Para além da covardia

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user f.k.a. Cabeção
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Para além da covardia

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Para além da covardia

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 31 de agosto de 2007



Enquanto os liberais e conservadores continuarem fingindo para si próprios que estão lutando contra adversários políticos normais e decentes, que é possível mudar o rumo das coisas por meio de palavras tímidas e ações simbólicas, não haverá a mínima esperança de melhora para este país.

Os homens que nos governam, formados no ventre da mentalidade revolucionária, são sociopatas amorais e cínicos, absolutamente indignos de confiança. Imaginem um parlamentar que, às escondidas, mete dois artigos na Constituição sem dar ciência disto à Assembléia Constituinte, isto é, fazendo-se ele próprio de Assembléia Constituinte. Normalmente, um sujeito desses não deveria ser aceito como advogado nem mesmo num caso de multa de trânsito. O Brasil, em vez disso, faz dele ministro da Justiça, depois juiz da Suprema Corte e por fim ministro da Defesa, com autoridade sobre o conjunto das Forças Armadas. E ele sai falando grosso, tapando a boca de generais e almirantes. Imaginem um indivíduo pobre, que sobe à presidência nos braços de um movimento popular, e depois de dois anos de mandato, ainda ostentando a imagem de presidente-operário, já tem em vez disso um filho bilionário. Tais são os homens que nos governam -- as encarnações vivas da moral socialista, que é a moral do roubo santificado. Se não forem desmascarados, continuarão acumulando parcelas de poder cada vez maiores, até tornar-se indestrutíveis. E então farão aqui o que seus semelhantes fizeram em Cuba, no Camboja, no Vietnã, na Coréia do Norte.

Já estão bem preparados para isso, com suas massas militantes armadas e treinadas, com a rede internacional de alianças que os une a organizações de terroristas e narcotraficantes e a uma dúzia de governos genocidas.

Não contentes com extorquir 2,5 bilhões de reais dos cofres do Estado para premiar atos terroristas cometidos por seus amigos, fazem cada vez mais alarde em torno dos “crimes da ditadura”, com a ajuda solícita da grande mídia. Mas o que são esses crimes – a morte de quinhentos terroristas, autores por sua vez de duzentos assassinatos – em comparação com a ajuda prestada pelo nosso governo à organização narcoguerrilheira que inunda de cocaína o mercado local e através de seus agentes no PCC e no Comando Vermelho mata anualmente dezenas de milhares de brasileiros inocentes?

Que são os delitos da ditadura, em comparação com os do regime de Fidel Castro, ao qual nossos heróis de hoje, alguns na condição oficial de agentes do serviço cubano de inteligência militar, prestaram auxílio em seus inumeráveis empreendimentos revolucionários no Brasil e em outros países?

Que são os crimes da ditadura, em comparação com a exportação maciça de armas brasileiras para organizações terroristas e ditaduras genocidas em todo o mundo, por parte de um governo que ao mesmo tempo faz o que pode para desarmar os cidadãos honestos no seu próprio país? (V. VejaOnline).

Curiosamente, o maior dos crimes da ditadura – o único digno de atenção mundial -- jamais é alardeado, jamais é sequer mencionado pelas Folhas e Globos da vida: a cumplicidade ostensiva, material, com a intervenção de Fidel Castro na África (v. MidiaSemMácara), que resultou na morte de pelo menos dez mil angolanos. Ah, esse crime não conta, porque se é a favor da esquerda não é crime.

Não, não pensem que eu esteja inventando esse argumento, mediante ampliação retórica, para colocá-lo na boca dos esquerdistas. Ao contrário: foi da boca de um deles que o extraí. Vejam o noticiário da BBC-Brasil de 28 de agosto: “O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, disse que não usa a formulação ‘crimes' para classificar a morte de agentes de órgãos de segurança e do Estado por militantes de esquerda durante o regime militar.” O próprio Vanucchi, na mesma entrevista, externou com uma candura exemplar a repulsa que lhe infunde a idéia de igualdade perante a lei: “A idéia de que tem que fazer uma investigação dos dois lados peca por ignorar que durante o regime militar essas pessoas foram expulsas do país, demitidas, perseguidas, espionadas, presas e algumas foram mortas.”

