Texto de um amigo de orkut

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
emmmcri
Mensagens: 6869
Registrado em: 29 Out 2005, 09:10
Gênero: Masculino

Texto de um amigo de orkut

Mensagem por emmmcri »

DEFESA DA FÉ

Do Gêneses à Evolução: O Espírito Científico de Bento XVI - Por Gabriel Viviani Aug 3, '07 4:23 PM
for everyone

Um papa intelectual como Joseph Ratzinger é um grande problema para a mídia pseudocientífica, eivada de preconceitos herdados do Iluminismo. Diante do catedrático de Freising, Bonn, Münster e Tubinga, os luminares da “ciência paralela” torcem o nariz, batem o pezinho, e espumam de raiva. – Suprema ousadia a desse inquisidor moderno, oriundo da Congregação para a Doutrina da Fé, ao vir agora dar palpites sobre assuntos nos quais a Igreja não deveria se meter! – esbravejam. Não bastasse sua investida “injusta” contra os pobres teólogos da libertação nos anos oitenta, não bastasse a humilhação intelectual a qual submeteu o então Frei Leonardo Boff – que até hoje, como um menino contrariado e birrento, choraminga e faz beicinho em programas de televisão –, não bastasse ter sido eleito papa, representando um supremo “não” da Igreja a todo avanço do abortismo, antipapismo, comunismo, gayzismo, e todos os outros “ismos” que durante o século vinte tentaram romper as portas do Reino dos Céus a fim de destruir a Igreja por dentro, e agora ainda se alça ao direito de manifestar-se sobre a evolução, essa teoria que alguns supõem – erradamente – ser uma invenção de Charles Darwin, e que na mídia pseudocientífica goza de uma autoridade mais incontestável do que nos próprios meios verdadeiramente científicos.
Em sua recente publicação (Criação e Evolução), Bento XVI afirma aquilo que qualquer biólogo de meia tigela sabe: a teoria da evolução não pode ser provada através do método experimental porque as centenas de mutações ocorridas no decorrer de milhares de anos não estão sujeitas à reprodução em laboratório.Um fato simples, absolutamente científico, e admitido exatamente por Darwin em seu principal livro: A Origem das Espécies. Aliás, quem quer que estude a fundo a história do evolucionismo descobre que em nenhum momento houve um consenso entre os cientistas, e que eles mesmos admitem ser a teoria algo muito mais especulativo, filosófico do que propriamente experimental. Ora, uma idéia não estabelecida como verdade absoluta – no âmbito da ciência – é uma idéia sujeita a mudanças, ou com o perdão do trocadilho, sujeita à evolução. Tomá-la, portanto, como um fato estabelecido, representa um grande erro. Deixar de criticá-la por motivações pessoais, ideológicas ou políticas é fazer uso de uma atitude anticientifica. A evolução das espécies não pode ser provada pelo método experimental, e isso é um fato! Admiti-lo não significa negar a validade da teoria enquanto tentativa de explicar determinados fenômenos naturais, mas sim apenas enxergar seus defeitos, a fim de que a ciência possa avançar sem o risco de construir o conhecimento sobre alicerces duvidosos – de fato, essa é a posição de Ratzinger no decorrer da obra.
O conceito central do transformismo é mais antigo do que Charles Darwin e o seu A Origem das Espécies – tivesse esse ensaio um outro propósito, e talvez fosse interessante investigar as primeiras intuições a respeito da evolução presentes na filosofia pré-socrática. Podemos dizer que o primeiro a sistematizar uma teoria a respeito das mutações ocorridas na natureza foi Jean-Baptiste Lamarck. Porém, ainda antes dele, Buffon e Goethe lançavam os germes desse pensamento. Em seu livro Metamorfoses das Plantas, Goethe escreve: “Todas as partes se modelam segundo as leis eternas, e toda a forma, mesmo extraordinária, encerra em si o tipo primitivo. A estrutura do animal determina os seus hábitos, e o gênero de vida, por seu lado, atua potentemente sobre todas as formas. Por ali se revela a regularidade do progresso, que tende à mudança sob a pressão do meio exterior”. Goethe, portanto, acreditava numa natureza potencialmente inclinada à evolução. Segundo o genial autor de Fausto, todos os seres trazem, inerente à sua condição, um princípio que os impulsiona para um movimento evolutivo, cujo resultado seria determinado pela ação contrária do meio ambiente. Desta forma, antes mesmo de Philosophie Zoologique, obra de Lamarck, Goethe especulara sobre a existência de uma propensão transformista na estrutura da natureza, cuja mecânica dialética conduziria a um objetivo final.
