Botanico escreveu:Acauan escreveu:Botanico escreveu: De novo isso? Para começar, quem foi que disse que as OBRAS de Kardec foram DITADAS por espíritos superiores? Quando algum espírito dá alguma mensagem, o Kardec transcrevia o texto e indicava o espírito que a assinou. Já quando Kardec escrevia, era ELE quem escreveu.
O Livro dos Espíritos
Filosofia Espiritualista
Contendo Os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade – segundo o ensinamento dos Espíritos superiores, através de diversos médiuns, recebidos e ordenados por Allan Kardec
Tradução de
Renata Barbosa da Silva e
Simone T. Nakamura Bele da Silva
Edição Petit Editora
E se não há uma revelação por trás de O Livro dos Espíritos, ele se torna apenas um compilado das opiniões pessoais de Kardec sobre o assunto.
Ah! Estamos falando do Livro dos Espíritos então? Bem, temos lá as PERGUNTAS de Kardec e as RESPOSTAS atribuídas a espíritos. Esse é o básicão. Por outro lado, neste mesmo livro há uma INTRODUÇÃO, redigida pelo Kardec, uma CONCLUSÃO, também redigida pelo mesmo; e intercalados entre perguntas e respostas, também há comentários do mesmo Kardec. Portanto, a "revelação", se assim a quer chamar, está nas respostas dos espíritos. Já basta?
Pergunta e comentários postos sobre a estrutura de O Livro dos Espíritos – suficientemente conhecida, diga-se - são irrelevantes para o assunto em pauta nos parágrafos em destaque, a lembrar, a incompatibilidade óbvia entre a pretensa superioridade dos espíritos que teriam ditado a doutrina e seus conteúdos racistas.
Mesmo que se valha da explicação oportuna de que os trechos racistas de O Livro dos Espíritos não foram ditados pelos tais espíritos superiores e sim introduzidos lá pelo próprio Kardec, caberia perguntar por que os tais espíritos superiores nunca o corrigiram, por que em nenhum outro trecho do livro se vê qualquer declaração explicitamente anti-racista e, finalmente, se não podemos confiar em Kardec quanto àqueles trechos, por que deveríamos confiar quanto aos outros?
Botanico escreveu:Acauan escreveu:Botanico escreveu:Acauan escreveu:Botanico escreveu: Um cientificista é... um adorador de Ciência, certo? É aquele que coloca a Ciência no lugar da Religião, certo?
Não.
Cientificismo é uma ideologia e quem a adota tem a ciência como método de julgamento do que é verdadeiro ou falso, o que não implica necessariamente que ele estenda a aplicabilidade do método científico ao campo da religião.
No frigir dos ovos, dá no mesmo. Se a Ciência é falha, julgamentos com base nela também podem ser falhos.
Então se a Ciência dos tempos de Kardec disse alguma asneira racial... Tudo bem, não vamos execrar a Ciência por causa disso. Afinal ela nos trouxe muita coisa boa, certo? E só por conta disso consideramos o ruim irrelevante?
A ciência é amoral, diferente da religião.
Asneiras científicas são corrigidas pelo próprio método e os pesquisadores que forjaram conclusões por motivos ideológicos devem ter seus erros debitados na sua própria conta e na de sua ideologia.
Já uma religião que pretende ser guia moral da humanidade não pode ser julgada pelo mesmo critério.
Sem querer ser chato, meu caro índio centenário, por mais que qualquer área do conhecimento humano se proclame amoral, é inevitável que TENHA CONSEQÜÊNCIAS MORAIS. Portanto, dizer que a Ciência é amoral é o mesmo que dizer nada.
Bem, que haja fraudes científicas, isso não é novidade, mas em se tratando do nosso assunto em questão, a cientificidade do racismo, seria esse o caso de se forjar conclusões com base em ideologia? Não me parece que Galton o tivesse feito por essa razão e sim por um erro de critério. Sem contar com o óbvio ululante, onde aparentemente os negros, índios e orientais levavam a pior quando comparados com os caucasóides naqueles tempos. Foi só depois que o Japão chutou o pau da barraca é que os caucasóides viram que sua superioridade racial nunca mais seria a mesma...
Ah! Sim, ao contrário da Ciência, a Religião tem a moral como questão básica de seus propósitos. Qual o critério então para julgá-la?
Uma coisa é ter conseqüências morais e outra coisa é reivindicar autoridade moral. A ciência se enquadra no primeiro, mas não no segundo requisito, que é típico das religiões, inclusive da espírita.