Bem, ainda não fui assassinado, mas já fui perseguido, espionado, ameaçado de morte e demitido, por motivos políticos, de três empregos. Quererá isso dizer que estarei no meu pleno direito se penetrar ilegalmente no Brasil, armado de uma 45, e der dois tiros na cabeça oca do sr. Vanucchi com a naturalidade de quem estoura uma melancia? É claro que não. Não só alguns são mais iguais que os outros, mas o direito de ser mais igual é desigualmente distribuído. O critério de distribuição é aquele que Herbert Marcuse chamava “tolerância libertadora” e definia assim: “Toda a tolerância para com a esquerda, nenhuma para com a direita.”

Nem a “linha dura” militar ousou jamais fazer pender tão vertiginosamente para o seu lado a balança da justiça. Durante a ditadura, os tribunais militares deram a cada terrorista pleno direito de defesa. Os advogados que ali atuaram – mesmo esquerdistas eles próprios -- são unânimes em reconhecê-lo. Tanto pior. Isso é apenas uma razão a mais para que a esquerda se escandalize ante a hipótese de ser julgada pelas mesmas leis com que deseja punir seus inimigos.

Tal como a noção de justiça, a de veracidade também é cinicamente prostituída, todos os dias, para servir a uma insaciável ambição de poder. Em matéria de mendacidade, o sr. Vanucchi é pinto, em comparação com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Esse abortista fanático, cego, louco, não hesita em falsificar as estatísticas do seu próprio ministério para ludibriar a opinião pública e induzi-la a apoiar a legalização do aborto. Em 29 de março de 2007 ele declarou à Folha de S. Paulo que “ mi lhares de mulheres morrem todos os anos no Brasil por causa de abortos ilegais”. Em agosto, sabatinada na ONU, sua cúmplice Nilcéia Freire diminuía um pouco o tamanho da mentira: "E m 2002, 2003 e 2004 ocorreram 115, 152 e 156 mortes anuais provocadas por abortos ilegais”. Os dados do próprio DataSUS mostram que as mortes por essa causa foram respectivamente, nesses anos, em número de seis, sete e onze. Sim: seis, sete e onze mulheres. Tal é o gigantesco, o epidêmico problema de saúde pública que os dois ministros querem eliminar mediante o assassinato de milhões de bebês no ventre de suas mães. Ambos conhecem perfeitamente esses dados. Ambos mentem deliberadamente, friamente, na defesa de uma causa insana e homicida.

Como se pode ter uma “divergência política” com esses indivíduos? O que há entre eles e as pessoas normais é um abismo moral imensurável.

Mas como poderá a “direita” condená-los, se ela própria falsifica em favor da esquerda, com tanta devoção quanto eles, o quadro da realidade nacional?

Quando lemos os discursos dos chamados oposicionistas, direitistas etc., temos a impressão de que o maior ou único mal do Brasil é a corrupção, o roubo de dinheiro público. Enquanto isso, o partido governante, nos anúncios do seu 3º. Congresso, assume abertamente a liderança do Foro de São Paulo, “espaço de articulação estratégica” ( sic ) onde trama e executa planos em comum com as Farc e o Mir, organizações criminosas notoriamente empenhadas em seqüestrar e matar brasileiros e em aparelhar e treinar as quadrilhas locais para que seqüestrem e matem mais ainda. Que a direita queira ser “apolítica”, é covardia, mas é compreensível precisamente por isso. Mas que ela ajude a ocultar a trama política responsável pela matança anual de dezenas de milhares de nossos concidadãos, é um crime puro e simples, e este ela não pode atribuir aos esquerdistas. Ninguém a obriga a calar-se, ao menos por enquanto. Ninguém a obriga a agir como se dinheiro roubado fosse mais chocante do que sangue derramado nas ruas. Ninguém a obriga a fingir que o inimigo é apenas ladrão, quando ele é cúmplice ativo de assassinato em massa.