Há realmente bastante semelhança entre o pensamento exposto nas Metamorfoses das Plantas e a sistematização de Jean-Baptiste Lamarck. Afora a questão principal do transformismo, ambos defendem uma evolução finalista cuja perfeição buscada segue leis fixas da natureza, sob a influência do meio e das condições de existência dos seres vivos. Lamarck, no entanto, vai mais longe, e estabelece um sistema de regras para essas mutações. Na Philosophie Zoologique, encontramos sua primeira lei: “Em todo animal que não ultrapassou o termo dos seus desenvolvimentos, o emprego mais freqüente e sustentado de qualquer órgão, fortifica pouco a pouco esse órgão, desenvolve-o, aumenta-o e dá-lhe uma potência proporcionada à duração desse emprego, enquanto que a constante falta de uso de qualquer órgão, enfraquece-o insensivelmente, deteriora-o, diminui progressivamente as suas faculdades e acaba por fazê-lo desaparecer”. No decorrer da mesma obra, Lamarck expõe sua segunda lei: “Tudo o que a natureza fez adquirir ou perder aos indivíduos pela influência das circunstâncias a que a sua raça se acha de há muito exposta, e, conseqüentemente, pela influência do emprego predominante de qualquer órgão ou pela influência de uma constante falta de uso de qualquer parte, ela (natureza) conserva pela geração aos novos indivíduos que provêem destes, contando que as mudanças adquiridas sejam comuns aos dois sexos, ou àqueles que produziram estes novos indivíduos”. Não obstante sua lei dos caracteres adquiridos ter sido praticamente refutada por August Weismann, o francês Jean-Baptiste Lamarck figura como o primeiro cientista a sustentar de forma sistemática uma teoria da evolução.
Uma pergunta impõe-se nesse momento: se tantos outros pensadores desenvolveram idéias evolucionistas antes de Charles Darwin, por que coube ao naturalista inglês o mérito quase total da descoberta? Ainda hoje, quando se fala de evolução na mídia ou mesmo nas escolas, é a figura barbuda de Darwin que aparece, muitas vezes acompanhada por um macaco, o chamado elo perdido. A resposta quem a dá é Bento XVI: “Desde o Iluminismo, pelo menos uma parte da ciência se empenha com tenacidade em buscar uma explicação do mundo na qual Deus seja uma coisa supérflua. Assim, seria algo inútil para nossa vida. Mas a cada vez que se chega a essa conclusão, a realidade se mostra evidente. Sem Deus, as contas não fecham para o homem, para o mundo e o universo”. A escolha por Darwin, o frenesi causado por sua teoria, reside no fato de que o evolucionismo darwiniano é afinalista, ou em outras palavras, é movido pelo acaso. Para o biólogo inglês, o processo evolutivo ocorre sem propósito, não existindo na natureza nenhuma ordem interna que direcione as mutações. Neste ponto, Darwin opõe-se à visão de Lamarck, pois enquanto este enxergava um sentido claro a dirigir todas as transformações naturais, aquele não via nenhuma finalidade específica. Em A Origem das Espécies é a seleção natural, auxiliada pela seleção sexual, quem dá as cartas. Através dela os seres são impulsionados à evolução por meio de mutações que não estavam previamente planejadas por nenhum Deus ou Criador, e isso era tudo o que o Iluminismo desejava. Enfim, o homem havia enterrado o velho mito da criação em sete dias, de Adão e Eva, do pecado, e agora podia tranqüilamente explicar sua origem sem necessitar do auxílio de nenhuma divindade.
