'A mulher dá porque quer'
Enviado: 01 Dez 2007, 10:46
'A mulher dá porque quer'
22/11/2007
BERNARDO MELLO FRANCO
REPRODUÇÕES
BEBEL. A ficção atropela a realidade
No último capítulo da novela Paraíso tropical, a prostituta Bebel saca o melhor vestido do armário e desembarca em Brasília para depor numa CPI do Senado. Depois de fugir da polícia e dos cafetões nas ruas de Copacabana, a personagem de Camila Pitanga reencarna como amante de um senador envolvido em mais um escândalo financeiro. No centro dos flashes, a morena irrita os parlamentares ao mandar beijos para os fotógrafos, mas se despede do público como a nova estrela do circo político da capital.
Fora da ficção, no entanto, o trânsito das profissionais do sexo continua escondido no submundo do poder. No último dia 7, os integrantes da Comissão de Constituição de Justiça da Câmara rejeitaram o projeto do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) que legalizava a prostituição no Brasil. Os nobres parlamentares decidiram que a regra incentivaria a mercantilização do sexo, num debate mais acalorado do que muitas discussões sobre o aumento dos impostos e o desvio de verbas públicas. Veja o que alguns deles disseram:
- Não existe serviço sexual, o que existe é o prazer do sexo, o gozo sexual. Não se paga por isso. A mulher dá porque quer dar - pontificou Gerson Péres (PP-PA).
- Aqui não se trata de vender órgãos, mas de se disponibilizar por alguns momentos um órgão que Deus criou para perpetuar a vida, o órgão mais sagrado e puro do ser humano. Não podemos banalizar isso - apelou João Campos (PSDB-GO), dublê de político e delegado de polícia.
- Esse projeto vai contra os princípios morais da família e das igrejas brasileiras -sentenciou o evangélico Carlos Willian (PTC-MG), que garantiu os 15 minutos fora do anonimato em junho, ao se declarar ameaçado de morte por um colega de bancada.
Para Maluf, a degradação moral já derrubou impérios
VESTAL. Maluf contra a orgia
Famoso há mais tempo pelas acusações de saliência com o dinheiro público, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) desfiou uma interpretação peculiar dos livros de histórica para reeditar a velha tática de jogar pedra na Geni. Para ele, as prostitutas - e não os exércitos inimigos - foram as verdadeiras responsáveis pela queda da Grécia e de Roma.
- Muitas nações cresceram e desaparecam pela decadência moral, como Egito, Grécia e Roma, com seus bacanais - afirmou, num alerta de que o mesmo fenômeno poderia abater a frágil democracia brasileira.
Se política muda tão rápido quanto as nuvens, como dizia o ex-governador mineiro Magalhães Pinto, vale lembrar que o prestígio de cafetinas e garotas de programa já foi maior em Brasília. Há pouco mais de dois anos, a cearense Jeany Mary Corner, uma próspera empresária do setor, dominou o noticiário ao revelar que promovia festas às custas de Marcos Valério, o operador do mensalão.
Durante algumas semanas, seu caderninho de telefones, com os números confidenciais de figurões da República, foi o documento mais valioso da capital. O Congresso estremeceu com os boatos de que Jeany teria fotos de deputados e ministros em poses comprometedoras ao lado de suas acompanhantes. Foi acusada de extorquir políticos para esconder os nomes mas, por instinto profissional e para alívio das autoridades, soube preservar o sigilo dos clientes.
Dono de bordéis quer ser prefeito de São Paulo
LIBERTINO. O Larry Flynt brasileiro
Por ora, a profissão mais antiga do mundo permanecerá na clandestinidade em terras tupiniquins. Trocar favores sexuais por dinheiro não é ilegal, mas o vetusto Código Penal preserva as figuras do lenocínio e do rufianismo para enquadrar cafetinas e cafetões. Embora os casos de condenação pelos dois crimes sejam remotos, de quando em vez um caso de repercussão lembra o país que, apesar de disseminada, a prostituição continua fora da lei.
O último desses escândalos envolveu Oscar Maroni, dono da famosa "boate" Bahamas, a disneylândia do sexo dos endinheirados paulistas. Em meados de agosto, ele foi preso de madrugada, usando pijamas e chinelos, sob as acusações de tráfico de mulheres, exploração de prostíbulo e favorecimento à prostituição.
Chamado de Larry Flynt brasileiro, o empresário libertino expandiu os negócios e ergueu um hotel de 11 andares a 600 metros do Aeroporto de Congonhas. Depois da queda do Airbus da TAM, em julho, o edifício foi interditado pelo prefeito Gilberto Kassab - apesar de a construção ter sido autorizada pela prefeitura e pela Aeronáutica. Num dia de outubro, o prédio amanheceu pichado. "199 pessoas morreram e vocês prendeu (sic) o dono do Bahamas", dizia o protesto, com autoria reinvindicada pelos punks do grupo Túmulos.
Na cadeia, onde passou 63 dias, o empreendedor concedeu inúmeras entrevistas e posou para fotos com uma camiseta em que se lia a inscrição "Oscar free" - uma alusão à campanha pela libertação do ex-boxeador Mike Tyson, outro ícone da incorreção política. Por falar nisso, Maroni aproveitou a saída da prisão para anunciar um novo e ambicioso plano: candidatar-se à sucessão de Kassab no ano que vem, numa eleição que terá entre os competidores o carola tucano Geraldo Alckmin. Se eleito, o dono do Bahamas herdará por quatro anos a cadeira que já pertenceu, no início dos anos 90, ao alarmado Paulo Maluf. O mundo dá voltas...
http://www.palmalouca.com/reportagem/reportagem.jsp?id_reportagem=241
22/11/2007
BERNARDO MELLO FRANCO
REPRODUÇÕES
BEBEL. A ficção atropela a realidade
No último capítulo da novela Paraíso tropical, a prostituta Bebel saca o melhor vestido do armário e desembarca em Brasília para depor numa CPI do Senado. Depois de fugir da polícia e dos cafetões nas ruas de Copacabana, a personagem de Camila Pitanga reencarna como amante de um senador envolvido em mais um escândalo financeiro. No centro dos flashes, a morena irrita os parlamentares ao mandar beijos para os fotógrafos, mas se despede do público como a nova estrela do circo político da capital.