O Foro de São Paulo é o coração do inimigo, e, ao mesmo tempo, o seu único ponto vulnerável. Acertem-no aí, com firmeza e coragem, e o destruirão. Tentem roê-lo discretamente pelas beiradas – e ele os destruirá.


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Minuteman
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Mensagem por Minuteman »

O OdC entrou nessa da revolução comunista iminente no Brasil, é óbvio pelo que vejo na sociedade brasileira que um Hugo Chavez brasileiro não teria o menor espaço aqui.

Será que eu estou enganado ? Será que foi por esse sentimento apocalíptico que ele se mudou pros EUA em 2005 ?

-- Anderson
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Jeanioz
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Re.: Para além da covardia

Mensagem por Jeanioz »

Vendo o site dele, achei um texto interessante:

http://www.olavodecarvalho.org/textos/fedeli8.htm

Qual o conceito de gnose do sr. Fedeli?

Olavo de Carvalho



Não tendo um corpo de militantes a meu serviço, nem mais que uns minutos por semana para consagrar ao sr. Fedeli entre viagens e mil e um trabalhos, não posso evidentemente acompanhar e responder pari passu às acusações que me fazem ele e seu fiel escudeiro Felipe Coelho. Nem creio que isso seja importante, pois o tempo, por si, se encarregará de esclarecer as coisas. A ânsia, a pressa, a velocidade alucinada com que esses indivíduos disparam incessantemente páginas e páginas de páginas de acusações contra mim já mostra que não pensam em outra coisa, que destruir a reputação de Olavo de Carvalho se tornou para elas uma questão de vida ou morte.

Não me sentindo nem um pouco ameaçado, posso examinar o caso aos poucos, de maneira mais ou menos casual e assistemática, por mera curiosidade e sem nenhum intuito de “me defender”, já que a fantasia tribunalícia é do sr. Fedeli e não minha.

Um ponto que me parece especialmente importante é o conceito geral de gnose que entra nesta discussão.

Quando se trata de aplicar um conceito geral a um caso particular, a única prova admissível reside na coincidência exata ou pelo menos adequada das propriedades deduzidas do primeiro com aquelas observadas no segundo. Logo, para saber se sou um gnóstico ou não, seria preciso, primeiro, saber qual o conceito geral de gnose usado pelo sr. Fedeli.

Felizmente, para descobrir isso não é preciso desencavar um conceito de gnose implícito nas análises que ele fez do meu pensamento. Meses antes da eclosão da nossa controvérsia ele já havia exposto esse conceito num trabalho publicado em sua homepage. Isso nos dá a garantia de colocar a presente análise no terreno firme de uma fórmula inicial jamais impugnada ou corrigida pelo autor no que quer que fosse, excluindo também, ao menos por enquanto, a hipótese de que ele tenha depois concebido uma definição ad hoc para me fazer caber dentro dela.

Para conceituar a gnose, poderíamos dizer que ela pretende ser "o conhecimento do incognoscível".

Evidentemente, essa conceituação revela uma contradição que é típica da gnose. Conhecer o incognoscível é uma contradição conceitual e lógica. Mas ocorre que a gnose repele a inteligência e a lógica como enganadoras. O verdadeiro conhecimento seria intuitivo, imediato e não discursivo e lógico.

Conhecer o incognoscível, de fato, significa dar ao homem o conhecimento de Deus e do mal, coisas impossíveis de compreender. De fato não podemos compreender ou conhecer a própria essência de Deus que é ser infinito e transcendente, impossível de ser captado por nosso intelecto. Também não podemos entender o mal e o pecado: o mal enquanto ser não existe, e o mal moral não tem razão que o justifique.

Assim, a gnose pretende oferecer ao homem um conhecimento natural que o colocaria em posição de compreender - e portanto superar - a Deus, de compreender a mal, e, ademais, de conhecer sua natureza mais íntima, que seria divina.

A gnose é então a religião que oferece ao homem o conhecimento do bem e do mal.

