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Poliandria.

Enviado: 16 Out 2007, 23:12
por NadaSei
Uma coleção de maridos

Elas nunca foram a uma grande cidade, não conhecem televisão, nem geladeira e, para elas, ter vários maridos é coisa muito natural. Nas montanhas do Himalaia, norte da Índia, na fronteira com o Tibet, o cinegrafista Hélio Alvarez e Ana Paula Padrão encontraram as pequenas vilas onde moram as mulheres poliândricas.

A poliandria é um costume, hoje, muito raro, que para nós é muito estranho, mas que funciona bem na região do Himalaia. Você vai ver que as poliândricas nem são tão diferentes assim.
Champalín pode dizer que é uma mulher de sorte. Nasceu bela, formou uma família feliz. Aos 28 anos, tem quatro filhos saudáveis e três maridos: Chamlalah, Premlah e Seamrah.

"Todos eles cuidam de mim e das crianças, é muito bom quando se tem tanto trabalho no campo", diz ela.

A história de Champalín não surpreende ninguém na região. É mais uma das tantas diferenças que cimentam a homogeneidade do país. Parece incoerente, mas a principal característica deste povo é justamente sua pluralidade.

São tantos níveis sociais e é tal a complexidade religiosa e étnica que o outro é sempre um disparate pra nós. Eu mesma cheguei na comunidade acreditando que a extrema submissão feminina explicasse casos como o de Champalín, mas a história é bem diferente.

Nas montanhas do Himalaia, extremo norte da Índia, bem perto do Tibet, o país que se apresenta é mais uma face do insólito indiano. Nas pequenas vilas espalhadas pelas montanhas - vilas muito pobres, muito isoladas - a sobrevivência das famílias justifica um costume raro no mundo inteiro: a poliandria.

As cidadezinhas poliândricas lembram vilas medievais. Nas casas, todas iguais, de madeira, onde o milho é pendurado pra secar, vivem todos juntos. Famílias imensas, que se formam a partir do casamento de uma mulher com vários homens ao mesmo tempo. Em geral, irmãos.

Baladêi casou-se com Malen e o irmão, que hoje está na cidade para as compras do mês. "Eu e meu irmão somos tão unidos que podemos ter a mesma esposa e os mesmos filhos", diz ele com naturalidade.

A família vive com os pais dos noivos, que já dividiam o lugar com os avós e alguns dos netos e assim as casas vão ficando cheias. Na hora de dormir, todos vão para o andar de baixo, o mais quente e protegido -- e todos juntos.

O casamento mais comum é aquele no qual o noivo escolhe a noiva e, depois, leva os irmãos mais novos com ele. É o caso de Rudarsín, que tinha quatro irmãos.

"Eu me casei com a minha escolhida, porque sou o cabeça da família. No dia seguinte os irmãos puderam vir para minha casa nova".

Mas, nesse caso, a noiva, Monbedí, também levou a irmã mais nova. Era um casamento de duas mulheres com cinco maridos. Estão todos lá, nas fotos da parede. Juntos, tiveram nove filhos, mas a família já ficou menor. A irmã de Momdebí e três dos irmãos de Rudarsín morreram. Os que ficaram lembram-se com saudades dos tempos de casa lotada.

"Todos ficavam juntos e economicamente estávamos mais seguros, pois não tivemos que dividir a terra e os bens".

Hoje os tempos são outros nas vilas poliândricas do Himalaia indiano. Algumas das mulheres mais jovens, desejosas de viver o amor indivisível e romântico da cultura ocidental, não querem mais ter vários maridos.

"Muitos maridos dão muito trabalho", imagina Minatiráua, de dezessete anos.

Ela sonha com uma casa onde apenas ela e o marido possam construir uma família mais parecida com qualquer outra no resto do mundo. Uma bobagem juvenil, diz Golkul.

Ele nos conta da grande festa de casamento que parou a vila no dia em que ele e seus dois irmãos casaram-se com Savitri. "Hoje já há irmãos se casando com mulheres diferentes e eles têm que ir morar em lugares distantes pra conseguir trabalho - o individualismo cresceu", lamenta Golkul.

Ele aprendeu que não dividindo a família todos garantem a própria segurança. As crianças, nas vilas, ainda são criadas por todos e nunca sabem quem é "o" papai. Algumas têm dois pais, outras três, quatro, ou cinco e não importa muito. Importante é a comunidade.

O trabalho começa cedo e ainda é preciso ajudar na velhice. As mulheres cuidam dos animais e da terra, tarefas pesadas, sim, mas são os homens que enfrentam as longas viagens em busca do que falta no isolamento das montanhas, lutam quando é preciso defender a vila e cuidam da manutenção das casas no rigor do inverno.

Por isso, lavar, tratar o rebanho, cozinhar, pra elas é o lado prazeroso das tarefas domésticas e ainda há tempo para as vaidades femininas, mas esqueça o conceito ocidental de roupas elegantes, feitas pra encantar e seduzir. As jovens da vila mostram, na prática, o que é ser bem vestida.

Pra elas, na vila poliândrica, é muito bom ser mulher e ainda mais quando há tantos homens pra cuidar de cada uma, coisa que não existe em nenhum outro lugar, ensinam as poliândricas.

É, pelos depoimentos delas, casar com vários homens não é sacrifício nenhum. Depois de muita conversa e de vencer as barreiras da cultura, descobrimos os segredinhos de um poli-casamento feliz.

Cada uma delas acaba escolhendo seu marido preferido e os outros têm que se esforçar pra conseguir um tratamento especial. Champalín confessa, enrubescida, na frente dos outros: "Este é o meu preferido".

E por quê? Pergunto eu. O que ele tem de diferente? “Ora”, desconversa ela, "assim como os dedos da mão, os irmãos também não são iguais".

Mondebí, aquela que já teve cinco maridos, quase em segredo, aponta pra mim aquele de que sempre gostou mais e ele sorri o sorriso de quem sabe que teve lugar especial no coração da esposa.

Momdebí pergunta quantos maridos tenho e zomba de mim, quando respondo, apenas um. Realmente, ela não parece ter tido uma vida ruim.

Fonte: http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0 ... 59,00.html
No link indicado está disponível o vídeo com a reportagem.

Re.: Poliandria.

Enviado: 16 Out 2007, 23:28
por Apo
Uma forma mais ritualizada e culturalmente aceita ( porque foi o jeito que encontraram e não outro).
Para verem como a moral é relativa.

Re.: Poliandria.

Enviado: 17 Out 2007, 00:37
por SickBoy
O trabalho começa cedo e ainda é preciso ajudar na velhice. As mulheres cuidam dos animais e da terra, tarefas pesadas, sim, mas são os homens que enfrentam as longas viagens em busca do que falta no isolamento das montanhas, lutam quando é preciso defender a vila e cuidam da manutenção das casas no rigor do inverno.



pinker aborda isso. ele fala que nesses casos a sobrevivência se pôs acima de outros interesses



será que a escolha de irmãos para a formação da família não seria exatamente a fimd e atenuar as desavenças? porque com estranhos não é tão comum?

Re: Re.: Poliandria.

Enviado: 17 Out 2007, 04:33
por NadaSei
SickBoy escreveu:pinker aborda isso. ele fala que nesses casos a sobrevivência se pôs acima de outros interesses

será que a escolha de irmãos para a formação da família não seria exatamente a fimd e atenuar as desavenças? porque com estranhos não é tão comum?

Mais uma vez isso pode se explicar pela cultura, sendo que um deles da a resposta a isso: "Todos ficavam juntos e economicamente estávamos mais seguros, pois não tivemos que dividir a terra e os bens".

Ou seja, ao invés de três irmãos, cada um casar com uma mulher diferente, formar a própria familia e, por exemplo, dividir as terras da familia em três, eles se mantém juntos e mantém o patrimônio unido. E assim surge uma cultura onde as familias se organizam assim, sem a necessidade de um "gene" anti ciúmes masculino que tem medo de criar bebes de outros homens e pró promiscuidade feminina para explicar isso.

Re.: Poliandria.

Enviado: 17 Out 2007, 10:46
por Edson Jr
Cara...muito maneiro!

Re: Re.: Poliandria.

Enviado: 17 Out 2007, 11:27
por SickBoy
NadaSei escreveu:
SickBoy escreveu:pinker aborda isso. ele fala que nesses casos a sobrevivência se pôs acima de outros interesses

será que a escolha de irmãos para a formação da família não seria exatamente a fimd e atenuar as desavenças? porque com estranhos não é tão comum?

