A luta da privatização da Vale
Enviado: 18 Set 2007, 13:29
luisnassif@uol.com.br
Não tem lógica se propor, agora, a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Mas doze anos atrás, jogou-se fora uma oportunidade única de transformar não apenas a Vale, como demais empresas privatizáveis, em modelos de empresas públicas de capital aberto e, ao mesmo tempo, em instrumento para a reforma da Previdência, para a consolidação do mercado de capitais e para a legitimação das privatizações,
O salto explosivo no valor da Vale, após a privatização, já tinha sido cantado, para mim, pelo empresário Paulo Britto, especialista em mineração.
***
Alguns anos antes, Paulo havia sido o principal pensador do modelo de securitização da dívida externa brasileira adotado pelo Ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, rejeitado pelo Secretário de Tesouro americano e, logo depois, ressuscitado pelo novo Secretário Nicholas Brady, no que acabou conhecido por Plano Brady.
Paulo propunha um modelo de privatização que permitisse ao trabalhador trocar direitos antigos junto aos chamados fundos sociais (Previdência, INSS, FGTS, FAT) por participação no capital das empresas privatizadas.
A constituição de um fundo previdenciário com esses papéis teria permitido a criação de um novo modelo previdenciário, aliviando o atual mas sem avançar sobre direitos de trabalhadores. Teria, também, permitido a constituição de modernas empresas públicas, com capital pulverizado em Bolsa e sistemas modernos de governança.
***
Quando Paulo me apresentou a idéia, em 1991, tornei-me seu defensor incondicional. Havia uma parte de encontro de contas entre União, estados e municípios, ampliando sua abrangência.
Quando houve a primeira crise no governo Collor, e o PSDB foi convidado a compor o novo gabinete, procurei pessoalmente várias de suas lideranças, mostrando que a fraqueza de Collor poderia ser o caminho para um modelo que permitiria lançar o país rumo à modernidade. Levei Paulo, também, para uma conversa com Lula e Cristóvão Buarque. Na mesma época, Paulo foi convidado para uma conversa com o economista André Lara Rezende, que o ouviu com interesse.
Ninguém podia ser contra; ninguém moveu uma palha a favor. Na conversa com o então Senador Tasso Jereissatti, ele me afirmou que André lhe dissera que o plano não fechava macroeconomicamente - uma bobagem, já que não havia porque "fechar macroeconomicamente".
***
Depois da queda de Collor, entrei em contato com os membros da Comissão de Desestatização, criada pelo presidente Itamar Franco. E, depois, com membros do governo Fernando Henrique Cardoso. Foi em vão. A privatização já tinha cartas marcadas.
A falta de interesse não era gratuita. Sem o aumento da competição, com os fundos sociais, as estatais saíram por preços vis. O dinheiro arrecadado foi integralmente drenado para as taxas de juros e golpes no mercado cambial. André tornou-se um milionário com o modelo cambial que ajudou a implementar.
Anos depois, já rico, voltou ao governo. Foi-lhe pedido um plano de reforma da Previdência. Ele sacou da algibeira o plano de Paulo Britto. Mas já não havia estatais para garantirem o aporte.
O caso Cacciola - 1
Há dúvidas sobre qual era o esquema do ex-banqueiro Salvatore Cacciola junto ao Banco Central. Ele quebrou em 1999, com a mudança de câmbio. Na época, acusou-se o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes de ter apoiado indevidamente o banqueiro, vendendo dólares abaixo do valor de teto definido. Lopes alegou o risco de crise sistêmica, se alastrando pelas demais instituições. O risco, de fato, existia.
O caso Cacciola - 2
Na verdade, o Banco Marka conseguiu um crescimento vertiginoso, acertando de maneira impressionante o comportamento das taxas de juros fixadas pelo BC. Provavelmente era por ali que possuía informação privilegiada, já que a margem de acerto era excessiva. O ex-banqueiro se fiava, também, nas informações da Tendências Consultoria, do ex-Ministro Maílson da Nóbrega. E a consultoria tinha relações estreitas com o ex-presidente do BC Gustavo Franco.
O caso Cacciola - 3
Francisco Lopes assumiu o BC quando Franco se recusou a mudar a política cambial. Cacciola quebrou porque não foi avisado a tempo da mudança ocorrida. Os dois bancos que quebraram, na ocasião, se fiaram nas avaliações da Tendências Consultoria. E é óbvio que, em algum momento, a consultoria deixou de ter informações confiáveis - momento que casa com a saída de Franco do BC.