Contudo, a pretensa vitória do materialismo ateu sobre a “ingenuidade da religião” não passa de uma grande farsa armada pelos ferrenhos adeptos do deicídio. Em primeiro lugar, porque nenhuma teoria evolucionista foi capaz de explicar o princípio da vida. Buffon, Goethe, Lamarck ou Darwin limitaram-se a observar uma tendência evolutiva na natureza, e procuraram sistematizar essas transformações, elaborando hipóteses a fim de descrever e antecipar os caminhos desse movimento. Usando uma comparação, os naturalistas tentaram explicar o mover-se de um automóvel pela estrada, sua velocidade, a forma como se comporta nas curvas, sem, no entanto, demonstrar como o automóvel surgiu, nem tampouco como foi colocado em movimento. Em sua obra mestra, A Origem das Espécies, Darwin afirma que todos os seres evoluíram de uma célula primária, mas não se aventura a cogitar de onde teria surgido essa célula. Desta forma, engana-se – ou engana-nos – aquele que procura colocar a questão da seguinte forma: evolucionismo versus criacionismo. A teoria da evolução não refuta a idéia da criação de Deus porque ela nem sequer chega a enfrentar esse problema. Como vimos, as teorias da evolução tomam a natureza como um fato consumado ou algo estabelecido, e tiram conclusões a respeito de fenômenos inerentes a ela. Sendo assim, se o evolucionismo se opõe a algo, não é ao criacionismo, e sim à teoria fixista.
Enquanto doutrina filosófica, o fixismo foi bastante aceito no século XVIII, tendo em George Cuvier seu principal defensor. Propunha que as espécies haviam sido criadas exatamente como se mostram no tempo atual, e que nelas não se encontra nenhuma tendência evolutiva, permanecendo imutáveis durante toda a sua existência. Aparentemente, o fixismo corresponderia à imagem apresentada no livro do Gênesis, e já que a teoria fixista havia sido refutada pelas evidências da evolução, o mito da criação divina se desmascarara por conseqüência. Digo aparentemente porque dentro da filosofia e da teologia cristãs, a leitura literal do livro do Gênesis nunca foi um consenso. Em plena Patrística, Orígenes sustenta uma interpretação simbólica das Escrituras, provavelmente influenciado pela tradição nascida com Fílon de Alexandria. Segundo esse ponto de vista, o relato da criação não deve ser entendido ao pé da letra, com Deus lançando um sono profundo sobre Adão a fim de lhe retirar uma costela, a partir da qual lhe prepararia uma companheira... Não, a narrativa é, nesse caso, uma alegoria expressa em linguagem mitopoética, cujo verdadeiro sentido – provavelmente intuído através de uma espécie de inspiração intelectual – deve ser procurado por detrás das imagens fantásticas. Em outras palavras, o homem primitivo, tendo acesso parcial à historia da criação, expressou-a conforme suas capacidades intelectual e lingüística.
A maior prova de que o pensamento cristão nem sempre tendeu a uma interpretação literal do Gênesis encontra-se na pessoa de Santo Agostinho. O Bispo de Hipona, certamente o mais genial filósofo da Patrística, expôs a sua teoria das rationes seminales ou causales (forças germinativas), segundo a qual podemos observar o aparecimento de seres sempre novos, surgidos a partir daqueles criados por Deus desde o início. Na visão de Agostinho, esses seres primordiais – obras da criação divina – conteriam em si os germes do seu próprio desenvolvimento, sendo, portanto, criaturas apenas esboçadas, preformadas, à espera de uma evolução posterior. É fato que não podemos comparar as idéias do autor de A Cidade de Deus com as teorias evolucionistas modernas, pois elas discordam em muitos aspectos. Não obstante, fechar os olhos para a intuição intelectual de Santo Agostinho seria um erro ainda muito mais grave. Não há no conceito das rationes seminales ou causales uma preocupação em sistematizar as inúmeras transformações observadas na natureza, nem em criar leis a fim de entendê-las melhor, assim como fizeram Lamarck e Darwin. Porém, é-nos possível depreender três aspectos que revelam o espírito visionário desse bispo africano: 1º Santo Agostinho percebeu uma tendência transformativa e evolutiva na natureza, quinze séculos antes das primeira teorias aceitas a esse respeito; 2º Ao conceber esse conceito, opôs-se ao ponto de vista do fixismo, até então regra do senso comum; 3º Conseqüentemente, negou a interpretação literal do Gênesis, reforçando a tendência por uma leitura simbólica.
