Produtos chineses enfrentam crise de credibilidade
Enviado: 07 Dez 2007, 14:21
Marina Wenzel
de Hong Kong
No Brasil, botox da China foi vendido sem licença sanitária
Os produtos “made in China” enfrentam uma crise de credibilidade após uma série de escândalos e da constatação de que quase um quinto (19,1%) dos produtos estão abaixo dos padrões de qualidade, segundo dados do próprio governo.
O levantamento divulgado esta semana pela Administração Estatal de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena (AESQIQ) verificou 7.200 itens de 6.362 empresas, com ênfase em alimentos, bens de consumo diário, maquinário agrícola e fertilizantes.
O estudo revelou que quase 30% dos produtos provenientes de firmas pequenas estão abaixo dos padrões. Em linhas de produção de médio e grande porte, a porcentagem é de 15,8% e 6,9%, respectivamente.
Entre dezembro de 2006 e maio de 2007, o órgão estatal investigou 23 mil casos de alimentos duvidosos e fechou 180 fábricas que utilizavam ingredientes impróprios para o consumo humano.
Casos internacionais
O estudo foi divulgado em meio a uma acalorada discussão sobre comércio e padrões sanitários entre os Estados Unidos e a China.
Nesta quinta-feira, os EUA determinaram o recall de mais brinquedos chineses, sob suspeita de que os produtos contêm substâncias venenosas e que poderiam causar sufocamento nas crianças.
Na semana passada, os americanos suspenderam importações de alguns tipos de frutos do mar e pescados vindos de criadores da China, alegando que os produtos continham substâncias químicas cancerígenas.
A China rebateu, chamando a proibição de "inaceitável" e "indiscriminada". O diretor do órgão sanitário da China, Li Changjiang, disse também ter detectado "muitos produtos americanos de baixa qualidade para exportados".
Este é somente o incidente mais recente de uma série de problemas. Apenas neste ano, vários casos levantaram questionamentos.
Nos Estados Unidos, inúmeros animais de estimação morreram por causa de rações feita com ingredientes chineses contaminados com químicos industriais. No Panamá, pelos menos 50 pessoas morreram ao ingerir um xarope contra gripe contendo falsa glicerina importada da China.
Pasta de dente com dietilenoglicol, uma substância tóxica, usada na refrigeração de radiadores de carros, foi exportada para República Dominicana, Panamá e Estados Unidos.
Na própria China foram encontrados produtos falsos. Em alguns hospitais públicos, as autoridades detectaram o uso de albumina falsa, um remédio utilizado para aumentar a concentração de proteína no sangue.
Os testes comprovaram que a albumina era totalmente inócua, contendo 0% de proteína.
Produtos no Brasil
"É muito provável que produtos de baixa qualidade produzidos na China como em outros países estejam sendo vendidos no mercado brasileiro, mas não dá para garantir que sejam em categorais de produtos em que a saúde da população possa ser afetada", acredita a consultora baseada em Xangai e especialista em controle de qualidade Mariza Suguiura.
Em janeiro deste ano a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização de 19 lotes de agulhas e lâminas da marca Med Needle, por não estarem de acordo com os padrões brasileiros.
Os produtos eram fabricados na China pela empresa Jiangsu Xuyi K. Medical Corp.
Em 2005, a Anvisa apreendeu botox genérico vendido sem licença sanitária. O produto Syntox (Butolinum Toxin Type ‘A’ for Therapy), era fabricado pela empresa chinesa Lanzhou Institute of Biological Products.
E num recente caso de pirataria que envolve questões sanitárias, chineses foram flagrados exportando carne para a Rússia e União Européia embalada como se fosse original do Brasil, segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo.
Ironicamente, o Brasil contesta na Organização Mundial do Comércio o embargo chinês sobre a carne brasileira.
"Não há uma consciência para manter o cliente, as empresas chinesas pensam sempre no volume, onde o número de clientes é mais visado. Claro que há fábricas que produzem produtos de qualidade internacional, mas elas são minoria no mercado ", diz Suguiura.
Aumentar a polêmica
O governo chinês, apesar de se mostrar resistente em discutir abertamente o problema, tem mostrado disposição em combatê-lo.
Nesta sexta-feira, a Justiça chinesa sentenciou à pena de morte comutável Cao Wenzhuang, ex-chefe do departamento de registros de remédios do órgão de Administração Estatal de Alimentos e Medicamentos (AEAM).
Ele é acusado de ter aceito mais de 2.4 milhões de yuans (R$ 600 mil) em propinas para aprovar licenças a remédios duvidosos. Cao tem o direito de recorrer da sentença, que pode ser comutável a prisão perpétua.
No mês passado, o governo já havia condenado à morte o ex-chefe de Cao, o diretor da AEAM, Zheng Xiaoyu, também por aceitar 6.5 milhões de yuans (R$ 1,6 mihão) em subornos em troca da liberação de registros para remédios. Mas ao contrario de Cao, a pena de morte aplicada a Zheng não pode ser comutada por prisão perpétua.
Em Hong Kong, onde há uma grande circulação de alimentos e produtos vindos da China continental, há visões mistas sobre como lidar com esses produtos.
O secretário de Segurança Alimentar e Saúde de Hong Kong, York Chow, garantiu que não há razões para se duvidar dos controles de qualidade aplicados aos produtos chineses mas disse que “testes são realizados em alimentos vindos da China para garantir a qualidade”.
Uma das maiores redes de supermercados da ilha implementou um sofisticado sistema de código de barras que rastreia a origem de cada vegetal vindo da China, aparentemente, para acalmar seus clientes.
