vem ocorrendo em ritmo mais rápido que o progressivo aumento das temperaturas globais.

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:55
por Joe
Os cientistas estão constatando que os mantos de gelo são muito sensíveis. Em vez de sofrer derretimento lento e constante, como cubos de gelo em um dia quente, elas parecem implicadas em um processo que se auto-alimenta, com o derretimento provocando mais derretimento. Em Chacaltaya, o encolhimento da geleira deixou expostas rochas escuras, o que acelerou o degelo depois que passaram a absorver o calor do Sol.

A maioria das geleiras nos Alpes pode desaparecer até o fim do século. Aquelas dispersas pelos Andes e pelo Himalaia têm, na melhor das hipóteses, uma sobrevida de mais algumas décadas. E o prognóstico sobre os maciços mantos de gelo que cobrem a Groenlândia e a Antártica? Ninguém se arrisca a definir uma data. Segundo Eric Rignot, cientista do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, Jet Propulsion Laboratory) da Nasa, que constatou que a perda de gelo na Groenlândia dobrou ao longo da última década, "hoje vemos coisas que, há apenas cinco anos, teriam parecido impossíveis e exageradas".

O destino de muitas geleiras de montanha já está selado. Além disso, o degelo vai afetar milhões de pessoas - em países como a Bolívia, o Peru e a Índia - que hoje dependem da água derretida das geleiras para irrigar os campos, matar a sede e gerar eletricidade. Ao mesmo tempo, se o aquecimento global prosseguir no ritmo atual, regiões litorâneas poderão ser inundadas. Se as partes vulneráveis dos mantos de gelo que recobrem a Groenlândia e a Antártica sucumbirem, a elevação dos mares inundará centenas de milhares de quilômetros quadrados - parte da Flórida, de Bangladesh e da Holanda, por exemplo.

Para muitos cientistas, ainda dispomos de tempo para interromper o processo se conseguirmos reduzir o consumo de carvão, petróleo e gás. Se nada for feito nesse sentido, daqui a meio século estaremos diante de uma situação irreversível.

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:56
por Joe
Antigos bancos de coral, esbranquiçados e mortos, guardam o registro de outra época em que houve aquecimento do clima e elevação do nível dos oceanos. Descobertos perto da costa de ilhotas na Flórida, nas Bermudas e nas Bahamas, eles remontam a cerca de 130 mil anos, ou seja, antes da última glaciação. Quando prosperavam, o nível do mar devia ser 4,5 a 6 metros mais alto - o que significa que grande parte da água hoje congelada na Groenlândia estava sob forma líquida nos oceanos.

Para liberar toda essa água foram necessários apenas alguns poucos graus a mais nas temperaturas do planeta. Naquela época, era outro o fator que determinava o clima: em vez das emissões produzidas pela queima de combustíveis fósseis, foram mudanças na inclinação do eixo da Terra e em sua trajetória em torno do Sol que tornaram os verões no extremo norte de 3 a 5 graus mais quentes que hoje. Poderemos ver temperaturas similares em meados deste século.

Os modelos digitais capazes de antecipar a reação dos mantos de gelo ao aquecimento tendem a prever uma reação paulatina - seriam necessários alguns milênios para que derretessem e se adequassem à realidade de um planeta mais quente. Se tais modelos estiverem corretos, a elevação dos mares ainda é uma ameaça distante.

Mas o que vem ocorrendo com o manto de gelo da Groenlândia não é nada vagaroso. Nos últimos 15 anos, Konrad Steffen passou todas as primaveras monitorando o gelo de uma estação de pesquisa no interior. No verão de 2006, de passagem pelo vilarejo costeiro de Ilulissat, o climatólogo nascido na Suíça, um homem magro e com o rosto marcado pelo vento glacial, é obrigado a aguardar com colegas, em um hotel, o fim da neblina que impedia a decolagem do helicóptero em que viajavam. "As coisas estão mudando", diz ele. No mar em frente, grupos de icebergs deslizam prateados - indícios inegáveis dessa mudança. A jornada desses imensos blocos de gelo começou ali perto em um fiorde profundo, onde a geleira conhecida como Jakobshavn desemboca no mar.