Mais uma vez isso pode se explicar pela cultura, sendo que um deles da a resposta a isso: "Todos ficavam juntos e economicamente estávamos mais seguros, pois não tivemos que dividir a terra e os bens".


pelo que pinker diz, e ele não faz isso com explicações a revelia, mas se baseia em diversos antropólogos, o "cerne" desse tipo de união seria o ambiente inóspito, onde se faz necessário que o pai da família viaje até mesmo por meses, e a família acabaria ficaria vulnerável/sem recursos. Daí para se imaginar como teria surgido esse costume não é difícil.O bondoso irmão, preocupado com a família do irmão que está numa longa jornada atrás de mantimentos, frequenta a casa da cunhada, sendo o segundo pai e segundo marido, até que os hormonios falem mais alto e ele passe a vara na cunhada


Ou seja, ao invés de três irmãos, cada um casar com uma mulher diferente, formar a própria familia e, por exemplo, dividir as terras da familia em três, eles se mantém juntos e mantém o patrimônio unido. E assim surge uma cultura onde as familias se organizam assim, sem a necessidade de um "gene" anti ciúmes masculino que tem medo de criar bebes de outros homens e pró promiscuidade feminina para explicar isso.



ninguém está negando que a cultura não condiciona nosso comportamento nadasei, mas observe como além de raros, os casos de poliandria parecem muito mais ser circunstânciais. poderíamos até dizer que a cultura também é adaptativa, esse meio de viver se perpetuou porque foi o melhor encontrado nessas condições de ambiente, as piores possíveis. você vê a cultura como um ente superior a todas as pessoas, intocada, ditando regras que parecem ser inexplicáveis, ora, algumas coisas, e eu digo algumas porque parece que nesse tema é preciso fazer ressalvas o tempo todo e que eu estaria dizendo que X ou Y é inevitável, bem, algumas coisas da cultura eu vejo simplesmente como um subproduto do homem e seu meio.

quanto a reportagem em si, ela também é bastante parcial, mostrando famílias dando tchauzinho para repórteres e dizendo: "-Sim, nós somos felizes", sem contar o texto, que praticamente se resume a "longe da cultura machista ocidental..."

mas infelizmente eu não encontrei muita coisa sobre o que a PE fala da poliandria, além do que eu já tinha visto nos livros de pinker (em passagens breves), e como meu inglês é uma merda, fico só com o que lembro de cabeça


mas fico meio pensando que esse exemplo circunstancial seria como pegar casos onde fazendeiros fazem sexo com cabritas e dizer: "-olhaí, tá vendo, isso prova que o nosso a nossa vontade de fazer sexo com mulheres é cultural" :emoticon16:

Re.: Poliandria.

Enviado: 17 Out 2007, 12:52
por aknatom
mas fico meio pensando que esse exemplo circunstancial seria como pegar casos onde fazendeiros fazem sexo com cabritas e dizer: "-olhaí, tá vendo, isso prova que o nosso a nossa vontade de fazer sexo com mulheres é cultural"


Strike!!!!!!!

Re: Re.: Poliandria.

Enviado: 18 Out 2007, 13:06
por NadaSei
SickBoy escreveu:pelo que pinker diz, e ele não faz isso com explicações a revelia, mas se baseia em diversos antropólogos, o "cerne" desse tipo de união seria o ambiente inóspito, onde se faz necessário que o pai da família viaje até mesmo por meses, e a família acabaria ficaria vulnerável/sem recursos. Daí para se imaginar como teria surgido esse costume não é difícil.O bondoso irmão, preocupado com a família do irmão que está numa longa jornada atrás de mantimentos, frequenta a casa da cunhada, sendo o segundo pai e segundo marido, até que os hormonios falem mais alto e ele passe a vara na cunhada

O que é uma boa explicação, diga-se de passagem.
SickBoy escreveu:ninguém está negando que a cultura não condiciona nosso comportamento nadasei, mas observe como além de raros, os casos de poliandria parecem muito mais ser circunstânciais. poderíamos até dizer que a cultura também é adaptativa, esse meio de viver se perpetuou porque foi o melhor encontrado nessas condições de ambiente, as piores possíveis.

Sim e em outros meios desenvolvemos outros tipos de cultura, só não vejo o motivo de procurar explicações genéticas infalseaveis para comportamentos culturais, quando as explicações psicológicas e antropológicas são muito mais adequadas.
SickBoy escreveu:você vê a cultura como um ente superior a todas as pessoas, intocada, ditando regras que parecem ser inexplicáveis, ora, algumas coisas, e eu digo algumas porque parece que nesse tema é preciso fazer ressalvas o tempo todo e que eu estaria dizendo que X ou Y é inevitável, bem, algumas coisas da cultura eu vejo simplesmente como um subproduto do homem e seu meio.

Não vejo as coisas assim.
Acho inclusive que lidam com produtos da nossa mente que são fruto de preconceitos e sentimentos irracionais, algo que a própria biologia pode influenciar de forma mais ativa em algumas pessoas, claro que, não acho que isso seja imutável.

SickBoy escreveu:mas fico meio pensando que esse exemplo circunstancial seria como pegar casos onde fazendeiros fazem sexo com cabritas e dizer: "-olhaí, tá vendo, isso prova que o nosso a nossa vontade de fazer sexo com mulheres é cultural" :emoticon16:

Não, mas também não existe motivos para achar que a sexualidade seja genética, como se tivéssemos um gene para sentir atração por cabras, outro para galinhas, etc...
Os genes criam nosso cérebro e mente, sendo que esses podem muito bem ser responsáveis em lidar com certos sentimentos, preconceitos, desejos, etc... sem necessidade de genes específicos para cada uma dessas características.

Re: Re.: Poliandria.

Enviado: 19 Out 2007, 06:43
por Fernando Silva
Apo escreveu:Uma forma mais ritualizada e culturalmente aceita ( porque foi o jeito que encontraram e não outro).
Para verem como a moral é relativa.

Suponho também que as crianças cresçam sem traumas, o que poria por terra o dogma de que é preciso haver um pai e uma mãe bem definidos.
Por que não uma comunidade bem definida? Talvez o mais importante seja a sensação de segurança.

Tempos atrás, vi no Fantástico uma reportagem sobre uma tribo amazônica onde havia tanto poligamia quanto poliandria. Eles mostraram a "poderosa" da tribo, com 5 maridos, cada um com uma função: caçar, cozinhar etc.

Re: Re.: Poliandria.

Enviado: 19 Out 2007, 16:37
por SickBoy
NadaSei escreveu:Sim e em outros meios desenvolvemos outros tipos de cultura, só não vejo o motivo de procurar explicações genéticas infalseaveis para comportamentos culturais, quando as explicações psicológicas e antropológicas são muito mais adequadas.



nadasei, primeiro que a PE não vai de encontro a explicações antropológicas(não que não haja questões controversas nessa, como deve ter em qualquer outra ciência social). segundo que outras teorias assim como as da PE precisam ser corroboradas por pesquisas comportamentais, o problema é você levantar um N número de hipóteses alternativas à PE sem sequer se dar conta se já foram ou não estudadas, e mesmo se os psicólogos evolucionistas não as consideraram. no exemplo mais simples, sugerir que diferenças comportamentais entre homens e mulheres se dão pelos estereótipos de rosa e azul. Pinker fala disso, citando casos de meninos que nasciam sem pênis e seus pais, aconselhados por gurus da época, os criaram como se fossem meninas. todos apresentavam comportamento tipicamente masculino, há outras evidências também, meninas com uma síndrome que as levam a produzir excessivamente um hormonio chamado androstenodiona tem um jeitão de moleque (quem aqui nunca viu uma menina na qual pensou: "-essa doidinha parece um moleque"), e mais, essas mesmas meninas, conforme tarde o o tratamento com hormonios femininos, apresentam ainda mais comportamentos "tipicamente masculinos" quando se tornam adultas, desde excitação com pornografia a estimulação genital e também o que seria o equivalente a polução noturna

