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Oscar Niemeyer completa 100 anos

Enviado: 15 Dez 2007, 07:40
por spink
Der Spiegel


Oscar Niemeyer, o último fundador sobrevivente do movimento Modernista na arquitetura, completa 100 anos. O avô da arquitetura brasileira é uma lenda viva e planeja permanecer assim por algum tempo

Carmen Stephan
No Rio de Janeiro


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Quando Oscar Niemeyer chega ao seu escritório pela manhã, seus modos revelam muito sobre sua postura interior. O motorista o ajuda a descer de sua Mercedes preta e então ele caminha, de forma lenta e cheia de dignidade, pelo corredor até o elevador. Ele tem quase 100 anos, mas mesmo assim muito neste homem não parece velho, principalmente sua determinação sem limites.

O lendário arquiteto Niemeyer é o único sócio em um escritório que recebe constantemente grandes projetos. Seus desenhos estão se tornando mais e mais ousados: um museu que parece um olho gigante; uma capela no oceano; uma praça com um arco de concreto de 80 metros que a atravessa. Mesmo com tamanha idade avançada, ele ainda persegue suas idéias com profunda convicção. Isto explica em parte por que Oscar Niemeyer é um dos maiores arquitetos do mundo.

Ele é onipresente em seu escritório em Copacabana, no Rio, mesmo quando não está presente. Niemeyer passa grande parte de seu tempo sentado em seu pequeno escritório sem janela, cercado por livros empilhados ao seu redor como uma cerca alta. Suas necessidades são simples: cigarrilhas, café, modelos e palavras. Vera, sua secretária há muitos anos e atualmente sua nova esposa, atende o telefone com orgulho em sua voz.

Seu assistente, Aurélio, se move pelo escritório tão silenciosamente quanto um mordomo. Em troca do pagamento por Niemeyer de seu curso de arquitetura, Aurélio é obrigado a ler uma obra literária a cada dois meses e escrever um breve resumo dela para seu chefe. Muitos mundos se unem neste escritório, mas a principal fonte de energia é o velho em sua minúscula sala, onde há um modelo da Praça do Povo em Brasília. Niemeyer, soando tão orgulhoso quanto um menino, diz que o domo de concreto é grande o bastante para cobrir um campo de futebol inteiro.

Niemeyer é uma lenda viva no Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o visitou recentemente, declarou 2008 como o Ano de Oscar Niemeyer. Na edição de dezembro da "Bravo!", uma revista sobre cultura, a autora da história de capa sobre Niemeyer confessou ter chorado quando visitou recentemente o antigo apartamento dele, a Casa das Canoas. O prédio, ela escreveu, se aconchega na natureza "como um gesto humano".

O arquiteto há muito é querido no mundo da arte. O fotógrafo Terry Richardson publicou recentemente fotos de moda tendo os prédios dele como fundo. A arquiteta Zaha Hadid, nascida no Iraque, faz referência a ele em seus trabalhos. E todos sabem que o futuro nunca parecerá tão bom novamente quanto parecia nos prédios do arquiteto brasileiro.

Sua era arquitetônica teve início nos anos 40 na Pampulha, onde Niemeyer criou um estilo que era revolucionário na época. Enquanto Le Corbusier prestava homenagem ao ângulo reto, Niemeyer escolheu a curva. Uma igreja que projetou saltava pela paisagem como uma pista gigante de skate. O arquiteto se tornou famoso posteriormente por sua equação: "montanhas/ondas/mulheres = curvas". "Oscar pensa em coisas superiores e inferiores, mas nunca simplesmente em linha reta", diz um de seus maiores amigos, o físico Ubirajara Brito, 73 anos.

O ponto alto para Niemeyer veio em 1956, quando lhe foi encomendado o maior projeto de sua vida. A nova capital do Brasil, Brasília, foi construída em três anos e meio em uma paisagem carente de pessoas, na terra vermelha do Cerrado.

De forma quase estóica, Niemeyer repete constantemente: "Você pode gostar ou não da cidade, mas nunca poderá dizer que já viu algo assim".