Quanto aos comentários sobre questões de época justificar o racismo incisivo da doutrina espírita original, já discutimos isto antes:
Acauan, em 10/06/2006 às 17:27, no tópico Allan Kardec, um racista brutal e grosseiro, escreveu: Em nada a realidade da época permitia esta interpretação, porque os europeus brancos do século XIX haviam conquistado hegemonia material sobre o mundo e não hegemonia espiritual.
O fato de a Europa haver se industrializado primeiro que outras regiões e por conta disto ter imposto sua supremacia econômica, tecnológica e militar ao restante do mundo não são indicativos de superioridade moral.
Se Kardec era incapaz de distinguir estas diferenças tão óbvias entre valores materiais e espirituais, é de se esperar que a doutrina que criou reflita as incapacidades de seu criador.
Quanto às supostas conceituações européias sobre raças do século XIX, qualquer trabalho da época sobre o tema acumula tantos erros de método, que só a predisposição de fazer vista grossa a eles explica o chama-las científicas.
Acauan, em 12/06/2006 às 0:03, no tópico Allan Kardec, um racista brutal e grosseiro, escreveu: E qual é a correlação entre desenvolvimento tecnológico, científico e militar com desenvolvimento moral ou espiritual?
Se esta correlação existisse, o modelo espiritual e moral da terceira década do século XX seria a Alemanha nazista.
Caso ache este exemplo forçado, posso citar o Império Romano, hegemônico no Ocidente durante séculos e nem por isto modelo de moralidade ou espiritualidade.
O fato de Kardec ter confundido progresso material com superioridade moral mostra o quanto seu pensamento era tacanho, como provam os exemplos acima.
Botanico escreveu:Acauan escreveu:Botanico escreveu: Não me consta que nenhum racista alguma vez tivesse se justificado nos textos de Kardec. Esses não fedem nem cheiram.
O que não muda o teor racista dos textos em absolutamente nada.
O teor racista kardequiano foi por uma questão LÓGICA. Conforme comprovado pela Ciência, as raças caucasóides eram superiores às outras e mesmo entre essas caucasóides havia umas mais superiores (germânicos e anglosaxônicos) e outras inferiores (eslavos, latinos, judeus, ciganos...). Isso era o que dizia a CIÊNCIA, certo?
Errado.
Primeiro porque não existe "a ciência" como um sujeito que faz afirmações.
Segundo porque, pelo método científico, não há como determinar que uma raça é superior a outra, o máximo que se pode fazer é a partir de um conjunto de experimentos concluir que determinadas amostragens de indivíduos de uma determinada raça tiveram melhor desempenho em um determinado conjunto de requisitos que uma outra amostragem de indivíduos de outra raça.
E nem isto há para se fiar uma doutrina racista de fundamentação minimamente científica.
O que havia eram algumas teses pouco significativas de cientistas que, alguns, tinham alguma significância em outras áreas de pesquisa, o que nem de longe é motivo para se afirmar que a ciência fazia afirmações racistas, como se isto fosse um postulado aceito como válido por todos os pesquisadores, como o eram as leis de Newton.
E muitos cientistas e sábios da época negaram veementemente as doutrinas racistas.
Se Kardec aderiu a elas é porque era mau caráter mesmo.
Botanico escreveu: O que Kardec fez? Simplesmente adaptou essas coisas comprovadas pela ciência ao aspecto espiritual da coisa. Era lógico supor que se um corpo de raça inferior era menos dotado, que nele encarnasse espíritos menos qualificados. Esse era o racismo de Kardec e mais nada. Não me consta que ele tivesse advogado que raças inferiores deveriam ser esterelizadas (como pregavam os CIENTISTAS eugênicos) ou exterminadas (como pregava o Sr Adolf Hitler).
Surpreende-me que um conhecedor do método científico como você use a expressão "comprovadas pela ciência" com tanta leviandade para se referir às teses racistas, apenas para defender o fundador de sua crença.
Como posto antes, tais teses não eram comprovadas coisa nenhuma, além do que, como pode checar em nossa discussão anterior, boa parte delas era puro misticismo ocultista e ideologia política apresentada em formato de tese científica.
A um leigo poderia se perdoar a incapacidade de distinguir estas características. Não é o seu caso.
Assim como é surpreendente vê-lo defender com naturalidade a tese de que se Kardec não propôs extermínios e esterilizações, então não havia problema nenhum com sua pregação racista.
Ora, Hitler se baseou justamente nas idéias racistas de outros e colocou nelas seu toque pessoal, o que não isenta de cumplicidade aqueles gurus da supremacia racial, porque apenas inspiraram os massacres ao invés de ordená-los.