Temos visto, assim, que a idéia de uma criação divina não se contrasta absolutamente com a hipótese da evolução. Quanto a isso nos prova a figura do monge agostiniano Gregor Mendel, meteorologista e botânico austríaco que, responsável pelo jardim de seu mosteiro, levou a cabo inúmeras experiências com ervilhas, cujos resultados deram início àquilo que hoje conhecemos como genética. Além dele, o paleontólogo Teilhard de Chardin, sacerdote da Companhia de Jesus, efetuou importantes trabalhos na área científica, participando ativamente da descoberta do Homem de Pequim, e escrevendo obras onde procurava realizar uma síntese entre a evolução, a filosofia e a teologia – dentre elas, destaca-se O Fenômeno Humano. Outros teólogos da Igreja também abraçaram a causa do evolucionismo, e buscaram unir outra vez os laços que, aparentemente, separam a ciência e a fé: André Leonard, Karl Rahner, Peter Schoonenberg, André Manaranche, Claude Tresmontant são apenas alguns deles.
Diante desses fatos, percebemos que o único obstáculo a separar o evolucionismo da Igreja é justamente a questão do acaso darwiniano, conceito tão aclamado e decantado pelos materialistas. Com relação a isso, é novamente Bento XVI quem nos vem lançar uma luz: “O que existe na origem? A razão criadora, o Espírito que opera em tudo e proporciona o desenvolvimento, ou a irracionalidade que, despojada de toda razão, produz estranhamente um universo ordenado de maneira matemática, assim como o homem e sua razão?”. A questão levantada por Joseph Ratzinger representa, curiosamente, a resposta para o nosso problema. Como falar de acaso num universo cuja estrutura interna é claramente regida pela lógica? Desde os gregos a filosofia conhece o conceito da teleologia, ou seja, a constatação de que o cosmos possui leis que o regem com exatidão e regularidade matemáticas. A possibilidade do conhecimento, a sua respectiva expressão numa linguagem humana, o próprio ato de observar mutações na natureza e criar uma teoria da evolução, apenas são possíveis porque a nossa realidade é permeada por uma estrutura lógica, racional. Sem essa estrutura, nenhuma constatação sensível chegaria a ser apreciada pelo intelecto, nenhum pensamento poderia ser expresso através de palavras, nenhuma palavra seria compreendida por qualquer interlocutor. A racionalidade é aquilo que torna possível os relacionamentos humanos, a edificação da sociedade, as previsões meteorológicas, astronômicas, químicas, físicas, etc. Em suma, o caráter lógico do universo é o que dá substrato à existência, e sendo assim, refuta toda concepção que pretenda explicar a realidade sem o concurso parcial ou total de uma Razão Superior.
O historiador francês George Minois afirmava que a teoria evolucionista de Darwin instaurou o relativismo nos tempos modernos, pois se tudo o que há move-se ao acaso, não nos resta nenhuma chance de conhecer a verdade. Mas essa mesma verdade, muitas vezes vilipendiada pelos meios de comunicação, prostituída por movimentos “intelectuais” duvidosos, manipulada por doutrinas políticas, resiste bravamente nas palavras de alguns poucos homens. Na missa de abertura do conclave que o elegeu como papa, o então cardeal Joseph Ratzinger falou em sua homilia: “Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida (das coisas) só o próprio eu e a sua vontade". De fato, o processo de desinformação ao qual as pessoas são submetidas acelera a criação dessa estranha cultura paralela, pseudocientífica, que pretende dar como estabelecidas teorias que ainda não chegaram a seu termo, forjando assim, uma separação irreparável entre ciência e fé. Diante dessa cortina de mentiras que, pouco a pouco, se vai formando aos nossos olhos, nada melhor do que contar com o verdadeiro espírito cientifico de um papa que não teme enxergar as coisas como elas realmente são.