O gelo parece duro quando mordemos uma pedra tirada do congelador. Mas, quando se acumula em uma grande extensão, ele se desloca devagar, como um caramelo. Na Groenlândia, tal deslizamento se dá a partir do centro do manto de gelo, um domo tão extenso quanto o golfo do México, até o gelo esvair-se sobre a terra firme ou seguir pelas correntes mais rápidas até o oceano. Com 6,5 quilômetros de largura e quase mil metros de espessura, a Jakobshavn é uma espécie de rio Amazonas congelado, lançando no mar mais gelo que qualquer outra geleira local: descarrega no mar 46 quilômetros cúbicos de gelo por ano, atulhando o fiorde com icebergs.

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:56
por Joe
No ano passado, Eric Rignot anunciou que medições obtidas por meio de radares em satélites mostraram aceleração na maioria das geleiras de descarga que drenam a metade meridional do manto de gelo da Groenlândia. Segundo cálculos do pesquisador, em 2005 a Groenlândia perdeu um total de 224 quilômetros cúbicos de gelo, mais que o dobro de uma década antes. Segundo Waleed Abdalati, um cientista da Nasa que supervisiona as pesquisas ali e na Antártica, "o manto de gelo está começando a se mexer".

Com a aceleração do deslocamento da Jakobshavn, sua língua - a extremidade da geleira perto do litoral e que flutua sobre as águas do fiorde - começou a fragmentar-se e a retrair-se. Desde o ano 2000, a língua diminuiu em cerca de 6,5 quilômetros, contribuindo para o congestionamento de icebergs no fiorde. Muitas outras geleiras de maré groenlandesas, aquelas que chegam ao mar, também tiveram reduções parciais e mesmo totais de suas línguas, o que talvez explique o recrudescimento do degelo. "A plataforma de gelo flutuante atua como barreira", explica Abdalati. "Ela segura o gelo que vem atrás e por isso, quando derrete, é como se alguém tirasse a tampa da geleira."

O clima na Groenlândia vem se tornando mais quente de modo perceptível. No inverno, as temperaturas na estação de pesquisa científica de Konrad Steffen subiram cinco graus desde 1993. Nos últimos dois anos, o vilarejo de Ilulissat - que fica bem acima do círculo Ártico e cujas placas de trânsito assinalam os cruzamentos onde passam trenós puxados por cães - registrou prolongados degelos no inverno. "Devia estar agora uns 20 graus abaixo de zero", comenta Steffen, atônito, "mas em vez disso está chovendo."

No mar, as profundezas intermediárias do Atlântico também registram um aumento de temperatura da ordem de vários décimos de grau - o suficiente para solapar uma língua de gelo cuja parte superior também está derretendo. No fim, todo o gelo flutuante da Groenlândia pode desintegrar-se. Nessa altura, é possível que se interrompa a aceleração dos fluxos de gelo. Ou talvez não, avalia Steffen. O peso do manto de gelo da Groenlândia transformou a camada rochosa inferior em imensa bacia, em grande parte situada abaixo do nível do mar. À medida que as geleiras recuarem para o interior, o mar pode ir no encalço delas, arrancando-as de seu embasamento rochoso e desencadeando um processo de colapso.

Atualmente, a Groenlândia ainda não é ameaça para as casas à beira-mar. De acordo com Steven Nerem, que monitora o nível do mar por meio de satélites, o nível dos oceanos está subindo 3 milímetros a cada ano. Se continuar assim, o mar se elevará 30 centímetros até 2100, aproximadamente o que previu uma mesa-redonda sobre mudanças climáticas promovida pelas Nações Unidas no início deste ano.

