"O Globo" 04/10/07
Um pouquinho de Brasil
O Pará é o estado brasileiro recordista em flagrantes de trabalho escravo.
No entanto, alguns políticos de lá parecem ter uma visão muito própria a respeito do combate a esse tipo de crime. Além da recente história da Pagrisa, uma usina de cana-de-açúcar flagrada pelo Grupo Móvel do Ministério do Trabalho, mas defendida por uma comitiva de senadores, surge um novo exemplo.
Desta vez, em defesa dos guseiros do estado.
Em agosto, a Vale do Rio Doce decidiu suspender o fornecimento de minério de ferro para usinas de gusa que usam carvão vegetal de desmatamento ou trabalho “análogo à escravidão”. São sete: cinco com problemas de meio ambiente, uma trabalhista e uma com ambos.
Seria uma forma de pressioná-las a se ajustar. Mas aí, como acontece muitas vezes no Brasil, apareceram os políticos.
Numa carta assinada por 40 deputados da Assembléia Legislativa do Pará, eles pressionam para que a CVRD desista do corte, prometendo que haverá um ajustamento de conduta.
Reconhecem a “precariedade com que a atividade se desenvolve em Marabá”, mas dizem que estão acompanhando os esforços para resolver esses problemas.
Para compor o argumento, lançam mão do risco de perder 7.000 empregos.
A carta foi enviada do gabinete do deputado estadual João Salame, o presidente da Comissão de Meio Ambiente. Ele diz que “não contesta a preocupação da Vale e que a realidade carvoeira é mesmo muito precária”, mas argumenta que as soluções não precisam ser “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.
Quando decidiu cortar o fornecimento de minério, a Vale afirmou que vinha alertando os guseiros há um bom tempo. Eles já estão, inclusive, sendo investigados pelo Ministério Público. A Vale é sempre bastante cobrada nas suas práticas de responsabilidade social.
E é assim mesmo que tem de ser. Não à toa, eles estão sendo agora criticados pela decisão de construir uma termelétrica a carvão também na região. Continuar fazendo negócios com grupos que fazem uso de madeira de desmatamento ou de trabalho escravo é falta gravíssima. E não cuidar desses pontos críticos significa, como se sabe, perda de dinheiro no futuro.
Vale rejeita trabalho escravo e carvão de desmatamento
- Fernando Silva
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