Fora da ficção, no entanto, o trânsito das profissionais do sexo continua escondido no submundo do poder. No último dia 7, os integrantes da Comissão de Constituição de Justiça da Câmara rejeitaram o projeto do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) que legalizava a prostituição no Brasil. Os nobres parlamentares decidiram que a regra incentivaria a mercantilização do sexo, num debate mais acalorado do que muitas discussões sobre o aumento dos impostos e o desvio de verbas públicas. Veja o que alguns deles disseram:
- Não existe serviço sexual, o que existe é o prazer do sexo, o gozo sexual. Não se paga por isso. A mulher dá porque quer dar - pontificou Gerson Péres (PP-PA).
- Aqui não se trata de vender órgãos, mas de se disponibilizar por alguns momentos um órgão que Deus criou para perpetuar a vida, o órgão mais sagrado e puro do ser humano. Não podemos banalizar isso - apelou João Campos (PSDB-GO), dublê de político e delegado de polícia.
- Esse projeto vai contra os princípios morais da família e das igrejas brasileiras -sentenciou o evangélico Carlos Willian (PTC-MG), que garantiu os 15 minutos fora do anonimato em junho, ao se declarar ameaçado de morte por um colega de bancada.
Para Maluf, a degradação moral já derrubou impérios
VESTAL. Maluf contra a orgia
Famoso há mais tempo pelas acusações de saliência com o dinheiro público, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) desfiou uma interpretação peculiar dos livros de histórica para reeditar a velha tática de jogar pedra na Geni. Para ele, as prostitutas - e não os exércitos inimigos - foram as verdadeiras responsáveis pela queda da Grécia e de Roma.
- Muitas nações cresceram e desaparecam pela decadência moral, como Egito, Grécia e Roma, com seus bacanais - afirmou, num alerta de que o mesmo fenômeno poderia abater a frágil democracia brasileira.
Se política muda tão rápido quanto as nuvens, como dizia o ex-governador mineiro Magalhães Pinto, vale lembrar que o prestígio de cafetinas e garotas de programa já foi maior em Brasília. Há pouco mais de dois anos, a cearense Jeany Mary Corner, uma próspera empresária do setor, dominou o noticiário ao revelar que promovia festas às custas de Marcos Valério, o operador do mensalão.
Durante algumas semanas, seu caderninho de telefones, com os números confidenciais de figurões da República, foi o documento mais valioso da capital. O Congresso estremeceu com os boatos de que Jeany teria fotos de deputados e ministros em poses comprometedoras ao lado de suas acompanhantes. Foi acusada de extorquir políticos para esconder os nomes mas, por instinto profissional e para alívio das autoridades, soube preservar o sigilo dos clientes.
Dono de bordéis quer ser prefeito de São Paulo
LIBERTINO. O Larry Flynt brasileiro
Por ora, a profissão mais antiga do mundo permanecerá na clandestinidade em terras tupiniquins. Trocar favores sexuais por dinheiro não é ilegal, mas o vetusto Código Penal preserva as figuras do lenocínio e do rufianismo para enquadrar cafetinas e cafetões. Embora os casos de condenação pelos dois crimes sejam remotos, de quando em vez um caso de repercussão lembra o país que, apesar de disseminada, a prostituição continua fora da lei.
O último desses escândalos envolveu Oscar Maroni, dono da famosa "boate" Bahamas, a disneylândia do sexo dos endinheirados paulistas. Em meados de agosto, ele foi preso de madrugada, usando pijamas e chinelos, sob as acusações de tráfico de mulheres, exploração de prostíbulo e favorecimento à prostituição.
Chamado de Larry Flynt brasileiro, o empresário libertino expandiu os negócios e ergueu um hotel de 11 andares a 600 metros do Aeroporto de Congonhas. Depois da queda do Airbus da TAM, em julho, o edifício foi interditado pelo prefeito Gilberto Kassab - apesar de a construção ter sido autorizada pela prefeitura e pela Aeronáutica. Num dia de outubro, o prédio amanheceu pichado. "199 pessoas morreram e vocês prendeu (sic) o dono do Bahamas", dizia o protesto, com autoria reinvindicada pelos punks do grupo Túmulos.
Na cadeia, onde passou 63 dias, o empreendedor concedeu inúmeras entrevistas e posou para fotos com uma camiseta em que se lia a inscrição "Oscar free" - uma alusão à campanha pela libertação do ex-boxeador Mike Tyson, outro ícone da incorreção política. Por falar nisso, Maroni aproveitou a saída da prisão para anunciar um novo e ambicioso plano: candidatar-se à sucessão de Kassab no ano que vem, numa eleição que terá entre os competidores o carola tucano Geraldo Alckmin. Se eleito, o dono do Bahamas herdará por quatro anos a cadeira que já pertenceu, no início dos anos 90, ao alarmado Paulo Maluf. O mundo dá voltas...
http://www.palmalouca.com/reportagem/reportagem.jsp?id_reportagem=241