O caso Cacciola - 4
Se não foi avisado a tempo, como acusar Lopes de ter-lhe passado informação privilegiada? As hipóteses aventadas na época eram inconsistentes. Acusava-se Lopes de receber R$ 500 mil mensais exclusivamente para informar o Marka das possíveis mudanças no câmbio. Como explicar, então, que justamente a maior das mudanças não tivesse sido passada para o subornador? Jamais houve uma explicação adequada para isso
Não tem lógica se propor, agora, a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Mas doze anos atrás, jogou-se fora uma oportunidade única de transformar não apenas a Vale, como demais empresas privatizáveis, em modelos de empresas públicas de capital aberto e, ao mesmo tempo, em instrumento para a reforma da Previdência, para a consolidação do mercado de capitais e para a legitimação das privatizações,
O salto explosivo no valor da Vale, após a privatização, já tinha sido cantado, para mim, pelo empresário Paulo Britto, especialista em mineração.
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Alguns anos antes, Paulo havia sido o principal pensador do modelo de securitização da dívida externa brasileira adotado pelo Ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, rejeitado pelo Secretário de Tesouro americano e, logo depois, ressuscitado pelo novo Secretário Nicholas Brady, no que acabou conhecido por Plano Brady.
Paulo propunha um modelo de privatização que permitisse ao trabalhador trocar direitos antigos junto aos chamados fundos sociais (Previdência, INSS, FGTS, FAT) por participação no capital das empresas privatizadas.
A constituição de um fundo previdenciário com esses papéis teria permitido a criação de um novo modelo previdenciário, aliviando o atual mas sem avançar sobre direitos de trabalhadores. Teria, também, permitido a constituição de modernas empresas públicas, com capital pulverizado em Bolsa e sistemas modernos de governança.
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Quando Paulo me apresentou a idéia, em 1991, tornei-me seu defensor incondicional. Havia uma parte de encontro de contas entre União, estados e municípios, ampliando sua abrangência.
Quando houve a primeira crise no governo Collor, e o PSDB foi convidado a compor o novo gabinete, procurei pessoalmente várias de suas lideranças, mostrando que a fraqueza de Collor poderia ser o caminho para um modelo que permitiria lançar o país rumo à modernidade. Levei Paulo, também, para uma conversa com Lula e Cristóvão Buarque. Na mesma época, Paulo foi convidado para uma conversa com o economista André Lara Rezende, que o ouviu com interesse.
Ninguém podia ser contra; ninguém moveu uma palha a favor. Na conversa com o então Senador Tasso Jereissatti, ele me afirmou que André lhe dissera que o plano não fechava macroeconomicamente - uma bobagem, já que não havia porque "fechar macroeconomicamente".
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Depois da queda de Collor, entrei em contato com os membros da Comissão de Desestatização, criada pelo presidente Itamar Franco. E, depois, com membros do governo Fernando Henrique Cardoso. Foi em vão. A privatização já tinha cartas marcadas.
A falta de interesse não era gratuita. Sem o aumento da competição, com os fundos sociais, as estatais saíram por preços vis. O dinheiro arrecadado foi integralmente drenado para as taxas de juros e golpes no mercado cambial. André tornou-se um milionário com o modelo cambial que ajudou a implementar.
Anos depois, já rico, voltou ao governo. Foi-lhe pedido um plano de reforma da Previdência. Ele sacou da algibeira o plano de Paulo Britto. Mas já não havia estatais para garantirem o aporte.
O caso Cacciola - 1
Há dúvidas sobre qual era o esquema do ex-banqueiro Salvatore Cacciola junto ao Banco Central. Ele quebrou em 1999, com a mudança de câmbio. Na época, acusou-se o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes de ter apoiado indevidamente o banqueiro, vendendo dólares abaixo do valor de teto definido. Lopes alegou o risco de crise sistêmica, se alastrando pelas demais instituições. O risco, de fato, existia.
O caso Cacciola - 2
Na verdade, o Banco Marka conseguiu um crescimento vertiginoso, acertando de maneira impressionante o comportamento das taxas de juros fixadas pelo BC. Provavelmente era por ali que possuía informação privilegiada, já que a margem de acerto era excessiva. O ex-banqueiro se fiava, também, nas informações da Tendências Consultoria, do ex-Ministro Maílson da Nóbrega. E a consultoria tinha relações estreitas com o ex-presidente do BC Gustavo Franco.
O caso Cacciola - 3
Francisco Lopes assumiu o BC quando Franco se recusou a mudar a política cambial. Cacciola quebrou porque não foi avisado a tempo da mudança ocorrida. Os dois bancos que quebraram, na ocasião, se fiaram nas avaliações da Tendências Consultoria. E é óbvio que, em algum momento, a consultoria deixou de ter informações confiáveis - momento que casa com a saída de Franco do BC.
O caso Cacciola - 4
Se não foi avisado a tempo, como acusar Lopes de ter-lhe passado informação privilegiada? As hipóteses aventadas na época eram inconsistentes. Acusava-se Lopes de receber R$ 500 mil mensais exclusivamente para informar o Marka das possíveis mudanças no câmbio. Como explicar, então, que justamente a maior das mudanças não tivesse sido passada para o subornador? Jamais houve uma explicação adequada para isso