Pan, uma chance desperdiçada

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Pan, uma chance desperdiçada

Mensagem por Apocaliptica »

Pan, uma chance desperdiçada

Por Samantha Lima

14.06.2007

-O caos na organização dos Jogos Pan-Americanos e o pouco benefício que eles devem trazer ao Rio evidenciam quanto se planeja mal no Brasil oficial-


Um dia após a entrega da última medalha dos Jogos Olímpicos de 1992, os moradores de Barcelona, na Espanha, acordaram diante de uma nova realidade. Encerrada a movimentação de atletas e visitantes, restou uma cidade reurbanizada e moderna. Encantados, os turistas se multiplicaram -- desde então, o número dobrou para 5 milhões de pessoas por ano, o equivalente ao que o Brasil todo recebe. O ciclo de desenvolvimento iniciado com os preparativos dos jogos não parou mais. O impulso partiu do investimento de 10 bilhões de euros na preparação da cidade para abrigar o evento -- 60% destinados a obras de infra-estrutura. Barcelona foi do 11o para o sexto lugar entre as melhores cidades da Europa para realizar negócios, desbancando Milão e Zurique. No Rio de Janeiro, quando o último atleta for embora após os Jogos Pan-Americanos, em julho, restará aos moradores uma sensação de ressaca. Nenhum dos projetos custeados pelo orçamento de mais de 3 bilhões de reais -- oito vezes a previsão inicial -- mudará em um milímetro problemas graves da cidade. As propostas de melhorias ambientais e nos transportes, alardeadas como legado do evento, ficaram pelo caminho. Ao que tudo indica, o Pan caminha para ser mais uma espetacular chance perdida de recuperação da infra-estrutura da cidade -- ao contrário, é bem possível que no futuro seja lembrado como mais um caso de falta de planejamento e estouro de contas pagas com dinheiro público sem apresentar o resultado prometido. "O Rio ganharia muito mais se gastasse na busca de soluções de seus reais problemas, não no Pan", diz o economista americano Allen Sanderson, da Universidade de Chicago e estudioso do tema.

Quando o Rio se candidatou a sediar o Pan, em 2002, criou-se uma expectativa de que a cidade passaria por grandes mudanças. E não foi à toa. O grupo responsável pela candidatura, formado pelo Comitê Olímpico Brasileiro e por integrantes dos governos municipal, estadual e federal, se esforçou para impressionar a Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa), responsável pelos eventos. Para desbancar a americana San Antonio, a equipe apresentou inúmeros projetos de melhoria na infra-estrutura carioca. Da Barra da Tijuca, que abrigará os 5 662 atletas e 70% das competições, sairiam uma nova linha de barca até o centro, uma linha de metrô e um bonde até o aeroporto. A engarrafada via expressa que liga o bairro à zona sul seria duplicada. Cinco lagoas da região seriam despoluídas. Era de esperar que o Rio, guardadas as devidas proporções entre uma olimpíada e um pan-americano, realizasse algo na linha do que fez Barcelona. Após a olimpíada, a cidade espanhola ganhou uma nova orla, vias expressas e novas redes de telecomunicações e de esgoto. No Rio, porém, o orçamento estourou sem que nada similar saísse do papel. "Aquele era o momento de pensar em soluções para problemas como falta de segurança, transporte deficiente e poluição, em especial a da Baía de Guanabara", diz Georgios Hatzidakis, diretor da consultoria Olympia Sports, de São Paulo. "A cidade perdeu uma bela oportunidade de melhorar."


Largada ruim

Veja quais foram as principais falhas no planejamento do Pan do Rio

Superdimensionamento

A estrutura construída é digna de olimpíada.Seria possível fazer o evento reformando instalações já existentes.Os gastos superaram 3 bilhões de reais — oito vezes o orçamento inicial.

Serviços subestimados

As reais necessidades de segurança e telecomunicações só foram identificadas nos últimos meses. O sistema de credenciamento precisou ser refeito.O custo passou de 55 000 para 9 milhões de reais.

