A mediunidade do ponto de vista materialista.
Enviado: 17 Jul 2007, 12:05
Até o surgimento da sistematização da doutrina espírita no século XIX, o referencial empírico – por meio de algumas experiências isoladas – servia de base as mais diversas explicações possíveis acerca dos espíritos. O efeito, como dissertamos, e não o fenômeno, como se atribui o milagre, está organicamente predisposto no organismo humano. Evidentemente que Allan Kardec não foi o único cientista que notabilizou avanços e descobertas surpreendentes com as obras iniciais de estudos na Europa. A França atravessou em período de descobertas literárias, sociológicas e culturais que nenhum outro país teria naquele momento. A própria organização na espiritualidade tratou de discutir e determinar a região no continente como única capaz de abrigar envolvidos no trabalho espírita – a ‘ciência dos espíritos’ estava pronta para germinar. O período que vai do século XVII e início do XVIII, demonstra um rompimento teocêntrico com a mentalidade metafísica. As estruturas medievais da Igreja estão em crise com as descobertas da navegação marítima e da física matemática de Isaac Newton. O discurso do homem como centro do universo e a descentralização da Terra como massa composta universal. Não é à toa que escritores brilhantes escreviam obras tão céticas em seus contextos de fé: "Se penso, logo existo". O existencialismo cartesiano e o materialismo dialético – embora este em condições filosóficas ligadas a explicação natural dos meios de produção com Karl Marx – se propagam como correntes opostas numa Europa divida etnicamente e historicamente. O pensamento humano se diversificou, e não é estranho que muitos ainda não pensem que o surgimento do sistema da doutrina dos espíritos está ligadas aos movimentos burgueses de verificação puramente sociológica. Dúvida que a meu ver, foi sanada no século XX. Com a encarnação de médiuns altamente progredidos como Divaldo Franco e Francisco Xavier, as possibilidades de registro e manuseio experimental de encarnados/desencarnados chegou a diagnósticos importantíssimos. O espiritismo passou a ser estudado em todo mundo ao invés de ser tratado como alegoria ou folclore popular. Como a América Latina, em particular o Brasil, está envolto numa miscigenação étnica de proporções gigantescas, a variedade de cultura e suas reciprocidades religiosas, tornou-se uma evidência constante. Até porque os efeitos em suas formas de expressão, tais como a Umbanda, o Candomblé, a Quimbanda, as seitas oferendistas de caráter menos complexo e a própria religião católica passaram a conviver "harmonicamente" no mesmo território. Feito que em nenhum outro país foi notabilizado. Atualmente temos no mundo 16 tipos de guerras diferentes, fora os conflitos menores de características étnicas, que são substancialmente provocados pela diferença de simbologia religiosa. Algumas mais históricas, outras mais recentes, como as ocupações militares promovidas por nações belicamente mais equipadas.
O quadro é variado, mas onde teremos a mediunidade nesse turbilhão de diferenças humanas? A resposta não é tão simples quanto parece. Voltaremos ao aspecto didático desse estudo para facilitar nosso entendimento. Estudos ampliados, como os de Aksakov puderam dar grande contribuição aos fenômenos de efeitos físicos, principalmente no que concerne a médiuns brasileiros em atividade. Recentemente, participei de um seminário sobre consciência mediúnica na cidade de Porto Nacional, Tocantins, onde tive o privilégio de assistir os trabalhos psico-pictográficos através do médium Florêncio Anton, de Salvador, Bahia. Confesso que estava ansioso pelos efeitos que seriam demonstrados naquela tarde, por ocasião da vista de Florêncio e seu auxiliar, Sidney, como exemplos práticos: a mesa girante. Meu desinteresse pela mesa diminui quando Anton passou longos minutos explanando a história humana e a evolução biológica, temas que citei rapidamente no início desse estudo. Suas considerações teóricas foram de grande valor para mim, ouvindo atentamente as palavras daquele jovem demonstrando uma clareza e sensibilidade como nunca vi. A valiosa lição que tive no "Centro Caminheiros de Jesus", em Porto Nacional, deu-me motivações para escrever este tratado – sem nenhuma intenção de autopromoção ou vaidade particular – como forma de auxílio aos médiuns renitentes no estudo detalhado, como tão bem expôs Florêncio aos circunstantes. Chamou-me a atenção a abordagem política de Anton, ou seja, a verificação do meio como agente de interferências entre encarnados e desencarnados, algo que afeta a concentração de ambos nos exercícios da evolução. Meu esclarecimento sobre mediunidade é ínfimo, sendo que a mola propulsora do que aprendi, estava substancialmente nas lições valiosas de Florêncio. No plano moral, sua conduta era referencial, estava apenas "repassando conhecimento", com ele mesmo fez questão de frisar. Percebi um certo desapontamento de Anton ao questionar dados que os médiuns da casa não conheciam. Isso serviu para situá-lo e a nós, das responsabilidades do altíssimo, quando a atividade requeria devoção de santidade. Devemos tomar muito cuidado ( considerações minhas ) com o falso moralismo revestido de boas intenções. O Movimento Espírita Brasileiro precisa utilizar mais seu circunstancial histórico e sociológico para seus estudos subseqüentes na sociedade. A indagação dos setores reversos da doutrina seria sua natural "conformidade" frente aos fatos do mundo. Nós sabemos que não se trata disso. O espiritismo no mundo não é fruto de modismos intelectuais de "gente rica", mas uma forma expressiva de inovação, uma modalidade cristã abordando os aspectos da vida humana nas mais variadas formas sociais. Os espíritos ainda estão ligadas à Terra, a maioria em situações de perturbação mútua. Talvez por isso, a "divindade" e a "profanação" tenham traços fundamentalistas, criando aspectos dogmáticos. Não se trata disso, mas é importante observar o humano, que não é santo. Portanto, a formação ideológica ( intelectual ) é tão importante quanto o estado de santidade (moral) que deve ser praticado a mediunidade. Ter uma faculdade psico-orgânica notável requer abdicação – requisito número um – necessária para fazer do médium um conhecedor de sua época, seus costumes e como seus preconceitos ( nossos ) podem influenciar seu desempenho e conseqüentemente, a conscientização de outros espíritos. A única diferença das sociedades na Terra é a seguinte: uma é material. As outras, numerosamente invisíveis. As ligações são diárias, constantes. A vibração das duas dimensões é que criam os universos. Assim como desconhecemos profundamente a natureza humana, percebemos o quanto ela pode nos influenciar depois da "morte". A devoção deve ceder lugar ao estudo, criando possibilidades novas, onde possamos deixar de lado os psicologismos terrenos responsáveis por tantas intolerâncias e violências de toda espécie. Somos imperfeitos. Uns mais, outros menos, mas todos iguais perante a lei universal. Só existe uma raça: a humana. As etnias são numerosas, diferentes, de acordo com as concepções racionalistas do outro. Precisam vencer o isolamento regional ( hoje mais mental que físico ) e começar a entender um mundo tão rico culturalmente.
por Paulo Milhomens.