O anúncio publicitário da rede promete “tranqüilidade total” aos consumidores.
de Hong Kong
No Brasil, botox da China foi vendido sem licença sanitária
Os produtos “made in China” enfrentam uma crise de credibilidade após uma série de escândalos e da constatação de que quase um quinto (19,1%) dos produtos estão abaixo dos padrões de qualidade, segundo dados do próprio governo.
O levantamento divulgado esta semana pela Administração Estatal de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena (AESQIQ) verificou 7.200 itens de 6.362 empresas, com ênfase em alimentos, bens de consumo diário, maquinário agrícola e fertilizantes.
O estudo revelou que quase 30% dos produtos provenientes de firmas pequenas estão abaixo dos padrões. Em linhas de produção de médio e grande porte, a porcentagem é de 15,8% e 6,9%, respectivamente.
Entre dezembro de 2006 e maio de 2007, o órgão estatal investigou 23 mil casos de alimentos duvidosos e fechou 180 fábricas que utilizavam ingredientes impróprios para o consumo humano.
Casos internacionais
O estudo foi divulgado em meio a uma acalorada discussão sobre comércio e padrões sanitários entre os Estados Unidos e a China.
Nesta quinta-feira, os EUA determinaram o recall de mais brinquedos chineses, sob suspeita de que os produtos contêm substâncias venenosas e que poderiam causar sufocamento nas crianças.
Na semana passada, os americanos suspenderam importações de alguns tipos de frutos do mar e pescados vindos de criadores da China, alegando que os produtos continham substâncias químicas cancerígenas.
A China rebateu, chamando a proibição de "inaceitável" e "indiscriminada". O diretor do órgão sanitário da China, Li Changjiang, disse também ter detectado "muitos produtos americanos de baixa qualidade para exportados".
Este é somente o incidente mais recente de uma série de problemas. Apenas neste ano, vários casos levantaram questionamentos.
Nos Estados Unidos, inúmeros animais de estimação morreram por causa de rações feita com ingredientes chineses contaminados com químicos industriais. No Panamá, pelos menos 50 pessoas morreram ao ingerir um xarope contra gripe contendo falsa glicerina importada da China.
Pasta de dente com dietilenoglicol, uma substância tóxica, usada na refrigeração de radiadores de carros, foi exportada para República Dominicana, Panamá e Estados Unidos.
Na própria China foram encontrados produtos falsos. Em alguns hospitais públicos, as autoridades detectaram o uso de albumina falsa, um remédio utilizado para aumentar a concentração de proteína no sangue.
Os testes comprovaram que a albumina era totalmente inócua, contendo 0% de proteína.
Produtos no Brasil
"É muito provável que produtos de baixa qualidade produzidos na China como em outros países estejam sendo vendidos no mercado brasileiro, mas não dá para garantir que sejam em categorais de produtos em que a saúde da população possa ser afetada", acredita a consultora baseada em Xangai e especialista em controle de qualidade Mariza Suguiura.
Em janeiro deste ano a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização de 19 lotes de agulhas e lâminas da marca Med Needle, por não estarem de acordo com os padrões brasileiros.
Os produtos eram fabricados na China pela empresa Jiangsu Xuyi K. Medical Corp.
Em 2005, a Anvisa apreendeu botox genérico vendido sem licença sanitária. O produto Syntox (Butolinum Toxin Type ‘A’ for Therapy), era fabricado pela empresa chinesa Lanzhou Institute of Biological Products.
E num recente caso de pirataria que envolve questões sanitárias, chineses foram flagrados exportando carne para a Rússia e União Européia embalada como se fosse original do Brasil, segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo.
Ironicamente, o Brasil contesta na Organização Mundial do Comércio o embargo chinês sobre a carne brasileira.
"Não há uma consciência para manter o cliente, as empresas chinesas pensam sempre no volume, onde o número de clientes é mais visado. Claro que há fábricas que produzem produtos de qualidade internacional, mas elas são minoria no mercado ", diz Suguiura.
Aumentar a polêmica
O governo chinês, apesar de se mostrar resistente em discutir abertamente o problema, tem mostrado disposição em combatê-lo.
Nesta sexta-feira, a Justiça chinesa sentenciou à pena de morte comutável Cao Wenzhuang, ex-chefe do departamento de registros de remédios do órgão de Administração Estatal de Alimentos e Medicamentos (AEAM).
Ele é acusado de ter aceito mais de 2.4 milhões de yuans (R$ 600 mil) em propinas para aprovar licenças a remédios duvidosos. Cao tem o direito de recorrer da sentença, que pode ser comutável a prisão perpétua.
No mês passado, o governo já havia condenado à morte o ex-chefe de Cao, o diretor da AEAM, Zheng Xiaoyu, também por aceitar 6.5 milhões de yuans (R$ 1,6 mihão) em subornos em troca da liberação de registros para remédios. Mas ao contrario de Cao, a pena de morte aplicada a Zheng não pode ser comutada por prisão perpétua.
Em Hong Kong, onde há uma grande circulação de alimentos e produtos vindos da China continental, há visões mistas sobre como lidar com esses produtos.
O secretário de Segurança Alimentar e Saúde de Hong Kong, York Chow, garantiu que não há razões para se duvidar dos controles de qualidade aplicados aos produtos chineses mas disse que “testes são realizados em alimentos vindos da China para garantir a qualidade”.
Uma das maiores redes de supermercados da ilha implementou um sofisticado sistema de código de barras que rastreia a origem de cada vegetal vindo da China, aparentemente, para acalmar seus clientes.
O anúncio publicitário da rede promete “tranqüilidade total” aos consumidores.