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A igreja polonesa continua anti-semita

Enviado: 13 Set 2007, 07:44
por Fernando Silva
"O Globo" 12/09/07

Bento 16 e o padre anti-semita
ELIO GASPARI

O Papa Bento XVI, tão rigoroso na condenação da Igreja esquerdista latino-americana, meteu-se numa das piores controvérsias que podem assombrar um pontificado: o anti-semitismo do clero polonês. Na semana passada ele se deixou fotografar com o padre Tadeusz Rydzyk durante uma audiência coletiva em sua casa de verão de Castelgandolfo.

Monsenhor Rydzyk carrega nas costas a Rádio Maria, uma das emissoras católicas de maior audiência no país e vocaliza o reacionarismo xenófobo e obscurantista que manchou um pedaço da Igreja na primeira metade do século passado.

Duas pílulas do pensamento vivo do padre Rydzyk, gravadas em abril: Sobre o presidente da Polônia, Lech Kaczynski: “Um fraudador que está no bolso do lobby judaico.” Sobre as reparações que o governo polonês pagará aos judeus espoliados e massacrados durante a Segunda Guerra Mundial: “Você sabe do que se trata. A Polônia dando bilhões aos judeus. (...) Eles vêm e dizem: “Me dá o teu casaco! Tire as calças! Passe-me teus sapatos.”

Pelas ondas da Rádio Maria os ouvintes já foram informados de que, em Auschwitz, não havia um campo de extermínio, mas apenas um centro de trabalho. As narrativas segundo as quais lá foram mortos 1,1 milhão de prisioneiros seriam coisa da “indústria do Holocausto”.

Antes do início da guerra havia 3 milhões de judeus na Polônia. Em 1945 restavam menos de 300 mil (2,5%). Pode-se argumentar que esses números estão na conta dos crimes no nazismo, mas o anti-semitismo europeu é um fenômeno anterior e posterior ao domínio da suástica.

Nos dezoito meses seguintes à capitulação da Alemanha foram assassinados mais judeus em Polônia, Hungria e Tchecoslováquia do que nos dez anos que antecederam a guerra.

O cardeal de Cracóvia, a Conferência dos Bispos da Polônia, o Núncio Apostólico em Varsóvia e o próprio Vaticano condenaram o anti-semitismo do padre Rydzyk, mas não moveram um só dedo para afastar a Igreja da sua rádio. Pelo contrário, o Papa recebeu o padre depois que suas diatribes tornaram-se públicas. Essa distinção deve-se ao prestígio de Rydzyk no meio rural da Polônia. Bento XVI entrou na zona de sombra que estragou o pontificado de Pio XII 1939-1952), aquele que fez o que pôde, menos o que era necessário.

O anti-semitismo de boa parte dos católicos poloneses tem raízes fundas e antigas na cultura do país.

Em 1936, o cardeal-primaz August Hlond condenou o anti-semitismo, mas aceitou o boicote aos negócios de judeus. Nas suas palavras ambíguas e terríveis para uma época na qual o chanceler alemão se chamava Adolf Hitler: “O problema judeu persistirá enquanto houver judeus.” Uma das maiores figuras do clero polonês, o padre Maximilian Kolbe, martirizado em Auschwitz e santificado por João Paulo II, deixou dois textos (entre mais de mil) em que deu crédito aos argumentos da falcatrua da conspiração judaica dos Protocolos dos Sábios do Sion”. Isso não fez dele um anti-semita, mas apenas mostrou como os estereótipos da ocasião chegaram a atingi-lo.

Kolbe ofereceu-se para morrer no lugar de outro prisioneiro, que teve a graça de assistir à cerimonia de sua canonização, em 1982. 'Um jornal ligado à Rádio Maria publicou a notícia do encontro do padre Rydzyk com Bento XVI sob o seguinte título: “O Santo Padre nos abençoou”.

Re: A igreja polonesa continua anti-semita

Enviado: 13 Set 2007, 19:17
por Acauan
Fernando Silva escreveu:Em 1936, o cardeal-primaz August Hlond aceitou o boicote aos negócios de judeus. Nas suas palavras ambíguas e terríveis: “O problema judeu persistirá enquanto houver judeus.”


O absurdo no anti-semitismo polonês é ter conseguido contrariar a obviedade da atribuída declaração de Hlond e inventado o problema judeu onde não os havia mais.

Antes da guerra o território polonês abrigava uma grande população judaica, formada em séculos por peculiares políticas oficiais de segregação e concessão aos judeus, que mesmo sob aberta hostilidade geral viam motivos para ter a Polônia como lar.

Quando os nazistas mataram nove em cada dez judeus poloneses e, após a derrota destes, os vencedores soviéticos deixaram claro que não morriam de amores pelos poucos remanescentes, a maioria destes emigrou para Israel, Estados Unidos ou outros países, praticamente zerando a população semita naquele território.

Mesmo assim o discurso anti-semita ainda é ouvido como uma espécie de mantra ao qual os poloneses se apegaram, quesito no qual frequentemente escorregam algumas altas autoridades de lá.

Re: A igreja polonesa continua anti-semita

Enviado: 13 Set 2007, 19:30
por Alter-ego
Fernando Silva escreveu:Em 1936, o cardeal-primaz August Hlond aceitou o boicote aos negócios de judeus. Nas suas palavras ambíguas e terríveis: “O problema judeu persistirá enquanto houver judeus.”

Qual a fonte do autor?
Eu tenho fontes de que o cardeal Hlond teria feito relatórios à Roma em que denunciou a ação dos nazistas, tendo sido por isso perseguido... :emoticon5:

Re: A igreja polonesa continua anti-semita

Enviado: 14 Set 2007, 07:36
por Fernando Silva
Alter-ego escreveu:
Fernando Silva escreveu:Em 1936, o cardeal-primaz August Hlond aceitou o boicote aos negócios de judeus. Nas suas palavras ambíguas e terríveis: “O problema judeu persistirá enquanto houver judeus.”

Qual a fonte do autor?
Eu tenho fontes de que o cardeal Hlond teria feito relatórios à Roma em que denunciou a ação dos nazistas, tendo sido por isso perseguido... :emoticon5:

Denunciar a ação dos nazistas não impede que ele tenha sido anti-semita.