Promessas vazias

No dossiê de candidatura, a cidade comprometeu-se a duplicar vias urbanas, despoluir a Baía de Guanabara e construir uma nova linha de metrô.Por falta de coordenação entre governos, nada disso foi feito.

Fontes: TCU


Barcelona mostrou ser possível usar um evento esportivo para justificar a necessidade de investimentos em infra-estrutura e, assim, reerguer-se economicamente. Lá, o compromisso de realizar as obras foi assumido pelos governos federal e municipal em um plano estratégico elaborado no início dos anos 80. "Faltou ao Rio um projeto que coordenasse o comprometimento das autoridades com as melhorias", diz Celso Sartori, professor de marketing da escola de negócios Ibmec-Rio. Ao perceber que o evento encantava o público, os organizadores do Pan mudaram as prioridades. Com aval dos governos municipal, estadual e federal, decidiu-se construir mais instalações esportivas, em vez de reformar as existentes. Não sobrou recurso para as obras de infra-estrutura previstas. "Optamos por aproveitar a chance de credenciar a cidade para uma olimpíada", diz Carlos Roberto Osório, secretário-geral do comitê organizador do Pan. "As obras de infra-estrutura não eram obrigatórias. Tivemos de eleger prioridades." Para o prefeito do Rio, César Maia, as promessas visavam apenas "acelerar discussões". "Nem havia tempo para tudo isso", disse Maia a EXAME. "As instalações esportivas serão o maior legado do Pan." Ou seja, as promessas eram para ser apenas promessas.

A visão do Tribunal de Contas da União (TCU) é diferente. Em relatório divulgado recentemente, o ministro Marcos Villaça aponta o superdimensionamento da estrutura esportiva como uma das causas dos inúmeros problemas na organização -- atrasos nas obras e aumento desmedido dos gastos. Para agravar, devido a picuinhas políticas, César Maia cuidou sozinho do evento na maior parte do tempo. As coisas só melhoraram com a mudança no governo do estado e a conclusão tardia de que o governo federal precisaria contribuir com mais do que os 200 milhões de reais previstos inicialmente. Até agora, os gastos da União somam 2 bilhões de reais. Outro problema foi a falta de um plano de metas. Segundo o relatório do TCU, muitos projetos nem sequer tinham prazo para conclusão, o que causou transtornos em cascata. A instalação da rede de telecomunicações está atrasada porque não há como entrar nos prédios ainda em obras. Se por um lado houve excesso, por outro foram identificados erros crassos de necessidades subestimadas. Um deles foi com o sistema de cadastro e segurança. Reprovado na última hora pela Associação Brasileira de Inteligência, precisou ser refeito ao custo de 9 milhões de reais -- 163 vezes o previsto. "O planejamento foi aprovado pela Odepa, e os problemas foram pontuais", diz Osório.

Devido à sucessão de atrasos e imprevistos, os serviços passaram a ser contratados às pressas, sem licitação, para evitar que os jogos repitam o vexame da última edição, realizada em 2003 na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana, e marcada pela virtual inexistência de organização e infra-estrutura. A urgência acentuou o descontrole de gastos. O Pan do Rio custou 12 vezes mais que qualquer outra edição dos jogos. "Temo que as dimensões sejam exageradas para as necessidades da comunidade", diz Villaça. Uma das obras mais criticadas é o estádio João Havelange, que consumiu 400 milhões de reais, quase três vezes o orçamento inicial. "Para que um novo estádio se temos o Maracanã a poucos quilômetros de distância?", diz Luiz Mário Behnken, diretor de uma organização que fiscaliza o legado do Pan.