Prev: Crônica de um Mea Culpa Anunciado - Por Gabriel Viviani
Next: Carta Aberta à Igreja Católica no Brasil - Por Gabriel Viviani

reply share



Add a reply:
DEFESA DA FÉ
HomeBlogPhotosReviewsLinks
Do Gêneses à Evolução: O Espírito Científico de Bento XVI - Por Gabriel Viviani Aug 3, '07 4:23 PM
for everyone

Um papa intelectual como Joseph Ratzinger é um grande problema para a mídia pseudocientífica, eivada de preconceitos herdados do Iluminismo. Diante do catedrático de Freising, Bonn, Münster e Tubinga, os luminares da “ciência paralela” torcem o nariz, batem o pezinho, e espumam de raiva. – Suprema ousadia a desse inquisidor moderno, oriundo da Congregação para a Doutrina da Fé, ao vir agora dar palpites sobre assuntos nos quais a Igreja não deveria se meter! – esbravejam. Não bastasse sua investida “injusta” contra os pobres teólogos da libertação nos anos oitenta, não bastasse a humilhação intelectual a qual submeteu o então Frei Leonardo Boff – que até hoje, como um menino contrariado e birrento, choraminga e faz beicinho em programas de televisão –, não bastasse ter sido eleito papa, representando um supremo “não” da Igreja a todo avanço do abortismo, antipapismo, comunismo, gayzismo, e todos os outros “ismos” que durante o século vinte tentaram romper as portas do Reino dos Céus a fim de destruir a Igreja por dentro, e agora ainda se alça ao direito de manifestar-se sobre a evolução, essa teoria que alguns supõem – erradamente – ser uma invenção de Charles Darwin, e que na mídia pseudocientífica goza de uma autoridade mais incontestável do que nos próprios meios verdadeiramente científicos.
Em sua recente publicação (Criação e Evolução), Bento XVI afirma aquilo que qualquer biólogo de meia tigela sabe: a teoria da evolução não pode ser provada através do método experimental porque as centenas de mutações ocorridas no decorrer de milhares de anos não estão sujeitas à reprodução em laboratório.Um fato simples, absolutamente científico, e admitido exatamente por Darwin em seu principal livro: A Origem das Espécies. Aliás, quem quer que estude a fundo a história do evolucionismo descobre que em nenhum momento houve um consenso entre os cientistas, e que eles mesmos admitem ser a teoria algo muito mais especulativo, filosófico do que propriamente experimental. Ora, uma idéia não estabelecida como verdade absoluta – no âmbito da ciência – é uma idéia sujeita a mudanças, ou com o perdão do trocadilho, sujeita à evolução. Tomá-la, portanto, como um fato estabelecido, representa um grande erro. Deixar de criticá-la por motivações pessoais, ideológicas ou políticas é fazer uso de uma atitude anticientifica. A evolução das espécies não pode ser provada pelo método experimental, e isso é um fato! Admiti-lo não significa negar a validade da teoria enquanto tentativa de explicar determinados fenômenos naturais, mas sim apenas enxergar seus defeitos, a fim de que a ciência possa avançar sem o risco de construir o conhecimento sobre alicerces duvidosos – de fato, essa é a posição de Ratzinger no decorrer da obra.
O conceito central do transformismo é mais antigo do que Charles Darwin e o seu A Origem das Espécies – tivesse esse ensaio um outro propósito, e talvez fosse interessante investigar as primeiras intuições a respeito da evolução presentes na filosofia pré-socrática. Podemos dizer que o primeiro a sistematizar uma teoria a respeito das mutações ocorridas na natureza foi Jean-Baptiste Lamarck. Porém, ainda antes dele, Buffon e Goethe lançavam os germes desse pensamento. Em seu livro Metamorfoses das Plantas, Goethe escreve: “Todas as partes se modelam segundo as leis eternas, e toda a forma, mesmo extraordinária, encerra em si o tipo primitivo. A estrutura do animal determina os seus hábitos, e o gênero de vida, por seu lado, atua potentemente sobre todas as formas. Por ali se revela a regularidade do progresso, que tende à mudança sob a pressão do meio exterior”. Goethe, portanto, acreditava numa natureza potencialmente inclinada à evolução. Segundo o genial autor de Fausto, todos os seres trazem, inerente à sua condição, um princípio que os impulsiona para um movimento evolutivo, cujo resultado seria determinado pela ação contrária do meio ambiente. Desta forma, antes mesmo de Philosophie Zoologique, obra de Lamarck, Goethe especulara sobre a existência de uma propensão transformista na estrutura da natureza, cuja mecânica dialética conduziria a um objetivo final.