Contudo, os últimos sinais vindos da Groenlândia convenceram muitos pesquisadores de que o nível do oceano poderia subir cerca de 1 metro até 2100. Eric Rignot, que mediu o deslocamento das geleiras de descarga em direção ao mar, comenta que até mesmo esse valor pode mostrar-se conservador demais. A Groenlândia, observa ele, poderia em última análise elevar em 3 metros o nível global dos oceanos, "e, se isso ocorrer nos próximos 100 anos e não ao longo de vários séculos, as conseqüências serão catastróficas".

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:57
por Joe
Dissipada a neblina, uma chuvinha persiste. Liberado para voar, o helicóptero levou a equipe de Konrad Steffen até um ponto esburacado e erodido do manto de gelo, a cerca de 8 quilômetros de sua borda. Ali é a zona de ablação do manto, sua franja mais quente e baixa, onde o gelo vindo do interior finalmente se desfaz. Estamos em agosto, o auge da época de degelo. Poças de água salpicam a superfície, e córregos azulados recortam a paisagem gelada.

Toda essa água - que já constitui uma perda do manto - pode estar contribuindo para eliminação ainda mais rápida do gelo. Os primeiros indícios desse processo de retroalimentação foram notados há dez anos, na estação de pesquisa dirigida por Steffen. O cientista Jay Zwally, da Nasa, instalou aparelhos de GPS para medir a rapidez com que o gelo se movia desde o interior da Groenlândia até a zona de ablação. Anos depois ele notou uma correlação intrigante: quanto maior o degelo na superfície, mais rápido era o deslocamento da grande massa de gelo.

Zwally e Steffen sugeriram: a causa disso era a água derretida na base do manto de gelo, que funcionava como lubrificante na área de contato com o embasamento rochoso. Tal como um carro derrapando em uma estrada molhada, o gelo estaria deslizando sobre o leito de rocha.

De algum modo, a água deve estar se infiltrando desde a superfície do gelo até a sua base. Aqui e ali na zona de ablação, durante o verão, a água de degelo forma lagos azulados com centenas de metros de diâmetro. Às vezes, um desses lagos desaparece da noite para o dia, como se a água escoasse por um ralo invisível. Perto do local onde pousou o helicóptero de Steffen, uma fenda no gelo, conhecida como "dreno de geleira", absorve uma torrente espumosa de água degelada.

Steffen, o glaciólogo Nicolas Cullen e o engenheiro Alberto Behar, do JPL, ali se reuniram para registrar e ver o que acontece com essa água. Será que ela tomba direto até o fundo do buraco? Ou desce em degraus, como uma cascata? Quanto mais fácil for o caminho para baixo, mais rápido o gelo pode deslizar nos próximos anos.

Behar desembala uma câmera de vídeo. Antes de baixá-la no dreno de geleira, os cientistas amarram-se em âncoras fixadas no gelo e descem, balançando pela borda do buraco. A cascata de água ribomba invisível, mas à medida que seus olhos se adaptam à escuridão Steffen começa a distinguir as dimensões da fenda. "É o maior dreno de geleira que já vi", grita em meio ao barulho da água. "É grande como uma estação de metrô."

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:57
por Joe
Baixando pela fenda na extremidade de um cabo de fibra óptica, a câmera alcança a profundidade de cerca de 105 metros. Em uma barraca instalada a uma distância segura da beirada do dreno, uma tela mostra a imagem transmitida pela câmera: ela está apoiada em um ressalto do gelo, em meio a uma torrente de água repleta de cascalho. Talvez esteja próxima do solo sob o gelo - o que seria indicado pela presença de fragmentos de rocha -, talvez não.

A estrutura profunda do manto de gelo ainda é um mistério, mas seus efeitos tornam-se cada vez mais evidentes. Nos últimos verões, a velocidade do gelo triplicou em breves períodos, apressando ainda mais a própria destruição.