Ainda que tudo dê certo e as instalações sejam entregues antes do início dos jogos, em 13 de julho -- o que parece improvável --, os problemas de infra-estrutura persistem e são tratados com improviso. No trânsito, haverá interdições de ruas para que atletas circulem em corredores exclusivos. Com isso, a previsão é que os moradores e os 700 000 turistas esperados deverão padecer ainda mais nos congestionamentos. Por enquanto, não há solução para o lixo que bóia na Baía de Guanabara e ameaça as provas de vela que lá acontecerão. Na Barra, o mau cheiro das lagoas poluídas é constante nas redondezas da Vila Pan-Americana, onde ficarão hospedados os atletas. "Se houver grandes transtornos, será uma pá de cal na aspiração da cidade de sediar uma olimpíada", diz Amir Sommogi, consultor esportivo da Casual Auditores. Como se vê, os brasileiros têm de torcer muito neste Pan -- e não apenas pelo sucesso de nossos atletas.

http://portalexame.abril.com.br/revista ... 31226.html

Ferreira_br
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Re.: Pan, uma chance desperdiçada

Mensagem por Ferreira_br »

O desperdício de 3 bilhões valeu a pena se tivermos em vista as vaias acachapantes ao Lula.

Apocaliptica

Re.: Pan, uma chance desperdiçada

Mensagem por Apocaliptica »

Se a vaia resultar em alguma mudança, sim...pior é se a vaia fizer subir alguns pontinhos nas pesquisas de simpatia pelo governo dele. Por que será as coisas não batem? Uma enxurada de escândalos e a popularidade aumenta...pelo menos nas "pesquisas"...cof cof ...Um chute na bunda do "país amigo", mais um acréscimo no percentual. Um Vavá no caminho e o povo parece apoiar o barbudo mais ainda...
Quem sabe o quanto esta vaia vai render em MKT, que parece encomendado...ou o povo gosta mesmo de maracutaia?
Eram pedras cantadas que o PAN era mais uma forma de faturar ( para o governo e "fornecedores" do evento em geral ), não para a cidade do Rio de Janeiro. Mas os cariocas estavam acreditando que reverteria em dividendos, turismo, infraestrutura blablabla...por que as pessoas são tão ingênuas e acreditam nestas coisas?
O Papa veio e foi, gastou-se uma fortuna em maquiagem, o povo comeu uns cachorros-quentes e bebeu refrigrerante, bateram palmas pro Nazista, o Estado "laico" gastou o dinheiro dos contribuintes chatólicos e não chatólicos, sem distinção, e tudo continua como d'antes...
Este é um país que insiste em viver de faz-de-conta...não faz nem idéia de como é ser diferente disto, viver de outro jeito, parar de mentir, parar de fazer festa, parar de ter filhos, parar de brincar de democracia ( que na verdade é uma baderna e não uma democracia ).
Isto tudo me enoja sobremaneira....

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Judas
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Re.: Pan, uma chance desperdiçada

Mensagem por Judas »

Nada não ...só pra juntar meu avatar com o seu, assim fica faltando só o Neil :emoticon12:
Quando vejo um religioso protestando, irritado, exigindo respeito às suas crenças idiotas, penso logo...BOM SINAL! Sinal de que alguém esta fazendo alguma coisa certa.

Apocaliptica

Re: Re.: Pan, uma chance desperdiçada

Mensagem por Apocaliptica »

Judas escreveu:Nada não ...só pra juntar meu avatar com o seu, assim fica faltando só o Neil :emoticon12:


Agora não falta mais!!!


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manoelmac
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Re: Re.: Pan, uma chance desperdiçada

Mensagem por manoelmac »

Apocaliptica escreveu:
Judas escreveu:Nada não ...só pra juntar meu avatar com o seu, assim fica faltando só o Neil :emoticon12:


Agora não falta mais!!!


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Não sei pq, qdo vejo o Apocalyptica lá em cima, e esse carinha com os óculos rendondos, eu me lembro da Tia Lela (irmã da minha mãe)... :emoticon16:
Manoel Machado Henriques

"...A razão de um povo inteiro, leva tempo a construir..."

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(Pedro Ayres Magalhães - As Brumas do Futuro)

Apocaliptica

Re.: Pan, uma chance desperdiçada

Mensagem por Apocaliptica »

Este carinha com óculos é APENAS Geddy Lee, um deus ...e não Tia Lela! Olha o respeito! :emoticon12:

Trancado