Há realmente bastante semelhança entre o pensamento exposto nas Metamorfoses das Plantas e a sistematização de Jean-Baptiste Lamarck. Afora a questão principal do transformismo, ambos defendem uma evolução finalista cuja perfeição buscada segue leis fixas da natureza, sob a influência do meio e das condições de existência dos seres vivos. Lamarck, no entanto, vai mais longe, e estabelece um sistema de regras para essas mutações. Na Philosophie Zoologique, encontramos sua primeira lei: “Em todo animal que não ultrapassou o termo dos seus desenvolvimentos, o emprego mais freqüente e sustentado de qualquer órgão, fortifica pouco a pouco esse órgão, desenvolve-o, aumenta-o e dá-lhe uma potência proporcionada à duração desse emprego, enquanto que a constante falta de uso de qualquer órgão, enfraquece-o insensivelmente, deteriora-o, diminui progressivamente as suas faculdades e acaba por fazê-lo desaparecer”. No decorrer da mesma obra, Lamarck expõe sua segunda lei: “Tudo o que a natureza fez adquirir ou perder aos indivíduos pela influência das circunstâncias a que a sua raça se acha de há muito exposta, e, conseqüentemente, pela influência do emprego predominante de qualquer órgão ou pela influência de uma constante falta de uso de qualquer parte, ela (natureza) conserva pela geração aos novos indivíduos que provêem destes, contando que as mudanças adquiridas sejam comuns aos dois sexos, ou àqueles que produziram estes novos indivíduos”. Não obstante sua lei dos caracteres adquiridos ter sido praticamente refutada por August Weismann, o francês Jean-Baptiste Lamarck figura como o primeiro cientista a sustentar de forma sistemática uma teoria da evolução.
Uma pergunta impõe-se nesse momento: se tantos outros pensadores desenvolveram idéias evolucionistas antes de Charles Darwin, por que coube ao naturalista inglês o mérito quase total da descoberta? Ainda hoje, quando se fala de evolução na mídia ou mesmo nas escolas, é a figura barbuda de Darwin que aparece, muitas vezes acompanhada por um macaco, o chamado elo perdido. A resposta quem a dá é Bento XVI: “Desde o Iluminismo, pelo menos uma parte da ciência se empenha com tenacidade em buscar uma explicação do mundo na qual Deus seja uma coisa supérflua. Assim, seria algo inútil para nossa vida. Mas a cada vez que se chega a essa conclusão, a realidade se mostra evidente. Sem Deus, as contas não fecham para o homem, para o mundo e o universo”. A escolha por Darwin, o frenesi causado por sua teoria, reside no fato de que o evolucionismo darwiniano é afinalista, ou em outras palavras, é movido pelo acaso. Para o biólogo inglês, o processo evolutivo ocorre sem propósito, não existindo na natureza nenhuma ordem interna que direcione as mutações. Neste ponto, Darwin opõe-se à visão de Lamarck, pois enquanto este enxergava um sentido claro a dirigir todas as transformações naturais, aquele não via nenhuma finalidade específica. Em A Origem das Espécies é a seleção natural, auxiliada pela seleção sexual, quem dá as cartas. Através dela os seres são impulsionados à evolução por meio de mutações que não estavam previamente planejadas por nenhum Deus ou Criador, e isso era tudo o que o Iluminismo desejava. Enfim, o homem havia enterrado o velho mito da criação em sete dias, de Adão e Eva, do pecado, e agora podia tranqüilamente explicar sua origem sem necessitar do auxílio de nenhuma divindade.
Contudo, a pretensa vitória do materialismo ateu sobre a “ingenuidade da religião” não passa de uma grande farsa armada pelos ferrenhos adeptos do deicídio. Em primeiro lugar, porque nenhuma teoria evolucionista foi capaz de explicar o princípio da vida. Buffon, Goethe, Lamarck ou Darwin limitaram-se a observar uma tendência evolutiva na natureza, e procuraram sistematizar essas transformações, elaborando hipóteses a fim de descrever e antecipar os caminhos desse movimento. Usando uma comparação, os naturalistas tentaram explicar o mover-se de um automóvel pela estrada, sua velocidade, a forma como se comporta nas curvas, sem, no entanto, demonstrar como o automóvel