Ora, sabe-se que a árvore do fruto proibido do Éden era exatamente a árvore do conhecimento ou ciência do bem e do mal (Gen. II,10). Assim, teria sido a gnose a tentação de Adão. Com efeito, a serpente prometeu a nossos primeiros pais que, se comessem o fruto proibido, "seriam como deuses, conhecendo o bem e o mal" (Gen., III,5). A tentação de Adão e Eva foi a de se tornarem deuses. Essa é a grande tentação do homem, que, levado pelo orgulho, como Lúcifer, não admite sua finitude, não aceita sua contingência.

Essa tentação é, de fato, uma revolta anti-metafísica. Ora, é esse um outro modo de conceituar a gnose: uma revolta anti-metafísica.

Se admitirmos essa interpretação da tentação adâmica, teremos que concluir existência uma continuidade da gnose na História. E é o que constatam os estudiosos: a gnose apresenta-se realmente como uma religião ora oculta, ora pública, mantendo porém unidade e continuidade no transcorrer da História.

...

Essa unidade histórica da gnose através dos tempos e civilizações é constatada por muitos autores. Dennis de Rougemont, por exemplo, escreve:

"Mais perto de nós que Platão e os drúidas, uma espécie de unidade mística do mundo indo-europeu se desenha como em filigrama no plano de fundo das heresias da Idade Média. Se nós abraçamos o domínio geográfico e histórico que vai da Índia à Bretanha, constatamos que uma religião aí se espalhou, para falar a verdade, de um modo subterrâneo, desde o século III de nossa era, sincretizando o conjunto dos mitos do Dia e da Noite tal como eles tinham sido elaborados inicialmente na Pérsia, depois nos segredos gnósticos e órficos e é a fé maniquéia".

Por sua vez, H. I. Marrou atesta:

"(...) da fato, a gnose e seu dualismo pessimista exprimem umas das tendências mais profundas do espírito humano, uma das duas ou três opções fundamentais entre as quais o homem deve finalmente escolher. Claude Tresmontant mostrou bem a permanência da tentação gnóstica, sem cessar reaparecida, sob formas diversas no pensamento ocidental no curso de sua história nos Bogomilas e Cátaros da Idade Média, em Spinoza, Leibnitz, Fichte, Schelling, Hegel. Poder-se-ia continuar esta história além do romantismo alemão e até nossos dias: o destino de Simone Weil é particularmente muito significativo; foi bem o seu neo-gnosticismo que a deteve finalmente na soleira da Igreja e sua herança se reencontrava na obra histórica de sua amiga e discípula Simone de Pétrement". (1)

Um conceito é obtido a partir da síntese abstrativa de traços notados num certo grupo de fenômenos tomados como exemplares de uma espécie. Se o conjunto dessas notas conseguiu apreender adequadamente a essência da espécie, o conceito poderá ser generalizado para outros fenômenos da mesma espécie. A prova de que a generalização é adequada -- insisto -- reside na coincidência entre as propriedades deduzidas do conceito e aquelas observadas nos novos fenômenos que se pretende abranger nele.

Se o conceito fedeliano de gnose pretende abarcar a continuidade essencial de um fenômeno histórico em todas as suas manifestações, estas devem portanto ter algo em comum que permita pensá-las como unidade. Se a própria formulação lógica do conceito exclui alguma das mesmas manifestações inicialmente tomadas como exemplares, é porque ele não apreendeu corretamente a essência considerada, mas apenas alguns de seus aspectos acidentais. Uma definição feita a partir da coleta de aspectos acidentais não apenas é incapaz de dar conta dos fenômenos que abrange, porém, mais ainda, não poderá sem grave erro ser generalizada para abarcar novos fenômenos, pois estes se arriscam a não ter com os primeiros outro nexo senão acidental.

Um conceito elaborado nessas condições é garantia segura de confusão e erro.