Há também os famosos testes de "inteligência"(não só QI), onde se verifica que homens se saem melhor( em média) em algumas coisas e elas em outras, o machista aqui só se recorda de duas onde nós levamos a melhor: matemática e senso espacial (alguém pensou em baliza? :emoticon16:). claro que alguns temas podem ser controversos, por exemplo, quanto a esses testes há a alegação de que isso se dá pelas tais ameaças de estereótipo, não que eu me oponha totalmente a essas teses, acho que alguns estereótipos são realmente efetivos, o problema é que outras evidências que também apontam para as diferenças sexuais, como a constatação de que o nível de hormonios, tanto em homens quanto em mulheres, também altera esses resultados. mulheres com altos índices de hormonios masculinos se sairiam melhor em atividades tipicamente (de novo essa palavra) masculinas e vice-versa


talvez você venha de novo com as perguntas de sempre. "-e as meninas que gostam de DBZ?", "-e os EMOS?", " e as ninfomaníacas?", "e o poliamor?". quanto a isso, nada mais teria a dizer. se você faz questão de entender que tudo isso seria completamente determinístico, só posso depreender que, ou seja má fé, ou você é burro (ok, estou de saca :emoticon12:).

há um livro a qual pinker faz muitas referências, "diga-me com quem andas", onde a autora desconstrói essas teses da criação influenciando na personalidade, e afirma que somos socializados pelo grupo. Perceba que ela abraça totalmente a idéia de que em aprox. ~50% nossa personalidade seria geneticamente determinada, e claro ainda assim há espaço para que a cultura nos influencie. atente ao título do último livro dela: "não há dois iguais"


aqui duas entrevistas dela

http://revistaepoca.globo.com/Revista/E ... 56,00.html

http://revistaepoca.globo.com/Revista/E ... 19,00.html


infelizmente eu não li nenhum :emoticon2:


quanto aquela discussão sobre ciúmes discutida no CC:


"Mulheres são mais ciumentas que homens?
Na mente de algumas pessoas, mulheres são mais ciumentas e possessivas, principalmente em relações amorosas. Mas pesquisas mostram que mulheres não são mais ciumentas que homens, apenas são ciumentas em diferentes situações.

Em um estudo alemão, pesquisadores mostraram imagens de participantes em diferentes cenários. Os participantes usaram um computador para descrever quais cenários eram mais perturbadores. Os resultados sugeriram que, em diversas culturas, as mulheres se importam mais com a infidelidade emocional do que com a sexual. As respostas masculinas variaram em diversas culturas, mas no geral eles são mais ciumentos em relação à infidelidade sexual [Fonte: Human Nature - em inglês].

Por outro lado, um estudo da Universidade da Califórnia, em San Diego, mediu a pressão arterial e os batimentos cardíacos dos participantes, em vez de pedir que respondessem perguntas. Homens tiveram maiores reações físicas para a infidelidade sexual, enquanto mulheres reagiram com a mesma intensidade em ambos os cenários. Mulheres que estavam em relacionamentos estáveis ficaram mais aborrecidas com a infidelidade física do que as que não estavam. Porém, 80% das mulheres nos estudos acham que infidelidade emocional é mais grave do que a sexual [Fonte: Psychology Today - em inglês]. "

Re: Re.: Poliandria.

Enviado: 19 Out 2007, 16:47
por Apo
Fernando Silva escreveu:
Apo escreveu:Uma forma mais ritualizada e culturalmente aceita ( porque foi o jeito que encontraram e não outro).
Para verem como a moral é relativa.

Suponho também que as crianças cresçam sem traumas, o que poria por terra o dogma de que é preciso haver um pai e uma mãe bem definidos.
Por que não uma comunidade bem definida? Talvez o mais importante seja a sensação de segurança.

Tempos atrás, vi no Fantástico uma reportagem sobre uma tribo amazônica onde havia tanto poligamia quanto poliandria. Eles mostraram a "poderosa" da tribo, com 5 maridos, cada um com uma função: caçar, cozinhar etc.


Não sei se nossos paradigmas freudianos acerca de pai e mãe fixos, atuantes e presentes ( uma coisa quase perfeita sem nuances ou possibilidades caso haja a falta de um, por morte ou abandono), não seja mesmo muito mais angustiante para as crianças.
Nem sei quando coemçou esta coisa de 1 pai e 1 mãe, mesmo que haja apenas 1 pai e 1 mãe biológicos.
Talvez a existência deles seja a base mesmo para o equilíbrio , mas quanto mais adultos cuidando e protegendo uma criança oi várias, é provável que elas se sintam mais amparadas para o amadurecimento e para ingressarem na vida adulta.

Re: Re.: Poliandria.

Enviado: 20 Out 2007, 01:09
por NadaSei
SickBoy escreveu:nadasei, primeiro que a PE não vai de encontro a explicações antropológicas(não que não haja questões controversas nessa, como deve ter em qualquer outra ciência social). segundo que outras teorias assim como as da PE precisam ser corroboradas por pesquisas comportamentais, o problema é você levantar um N número de hipóteses alternativas à PE sem sequer se dar conta se já foram ou não estudadas, e mesmo se os psicólogos evolucionistas não as consideraram. no exemplo mais simples, sugerir que diferenças comportamentais entre homens e mulheres se dão pelos estereótipos de rosa e azul. Pinker fala disso, citando casos de meninos(...) se tornam adultas, desde excitação com pornografia a estimulação genital e também o que seria o equivalente a polução noturna

O problema é que você entende isso como uma critica a toda a PE, ou contra os fatores biológicos.
A critica se refere a algumas explicações e casos particulares.
Por exemplo, você não precisava nem citar isso, bastava ter lembrando das lésbicas mais masculinas e dos gays afeminados.
Algo melhor explicado de forma biológica, o que não significa necessariamente que seja genética.

Agora, dai dizer que comportamentos como o ciúmes se explicam através dos genes é um grande passo. Um passo desnecessário, inclusive.
O problema desse tipo de explicação se encontra logo na origem, ao atribuir o ciúmes a um aspecto genético, sendo que existem outras explicações que a meu ver são muito mais realistas.

Basta observar que para existir o ciúmes, é necessário valorizar o relacionamento e o objeto de desejo, além de identificar uma terceira pessoa, como sendo uma ameaça a esse relacionamento. O ciúmes também está ligado a possessividade.
Se você olhar um casal transando, pode sentir prazer ao ver a cena, mas se a garota em questão for sua namorada, vai sentir ciúmes.
Ou seja, são necessárias certas identificações mentais com o objeto de desejo, é necessário formar certas percepções como: "Ela é minha", "talvez ela me troque por ele", "talvez goste mais dele que de mim", "talvez ela não me ame mais", "o que ela está fazendo é errado", etc...

Isso indica que não existe uma coisa simples chamada "ciúmes", isso é resultado de certas crenças, condicionamentos, sentimentos, está diretamente ligado a forma como "percebemos" a situação.
Por isso o mais natural é pensar que isso é algo totalmente mental, pois diz respeito a forma como percebemos a situação.

Dar uma explicação como a de que o ciúmes foi bem sucedido ao permitir a pessoa ciumenta espalhar melhor os genes, da dois saltos.
1 - Dizer que o ciúmes é genético.
2 - Explicar o motivo dele ter sido selecionado.
São dois pontos cegos e ambos podem estar incorretos, caso o primeiro esteja correto, o segundo ainda pode estar incorreto.
Então a explicação é bem frágil e, segundo o conhecimento que me consta, muito mais improvável que as alternativas culturais/mentais.

Daí considerar essa explicação bastante ridícula, independente do que os psicólogos evolucionistas que a defendem tenham questionado e levado em conta.
O que eu questionei e tenho observado, aponta radicalmente na direção oposta.
SickBoy escreveu:talvez você venha de novo com as perguntas de sempre. "-e as meninas que gostam de DBZ?", "-e os EMOS?", " e as ninfomaníacas?", "e o poliamor?". quanto a isso, nada mais teria a dizer. se você faz questão de entender que tudo isso seria completamente determinístico, só posso depreender que, ou seja má fé, ou você é burro (ok, estou de saca :emoticon12:).

É você quem compreende que o que eu digo seja apenas fruto da cultura, eu aceito tanto padrões mentais inatos que podem ser reforçados ou alterados pela cultura, quanto a capacidade da mente por si só alterar a quimica cerebral.
Paralelo a isso também aceito comportamentos biológicos determinantes, como as características genéticas.
Só que eu diferencio o que tende a ter influencia biológica, e o que tende a ser mental/cultural.