surgiu, nem tampouco como foi colocado em movimento. Em sua obra mestra, A Origem das Espécies, Darwin afirma que todos os seres evoluíram de uma célula primária, mas não se aventura a cogitar de onde teria surgido essa célula. Desta forma, engana-se – ou engana-nos – aquele que procura colocar a questão da seguinte forma: evolucionismo versus criacionismo. A teoria da evolução não refuta a idéia da criação de Deus porque ela nem sequer chega a enfrentar esse problema. Como vimos, as teorias da evolução tomam a natureza como um fato consumado ou algo estabelecido, e tiram conclusões a respeito de fenômenos inerentes a ela. Sendo assim, se o evolucionismo se opõe a algo, não é ao criacionismo, e sim à teoria fixista.
Enquanto doutrina filosófica, o fixismo foi bastante aceito no século XVIII, tendo em George Cuvier seu principal defensor. Propunha que as espécies haviam sido criadas exatamente como se mostram no tempo atual, e que nelas não se encontra nenhuma tendência evolutiva, permanecendo imutáveis durante toda a sua existência. Aparentemente, o fixismo corresponderia à imagem apresentada no livro do Gênesis, e já que a teoria fixista havia sido refutada pelas evidências da evolução, o mito da criação divina se desmascarara por conseqüência. Digo aparentemente porque dentro da filosofia e da teologia cristãs, a leitura literal do livro do Gênesis nunca foi um consenso. Em plena Patrística, Orígenes sustenta uma interpretação simbólica das Escrituras, provavelmente influenciado pela tradição nascida com Fílon de Alexandria. Segundo esse ponto de vista, o relato da criação não deve ser entendido ao pé da letra, com Deus lançando um sono profundo sobre Adão a fim de lhe retirar uma costela, a partir da qual lhe prepararia uma companheira... Não, a narrativa é, nesse caso, uma alegoria expressa em linguagem mitopoética, cujo verdadeiro sentido – provavelmente intuído através de uma espécie de inspiração intelectual – deve ser procurado por detrás das imagens fantásticas. Em outras palavras, o homem primitivo, tendo acesso parcial à historia da criação, expressou-a conforme suas capacidades intelectual e lingüística.
A maior prova de que o pensamento cristão nem sempre tendeu a uma interpretação literal do Gênesis encontra-se na pessoa de Santo Agostinho. O Bispo de Hipona, certamente o mais genial filósofo da Patrística, expôs a sua teoria das rationes seminales ou causales (forças germinativas), segundo a qual podemos observar o aparecimento de seres sempre novos, surgidos a partir daqueles criados por Deus desde o início. Na visão de Agostinho, esses seres primordiais – obras da criação divina – conteriam em si os germes do seu próprio desenvolvimento, sendo, portanto, criaturas apenas esboçadas, preformadas, à espera de uma evolução posterior. É fato que não podemos comparar as idéias do autor de A Cidade de Deus com as teorias evolucionistas modernas, pois elas discordam em muitos aspectos. Não obstante, fechar os olhos para a intuição intelectual de Santo Agostinho seria um erro ainda muito mais grave. Não há no conceito das rationes seminales ou causales uma preocupação em sistematizar as inúmeras transformações observadas na natureza, nem em criar leis a fim de entendê-las melhor, assim como fizeram Lamarck e Darwin. Porém, é-nos possível depreender três aspectos que revelam o espírito visionário desse bispo africano: 1º Santo Agostinho percebeu uma tendência transformativa e evolutiva na natureza, quinze séculos antes das primeira teorias aceitas a esse respeito; 2º Ao conceber esse conceito, opôs-se ao ponto de vista do fixismo, até então regra do senso comum; 3º Conseqüentemente, negou a interpretação literal do Gênesis, reforçando a tendência por uma leitura simbólica.
Temos visto, assim, que a idéia de uma criação divina não se contrasta absolutamente com a hipótese da evolução. Quanto a isso nos prova a figura do monge agostiniano Gregor Mendel, meteorologista e botânico austríaco que, responsável pelo jardim de seu mosteiro, levou a cabo inúmeras experiências com ervilhas, cujos resultados deram início àquilo que hoje conhecemos como genética. Além dele, o paleontólogo Teilhard de Chardin, sacerdote da Companhia de Jesus, efetuou importantes trabalhos na área científica, participando ativamente da descoberta do Homem de Pequim, e escrevendo obras onde procurava realizar uma síntese entre a evolução, a filosofia e a teologia – dentre elas, destaca-se O Fenômeno Humano. Outros teólogos da Igreja também abraçaram a causa do evolucionismo, e buscaram unir outra vez os laços que, aparentemente, separam a ciência e a fé: André Leonard, Karl Rahner, Peter Schoonenberg, André Manaranche, Claude Tresmontant são apenas alguns deles.