Tal é, precisamente, o caso do conceito criado pelo sr. Fedeli. Já no seu enunciado inicial, “conhecimento do incognoscível”, ele exclui do fenômeno gnóstico pelo menos duas de suas manifestações modernas mais inquestionadas pelos estudiosos, isto é, o positivismo e o neopositivismo. Possuindo todas as seis características da gnose moderna tal como descrita por Voegelin, estas duas escolas têm como seu princípio fundamental, justamente, a abdicação sistemática de todo conhecimento que esteja para lá da experiência sensorial e portanto, a fortiori, o “conhecimento do incognoscível”.

Logo a seguir, ao afirmar que “a gnose repele a inteligência e a lógica como enganadoras. O verdadeiro conhecimento seria intuitivo, imediato e não discursivo e lógico” o sr. Fedeli exclui do fenômeno gnóstico todo o racionalismo clássico, a começar por Spinoza e Leibniz, que, linhas adiante, citando Marrou, ele mesmo classifica como gnósticos. Exclui ainda Hegel, também mencionado como gnóstico por Marrou. Para fazer uma idéia de quanto Hegel estava longe de todo intuitivismo, basta dizer que ele qualificava de “inimigo da humanidade” quem quer que, fugindo à demonstração racional, apelasse à sentença de um “juiz interior”.

Um conceito que não somente não pode ser generalizado para abranger outros fatos, mas que não abarca nem mesmo os próprios fatos dos quais partiu a sua formulação não é, obviamente, um conceito, mas apenas a expressão vaga e autocontraditória de uma impressão subjetiva.

O sr. Fedeli não tem, portanto, nenhum conceito de gnose. Não digo que tenha um conceito ruim, ou tosco, ou primário. Não tem nenhum. Tem apenas uma imagem, um símbolo unificador – o da serpente no Paraíso – em torno do qual pode agrupar, pelo método mágico da analogia, uma multidão de fatos objetivamente inconexos, cuja acumulação dê ao conjunto uma aparência de verossimilhança fortemente persuasiva -- na verdade, tanto mais fortemente persuasiva quanto menos logicamente fundamentada.

Um símbolo não pode, como um conceito geral, ser aplicado a casos particulares pelo método racional que confronta as propriedades observadas neste últimos com as propriedades deduzidas do conceito geral. Um símbolo pode ser apenas “associado”, por analogia, a outros símbolos, e organizado numa cadeia de símbolos. Mas uma analogia não é uma identidade; bem ao contrário, é um misto indissolúvel de semelhanças e diferenças, de modo que, de uma cadeia simbólica, por mais extensa e rica que seja, nada se pode concluir quanto à realidade ou irrealidade dos nexos assinalados.

Também é evidente que qualquer julgamento classificatório que se faça de um caso particular tomando como base não um conceito, mas um símbolo, será logicamente “irrefutável” pelo simples fato de não ter um conteúdo concetual identificável que permita, nele, separar o verdadeiro do falso. Tal é exatamente o que acontece com o juízo que o sr. Fedeli faz dos meus escritos.

Comparado a qualquer esboço de apreensão conceitual, mesmo canhestra, mesmo errada, essa forma de pensamento é primitiva, irracional e puramente mágica. O desprezo que o sr. Fedeli mostra ao irracionalismo gnóstico é pura afetação, ocultando a confiança cega que ele deposita na sua própria fantasia subjetiva.

Confiar-se a esse método no puro domínio investigativo, sem conseqüências práticas para ninguém, já seria uma irresponsabilidade absolutamente intolerável. Usá-lo como critério classificatório para um julgamento que pode ter efeitos lesivos sobre a reputação alheia é o cúmulo da leviandade. Mas o que mais se poderia esperar de um sujeito que, para disparar sobre outrem uma acusação de toxicomania, se baseia num livro que nem leu?