Quando se olha para um mapa, é fácil notar por que o manto de gelo da Groenlândia é tão vulnerável: a sua extremidade meridional não está mais ao norte que Anchorage ou Estocolmo, locais em que não há geleiras. O gelo da Groenlândia é um resquício da última era glacial, sobrevivendo apenas por ser maciço o suficiente para produzir seu próprio clima. O interior da ilha, luminoso e sempre coberto de neve, reflete luz e calor. Sua altitude contribui para o frio e sua massa impede a entrada de sistemas climáticos mais quentes originários do sul. O encolhimento do manto de gelo enfraquece todas essas linhas de defesa.

No outro extremo do planeta, um manto de gelo ainda maior parece menos frágil. Todavia, em torno de um remoto mar, os cientistas estão preocupados. As geleiras que desembocam no mar de Amundsen transportam gelo desde o centro do manto oeste da Antártica, a menor das duas grandes massas de gelo continentais. Tal como na Groenlândia, o manto de gelo na Antártica Ocidental apóia-se em um solo rochoso que está em grande parte abaixo do nível do mar. E as suas geleiras de descarga também estão se movendo.

Uma delas, a geleira da ilha Pine, um imenso fluxo de gelo com mais de 30 quilômetros de largura e quase 1 quilômetro de espessura, teve sua velocidade ampliada em um terço desde a década de 1970. Não há consenso quanto à quantidade de gelo que a Antártica Ocidental perde por ano, mas essa perda poderia acrescentar 1,5 metro ou mais de água ao nível global dos oceanos.

É possível que isto tenha ocorrido há 130 mil anos, a última vez que os mares se elevaram bem acima de seu nível atual. A mera magnitude dessa elevação, da ordem de 4,5 a 6 metros, indica que foi ocasionada pelo derretimento do gelo tanto na Antártica como na Groenlândia. Naquela época, tal como hoje, as temperaturas na Antártica eram baixas demais para que o degelo ocorresse em sua superfície. O ataque deve ter vindo dos oceanos mais quentes que reduziram o gelo flutuante, desencadeando um colapso parcial no manto de gelo. "E tudo indica que o mesmo vai acontecer de novo", avalia Robert Thomas.

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:58
por Joe
O colapso previsto pelo glaciólogo teria início na ilha Pine, em cuja ponta há uma plataforma de gelo flutuante com 65 quilômetros de extensão, que vem perdendo espessura a um ritmo de vários metros por ano. Isso explica a aceleração das geleiras na ilha Pine: o adelgaçamento enfraquece a fixação lateral da plataforma, permitindo que a geleira se desloque com maior rapidez.

Para o cientista, o mais preocupante é que o "campo de gelo" no interior da ilha próximo à plataforma flutuante - 24 quilômetros de gelo aplainado e apoiado em embasamento rochoso - também está-se tornando mais fino, a tal ponto que, já na próxima década, ele ficará delgado o bastante para destacar-se de sua base. Quando isso ocorrer, e a água do mar avançar entre o gelo e a rocha, é possível que tenha início uma catastrófica reação em cadeia. "O leito rochoso é profundo e plano, estendendo-se por 250 quilômetros ilha adentro, e isso levaria à formação de imenso fiorde no gelo", diz Thomas. "Essa seria a gota d'água - a partir daí começaria a aceleração da perda e do recuo do gelo, drenando grande parte daquela região da Antártica Ocidental."

No ar rarefeito dos Andes, não há dúvidas. Ali, o destino do gelo é tão evidente quanto os picos cinzentos em torno do reservatório de Tuni, uma das principais fontes de água para La Paz, capital da Bolívia, e para sua periferia, conhecida como El Alto, que cresce sem parar.

O glaciólogo boliviano Edson Ramírez está a caminho de verificar os medidores instalados nos regatos montanhosos que abastecem a represa. Ele pára a caminhonete e desdobra fotos aéreas daqueles mesmos picos, feitas em 1983. Nessa época, eles estavam cobertos de geleiras. Hoje elas encolheram, se esfrangalharam - ou sumiram. Uma comparação minuciosa revela que metade delas desapareceu nos últimos 20 anos, e que a área total do gelo diminuiu em quase um terço.