Diante desses fatos, percebemos que o único obstáculo a separar o evolucionismo da Igreja é justamente a questão do acaso darwiniano, conceito tão aclamado e decantado pelos materialistas. Com relação a isso, é novamente Bento XVI quem nos vem lançar uma luz: “O que existe na origem? A razão criadora, o Espírito que opera em tudo e proporciona o desenvolvimento, ou a irracionalidade que, despojada de toda razão, produz estranhamente um universo ordenado de maneira matemática, assim como o homem e sua razão?”. A questão levantada por Joseph Ratzinger representa, curiosamente, a resposta para o nosso problema. Como falar de acaso num universo cuja estrutura interna é claramente regida pela lógica? Desde os gregos a filosofia conhece o conceito da teleologia, ou seja, a constatação de que o cosmos possui leis que o regem com exatidão e regularidade matemáticas. A possibilidade do conhecimento, a sua respectiva expressão numa linguagem humana, o próprio ato de observar mutações na natureza e criar uma teoria da evolução, apenas são possíveis porque a nossa realidade é permeada por uma estrutura lógica, racional. Sem essa estrutura, nenhuma constatação sensível chegaria a ser apreciada pelo intelecto, nenhum pensamento poderia ser expresso através de palavras, nenhuma palavra seria compreendida por qualquer interlocutor. A racionalidade é aquilo que torna possível os relacionamentos humanos, a edificação da sociedade, as previsões meteorológicas, astronômicas, químicas, físicas, etc. Em suma, o caráter lógico do universo é o que dá substrato à existência, e sendo assim, refuta toda concepção que pretenda explicar a realidade sem o concurso parcial ou total de uma Razão Superior.
O historiador francês George Minois afirmava que a teoria evolucionista de Darwin instaurou o relativismo nos tempos modernos, pois se tudo o que há move-se ao acaso, não nos resta nenhuma chance de conhecer a verdade. Mas essa mesma verdade, muitas vezes vilipendiada pelos meios de comunicação, prostituída por movimentos “intelectuais” duvidosos, manipulada por doutrinas políticas, resiste bravamente nas palavras de alguns poucos homens. Na missa de abertura do conclave que o elegeu como papa, o então cardeal Joseph Ratzinger falou em sua homilia: “Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida (das coisas) só o próprio eu e a sua vontade". De fato, o processo de desinformação ao qual as pessoas são submetidas acelera a criação dessa estranha cultura paralela, pseudocientífica, que pretende dar como estabelecidas teorias que ainda não chegaram a seu termo, forjando assim, uma separação irreparável entre ciência e fé. Diante dessa cortina de mentiras que, pouco a pouco, se vai formando aos nossos olhos, nada melhor do que contar com o verdadeiro espírito cientifico de um papa que não teme enxergar as coisas como elas realmente são.

Prev: Crônica de um Mea Culpa Anunciado - Por Gabriel




defesadafe

View Gabriel's Profile
RSS Feed [?]
Report Abuse




© 2007 Multiply, Inc. About · Blog · Terms · Privacy · Corp Info · Contact Us · Help


http://defesadafe.multiply.com/journal/item/3
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
VOLTAIRE

Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.



Imagem

Avatar do usuário
Malamen
Mensagens: 1141
Registrado em: 08 Nov 2005, 11:23
Localização: 127.0.0.1
Contato:

Re.: Texto de um amigo de orkut

Mensagem por Malamen »

Mais merda...
Imagem

Avatar do usuário
Fernando Silva
Administrador
Mensagens: 20080
Registrado em: 25 Out 2005, 11:21
Gênero: Masculino
Localização: Rio de Janeiro, RJ
Contato:

Re.: Texto de um amigo de orkut

Mensagem por Fernando Silva »

Em resumo: a organização e a complexidade do universo provariam que Deus existe.
Não. Ainda faltam provas. Isto é apenas uma teoria.

Trancado