Com suas estruturas esculturais, ele criou algo que seu imenso país carecia: uma identidade. O Brasil hoje seria diferente sem Niemeyer. Ele sonha com um mundo mais justo, um mundo em que ricos e pobres vivam lado a lado nos mesmos prédios de apartamento. Niemeyer ainda deposita suas esperanças na grande revolução. No almoço, ele gosta de fazer um brinde "contra Bush" e é entusiástico em relação ao seu amigo Fidel Castro. "A revolução foi heróica", ele diz, "os cubanos a carregam em seus corações".

A morte é o fim
Niemeyer ainda tem muitos planos. "Eu faço as mesmas coisas que fazia quando tinha 60, de forma que só tenho 60", ele diz. "É preciso manter a mente viva, trabalhar, ajudar os outros, rir, chorar e experimentar a vida intensamente. Ela só dura um breve momento." Para Niemeyer, que é ateísta, a morte é o fim e sua abordagem tem o efeito de visivelmente conduzi-lo adiante. "Ele não quer falar sobre a morte", diz Brito. "Oscar não acredita que morrerá."

Ele costumava criar seus projetos em uma prancheta de desenho. Mas atualmente problemas de visão forçaram Niemeyer a reinventar seu processo criativo. Quando trabalha em um novo projeto, ele se retira silenciosamente ao seu escritório. "A arquitetura está na sua cabeça", ele diz. Niemeyer imagina o prédio em sua mente até estar convencido de que encontrou a solução certa. Apenas então ele pega um lápis e, com alguns poucos traços, coloca a idéia no papel.

Ele é o patriarca de uma grande família na qual todos o respeitam e admiram. Uma visita ao estúdio fotográfico de seu neto, Kadu Niemeyer, 53 anos, no centro do Rio, revela a extensão de sua influência sobre seus descendentes. A sacada do estúdio no 12º andar dá vista, em meio a um amontoado de prédios, a uma obra de autoria de Niemeyer à beira-mar. Os desenhos de mulheres nas paredes brancas do estúdio de Kadu Niemeyer só podiam ter se originado da mão de seu avô. Pilhas de catálogos descrevendo prédios brancos, abobadados, se espalham pelo chão, mais um sinal de influência de Oscar Niemeyer.

Todos os quatro netos de Niemeyer trabalham para ele, transformando suas idéias em realidade e as administrando. O trabalho de Kadu é reproduzir a obra de seu avô. Ele nunca estudou fotografia, mas seu avô lhe mostrou os ângulos pelos quais queria ver suas obras fotografadas.

"Ele controla nossas vidas de uma forma positiva. Ele estabelece o ritmo certo. Quando eu era novo, ele até mesmo escolheu minha primeira esposa para mim", diz Kadu. "Eu não acredito que ele desaparecerá da vida. Ele sempre estará presente. Daqui 100 anos, as pessoas ainda saberão quem foi Oscar Niemeyer."

E quem é ele? O comunismo, para Niemeyer, se transformou em algo como uma simulação, como pintar as escadarias de seus prédios de vermelho. Ele gosta de ignorar perguntas sobre seus prédios capitalistas, mas ele se agarra aos seus ideais e os coloca em prática. Ele até mesmo construiu uma casa para seu chofer em um dos bairros pobres da cidade.

Niemeyer também ajudou um arquiteto alemão que chegou ao Rio de Janeiro em meados dos anos 50 e bateu à sua porta. Hans Müller se senta diante de sua janela em Botafogo e assiste a atividade na rua, como velhos às vezes fazem. "Minha esposa sempre me diz, siga o exemplo de Oscar, ele tem 100!" Müller tem 78 anos.

Quando o jovem Müller chegou ao Rio, ele trouxe uma carta da cidade de Berlim lembrando Niemeyer de sua obrigação de construir um prédio para o distrito de Hansaviertel da cidade. Quando Müller entregou a carta, Niemeyer disse: "Está precisando de trabalho? Então fique aqui!"

Ele seguiu o conselho de Niemeyer e acabou trabalhando para ele por quase meio século. Quando o sonho de igualdade do Brasil caiu por terra e um governo militar assumiu o poder, Müller acompanhou o mestre ao exílio na Europa.