O que eu vejo é uma tendência a querer definir componentes genéticos a características muito especificas da nossa pisque, quando o funcionamento disso tudo tende a ser mais hierárquico, com o cérebro/mente tendo sua própria autonomia que independe de genes para essas características.

Esperar que exista uma combinação de fatores envolvendo os genes que de maior habilidade musical, por criar um cérebro mais capacitado a compreensão musical é uma coisa... querer dizer que existe um componente genético para dar preferências por musica sacra, outro para opera, outro para o jazz, etc... já é outra historia.

Re.: Poliandria.

Enviado: 20 Out 2007, 20:43
por SickBoy
bem nadasei, desisto. não acho mais interessante persistir na discussão com você



mas aí vai mais uma matéria


Anatomia da personalidade

A ciência descobre que a herança
genética influi mais do que se pensava
na formação das características
e no comportamento das pessoas

O que faz alguém de índole calma ter uma explosão de violência? Como surge a homossexualidade? Por que algumas pessoas se tornam líderes enquanto outras, igualmente inteligentes, têm um destino medíocre? Explicar o comportamento humano em seus diversos aspectos – no círculo de amizades, no trabalho, no amor, na fé religiosa – sempre foi um desafio para psicólogos e cientistas. Até hoje, as pesquisas sobre o tema produziram duas correntes antagônicas, que contrapõem a natureza e o ambiente social. De um lado estão os defensores da tese de que todos nascem iguais e a personalidade é formada pelo aprendizado e pelas experiências pessoais. Do outro lado, acredita-se que os traços da personalidade são definidos pela herança genética, assim como a cor dos olhos. Uma série de descobertas recentes enterra essa discussão. A idéia de que só o ambiente ou só o DNA forma a personalidade foi substituída por outra mais flexível. Todo comportamento tem um componente genético, mas sua manifestação depende de fatores ambientais. Sob essa visão, genética e sociedade interagem para moldar o jeito de ser de cada pessoa. "O gene carrega a arma e o ambiente puxa o gatilho", disse a VEJA o geneticista Matt Ridley, da Universidade de Oxford e autor do livro O que Nos Faz Humanos: Genes, Natureza e Experiência.

A revolução nos conceitos da chamada genética do comportamento, nome dado à ciência que estuda a influência dos genes na personalidade, ocorreu por causa dos avanços na engenharia genética e na biologia molecular. Os cientistas são capazes de fazer uma busca minuciosa em todo o genoma e encontrar regiões com genes capazes de influenciar o comportamento humano. Essas regiões podem ser identificadas em análises de amostras de sangue de irmãos ou familiares com os mesmos traços psicológicos. Já foram encontrados genes e regiões genômicas que tornam as pessoas mais vulneráveis a adotar comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também já foram detectados genes relacionados à orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo.

Os pesquisadores advertem que portar esses genes não significa que a pessoa necessariamente desenvolva o comportamento ligado a ele. Não existe determinismo genético, apenas predisposição. Diz Ridley: "Os genes podem se expressar ou não. Alguns são ligados ou desligados pela própria dinâmica do genoma. Outros, pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em que a pessoa vive". Um estudo do Instituto de Psiquiatria do King's College de Londres, divulgado no ano passado, encontrou dois genes que atuam na liberação de neurotransmissores no cérebro. Esses genes são responsáveis pela depressão e pelas atitudes anti-sociais, mas só se manifestam em pessoas expostas a situações de grande stress, como perda de emprego ou morte de familiares. Conclusão: ter predisposição genética à depressão não leva ninguém a ficar deprimido. O mesmo acontece com os distúrbios alimentares. Cientistas da Universidade da Carolina do Norte identificaram regiões genéticas similares em amostras de sangue de mais de 400 pacientes com anorexia ou bulimia. "Os mesmos marcadores apareceram em pessoas sem os distúrbios, o que comprova a ação do ambiente", diz a autora do estudo, a geneticista Cynthia Bulik.

Recentemente, pesquisadores do Instituto de Psiquiatria de Londres encontraram regiões do genoma que podem influenciar a inteligência. Um gene chamado LIMK1 produz uma proteína que ajuda a desenvolver a cognição espacial. As pessoas que têm esses genes levemente alterados também são inteligentes, mas não têm habilidades para desenho, por exemplo. Outro gene, o IGF2R, está associado à alta inteligência – sua existência acarreta 4 pontos a mais no QI do portador. A tendência ao suicídio também já foi identificada no genoma. Cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, descobriram que pacientes portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina, o neurotransmissor que causa sensação de bem-estar, apresentavam duas vezes mais risco de cometer suicídio.

A descoberta de genes que influenciam aspectos específicos da vida é o que há de mais novo na genética do comportamento. Grande parte das características humanas, porém, é produto de muitos genes – e não de apenas um, como ocorre com a maioria dos traços físicos e doenças. "Por causa dessa complexidade, o estudo com gêmeos é o que revela com maior precisão a natureza hereditária do perfil social dos indivíduos", diz o geneticista Renato Zamora Flores, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Além disso, pela observação de gêmeos em suas rotinas por longos períodos, esses estudos conseguem estimar quanto da personalidade de cada um é herança genética e quanto se deve ao ambiente familiar ou às experiências pessoais", ele completa.

Os estudos com gêmeos e famílias que incluem filhos biológicos e adotivos começaram na década de 70. Por meio deles, descobriu-se que as crianças adotadas têm traços de personalidade mais parecidos com os de seus pais biológicos do que com os dos pais adotivos. Se os pais verdadeiros têm histórico criminal, por exemplo, as crianças entregues para adoção tendem a apresentar desvios de conduta graves. O mesmo ocorre com o QI. As pesquisas com gêmeos univitelinos são ainda mais representativas porque eles possuem exatamente o mesmo código genético, são clones um do outro. Estudos revelam que gêmeos idênticos exibem aspectos da personalidade semelhantes. São muito parecidos no que diz respeito a inteligência e habilidades, comportam-se da mesma forma nos relacionamentos, têm a mesma predisposição ao stress e até o mesmo gosto musical – ainda que tenham sido criados em famílias diferentes desde muito cedo. "Os experimentos com gêmeos permitiram concluir que as principais características da personalidade – como introversão ou extroversão, neurose ou estabilidade, abertura ou não a experiências, atenção ou dispersão – são em média 50% herdadas", disse a VEJA o psiquiatra Robert Plomin, do Instituto de Psiquiatria de Londres.

Pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, há vinte anos acompanham 8.000 gêmeos, três centenas deles gêmeos idênticos e separados da família no nascimento. Os resultados dos mais de 129 estudos publicados pela equipe surpreendem ao mostrar que certos comportamentos avaliados como fruto do aprendizado ao longo da vida são fortemente influenciados pela genética. O conservadorismo político, por exemplo, é um traço que, segundo o estudo, tem 60% de influência genética. A herança genética da religiosidade gira em torno de 57%. "O grupo de Minnesota não tenta provar que há um gene para Deus e um gene conservador. Nem afirma que o ambiente não tem importância na religiosidade. Os cientistas apenas afirmam que, mesmo em características 'culturais' como a religião, o impacto dos genes não deve ser ignorado e pode ser medido", diz o geneticista Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Clínica.

A busca por explicações para o comportamento humano mobiliza filósofos, sociólogos, médicos e cientistas desde a Antiguidade. Na Grécia, Hipócrates (460-377 a.C.), considerado o pai da medicina, classificava a personalidade em quatro tipos, de acordo com a presença de determinadas substâncias no organismo. No século XVII, o filósofo John Locke foi um dos primeiros a teorizar que a mente humana nasce vazia, como um papel em branco, e que a personalidade é fruto das experiências. Logo depois, o francês Jean Jacques Rousseau criou o conceito do bom selvagem inspirado nas descobertas de povos indígenas nas Américas. Para ele, os humanos nasceriam inocentes e pacíficos. Males como ganância e violência seriam produto da civilização. O primeiro cientista da era moderna a estudar seriamente a questão da natureza versus criação foi o inglês Francis Galton, no fim do século XIX. Pioneiro no estudo de irmãos gêmeos, ele pretendia mostrar que a inteligência e os talentos da elite intelectual inglesa eram passados de pai para filho.