Botanico escreveu: Kardec fez uso DA CIÊNCIA, como eu mesmo faria se recebesse alguma "revelação" espiritual. Procuraria meios de checá-la de forma independente, inclusive vendo como a ciência se pronuncia sobre ela.
Se algum dia receber alguma revelação espiritual, espero que faça melhor que o Kardec.
Botanico escreveu:Acauan escreveu:Botanico escreveu: Mas o racismo hitleriano era ESSENCIALMENTE CIENTÍFICO. Era o Darwinhismo aplicado às últimas conseqüências, sem pudores morais. Hitler não usou Kardec para se justificar e sim Darwin, Galton e os eugenistas em geral.
Hitler entendia tanto de ciência quanto eu de sânscrito.
E o racismo nazista era essencialmente místico, justificado por uma pseudo-ciência apenas para efeito de propaganda pública. Nos círculos internos do partido, o mito da pureza e destino do sangue eram mais do que suficientes.
Que havia muito misticismo no nazismo eu não duvido, mas seria NA OCASIÃO uma pseudo-ciência?
Uma pseudo-ciência não o é ou deixa de ser "na ocasião", ela o é ou deixa de ser por definição. Dar formato científico a superstições místicas é pseudo-ciência em qualquer lugar ou época e relativismo nenhum muda isto, principalmente no século XIX, quando os fundamentos do método já estavam claramente estabelecidos e qualquer um poderia saber que critérios estatísticos são por si insuficientes para determinar superioridade racial na definição ideológica que lhe era dada e que nenhum dos trabalhos apresentados possuía consistência estatística suficiente. Apenas o fato – conhecido na época e comprovado pelo dna – que o que se chamava e chama de raça negra é na verdade uma múltipla variedade de tipos étnicos, tão distintos entre si quanto cada um destes grupos era distinto dos brancos, para se ter idéia das baboseiras que se diziam sobre o assunto.
Botanico escreveu:Acauan escreveu:Botanico escreveu: E se falamos da ciência fuleira do século XIX (pô gente! O século XIX foi o século das luzes! A Ciência fez progressos impressionantes naqueles tempos!), hoje ela não mudou muito, afinal temos o grande bambambam James Watson hoje em dia dizendo que os negros são inferiores aos brancos... Alguém aqui se atreve a contestar o homem?
Não ligo a mínima prá este cara e não é porque ele disse isto ou aquilo que vou me tornar racista. Quem tinha vergonha na cara no século XIX fez o mesmo.
Mas Acauan, há racistas e racistas...
Na minha opinião há apenas racistas.
Botanico escreveu: Então se um cientista apresentasse estudos estatísticos sérios, bem embasados, etc e tal que no frigir dos ovos provam que os brancos são superiores aos negros, cadê o racismo?
O racismo está no termo "superior".
Superioridade racial não é uma variável científica mensurável.
Me repetindo, o máximo que se poderia fazer é comparar o desempenho de determinadas amostragens de indivíduos de determinadas raças em determinadas provas e aferir qual grupo, na média, apresenta melhores resultados.
Um problema é como separar aspectos sócio-culturais, regionais, econômicos, lingüísticos, educacionais etc para se afirmar que o fator racial é determinante sobre todos os demais.
Outro é que afirmar que uma raça é superior, o que implica em que alguns homens são superiores a outros ao nascer, independente de qualquer outro estímulo externo, pede antes definir no que se baseia esta superioridade. Negros podem ser fisicamente superiores aos brancos, como provam as olimpíadas, o que restringiria a discussão aos campos intelectual ou, talvez, moral. Como os brancos tem responsabilidade por séculos de escravidão negra, não tem muita autoridade para se afirmar uma raça moralmente superior.
Intelectualmente?
Como ter certeza que as amostragens tomadas tiveram exatamente o mesmo tipo de educação, alimentação e estímulo ao desenvolvimento intelectual para julgar os resultados?
E por aí vai, a lista de objeções é quase infinita e você sabe disto, só insiste por teimosia em defender incondicionalmente o espiritismo.
Botanico escreveu: O próprio Galton não preconizou nenhuma atitude negativa contra os racialmente inferiores... coisa que os colegas americanos dele o fizeram. O Kardec por acaso disse que se deveriam exterminar as ditas raças inferiores? Lógico que não. No fim das contas o que vem a ser racismo? Explique.
Racismo é ter a raça como fator determinante de diferenciação entre os homens.
Muitos ideólogos do nazismo também não propuseram o extermínio dos judeus, apenas declararam a inferioridade deles.
Há quem ache que gente assim não fez nada de errado.
Eu acho que são filhos da puta tão grandes quanto seus seguidores que levaram suas idéias ao extremo.