Para o André

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spink
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Para o André

Mensagem por spink »

El País


Carles Geli
Em Barcelona

Por sua envergadura (alto, um pouco encurvado, corpulento), mais parece parente de Fidel Castro, mas a barbicha eriçada e seu discurso o devolve ao avô, Che Guevara. Filho de Hilda, primogênita do comandante, Canek Sánchez Guevara (nascido em Havana em 1974) acaba de editar, junto com Radamés Molina, "Diario de Bolivia" (ed. Linkgua), as anotações feitas pelo revolucionário em sua última batalha. A edição tem 400 notas, de uma objetividade quase antinatural. "Não posso falar do Che como meu vovô; minha mãe tinha 10 anos quando ele morreu; é preciso encontrar sempre a distância real", diz Canek de Barcelona, cidade que alterna com a França como residência e onde trabalha como editor. O gene intelectual do avô, adaptado aos tempos, é mais notório do que parece.

El País - Que idéia ficou em sua mãe sobre o episódio da Bolívia?
Canek Sánchez Guevara - Para começar, a da morte do pai, em qualquer lugar ou circunstância que fosse. Em outro nível, não posso falar por minha família, mas creio que se considera como o triste resultado de uma decisão apressada.

EP - E as causas? Uma traição de Fidel, um Che desenganado que optou por uma ação suicida, ou um engano militar?
Sánchez Guevara - Incidiram os três fatores, sendo Fidel o principal: a obsessão de Che era a revolução, o ideal; a de Fidel, o poder, o pragmatismo; em algum momento tinha de haver um choque. É evidente que havia ciúmes profissionais.

EP - No Ocidente hoje se revisa a figura de seu avô, quase acusando-o de ser o culpado pelo surgimento das ditaduras na América Latina.
Sánchez Guevara - É uma virada copernicana ridícula: fazem o Che descer do altar do bem para colocá-lo no do mal. É verdade que, apesar do fracasso, com sua postura ele deu a bandeirada de largada dos grupos armados na América Latina, mas ninguém os obrigou a seguir esse caminho. Nenhum homem é absolutamente bom ou mau, claro... O problema está no próprio termo: revisionismo. O revisionismo do Holocausto é a negação dos massacres; algo semelhante está acontecendo com o Che. É um erro historiográfico analisar segundo os parâmetros de hoje; um dos mitos da pós-modernidade é que a imparcialidade não existe; vendo como estão as democracias atuais, não é de estranhar que se considere extremismo coisas que antes eram naturalmente assumidas pela esquerda.

EP - Em parte do Oriente acontece o contrário: Bin Laden é comparado ao Che.
Sánchez Guevara - Como todo ícone, ao tornar-se símbolo perde parte de sua essência, de seu ser real, e só ficam certos valores mais ou menos universais que podem ser utilizados em qualquer contexto. E isso é válido para iluminados, de Bin Laden a Hugo Chávez.

EP - O senhor saiu de Cuba em 1996 e não voltou.
Sánchez Guevara - Nos anos 90 Cuba estava muito mal, e a essa situação geral somou-se uma crise pessoal e laboral, uma impossibilidade de fazer minha vida; sempre me movi em âmbitos da contracultura, e já se sabe que, em tempos de crise, primeiro comer e depois a poesia.

EP - O senhor participava de uma banda heavy metal com uma camiseta com a bandeira americana?
Sánchez Guevara - Não, mas é verdade que o fazia com uma nota de US$ 1 colada à guitarra... era uma brincadeira pessoal. O rock já estava descriminalizado, mas nunca foi totalmente legalizado, sempre havia um policial perturbando.

EP - Há três anos o senhor atacou duramente Fidel. Em quê ele traiu a revolução?
Sánchez Guevara - A primeira traição é que não queria tanto fazer uma revolução, como recuperar a Constituição de 1940 e chegar a eleições. Depois o processo revolucionário se radicalizou, mas a propriedade privada passou toda para o Estado, que se transformou no novo patrão: os cidadãos trabalham para o Estado, ganham do Estado e acabam gastando no Estado; é o sonho de todo oligarca.

EP - Suas críticas podem servir aos grandes inimigos da revolução cubana.
Sánchez Guevara - A militância acrítica foi nefasta para a esquerda: sem ser crítico não se pode ir a lugar nenhum, se estanca e se reproduz o pior; para mim, ser de esquerda não significa ser contra a direita, mas contra o poder, seja quem for que o exerça. Para mim foi muito difícil me distanciar de tudo o que aprendi em Cuba... Talvez tenha acabado a luta armada revolucionária, mas não a luta como tal.

EP - Existem canais para isso nas sociedades atuais?
Sánchez Guevara - Se não houver, devemos criá-los. Existem organizações sociais, ONGs e outras de caráter cívico-pessoais, como os coletivos lésbico-gays ou os antimilitaristas, que não aspiram ao poder, mas que com sua pressão acabam forçando leis.

EP - A luta armada já está descartada como via?
Sánchez Guevara - Por enquanto sim. Para sempre só há a morte. Hoje não faz parte das obsessões sociais.

EP - O que o senhor sente quando vê o merchandising sobre seu avô?
Sánchez Guevara - Sou um iconoclasta, mas sempre impressiona ver que um homem que escolheu o capitalismo como inimigo tenha acabado assim.

EP - Algum objeto especialmente ofensivo?
Sánchez Guevara - Meu único choque visceral é com uma camiseta que tem um rosto com a metade do rosto de Jesus Cristo e a outra do Che. Sou ateu, e essas santificações...

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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zencem
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Mensagem por zencem »

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EP - E as causas? Uma traição de Fidel, um Che desenganado que optou por uma ação suicida, ou um engano militar?
Sánchez Guevara - Incidiram os três fatores, sendo Fidel o principal: a obsessão de Che era a revolução, o ideal; a de Fidel, o poder, o pragmatismo; em algum momento tinha de haver um choque. É evidente que havia ciúmes profissionais.


A ambição pelo poder pode ter diversas matizes, mas isso não a modifica nem a diferencia em seus objetivos básicos.

Uns querem mandar, interferindo no livre arbítrio dos outros, escondendo-se numa roupagem idealista, que lhe configura, apenas, a condição de hipocrisia e que nada difere daquele que o conquista, porque se presume o mais forte.

Nada mais asqueroso do que um homem possesso por esse tipo de deformidade.
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


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Apáte
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Re.: Para o André

Mensagem por Apáte »

Esse não era o cara que dizia que nunca moraria em Cuba e que se envergonhava de seu avõ?
"Da sempre conduco una attività ininterrotta di lavoro, se qualche volta mi succede di guardare in faccia qualche bella ragazza... meglio essere appassionati di belle ragazze che gay" by: Silvio Berlusconi

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