"Em 1995, quando previmos o fim das geleiras, raros nos deram ouvidos", conta Ramírez. "A maioria nos acusou de sermos alarmistas. Agora tudo se confirmou." Aparentemente, o aquecimento global desfechou um golpe indireto contra essas geleiras. Uma vez por mês nos últimos 15 anos, Ramírez e outros cientistas liderados pelo glaciólogo francês Bernard Francou vêm escalando em torno de La Paz para fazer medições do gelo e coletar dados climáticos. Eles constataram poucos efeitos diretos do ligeiro aquecimento da atmosfera nos últimos anos. O que na verdade devastou as geleiras foi uma implacável seqüência de El Niños - o fenômeno de aquecimento das águas do Pacífico na região equatorial.

O El Niño, que se tornou bastante freqüente com o aquecimento da atmosfera, desequilibra o clima global, reduzindo muito a queda de neve nos Andes tropicais. Normalmente, nos trópicos, a parte mais alta de uma geleira fica espessa graças à neve que ali se deposita durante a época das chuvas, compensando o degelo em suas partes mais baixas. Mas nos anos em que não há neve as geleiras não adquirem gelo. Ao mesmo tempo, o derretimento se intensifica - devido a outro processo de retroalimentação.

Em geral a neve funciona como protetor solar nas geleiras de montanha. Em uma das estudadas por Francou, uma cascata de gelo com 3 quilômetros de extensão chamada Zongo, esse efeito é perceptível. Mas nas partes mais baixas da geleira o gelo está desprotegido e tem uma aparência opaca que absorve o calor do Sol como uma camiseta escura. No fim da manhã, riachinhos de degelo podem ser vistos.

O El Niño - a Bolívia foi atingida por três deles na década de 1990 - impede que grande parte dessa geleira receba neve, tornando-a cinzenta e vulnerável. Toda a vez que ocorre o fenômeno, o Sol elimina metros de gelo, e tais perdas jamais são compensadas. Desde 1991, a espessura da Zongo foi reduzida em 6 metros, e a cabeceira da geleira retraiu-se 200 metros encosta acima, deixando atrás de si um lago de água de degelo repleta de sedimentos.

A Zongo é uma geleira maciça, com sua cabeceira acima do nível dos 5 790 metros de altitude. Chacaltaya e as geleiras cada vez menores em torno da represa de Tuni são menores, menos elevadas e frágeis. Com dimensões similares ao de um parque urbano, e de longe o tipo de geleira mais comum nos Andes, elas estão condenadas à extinção nos próximos anos. O desaparecimento de uma área de esqui é um símbolo lamentável. Mas o fim das geleiras pode tornar-se um pesadelo real em cidades como La Paz, que dependem das adutoras e linhas de transmissão de eletricidade originárias nas montanhas.

As geleiras de montanha desempenham papel crucial como reservatórios de água, armazenando-a sob a forma de gelo e liberando-a nos meses secos com o degelo. Segundo os estudos de Edson Ramírez, ao longo do ano, as geleiras são responsáveis por cerca de um terço do abastecimento da represa de Tuni; na estação seca, esse percentual sobe para 60%. No Peru, uma importante usina hidrelétrica e um próspero vale agrícola dependem do rio Santa, cujo fluxo de água na estação seca é constituído por cerca de 40% de água de degelo. O rio Ganges, essencial para a vida no norte da Índia, recebe no verão 70% de sua água das geleiras do Himalaia.

Por enquanto continua essa abundância de água. Em alguns locais, ela até mesmo aumentou, ao passo que se intensifica o derretimento das geleiras. Mas logo as cidades e os campos cultivados que dependem da água do degelo vão começar a sofrer. Edson Ramírez prevê que La Paz e El Alto irão sofrer com a escassez de água já antes do fim desta década, à medida que cresce a demanda e diminui o suprimento das geleiras.

"Se as montanhas ficarem secas, o que acontece com as cidades que delas dependem?", indaga Walter Vergara, especialista em mudanças climáticas na América Latina que trabalha para o Banco Mundial. Nos países em desenvolvimento, essa questão muitas vezes é tratada de maneira emocional. "As mudanças climáticas não foram causadas por países pobres, como a Bolívia", diz Oscar Paz Rada, do Ministério do Planejamento e Desenvolvimento da Bolívia, "e por isso eles têm crédito nos países desenvolvidos."

Bernard Francou costuma exibir uma estapafúrdia foto de si mesmo pedalando um carrinho de sorvete. É assim que pretende ganhar a vida, brinca ele, depois de acabar todo o gelo. Francou aprecia o humor negro. Mas em muita gente cuja vida depende do gelo - cientistas, montanhistas, pessoas comuns que vivem perto de geleiras - nota-se com freqüência um tom de lamento.

O Parque Nacional das Geleiras, no estado americano de Montana, é um emblema adequado das grandes mudanças que assolam as regiões mais frias do planeta. Há 15 anos o cientista Dan Fagre estuda as geleiras do parque. Ele tem todos os números na ponta da língua: nas 27 geleiras que restam ali - eram 150 um século atrás -, o volume de gelo é apenas 10% do que antes. Ele acredita que as geleiras remanescentes irão desaparecer em 25 anos. "Será a primeira vez, em pelo menos 7 mil anos, que essa paisagem não vai apresentar geleiras", comenta.

Como cientista, ele está fascinado com a possibilidade de observar um planeta em transformação. Como ser humano, porém, lamenta o fim de uma paisagem querida. "Quando visito algumas das geleiras que conheço, assim que me aproximo não é preciso nem mesmo examinar mapas ou fotos", diz. "Basta dar uma olhada para que exclame: 'Ó, Deus, toda aquela área sumiu!'" Mais um marco gelado da paisagem, à primeira vista tão permanente quanto as próprias montanhas, simplesmente desapareceu com o calor.
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Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 20:59
por Joe
Em geral a neve funciona como protetor solar nas geleiras de montanha. Em uma das estudadas por Francou, uma cascata de gelo com 3 quilômetros de extensão chamada Zongo, esse efeito é perceptível. Mas nas partes mais baixas da geleira o gelo está desprotegido e tem uma aparência opaca que absorve o calor do Sol como uma camiseta escura. No fim da manhã, riachinhos de degelo podem ser vistos.

O El Niño - a Bolívia foi atingida por três deles na década de 1990 - impede que grande parte dessa geleira receba neve, tornando-a cinzenta e vulnerável. Toda a vez que ocorre o fenômeno, o Sol elimina metros de gelo, e tais perdas jamais são compensadas. Desde 1991, a espessura da Zongo foi reduzida em 6 metros, e a cabeceira da geleira retraiu-se 200 metros encosta acima, deixando atrás de si um lago de água de degelo repleta de sedimentos.

A Zongo é uma geleira maciça, com sua cabeceira acima do nível dos 5 790 metros de altitude. Chacaltaya e as geleiras cada vez menores em torno da represa de Tuni são menores, menos elevadas e frágeis. Com dimensões similares ao de um parque urbano, e de longe o tipo de geleira mais comum nos Andes, elas estão condenadas à extinção nos próximos anos. O desaparecimento de uma área de esqui é um símbolo lamentável. Mas o fim das geleiras pode tornar-se um pesadelo real em cidades como La Paz, que dependem das adutoras e linhas de transmissão de eletricidade originárias nas montanhas.

As geleiras de montanha desempenham papel crucial como reservatórios de água, armazenando-a sob a forma de gelo e liberando-a nos meses secos com o degelo. Segundo os estudos de Edson Ramírez, ao longo do ano, as geleiras são responsáveis por cerca de um terço do abastecimento da represa de Tuni; na estação seca, esse percentual sobe para 60%. No Peru, uma importante usina hidrelétrica e um próspero vale agrícola dependem do rio Santa, cujo fluxo de água na estação seca é constituído por cerca de 40% de água de degelo. O rio Ganges, essencial para a vida no norte da Índia, recebe no verão 70% de sua água das geleiras do Himalaia.

Por enquanto continua essa abundância de água. Em alguns locais, ela até mesmo aumentou, ao passo que se intensifica o derretimento das geleiras. Mas logo as cidades e os campos cultivados que dependem da água do degelo vão começar a sofrer. Edson Ramírez prevê que La Paz e El Alto irão sofrer com a escassez de água já antes do fim desta década, à medida que cresce a demanda e diminui o suprimento das geleiras.

"Se as montanhas ficarem secas, o que acontece com as cidades que delas dependem?", indaga Walter Vergara, especialista em mudanças climáticas na América Latina que trabalha para o Banco Mundial. Nos países em desenvolvimento, essa questão muitas vezes é tratada de maneira emocional. "As mudanças climáticas não foram causadas por países pobres, como a Bolívia", diz Oscar Paz Rada, do Ministério do Planejamento e Desenvolvimento da Bolívia, "e por isso eles têm crédito nos países desenvolvidos."

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 21:00
por Joe
Bernard Francou costuma exibir uma estapafúrdia foto de si mesmo pedalando um carrinho de sorvete. É assim que pretende ganhar a vida, brinca ele, depois de acabar todo o gelo. Francou aprecia o humor negro. Mas em muita gente cuja vida depende do gelo - cientistas, montanhistas, pessoas comuns que vivem perto de geleiras - nota-se com freqüência um tom de lamento.

O Parque Nacional das Geleiras, no estado americano de Montana, é um emblema adequado das grandes mudanças que assolam as regiões mais frias do planeta. Há 15 anos o cientista Dan Fagre estuda as geleiras do parque. Ele tem todos os números na ponta da língua: nas 27 geleiras que restam ali - eram 150 um século atrás -, o volume de gelo é apenas 10% do que antes. Ele acredita que as geleiras remanescentes irão desaparecer em 25 anos. "Será a primeira vez, em pelo menos 7 mil anos, que essa paisagem não vai apresentar geleiras", comenta.

Como cientista, ele está fascinado com a possibilidade de observar um planeta em transformação. Como ser humano, porém, lamenta o fim de uma paisagem querida. "Quando visito algumas das geleiras que conheço, assim que me aproximo não é preciso nem mesmo examinar mapas ou fotos", diz. "Basta dar uma olhada para que exclame: 'Ó, Deus, toda aquela área sumiu!'" Mais um marco gelado da paisagem, à primeira vista tão permanente quanto as próprias montanhas, simplesmente desapareceu com o calor.

Fonte: National Geographic

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 21:01
por Jeanioz
Flooder. :emoticon12:

Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 21:02
por Jeanioz
[hipócrita]

O aquecimento global é fato, mas e daí? Isso é um fenômeno absolutamente natural. Podemos cagar e andar para a questão...

[/hipócrita]

:emoticon8:

Re: Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 21:03
por Joe
Jeanioz escreveu:Flooder. :emoticon12:


Nem é isso, porque não me preocupo com a quantidade de menssagens. A questão é que se repartir o texto a leitura fica mias gostosa e estimulante e se eu colocasse tudo em uma só vocês veriam o tamanho e não iriam ler totalmente.

Deixando em partes, a leitura ficará estimulada e não irão ''ver o tempo passar.''

Re: Re.: O fim do gelo

Enviado: 26 Jun 2007, 21:05
por Joe
Jeanioz escreveu:[hipócrita]

O aquecimento global é fato, mas e daí? Isso é um fenômeno absolutamente natural. Podemos cagar e andar para a questão...

[/hipócrita]

:emoticon8:


O me impressiona é o pessoal jogar lixo nas ruas, usar produtos que poluem e dizer serem a favor da batalha contra o aquecimento global.