Espero que, diante dessa constatação, o sr. Fedeli não se apegue ao subterfúgio de que essa sua definição de gnose foi apenas uma tentativa informal e provisória – pois isto implicaria reivindicar, para um texto publicado e referendado pelo autor, o privilégio da interpretação figurada e liberal, que ele jamais concede às minhas palavras nem mesmo quando proferidas oralmente, de improviso, e transcritas sem minha correção. Essa duplicidade de critérios trairia de imediato a mais completa desonestidade, agravada ainda pelo fato de que o referido texto, sendo o único que na sua homepage é consagrado ex professo à explicitação de um conceito capital na sua obra escrita, assume nela portanto uma importância igualmente capital.

É evidente que a confusão do sr. Fedeli não tem de ser explicada necessariamente, em primeira instância, como fruto da malícia. O detalhe mais pitoresco – ou mais trágico – da sua fantasia é que, buscando definir a gnose pela sua contradição constitutiva, ele acaba por emitir, não a definição de uma contradição, mas uma definição autocontraditória. Qualquer principiante de lógica percebe a diferença entre o enunciado de uma contradição e um enunciado que se contradiz a si mesmo. Mas a contradição que o sr. Fedeli vislumbrou no seu objeto acabou por se apossar do próprio instrumental lógico com que ele tentava captá-la, e no fim as névoas da gnose encobriram o próprio olhar que buscava esclarecê-las. O sr. Fedeli é bem mais gnóstico do que jamais poderia imaginar.

Esse caso ilustra o triste destino do estudioso que, armado de um instrumental intelectual precário, se aventura a atacar um assunto superior à suas forças. A forma mentis do sr. Fedeli é inteiramente moldada e limitada pelos dois únicos elementos que a compõem: a extensa leitura dos textos doutrinais católicos e as técnicas de pesquisa historiográfica que aprendeu na USP. Faltam-lhe por completo a habilidade filosófica para a penetração teorética dos conceitos e a agudeza semântica para distinguir os sentidos das palavras conforme o contexto e o momento. Sua incompreensão do que lê raia freqüentemente a estupidez, como se vê na freqüência com que ele incorre na confusão entre figuras de linguagem e conceitos formais e na alteração pura e simples do sentido das palavras (se bem que seu discípulo Felipe Coelho supere o mestre nesse ponto, ao interpretar “virtude salvífica da devoção intelectual” como “salvação pelo conhecimento”). A prova de que essa confusão não é acidental, mas reflete uma sua incapacidade crônica, uma falha na sua formação intelectual e talvez até um escotoma na sua percepção geral do mundo, é que ele não a comete somente ao ler, mas também ao pensar, como se viu no presente caso, onde, imaginando elaborar um conceito, ele não produz senão símbolos e analogias.

A falta de sensibilidade para a diferença entre sentido reto e sentido oblíquo, portanto um literalismo mecânico e raso, é vício redibitório em qualquer estudioso cuja ocupação consista, basicamente, em interpretação de textos. Talvez por isso esse historiador raté tenha preferido dedicar-se, longe das sutilezas de um público mais culto, à carreira de líder de seita. Aí, numa atmosfera onde o temor reverencial, o fanatismo religioso e o constante sobressalto das ovelhas que se sentem rodeadas de lobos inclinam à atrofia geral do senso das nuanças da linguagem, o mestre está livre para repassar ao público as suas deficiências de compreensão, a sua desordem interior e a sua doença espiritual.

24/07/2001

Notas

(1) Orlando Fedeli, “Gnose: a religião oculta da História”, em http://www.montfort.org.br.


Isso que é briga boa... :emoticon12:
"Uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola."
Napoleão Bonaparte


"Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas."
Napoleão Bonaparte

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DIG
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Re.: Para além da covardia

Mensagem por DIG »

Oh, sim, já tinha acompanhado a troca de "elogios" entre esses 2 em artigos diversos :emoticon12:
Pra mim, o OdC ganhou do fessor Fedeli :emoticon19:

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O ENCOSTO
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Mensagem por O ENCOSTO »

Minuteman escreveu:O OdC entrou nessa da revolução comunista iminente no Brasil, é óbvio pelo que vejo na sociedade brasileira que um Hugo Chavez brasileiro não teria o menor espaço aqui.

Será que eu estou enganado ? Será que foi por esse sentimento apocalíptico que ele se mudou pros EUA em 2005 ?