Por todo o século XX, muitos intelectuais tentaram impor a tese de que os seres humanos são produto apenas do ambiente. Em parte, esse posicionamento foi uma reação à série de atrocidades cometidas na década de 20, nos Estados Unidos, na Áustria, na Suíça e nos países nórdicos, com o intuito de promover limpezas étnicas. Em episódios cuja extensão só foi revelada há uma década, judeus, ciganos, deficientes físicos e homossexuais foram esterilizados ou mortos para evitar que transmitissem seus genes à posteridade. O apogeu trágico e brutal dessas experiências ocorreu na Alemanha nazista. É notório que o médico alemão Josef Mengele se utilizou das idéias de Francis Galton para torturar e matar inúmeros gêmeos em experimentos sobre hereditariedade de traços sociais. "A maior justificativa para os pensadores negarem a influência genética do comportamento é o medo do preconceito e da eugenia", diz o cientista Steven Pinker, da Universidade Harvard, autor do livro Tábula Rasa, a Negação Contemporânea da Natureza Humana.

A descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, e a divulgação do Projeto Genoma Humano, em 2000, abriram as portas para uma compreensão sem precedentes das raízes biológicas da personalidade. As revelações de que a genética pode influenciar comportamentos mudam a visão das pessoas sobre questões filosóficas e do cotidiano. "A idéia de que os bebês vêm ao mundo sem características inatas multiplica a angústia dos pais que dão aos filhos uma educação adequada e eles não correspondem às suas expectativas. Na verdade, muitas coisas não dependem dos pais, e sim da natureza", diz Steven Pinker. O biólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, e autor de O Gene Egoísta, vai além. "A genética do comportamento mudará muita coisa. Se partirmos do pressuposto de que nossa mente é regida por algo além dos conceitos éticos e morais aprendidos, como punir um assassino?", ele questiona. "Quando um computador não funciona, em vez de puni-lo, nós o consertamos."

A psicóloga americana Judith Rich Harris foi uma das primeiras pesquisadoras a tentar mensurar a importância da genética, da família, do círculo de amizades e das experiências pessoais na formação da personalidade. Em seu livro No Two Alike (Não Há Dois Iguais), lançado neste ano, Judith diz que a genética é responsável por no mínimo 40% do que somos. Em segundo lugar vêm os amigos, a maior influência que recebemos. Por último, a família. A maneira como somos vistos por nossos amigos faz com que passemos a investir em determinados comportamentos. Se o grupo costuma rir das brincadeiras de uma criança, ela se percebe como uma pessoa divertida e tenta repetir esse jeito de ser, incorporando-o para o resto da vida. "Se um menino for desde pequeno visto como líder pelos colegas, no futuro pode vir a ser um líder de verdade se tiver as características genéticas propícias", escreve Judith. Nem todos os traços de personalidade, porém, sofrem influência tão marcante das experiências pessoais. Já se comprovou que o desenvolvimento da inteligência depende em grande parte de um ambiente familiar que a estimule. Os geneticistas estimam que, em duas décadas, será possível rastrear regiões genômicas em quantidade suficiente para conseguir mais do que pistas sobre a influência dos genes no comportamento. Graças à associação da psicologia e da genética, está aberto o caminho para elucidar a anatomia da personalidade.

FONTE – Revista Veja

http://veja.abril.com.br/130906/p_070.html

Enviado: 21 Out 2007, 03:18
por NadaSei
Não sei o motivo de você postar esse tipo de coisa...
Eu não nego que exista influencia genética ou biológica de outros tipos na personalidade, só acho que funciona diferente do que muitos dão a entender, pois agem na formação do cérebro/mente, sendo a mente bastante maleável e, essas influencias não se referem a diversas características de nossa personalidade, não existem genes para cada característica.
O ciúmes, por exemplo, é uma delas.
E nada disso muda o fato da "explicação" da PE sobre isso ser extremamente frágil, e, a meu ver, extremamente improvável.

Veja algumas opções e idéias mais interessantes sobre o assunto, o texto inclui a explicação genética, partindo da idéia de que, se é universal, deve ser genético... outra idéia com a qual não concordo.

TEORIAS GLOBAIS SOBRE O CIÚME


A literatura mundial que trata do ciúme é abundante, e as divergências de opinião acerca do assunto também o são. Embora o conceito de ciúme tenha uma dimensão pluralística, no sentido de admitir a coexistência de vários princípios na tentativa de explicá-lo, é freqüente que os autores se respaldem na definição fornecida, em 1981, pelo autor Gregory White por contemplar um número maior de fatores e por ser menos contraditória em relação a todas as outras que lhe sucederam. É por essa razão que doravante buscaremos esboçar um breve panorama histórico de como tal conceito foi compreendido, a fim de que possamos nos aproximar de uma padronização conceitual, ao menos para os nossos objetivos.



2.1. Ciúme: um breve panorama histórico.



Numa perspectiva mais ampla, que remonta há aproximadamente vinte e quatro séculos atrás, Aristóteles (2001) definia o ciúme como o desejo de ter o que outra pessoa possui, isto é, originariamente ele era concebido como uma qualidade boa e se referia ao desejo de imitar uma nobre atitude característica de uma outra pessoa. Nesta acepção, o filósofo pensava o ciúme em termos de uma nobre inveja.

Mais tarde, encontramos nas referências bíblicas ilustrações que denotavam como o ciúme já tinha sido concebido como algo belicoso à boa vivência do amor. Salomão, em seu livro “Cântico dos Cânticos[1]”, acreditava que o amor era forte como a morte e o ciúme, concebido enquanto uma paixão, era cruel como um túmulo.

Treze séculos depois, o autor de epigramas, escritor clássico e moralista francês François de la Rochefoucauld[2] reconhecia no ciúme uma tendência egocêntrica ao dizer: há no ciúme mais amor-próprio do que amor. Este autor ainda identificava o amor como substrato para a gênese do ciúme: O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele. Rochefoucauld (2006) ainda associa o ciúme às grandes mazelas humanas, em suma, para ele, o maior de todos os males.

No século XIX, na Alemanha, o ciúme, era concebido por Freud como um estado emocional. Segundo Freud (1922/ 1976), “O ciúme é um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais” (p. 271). No texto Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo, o autor faz uma distinção entre três tipos de ciúmes, o competitivo ou normal, o projetado e o delirante. Então, Freud (1922/1976, p. 271), escreveu sobre a projeção do ciúme:



O ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, deriva-se, tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão. É fato da experiência cotidiana que a fidelidade, especialmente aquele seu grau exigido pelo matrimônio, só se mantém em face de tentações contínuas. Qualquer pessoa que negue essas tentações em si própria sentirá, não obstante, sua pressão tão fortemente que ficará contente em utilizar um mecanismo inconsciente para mitigar sua situação. Pode obter esse alívio - e, na verdade, a absolvição de sua consciência - se projetar seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade.





Assim, para este autor, o ciúme poderia estar associado, no próprio ciumento, com as suas próprias traições. Destarte, para Freud (Freud, 1922/1976) é o desejo e a possibilidade virtual de trair o parceiro que engendra em cada parceiro o próprio ciúme.

Em Paris, para Stendhal (1999), o ciúme tinha uma conotação negativa e estava atrelado à vaidade quando dizia que o que tornava a dor do ciúme tão aguda era a vaidade que não contribuía para nos ajudar a suportá-la.

Observa-se, na literatura científica, que estudos sistemáticos sobre o ciúme aumentaram significativamente a partir de 1977, quando da realização de reuniões anuais científicas que o incluíam como tema de estudo. Isto aconteceu, em especial nos eventos da Midwestern Psychological Association e da American Psychological Association. Atualmente este é uma das temáticas que mais cativa os pesquisadores em todo o mundo (Ramos & Spera, 1995).



2.2. Teorias a respeito do ciúme.



Tanto o amor como o ciúme, possuem uma extensa variedade de formas e explicações, sob diversos prismas. Focalizaremos algumas delas de acordo com os objetivos desta pesquisa.

