Uma situação preocupante
Enviado: 08 Ago 2007, 09:07
Engenheiro chinês é bem mais feliz
Artigo - Leonardo Trevisan
Gazeta Mercantil
08/08/2007
- Uma empresa de Brasília, que desenvolve projetos na área de tecnologia da informação (TI), assinou em 2006 uma parceria com uma companhia chinesa da mesma área. Muito bom, esse é o caminho. Porém, para concluir sua parte na tarefa, precisou, em março deste ano, importar engenheiros chineses, por não encontrá-los aqui em número suficiente. Os asiáticos exultaram e os donos da Politec, a tal empresa, ficaram se perguntando por que brigaram tanto para fixar em contrato o uso da mão-de-obra nativa em sua parte do projeto.
- Dispensados os protestos nacionalistas (por ingênuos ou inúteis), o fato merece atenção. Segundo diretores da empresa, o Brasil forma 35 mil engenheiros vinculados a TI, quando deveria formar 100 mil. É difícil conferir o dado, porque a malha de interesses em torno de TI é vasta e no País não há sequer debate sobre o papel da inovação nas grades curriculares, tanto no ensino médio como no superior.
- O resultado desse "esquecimento" é grave. É possível vê-lo, por exemplo, no saldo da balança comercial da indústria de transformação. Nos primeiros seis meses de 2005, esse saldo foi de US$ 14,6 bilhões, caiu para US$ 13 bilhões no mesmo período em 2006 e perdeu mais um pouco, US$ 11,5 bilhões, neste ano. O que mais preocupa, no entanto, são os números relativos aos setores de alta e média-alta tecnologia nessa balança, porque nesses segmentos o déficit aumenta. Nos produtos de alta tecnologia o déficit passou de US$ 6,4 bilhões no primeiro semestre de 2006 para US$ 6,8 bilhões neste ano.
- Na média-alta tecnologia piorou muito: de superávit de US$ 98 milhões para saldo negativo de US$ 3,3 bilhões, na mesma comparação. Só os setores de baixa intensidade tecnológica mantêm saldo na balança. Os dados são do Iedi.
- Esses resultados são compatíveis com os cálculos sobre produtividade de setores tradicionais da indústria: de 43 grupos de atividade, 21 perderam, em média, 16% de eficiência entre 1996 e 2005. É curioso, mas a produtividade da indústria extrativa no mesmo período foi a única que subiu muito, três vezes mais que a da indústria de transformação. É possível pensar, portanto, que a falta de gente qualificada gerou tais resultados na pauta de exportação. Uma suspeita que aumenta porque em 2006, do 1,769 milhão de empregos formais oferecidos pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine), apenas 877 mil foram preenchidos. Motivo: falta da qualificação da mão-de-obra.
- Anteontem, o Ministério da Educação (MEC) avisou que só dentro de 14 anos será possível conseguir que as crianças dominem 60% do conteúdo ministrado no ensino fundamental, reconhecendo que 18 estados brasileiros estão muito longe dessa meta no momento. Isto, depois que, em julho, relatório do MEC provou que apenas 9% dos professores de física no ensino médio tem formação plena na disciplina. Em química são 13% e em matemática, 17%. Como formar engenheiros em número suficiente nessas condições? Portanto, quer os donos da empresa de TI gostem ou não, por muito tempo, eles continuarão a abrir empregos para chineses. E o pior é que, neste caso, nem parceria com os próprios resolve o problema.
Abraços,
Artigo - Leonardo Trevisan
Gazeta Mercantil
08/08/2007
- Uma empresa de Brasília, que desenvolve projetos na área de tecnologia da informação (TI), assinou em 2006 uma parceria com uma companhia chinesa da mesma área. Muito bom, esse é o caminho. Porém, para concluir sua parte na tarefa, precisou, em março deste ano, importar engenheiros chineses, por não encontrá-los aqui em número suficiente. Os asiáticos exultaram e os donos da Politec, a tal empresa, ficaram se perguntando por que brigaram tanto para fixar em contrato o uso da mão-de-obra nativa em sua parte do projeto.
- Dispensados os protestos nacionalistas (por ingênuos ou inúteis), o fato merece atenção. Segundo diretores da empresa, o Brasil forma 35 mil engenheiros vinculados a TI, quando deveria formar 100 mil. É difícil conferir o dado, porque a malha de interesses em torno de TI é vasta e no País não há sequer debate sobre o papel da inovação nas grades curriculares, tanto no ensino médio como no superior.
- O resultado desse "esquecimento" é grave. É possível vê-lo, por exemplo, no saldo da balança comercial da indústria de transformação. Nos primeiros seis meses de 2005, esse saldo foi de US$ 14,6 bilhões, caiu para US$ 13 bilhões no mesmo período em 2006 e perdeu mais um pouco, US$ 11,5 bilhões, neste ano. O que mais preocupa, no entanto, são os números relativos aos setores de alta e média-alta tecnologia nessa balança, porque nesses segmentos o déficit aumenta. Nos produtos de alta tecnologia o déficit passou de US$ 6,4 bilhões no primeiro semestre de 2006 para US$ 6,8 bilhões neste ano.
- Na média-alta tecnologia piorou muito: de superávit de US$ 98 milhões para saldo negativo de US$ 3,3 bilhões, na mesma comparação. Só os setores de baixa intensidade tecnológica mantêm saldo na balança. Os dados são do Iedi.
- Esses resultados são compatíveis com os cálculos sobre produtividade de setores tradicionais da indústria: de 43 grupos de atividade, 21 perderam, em média, 16% de eficiência entre 1996 e 2005. É curioso, mas a produtividade da indústria extrativa no mesmo período foi a única que subiu muito, três vezes mais que a da indústria de transformação. É possível pensar, portanto, que a falta de gente qualificada gerou tais resultados na pauta de exportação. Uma suspeita que aumenta porque em 2006, do 1,769 milhão de empregos formais oferecidos pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine), apenas 877 mil foram preenchidos. Motivo: falta da qualificação da mão-de-obra.
- Anteontem, o Ministério da Educação (MEC) avisou que só dentro de 14 anos será possível conseguir que as crianças dominem 60% do conteúdo ministrado no ensino fundamental, reconhecendo que 18 estados brasileiros estão muito longe dessa meta no momento. Isto, depois que, em julho, relatório do MEC provou que apenas 9% dos professores de física no ensino médio tem formação plena na disciplina. Em química são 13% e em matemática, 17%. Como formar engenheiros em número suficiente nessas condições? Portanto, quer os donos da empresa de TI gostem ou não, por muito tempo, eles continuarão a abrir empregos para chineses. E o pior é que, neste caso, nem parceria com os próprios resolve o problema.
Abraços,