-- Anderson


Eu acho que Hugo Chavez só não é presidente do Brasil porque não pode se candidatar aqui.

O povo ama esse cara. Eu vi ele no forum inutil mundial, em Porto Alegre. Basta ele usar chavões como "fora EUA e FMI" e pronto.

O povo brasileiro também ama empresas estatais e vagabundos que trabalham nelas.

Eu, PESSOALMENTE, só terei uma opinião definitivamente formada quando o PT resolver colocar em votação algum projeto de re-reeleição do Lula.

Não votarei no LUla, claro. Só que ainda estou fazendo parte do grupinho que está pagando para ver. Me sinto como um alemão bobão vendo as olimpiadas de 36 e achando que o futuro que nos espera será menos pior do que andam alardeando.
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PrimitivosemmedodoTrovão
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Re.: Para além da covardia

Mensagem por PrimitivosemmedodoTrovão »

não entendo o brasil. super religioso e ama comunistas

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NadaSei
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Re: Re.: Para além da covardia

Mensagem por NadaSei »

PrimitivosemmedodoTrovão escreveu:não entendo o brasil. super religioso e ama comunistas

Cristo era comunista. :emoticon12:
Na verdade está mais pra anarquista.

Krishna já foi mais explicito quanto a essa questão:
"Aquele que está livre dos desejos, cuja mente e sentidos estão sob controle, e que tem renunciado todo o direito de propriedade, não incorre em pecado – a reação kármica – por realizar ação material (4.21)."
Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida ao invés da negação - descrédito ao invés de crença - críticos que assumem uma posição negativa ao invés de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim se auto-intitulam "céticos" são, na verdade, "pseudo-céticos".

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Apo
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Re.: Para além da covardia

Mensagem por Apo »

Se formos pela Santa Ceia, não era tão comunista assim. Faltam mulheres na cena. :emoticon16:
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NadaSei
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Re: Re.: Para além da covardia

Mensagem por NadaSei »

Apo escreveu:Se formos pela Santa Ceia, não era tão comunista assim. Faltam mulheres na cena. :emoticon16:

Talvez fosse apenas uma questão de preferência... :emoticon112:
Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida ao invés da negação - descrédito ao invés de crença - críticos que assumem uma posição negativa ao invés de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim se auto-intitulam "céticos" são, na verdade, "pseudo-céticos".

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Fabi
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Re: Re.: Para além da covardia

Mensagem por Fabi »

Apo escreveu:Se formos pela Santa Ceia, não era tão comunista assim. Faltam mulheres na cena. :emoticon16:

E a maria madalena? vai que ela tava lá disfarçada....

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Fedidovisk
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Re.: Para além da covardia

Mensagem por Fedidovisk »

Up!

Alguém poderia me fornecer textos claros, a respeito dessa ligação que tanto falam entre PT e as FARC... qualquer coisa do genêro, mas tem que ser em português, e não "espanhol da vida"...

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RicardoVitor
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Mensagem por RicardoVitor »

Isso não é segredo algum, o PT é abertamente aliado das FARC, além de outras organizações terroristas. O Foro de São Paulo, idealizado e organizado pelo PT, reúne todos esses criminosos. As FARC financiaram a campanha eleitoral de Lulla em 2002, junto com o governo cubano. Não há nada escondido nisso, nada de segredo, é aberto porém timidamente anunciado pelos canalhas petralhas.
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RicardoVitor
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Re.: Para além da covardia

Mensagem por RicardoVitor »

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Re: Re.: Para além da covardia

Mensagem por O ENCOSTO »

Fedidovisk escreveu:Up!

Alguém poderia me fornecer textos claros, a respeito dessa ligação que tanto falam entre PT e as FARC... qualquer coisa do genêro, mas tem que ser em português, e não "espanhol da vida"...



O PT apenas mantém relações sociais e democraticas com as FARC. Por isso lideranças desse movimento frequentaram as edições do forum de São paulo, forum inutil mundioal em Porto Alegre, etc.
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