Atualmente, alguns teóricos consideram o ciúme como sendo um sentimento (Albisetti, 1994; Cavalcante, 1997; Clanton & Smith, 1998; Gikovate, 1998; Pines, 1998; Pines & Aronson, 1983 e Shettel-Neuber, Bryson & Young, 1978) outros como uma emoção negativa (Lazarus, 1993; Mathes, 1992; Montreynaud, 1994; Savian, 2002; Shinyashiki & Dumêt, 2002), ou ainda, uma emoção aversiva (Buunk, 1991 e McIntosh & Tangri, 1989). Há os que o concebem como um complexo de pensamentos, emoções e ações (Clanton, 1998; Ferreira-Santos, 1998; Hupka, 1981; 1991; Parrot, 1991; Pfeiffer & Wong, 1989; Rydell, McConnell & Bringle, 2004; Sharpsteen, 1991, 1993; White, 1981b, 1984; White & Mullen, 1989 e Zammuner, 1995).

Para alguns autores, existem vários tipos de ciúme (Sheets & Wolfe, 2001), diversos graus de ciúme (Ramos, 1998; 2000; Shinyashiki & Dumêt, 2002), manifestações de ciúme distintas para homens e mulheres (Bringle & Buunk, 1986; Buss, 2000; Pines & Friedman, 1998; White & Mullen, 1989) e mais de um tipo de ciúme em relação a uma mesma pessoa amada (Gikovate, 1998). As pessoas também podem ficar mais ciumentas durante períodos de fracasso ou perda (Pittman, 1994). E ainda, podem-se ter ciúmes de objetos, coisas, animais e pessoas, em diferentes intensidades e com relação ao mesmo objeto valorizado de múltiplas maneiras (Almeida, 2005).



2.2.1 A teoria evolutiva e a etiologia do ciúme em relação à infidelidade.



Abstraindo-se nossas aspirações mais românticas, o amor seria uma espécie de contrato biológico entre um homem e uma mulher. Para a etologia, ciência que estuda as origens dos comportamentos dos seres humanos e animais, esse contrato determinaria que, em troca de recursos trazidos por um homem para garantir a alimentação, o abrigo e a proteção da mulher e dos filhos dele, esta, em contrapartida, disponibilizaria o seu útero, com exclusividade, à disposição do mesmo.

Contudo, a infidelidade parece que sempre rondou o amor entre as pessoas em todas as épocas, pois, segundo o que nos mostram as pesquisas (e.g. Daly, Wilson & Weghorst, 1982) a infidelidade é comum em todas as sociedades humanas conhecidas. Consoante Fisher (2006): “fomos constituídos para amar e amar novamente” (Fisher, 2006, p.193). Viscott (1996) aponta que existem tantos motivos que levam as pessoas a traírem seus parceiros quantos relacionamentos amorosos. Para este mesmo autor “trair é investir em outra pessoa aquela energia emocional e sexual [e demais recursos como tempo, dinheiro, etc] que deveria ser direcionada para seu parceiro” (Viscott, 1996, p. 193). Em uma de suas pesquisas Goldenberg (2006) indica que 60% dos homens e 47% das mulheres confessaram ter traído seus(suas) parceiros(as). Nesta mesma pesquisa, ao responderem se foram traídos, 41% das mulheres e 32% dos homens afirmaram que sim. As razoes apontadas para a infidelidade feminina foram: falta de amor, insatisfação, e ainda crise ou problemas no casamento. Entretanto, os homens apontaram, além dos mesmos motivos, outros como: natureza masculina, instinto, “aconteceu”, oportunidade, atração, desejo, vontade, tesão, testicolocefalia, não conseguir resistir, para não se arrepender das oportunidades que perdi.

Alberoni (1986) afirma que a princípio, ao escolher, ainda que inconscientemente, um parceiro afetivo, mesmo para aventuras breves, o que se procura é o prazer. Assim, segundo este autor pode-se dizer que o que se pede então ao objeto da escolha é que este seja essencialmente um fator de satisfação que reforce nosso comportamento de renovar a sua procura e nossos sentimentos e pensamentos amorosos por sua pessoa. Isto também pode explicar em partes o comprometimento dos parceiros numa relação amorosa e suas vicissitudes. Caso este mecanismo falhe, a relação cessa imediatamente ou com o passar do tempo. Assim, segundo Buss, Larsen, Westen e Semmelroth (1992), o ciúme então, pode ser compreendido como resultado de uma adaptação evolutiva a obstáculos experienciados por homens e mulheres em relação aos relacionamentos amorosos que constituíram ao longo do tempo. Desta forma, o ciúme estaria relacionado aos fatores de reprodução e à necessidade de garantia de paternidade (Ramos, 2000).

Para prolongar os efeitos do amor e maximizar a permanência do parceiro e dos seus recursos para o relacionamento, segundo a teoria evolutiva, homens e mulheres desenvolveram diferentes estratégias adaptativas para lidarem com a questão da infidelidade. Quanto às origens do ciúme, Buss (2000) explica que apesar de suas manifestações potencialmente perigosas ele teve um imprescindível valor adaptativo. Em épocas remotas, onde homens e mulheres dependiam exclusivamente uns dos outros para a sobrevivência, o ciúme atendia esta função de manutenção do relacionamento estabelecido. Por meio dele, homens ciumentos preservariam com uma maior probabilidade seus valiosos engajamentos tentando se assegurar que os filhos daquela relação eram de fato seus, garantindo assim a sua linhagem genética. No que diz respeito às mulheres, o ciúme seria um importante fator diferencial que lhes poderia assegurar um mantenedor para si e para sua prole. Segundo este raciocínio, a infidelidade representa com isso o desvio parcial de valiosos recursos. Naturalmente, estes mecanismos eram, e ainda o são, inconscientes para ambos os sexos. E diferentemente do que se pensa, homens e mulheres são eqüitativamente ciumentos, apenas diferindo, como dito anteriormente, na forma como ele se manifesta para os dois gêneros[3] (Buss, 2000; White & Mullen, 1989).

Atualmente, as condições de vida são bastante diferentes, principalmente quando comparadas com épocas ancestrais, e assim, as mulheres teoricamente não dependem dos recursos trazidos pelos homens, e conseqüentemente, uma mulher quando na condição de mãe solteira, não necessariamente está mais desamparada. Porém, como nossos cérebros são muito semelhantes aos dos nossos ancestrais, para os quais o ciúme foi uma característica evolutivamente adaptada, dentre outros mecanismos para assegurarem sua sobrevivência, nós ainda de certa forma, responderíamos como que instintivamente a alguns mesmos controles biológicos.

Consoante Ramos e Calegaro (2001), os seres humanos, homens e mulheres, desenvolveram diferentes estratégias para lidar com o problema da sobrevivência e da reprodução. Os homens, para se certificarem de que os filhos gerados em um relacionamento são verdadeiramente seus (o que tem conseqüências substanciais para sua auto-estima), têm o seu ciúme motivado pela suspeita de infidelidade sexual de sua mulher (Mullen & Martin, 1994). Ainda segundo Ramos e Calegaro (2001), as mulheres, diante do temor de que o companheiro possa se envolver emocionalmente com uma rival a ponto de dirigir seus investimentos materiais, afetivos e financeiros para esta pessoa, desenvolveram o ciúme como uma resposta apropriada para a manutenção deste relacionamento. Em outras palavras, em relação aos homens, a mulher ao longo do tempo aprendeu a desenvolver um ciúme mais emocional do que sexual.

Para entender melhor tudo isso, deve-se levar em consideração que os homens são capazes de inseminar inúmeras parceiras em curtos períodos. Entretanto, as mulheres são capazes de ter apenas poucos descendentes e assim, a maternidade pode ser considerada um dom, uma coisa rara do ponto de vista evolutivo, algo muito mais valioso que uma poupança dada a sua relação custo-benefício, sobretudo, para aquelas épocas ancestrais (Desteno, Bartlett, Braverman & Salovey, 2002). A idéia implicada aqui é a de fitness. Fitness refere-se à probabilidade de transmissão bem sucedida de material genético para gerações bem sucedidas e é conseqüentemente definida como fazer surgir descendência em idade sexual maturativa (Daly & Wilson, 1983; Dawkins, 1976).

A etologia afirma que o ciúme é um sentimento universal, e sua existência pode ser constatada nos mais diferentes povos e raças (Buss, 2000). Apesar das diferenças na sua forma de manifestação, essa universalidade sugere um componente genético. Dessa forma, alguns autores abordam o ciúme do ponto de vista evolutivo e dizem que ele é uma manifestação biológica inata, que tem a função de garantir a propagação dos genes e, conseqüentemente, a perpetuação da espécie, um provedor para a prole, no caso do gênero feminino, e, sobretudo, a garantia da paternidade para o gênero masculino (Buss, 1988, 2000; Buss, Angleitner, Oubaid & Buss, 1996; Buss, Larsen & Westen, 1996; Buss, Larsen, Westen & Semmelroth, 1992; Buss & Shackelford, 1997; Fisher, 1995; 2006).