Na Europa, Niemeyer criou seu próprio pequeno Rio, recebendo grupos de homens e passando longas noites fumando e jogando baralho. Um jogador ruim, Niemeyer gostava de manter algumas cartas extras em seu bolso. Müller conta histórias da vida selvagem em Paris. "Nós dividíamos tudo e certa vez até mesmo dividimos a mesma mulher. Oscar pensa constantemente em mulheres."

Comentários libertinos fazem parte do linguajar de Niemeyer. Ele aponta para uma foto sobre sua mesa de duas vaginas, dois seios e um par de nádegas e diz: "Deve ter sido divertido tirar esta foto". Ao mesmo tempo, Niemeyer tem um apreço em transfigurar mulheres em seres exaltados e objetos líricos.

Um desenho de Niemeyer de mulheres nuas dançando adorna a fachada do novo teatro em Niterói. Elas simbolizam sua busca pela beleza e surpresa. Se não era possível uma revolução política, Niemeyer queria ao menos ser revolucionário em sua arquitetura. O poeta Ferreira Gullar colocou desta forma: "Não basta resolver os problemas sociais das pessoas. Elas precisam de beleza. Oscar torna a vida mais bela".

O museu de arte em Niterói parece uma espaçonave elegante em perfeita harmonia com suas cercanias naturais. Como muitas obras de Niemeyer, o prédio se tornou um símbolo da cidade. Os visitantes freqüentemente param diante dele, tão encantados que esquecem de entrar. Niemeyer supostamente esboçou o desenho durante um almoço em uma churrascaria. Sua arte consegue ser tanto inesperada quanto popular. O aspecto mais importante de sua arquitetura não é sua audácia técnica, mas sua alma. Ele quer que as pessoas a sintam e a experimentem.

Ninguém fica indiferente
Ele freqüentemente cria uma rampa curva, uma espécie de passadiço arquitetônico, do qual uma pessoa pode observar o prédio por ângulos diferentes antes de entrar. Ainda mais impressionante é o espaço aberto que Niemeyer integra aos seus projetos. O espaço entre as estruturas cria um campo de tensão, que precisa ser preenchido -com pensamentos e emoções. Este é um dos motivos para ninguém ficar indiferente a Brasília.

Oscar Niemeyer nunca quis viver em Brasília. Ele sentiria falta do caos do Rio. Ele está no momento desenvolvendo uma nova revista. Ele nunca pára de adicionar novos elementos à sua vida -como se fazendo isso pudesse prolongá-la.

Niemeyer tem um conceito específico de morte. Ele o retratou da forma mais bela em sua autobiografia, onde descreve, em uma viagem do Rio a Brasília, ter visto quadris sensuais e seios em formações de nuvens enquanto elas gradualmente se dissipavam. "E senti que esta metamorfose perversa lembra nosso próprio destino. Nós não temos escolha. Nós nascemos, crescemos, lutamos, morremos e desaparecemos para sempre."

Há cinco anos, Niemeyer fez com que o carpete fosse removido de seu escritório e um piso branco fosse colocado em seu lugar. Quando a obra foi concluída, ele ficou satisfeito com o resultado e disse: "Agora o escritório está preparado para os próximos 10 anos".

Ele terá 105 ao final destes 10 anos.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Re.: Oscar Niemeyer completa 100 anos

Enviado: 15 Dez 2007, 15:33
por Apáte
Panela ruim não quebra.

Re.: Oscar Niemeyer completa 100 anos

Enviado: 15 Dez 2007, 15:46
por Mr. Crowley
Panela ruim porque?

Re.: Oscar Niemeyer completa 100 anos

Enviado: 15 Dez 2007, 16:23
por Apáte
A única obra arquitetônica relevantemente bela em Brasília é a Terceira Ponte do Lago Sul.

Quem foi o arquiteto?

Re.: Oscar Niemeyer completa 100 anos

Enviado: 15 Dez 2007, 16:45
por Rhyan
Típico comunista de Boutique.

Re.: Oscar Niemeyer completa 100 anos

Enviado: 15 Dez 2007, 16:48
por Rhyan
Einstein? Tem fontes?

Re.: Oscar Niemeyer completa 100 anos

Enviado: 15 Dez 2007, 17:14
por Apáte
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Ah... ter uma visão destas comendo um McDonalds no Pier 21.