Palmas para o Senhor Jesuis!
Enviado: 08 Jul 2007, 19:25
PALMAS PARA O SENHOR JESUIS!
Santo cem por cento pêlo-duro nós já temos. Verdade que era um charlatão. Mas se o Bento disse que é santo, santo fica sendo. Agora, temos uma das sete novas maravilhas do mundo, eleita por votos na Internet e por celulares, em um concurso espúrio organizado por um suíço em busca de holofotes. Se a moda pegar e qualquer arrivista decidir fazer um concurso, vai sobrar até para a Caixa d’Água de Dom Pedrito. Agora nos falta só o Nobel. Claro que não aspiramos a uma comenda séria, como o Nobel de Física, Economia ou Medicina. Serve um nobelzinho menor, como os de Literatura ou Paz. Se já foram premiados vigaristas como Rigoberta Menchú, Madre Teresa de Calcutá, Pablo Neruda, Dalai Lama, por que não contemplar esta grande nação. Só no Congresso há um verdadeiro semental de candidatos.
Quem me chamou a atenção para a feiúra do Cristo do Corcovado, pela primeira, foi o escritor italiano Alberto Moravia. Em algum de seus ensaios, escreveu desconhecer monumento mais feio no mundo. Eu, que até então não me havia perguntado se a estátua era feia ou bonita, de repente me dei conta que aquele Cristo era um horror. Monumento duro, inexpressivo, mais parece uma cruz que um homem... e a intenção terá sido mesmo essa. Sim, lá do alto a paisagem é deslumbrante, certamente uma das mais lindas do mundo. Mas paisagem é obra da natureza. Quando se fala em maravilhas, entendemos obras do homem. E aquele Cristo espetado lá em cima está a anos-luz de distância de ser uma maravilha.
Se o concurso fosse de paisagens, creio que daria de bom grado meu voto ao Corcovado. Mas teria de meditar um pouco antes de qualquer decisão. Teria de avaliar com carinho, antes de votar, o Tridente, no Assekrem, o Montblanc, na Suíça, os fjordes da costa norueguesa, em particular o Trollfjord, de uma beleza que chega a perturbar os sentidos, os glaciares silentes da Terra do Fogo, as dunas do Sahara. Ocorre que a competição diz respeito a obras do engenho humano.
Este concurso fajuto começa uma injustiça que clama aos céus remissão. A torre Eiffel ficou de fora. Deconheço monumento mais singelo e ao mesmo tempo imponente, despojado e ao mesmo tempo elegante. Quando a vi pela primeira vez, nem foi como se fosse a primeira vez, tanto ela está impregnada em nosso imaginário. Mas não é apenas sua beleza que me fascina. Também me fascina sua total impessoalidade. Não representa coisa alguma. Não é homenagem a nenhum deus, a nenhuma nação, a nenhum vulto histórico, a nenhum ideal. Se há algum monumento sem ideologia no mundo, este é a torre Eiffel. Está ali apenas para ser bela. Não representa nada, ninguém nem coisa nenhuma. Nunca foi tão atual o antigo dito francês: soit belle et tais-toi! Seja bela e cale a boca!
Outra injustiça berrante é a ausência da Alhambra, a Vermelha, em Granada. Conjunto de palácios e fortificações de potentados árabes, é de uma beleza estonteante. O requinte é tal que seus espelhos de água foram concebidos para refletir o firmamento para homens que estivessem de cócoras, isto é, em posição de conversar. O palácio mouro, que teria inspirado a arquitetura onírica das criações de Escher, é uma festa não só para os olhos como também para os ouvidos. Homens do deserto, obcecados por águas, os árabes as puxaram de Sierra Nevada e os jardins da Alhambra estão cheios de córregos invisíveis e murmurantes que induzem à paz e contemplação. Não é raro, inclusive, encontrar-se uma turista, de gravador em punho, sentada em meio ao verde, gravando o silêncio cortado pelo rumor das fontes.
(Vou almoçar, talvez meu humor melhore. Minha indignação continua mais tarde).
- Enviado por Janer @ 12:52 PM
http://cristaldo.blogspot.com/
Santo cem por cento pêlo-duro nós já temos. Verdade que era um charlatão. Mas se o Bento disse que é santo, santo fica sendo. Agora, temos uma das sete novas maravilhas do mundo, eleita por votos na Internet e por celulares, em um concurso espúrio organizado por um suíço em busca de holofotes. Se a moda pegar e qualquer arrivista decidir fazer um concurso, vai sobrar até para a Caixa d’Água de Dom Pedrito. Agora nos falta só o Nobel. Claro que não aspiramos a uma comenda séria, como o Nobel de Física, Economia ou Medicina. Serve um nobelzinho menor, como os de Literatura ou Paz. Se já foram premiados vigaristas como Rigoberta Menchú, Madre Teresa de Calcutá, Pablo Neruda, Dalai Lama, por que não contemplar esta grande nação. Só no Congresso há um verdadeiro semental de candidatos.
Quem me chamou a atenção para a feiúra do Cristo do Corcovado, pela primeira, foi o escritor italiano Alberto Moravia. Em algum de seus ensaios, escreveu desconhecer monumento mais feio no mundo. Eu, que até então não me havia perguntado se a estátua era feia ou bonita, de repente me dei conta que aquele Cristo era um horror. Monumento duro, inexpressivo, mais parece uma cruz que um homem... e a intenção terá sido mesmo essa. Sim, lá do alto a paisagem é deslumbrante, certamente uma das mais lindas do mundo. Mas paisagem é obra da natureza. Quando se fala em maravilhas, entendemos obras do homem. E aquele Cristo espetado lá em cima está a anos-luz de distância de ser uma maravilha.
Se o concurso fosse de paisagens, creio que daria de bom grado meu voto ao Corcovado. Mas teria de meditar um pouco antes de qualquer decisão. Teria de avaliar com carinho, antes de votar, o Tridente, no Assekrem, o Montblanc, na Suíça, os fjordes da costa norueguesa, em particular o Trollfjord, de uma beleza que chega a perturbar os sentidos, os glaciares silentes da Terra do Fogo, as dunas do Sahara. Ocorre que a competição diz respeito a obras do engenho humano.
Este concurso fajuto começa uma injustiça que clama aos céus remissão. A torre Eiffel ficou de fora. Deconheço monumento mais singelo e ao mesmo tempo imponente, despojado e ao mesmo tempo elegante. Quando a vi pela primeira vez, nem foi como se fosse a primeira vez, tanto ela está impregnada em nosso imaginário. Mas não é apenas sua beleza que me fascina. Também me fascina sua total impessoalidade. Não representa coisa alguma. Não é homenagem a nenhum deus, a nenhuma nação, a nenhum vulto histórico, a nenhum ideal. Se há algum monumento sem ideologia no mundo, este é a torre Eiffel. Está ali apenas para ser bela. Não representa nada, ninguém nem coisa nenhuma. Nunca foi tão atual o antigo dito francês: soit belle et tais-toi! Seja bela e cale a boca!
Outra injustiça berrante é a ausência da Alhambra, a Vermelha, em Granada. Conjunto de palácios e fortificações de potentados árabes, é de uma beleza estonteante. O requinte é tal que seus espelhos de água foram concebidos para refletir o firmamento para homens que estivessem de cócoras, isto é, em posição de conversar. O palácio mouro, que teria inspirado a arquitetura onírica das criações de Escher, é uma festa não só para os olhos como também para os ouvidos. Homens do deserto, obcecados por águas, os árabes as puxaram de Sierra Nevada e os jardins da Alhambra estão cheios de córregos invisíveis e murmurantes que induzem à paz e contemplação. Não é raro, inclusive, encontrar-se uma turista, de gravador em punho, sentada em meio ao verde, gravando o silêncio cortado pelo rumor das fontes.
(Vou almoçar, talvez meu humor melhore. Minha indignação continua mais tarde).
- Enviado por Janer @ 12:52 PM
http://cristaldo.blogspot.com/