Apesar de suas formas de manifestação serem até certo ponto idiossincráticas, não existe uma cultura na qual os indivíduos são desprovidos dos mais diversos tipos e graus de ciúme. Por exemplo, até mesmo entre os esquimós Ammassalik, da Groenlândia, considerada uma cultura sem ciúme, não é incomum que o marido mate o intruso que dorme com sua mulher (Buss, 2000). Um outro caso interessante a ser analisado é o da cultura islamita. No Islamismo, a poligamia é permitida. O homem pode se casar com até quatro mulheres, com a condição de que dê atenção igual a cada uma delas, o que sugere que há ciúme manifestado entre as parceiras. Contudo, é fato que, mesmo com a possibilidade de ter várias esposas, os homens não deixam de ter relações extraconjugais.

Algumas teorias de cunho sociológico e antropológico têm tentado desvendar uma origem cultural para o ciúme (Achté & Schakir, 1985; Bers & Rodin, 1984; Hupka, 1981; 1991; Hupka & Bank, 1996; Salovey & Rodin, 1984; Shweder & Haidt, 2000). Os argumentos mais comuns colocam as raízes do ciúme no capitalismo e na cobiça, afirmando que a busca por possuir bens materiais se estende a possuir outras pessoas. Se assim fosse, segundo Buss (2000), sociedades que vivenciam ou vivenciaram uma tentativa de socialismo experimentariam um declínio exponencial no ciúme, o que não ocorreu. Ainda segundo Buss (2000), também existe a tentativa de se interpretar o ciúme como uma falha de caráter, ou ainda, uma patologia produzida pela baixa auto-estima e imaturidade. Se os traços de personalidade originassem o ciúme, então, a simples mudança desses, deveria eliminá-lo. Conclui-se, portanto, que a universalidade do ciúme se explica por ele ser um produto evolutivo na interação entre os gêneros (filogenético), e não somente por ser um produto cultural (ontogenético), ou seja, para a sua configuração somam-se os componentes biológicos e culturais.



2.2.2. O ciúme enquanto um complexo cognitivo-comportamental.



Ao falar do ciúme, Barthes (1981) discorre sobre as ambigüidades vivenciadas pelas pessoas que por ele são afetadas. Por sua linha de raciocínio, percebe-se que o ciumento é ridicularizado e que, portanto, não é desejável. Pode-se inferir que o ciúme provoca sofrimento ao outro parceiro e mesmo assim, o ciúme corrói cada pessoa que o sente interiormente, ou seja, "sabe-se" uma coisa e "sente-se" outra, e muitas vezes não há uma correspondência do dizer-fazer. O racional duela com o emocional, de tal forma que ninguém pode saber ao certo quem ganhará e nem se pode torcer, a priori, por um deles.

Vamos agora partir para caracterizar tal complexo enquanto um fenômeno comportamental e cognitivo-sentimental. Como vimos com relação às definições dadas pela diversidade de teóricos estudados, as concepções de ciúme são diversas, porém uma mesma tríade conceitual as une:

1) ser uma reação frente a uma ameaça percebida;

2) haver um rival real ou imaginário e;

3) a reação visa diminuir, ou ainda, eliminar os riscos da perda do objeto amado.



Ramos (2000) aponta que há diferentes posições quanto a conceber o ciúme como uma combinação de outras emoções básicas, ou mesmo como uma categoria própria. Ferreira-Santos (1998) também ressalta que devido às múltiplas manifestações de ciúme por pessoas, e mesmo por objetos, fica muito difícil compreender a origem destas situações. Além disso, cada pessoa pode exprimir o seu ciúme de uma forma peculiar, ou seja, o vivencia do seu próprio jeito, dado que os evocadores, as reações, os sentimentos e as conseqüências são muito semelhantes para as pessoas ou grupos de pessoas.

De qualquer forma, uma reação somente é rotulada como ciúme se quem a experimenta possuir um relacionamento valorizado e, em seu entendimento, perceber que este vínculo está sendo ameaçado pela interferência de uma terceira pessoa, esta identificada como rival, independentemente do fato desta percepção ser baseada em fatos reais ou imaginários. “É, portanto, necessária a identificação da ameaça” (Ramos, 2000, p. 63). Berscheid e Fei (1998) complementam a discussão sobre a essência do ciúme ao concebê-lo enquanto relacionado a uma alta dependência do parceiro, todavia com uma alta insegurança a respeito de si mesmo, do parceiro e do próprio relacionamento.

Alguns autores como Clanton & Smith (1998) Tooby & Cosmides (1990) e White (1980; 1981a) citam possíveis preditores para o ciúme, tal como as diferenças na desejabilidade entre os parceiros (podem deixar em estado de alerta para uma possível infidelidade do(a) parceiro(a). Isto é, se alguém se sente inferior ao parceiro num relacionamento amoroso isto pode ser responsável pela hipervigilância em relação ao parceiro considerado mais desejável. Buss (2000), Waster, Traupmann e Walster (1978) e Walster, Walster e Berscheid (1978) argumentam que o parceiro mais desejável do casal é na verdade o mais propenso a se desgarrar, o que em partes justificaria o ciúme do outro parceiro. Esta hipótese também será testada pelo presente estudo.



2.2.3 Ciúme, possessão e a questão da profecia auto-realizadora.



No que tange a avaliação do ciúme pela literatura científica (e.g. Albisetti, 1994; Botura, 1996; Buunk, 1991; Cavalcante, 1997; Clanton & Smith, 1977; Gikovate, 1998; Ferreira-Santos, 1998; Lazarus, 1993; Mathes, 1992; McIntosh & Tangri, 1989; dentre outros) e pelo senso comum, percebe-se que na análise da literatura acadêmica, há a predominância da conceituação do ciúme enquanto uma relação afetiva negativa frente a uma ameaça ao relacionamento amoroso valorizado. De modo especial, Montreynaud é enfático ao dizer: “o ciúmes não é prova de amor, mas sinal de imaturidade” (Montreynaud, 1994, p. 40).

Em contrapartida, para as pessoas comuns, como atestam os estudos de Mullen & Martin (1994), há uma relação estreita entre o amor verdadeiro e o ciúme. Mesmo para outros teóricos tais como Ferreira-Santos (1998), Leonel (1993), Mathes (1991), Pittman (1994), Salazar, Couto, Gonçalves e Pereira (1996) e White e Mullen (1989), há a possibilidade de haver algum aspecto neutro, ou ainda positivo no ciúme, no sentido dele acarretar a aproximação do casal, como uma profícua estratégia de se lidar com uma situação ameaçadora. Entretanto, tal visão carece de uma maior fundamentação empírica. Para o senso comum, e, sobretudo, para a cultura brasileira, percebe-se a manutenção de um ambiente favorável às atitudes ciumentas. Isto é, os parceiros se vêem na obrigação de demonstrar ciúme como prova de amor (Ferreira-Santos, 1998). Os discursos apologéticos que são feitos para justificar as atitudes ciumentas no Brasil, segundo Goldenberg (2006), ainda podem estar relacionados de algumas mulheres perceberem como humilhante conviver com a solidão, ou ainda, estarem desprotegidas economicamente. Ainda, para Ferreira-Santos (1998), existe uma grande confusão entre ciúme e zelo, este sim, um sentimento que comprovaria o amor. Na verdade, pouco se sabe sobre experiências e comportamentos associados ao ciúme na população geral, mas num estudo populacional, todos os entrevistados (100%) responderam positivamente quando perguntados se já sentiram ciúme, embora menos de 10% reconheceu que este sentimento acarretava problemas no relacionamento (Mullen & Martin, 1994).

Na vida real, é sabido que muitos dos nossos comportamentos são largamente influenciados, e até mesmo governados por normas e/ou expectativas que funcionam como diretrizes para que as pessoas se comportem de determinada maneira em certa situação. Ao se refletir sobre expectativas que conduzem ao comportamento pensa-se logo em profecias auto-realizadoras. Estas profecias são, em resumo, definidas como crenças capazes de exercer influência sobre aqueles que nelas crêem: as pessoas mudam de atitude e se engajam em comportamentos que aumentam as chances de ocorrer aquilo que crê ou teme (Allport, 1950; Brophy, 1983; Copeland, 1994; Murray, Holmes & Griffin, 1996 a e b; Snyder, 1984). Então, seria possível considerar o ciúme como uma profecia auto-realizadora aos moldes do que Rosenthal & Jacobson (1968; 1982), ou mesmo que Merton (1948) conceberam? Será, então, que se é possível sugerir que o ciúme funciona como uma profecia auto-realizadora que produz a perda da qualidade nas relações amorosas, ou mesmo responsável, em fases ulteriores, pela ruptura das mesmas, induzindo os parceiros a se engajarem em comportamentos infiéis? O ciúme pode ser pensado em termos de uma profecia auto-realizadora preditora de perda da qualidade nas relações amorosas, ou mesmo responsável, em fases ulteriores, pela ruptura das mesmas, induzindo os parceiros a se engajarem em comportamentos infiéis? Infelizmente, até o presente momento não há qualquer estudo que tenha se ocupado em tematizar tal associação. Tendo como base esta linha de argumentação, este estudo, também, procurará verificar tal associação entre o ciúme romântico e a infidelidade amorosa.



2.2.4. Ciúme, amor, infidelidade e gênero.



Os resultados das pesquisas acerca do ciúme não evidenciam claramente que haja diferenças entre homens e mulheres (Desteno & Salovey, 1996; Harris, 2002, 2003; 2005; Hawkins, 1987; Sagarin, 2005; Shackelford, Buss & Bennett, 2002), e há pouco consenso entre os autores, que evidenciam que a mulher, freqüentemente, apresenta mais intensamente ciúme em comparação ao homem.

Todavia Buss (2000) nos sugere que homens e mulheres são igualmente ciumentos, mas os eventos desencadeadores de ciúme para cada um é que são diferentes: os homens ancestrais tinham um custo elevado com a paternidade, isso porque caso houvesse infidelidade por parte da mulher, eles se arriscariam a desperdiçar tempo, energia e outros investimentos enquanto a cortejaram. Também teriam perdido oportunidades com outras mulheres enquanto se dedicavam a apenas uma, além do esforço materno que teria sido desviado para a prole de um rival, e, principalmente, se arriscariam a dedicar cuidados paternos a essa prole, julgando erroneamente ser sua.

E se o homem ancestral fazia um grande investimento ao aderir a um relacionamento amoroso, a mulher fazia um investimento ainda maior com a maternidade, uma vez que cada gravidez durava nove meses. Além disso, se arriscar a perder o investimento ou uma parte do investimento do parceiro que desviasse seus “recursos” à outra mulher (com quem ele tivesse um caso). Isto poderia ser extremamente danoso, pois esse desvio ocorreria à custa da sobrevivência dela e de seus filhos. Isso era muito mais grave, se forem consideradas as épocas ancestrais de frio, estiagem, escassez de alimentos, onde as possibilidades de sobrevivência eram baixas. Para a mulher o indicador mais confiável do desvio de investimento não seria o homem ter sexo com outra mulher, mas ele ter envolvimento emocional com ela. O envolvimento emocional poderia servir para avaliar a qualidade do compromisso. Para as mulheres a posse dos seus homens é ameaçada por rivais que corporificam o que os homens querem.

Ainda, ao se discorrer sobre a temática do ciúme é necessário lembrar que para alguns teóricos, como DeSteno & Salovey, 1996 e Harris & Christenfeld, 1996(a e b), pelo menos na cultura ocidental, a infidelidade sexual tem diferentes conotações para homens e mulheres. Como o amor geralmente é um pré-requisito para o envolvimento de uma mulher em um relacionamento sexual, isto faz com que se imagine que a infidelidade sexual feminina esteja associada com o envolvimento emocional com outro parceiro (DeSteno & Salovey, 1996). Todavia, consoante Sheets e Wolfe (2001), a infidelidade masculina não tem tal implicação porque os homens têm mais condições de praticar sexo sem amor.

De todas as características que são pesquisadas no que diz respeito à infidelidade, o gênero parece ser o mais consistente dos fatores que predizem: os homens como os que traem mais (Buss & Shackelford, 1997). E mesmo entre homens que têm casos, em relação às mulheres que também os têm, os homens as superam em termos de quantidade (Lawson, 1988).



2.2.5. Ciúme e a discussão Nature X Nurture.



Outra dúvida suscitada pela temática abordada é a de que se o ciúme é inato ou aprendido. Buunk, Angleitner, Oubaid e Buss (1996), Geary, Rumsey, Bow-Thomas e Hoard (1995) e Wiederman e Kendall (1999) acreditam que seja inato, embora as suas manifestações específicas sejam aprendidas. A cultura aqui desempenharia um papel fundamental por modelar as diversas representações do ciúme.

Uma visão que se quer apontar ao discutir se é o ciúme inato ou aprendido, benéfico ou danoso aos relacionamentos amorosos, é a de que ele é fundamentalmente egoísta à medida que leva o(a) seu(sua) possuidor(a) a agir visando com isso tolher os direitos da pessoa a ela vinculada. Isto é, quando o ciúme se manifesta, não visa proteger o outro, como erroneamente costuma se pensar, e sim se preservar a si mesmo de futuras preocupações que lhe sejam custosas no investimento amoroso realizado. O que mascara esta constatação é o fato de pensar que o ciúme é exercido em nome do amor e de uma “altruística” preocupação com o bem estar do outro de forma que per se parece autorizar a interferir sobre o destino do(a) parceiro(a).



2.2.6. Cultura e patologias relacionadas ao ciúme.



E dado o seu polimorfsmo, percebe-se que o ciúme exibe as características de cada época, de cada cultura, o que torna difícil diagnosticá-lo como uma doença, por não ter um padrão fixo para se revelar. E um dos pontos mais notáveis no que diz respeito ao ciúme, e mesmo no que diz respeito à infidelidade é que eles estão presentes em todas as culturas e em todas as épocas. Todavia, consoante Ferreira-Santos (1998), o sofrimento é o que fundamenta e anuncia quando o ciúme deixa de estar no limite da normalidade e avança causando mal-estar, repetindo-se obsessivamente e compulsivamente, até que provavelmente, arruíne a vida das partes envolvidas. Muitos dos que se relacionam amorosamente não pensam nos desdobramentos do amor como um possível aparecimento do ciúme. Muitas vezes, a dor, acompanhada de um inerente sofrimento para ambas, ou ao menos uma das partes envolvidas poderiam pensar os etólogos, não invalida suas funções positivas para a sobrevivência. Principalmente, no contexto brasileiro, muitos dos que são objeto de um ciúme, dependendo do grau e de acordo com seus históricos de vida, sentem-se lisonjeados em granjear este tipo de atenção para elas mesmas (Ferreira-Santos, 1998). Contudo, não devemos deixar escamotear a nossa percepção e deixar passar despercebido o número de caso de violência doméstica, crimes passionais, dentre outros fatos comentados pelos noticiários diários, ou mesmo citados e estudados pela literatura científica, (Daly & Wilson, 1988; Hannawa, Spitzberg, Wiering & Teranishi, 2006; Mullen, 1996). O Ciúme Patológico pode até motivar homicídios, e muitas dessas pessoas sequer chegam aos serviços médicos (Shepherd, 1961). Para Palermo et al (1997), a maioria dos homicídios seguidos de suicídio são crimes de paixão, ou seja, relacionados a idéias delirantes de ciúme intenso ou excessivo (Palermo et al, 1997). São, geralmente, crimes cometidos por homens (mas, isso não exclui as mulheres do problema) com algum problema psicológico, desde transtornos de personalidade, alcoolismo, drogas, depressão, obsessão, até a franca esquizofrenia. Desta forma, pode-se inferir que são os excessos e estes, desequilíbrios, por exemplo, aliados ao ciúme é que causam as nefastas conseqüências para os relacionamentos amorosos e não o ciúme em si.

http://www.psiquiatriainfantil.com.br/t ... gina3.html

Enviado: 21 Out 2007, 03:55
por SickBoy
NadaSei escreveu:não existem genes para cada característica.


e ainda pergunta porque eu postei o texto?




putz

Re.: Poliandria.

Enviado: 22 Out 2007, 08:01
por DaviDeMogi
Não ia querer ser um dos. Não gosto de sopa! :emoticon16: