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Religião? Fe? ...A verdade como ela é.

Enviado: 26 Dez 2007, 12:27
por zencem
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Alguns visitantes, em resposta a argumentos que, via de regra, são manifestados pela maioria, em fórum de céticos ou ateus, fazem esta pergunta; “Mas o que seria do mundo, sem religião?!”

É pena que nunca tivessem tido a mesma curiosidade para refletir e questionar sobre o que tem se tornado o mundo, até hoje, “com religião”!

Não que se possa garantir que o mundo seria melhor sem, mas é estranho o conceito que, em geral, se tem sobre religião.

Para que se possa fazer um estudo correto sobre religião, precisamos separar os seus dois significados, qual seja, o significado relativo ás igrejas, às quais se atribuem atividades “pseudo-religiosas”, com poderes de criar preceitos que objetivem controlar o comportamento dos seus fiéis; e o que se refere ao que deveria ser a inclinação do próprio indivíduo, na busca do seu crescimento interior.

Aqui, abro um parêntese, para discutir a importância do “livre pensar” e o mal que causa a sua falta, quando estamos questionando o verdadeiro significado das coisas.

Vou me aproveitar do tópico


http://www.forumnow.com.br/vip/mensagen ... 56&nrpag=1

Porque falhou a "paz ocidental" e o século 20 foi mais violento de todos juntos,
e até transferir alguns argumentos similares, apenas adaptando ao que está em pauta.

Temos que levar em conta que ambiente, idéias e doutrinas, com que nossa experiência interage desde crianças, dá forma a uma programação mental que, costumeiramente, tanto tem influenciado, como determinado, nosso pensar.

Por essa razão, creio ser importante estarmos “ligados” a este fato e investigarmos se é possível à mente não se restringir, apenas, aos limites demarcados por esse condicionamento e, por conseguinte, ultrapassa-los, de modo a obter clareza no entendimento, tornando-se capaz de alcançar a verdade singela, tal como ela é.

Este “estado de consciência” , talvez seja o fluido, onde possa navegar o livre pensar.

Creio que o livre pensar, como um processo que ultrapassa um “EU” condicionado, é a ação de mais alto grau da individualidade, e que só ele, pode nos conceder a verdade legítima, sem cor, impessoal; a verdade não conflituosa e sem contradições.

E o que é a verdade legítima e impessoal?

Tomemos, como um exemplo simples, o funcionamento divergente de dois computadores.

Um seria programado por um pensamento religioso, por exemplo, o católico e outro, pelo pensamento ateu.

Qual seria a resposta deles, por exemplo, sobre Religião?

Suponho que, pelo menos aproximadamente, já saibamos a resposta de cada um, ou seja, o Católico defenderia seus preceitos, seus dogmas, seus rituais, etc... como forma de tornar o homem, melhor; ao passo que o Ateu diria que tudo isso é balela, defendendo a tese de que o catolicismo, como outras religiões, é obra da invenção... viveu, vive e viverá da mentira, sem poder se livrar do estigma de fazer parte da responsabilidade pela divisão e conflitos que gerou... e continua gerando... e, por isso, logicamente, o mundo não teria se tornado pior e, até poderia ter tido chance de tornar-se melhor, se não tivesse existido o catolicismo.

É evidente que nenhum deles poderia responder diferente dessa expectativa, portanto, suas respostas representam verdades, mas verdades “relativas”, conflitantes e limitadas aos seus back grounds.

Ou seja, cada um só pode responder, de acordo com a sua programação, com seu condicionamento; e, neste contexto, realmente, não pode existir “livre pensar”.

Mas, para a mente, seria possível chegar à verdade legítima e impessoal, a verdade, tal como ela é?

Como a mente programada pelo pensamento católico, por exemplo, poderia ter uma resposta verdadeira e nova, não contaminada?

Só se fosse capaz de desligar-se das conexões que a aprisionam a sua programação e de criar um contacto direto com os desafios que tem a desvendar e que pudesse estabelecer uma nova ótica em relação a eles.

Desligar-se desta programação, começa pela constatação de que assim como está, a mente demonstra não possuir nenhuma aptidão que dê origem a uma ação correta e afinada com as necessidades humanas de ajustamento social.

Pode nascer daí o descontentamento e a inevitável busca de uma verdade, que seja capaz de gerar, através da solidariedade e respeito à liberdade, um ponto de partida para uma sociedade consciente e sem conflitos.

A mente não pode continuar dando-se por satisfeita com verdades relativas, configuradas de fora para dentro, que já provaram ser incapazes de estabelecer harmonia, entendimento e respeito mútuo.

Sem dúvida que, no exemplo em apreço, compreender tais condições resultará no desmoronamento do pensamento católico e ateu.

Esta é a mente humana, que está muita acima de um computador, capaz de compreender além das influências, capaz do livre pensar e construir novos caminhos para buscar a verdade.

É só uma questão de não a aviltarmos, em favor de idéias fixas, de influência e predomínio externo, a que estamos condicionados.

É pelo autoconhecimento, pela consciência de nós mesmos, que podemos traçar a via, não da religião verdadeira, mas “da verdadeira religião”, que dá uma chance para a lucidez, sem se filiar a nenhuma coloração, já que isto é que bitola e debilita a nossa iniciativa.

Os atos do homem são produtos de seu “interior” e só ele, como indivíduo, pode penetrar em si mesmo e transformar-se.

Um interior bom não pode produzir más ações.

Criar leis para controlar as ações do homem, através da imposição e do medo, é uma atitude comodista e burra, que só leva ao caos e a violência, por sinal, cada vez mais se intensificando, não obstante o progresso obtido em outras áreas.

O autoconhecimento tem que ser um trabalho solitário, garimpado com nossas ações, em nossos pensamentos, dia a dia, no nosso viver, sem ajuda de religiões, mestres, pastores ou livros.

Não há métodos para ele, nem caminho feito.

É como se entrássemos numa mata fechada, para conhece-la e descobrir seus mistérios.

Isso é que pode nos transformar e mudar o mundo.

Coisas essas não podem acontecer, em toda a plenitude, através de nenhuma organização, principalmente a religiosa.

Embora elas falem sobre isso, o fazem de uma forma fingida e artificial, além de não poder se livrar do estigma da contradição, já que nenhuma religião nasceu, sem que seu verdadeiro propósito não tivesse sido a busca de poder, cooptação e dominação.

Uma organização só tem razão de ser, quando criada, unicamente, com o intuito de servir o indivíduo.

Sendo ela um ser fictício, não tem sentido que o indivíduo, como uma coisa real e viva, seja programado para servi-la.

Embora usual, nada é mais absurdo do que continuar com esta lavagem que, desde criança, o ser humano é submetido; que castra a sua individualidade, e planta o primeiro ato de desamor e desrespeito ao semelhante, ao não cultivar e, ainda, lhe subtrair o direito de pensar e de ser livre para desenvolver o seu próprio modo de pensar.

Nenhuma organização tem sido tão nociva e insolente como a religião, que se apresenta com uma roupagem enganadora de promover o aperfeiçoamento espiritual, quando na verdade, o que obtém como resultado é aparvalhar, dominar e inutilizar as funções da razão, praticando, exatamente o contrário do que deveria, ou seja, guardar e estimular o direito essencial do ser humano de pensar e ser livre, “inclusive dela mesma”.

A ausência disso tem-nos mantido, perenemente, no caos.
Não sou eu que estou inventando isso; Está desenhado na história humana.

E dessa história, só nós, indivíduos, livres, podemos mudar o curso.

O homem, somente ele, e solitariamente, pode produzir a sua própria revolução, através do autoconhecimento.

O “Eu” é o depositário de toda a programação que determina nossas ações e modo de pensar.

Muito embora ele se apresente como se representasse a personalização da nossa individualidade, na verdade ele é o estorvo para que ela exista.

E isto, porque está totalmente comprometido com uma programação que mantém o pensar submisso a agentes externos organizados.

Podemos compara-lo a um parasita que se instalou, assumindo a posição de titular da nossa existência, conferindo-nos uma sensação de perenidade, e fabricando-nos inúmeras roupagens, que na verdade servem, apenas, para camuflar “a grande mentira” que é.

Fazendo um comparativo singelo com as fantasias, que as religiões organizadas criaram para o nosso imaginário, O “Eu”, se não fosse o “Capeta”, seria o seu anfitrião.

Tudo o que ele cria é enganador e contraditório.
Por exemplo, as organizações, que são uma realidade genuinamente sua, se propõe a buscar a união.
Criamos até o ditado “A união faz a força”, para valoriza-la.

Nada mais enganador do que isto, porque a força é, justamente, o alvo de quem não está disposto, a dar condições para o amor.

Perceber a falsidade do Eu, não requer uma ação para elimina-lo, e sim saber conviver com ele, com tudo o que o forma e fortalece, apenas despindo-o de sua pose e posse.

Nada de pretender mudanças traumáticas, apenas acompanhar a sua presença em nossas ações, pensamentos e opiniões.

Sobra-nos, então, espaços para constatar que é possível “pensar livre” e descobrir porque o mundo, até agora, não tem dado certo.

Podemos ver que essa história de sermos corintianos, brasileiros, socialistas, ateus, ou católicos, servem como chavões para dar uma suntuosidade à nossa mediocridade, ao mesmo tempo que são a causa de nossos conflitos.

E, ainda, defendemos esses princípios com tanto afinco, com seu inevitável e aprisionador fanatismo.

A organização de qualquer coisa precisa ser compreendida e limitada dentro das linhas em que ela pode ser útil ao homem, sem que se possibilite a criação daquelas que pretendem se servir dele.

A individualidade é a verdadeira riqueza que podemos preservar.

O auto-conhecimento deveria ser a nossa única e honesta inclinação religiosa, como um meio de tirar a máscara deste “Eu” presunçoso e servil e permitir a existência de um ser livre e sem medo.

Enviado: 26 Dez 2007, 13:01
por Tally
Acredito na maior parte do que você expôs.
O EU é realmente o depositário de toda a Verdade.
Somos programados para pensar e agir de uma determinada forma desde que nascemos.A isso se dá o nome de "mente coletiva".
Enquanto presos por ela, não somos nada, a não ser o reflexo de quem a projetou.Agimos por reflexo, não por pensar, ou articular.
No entanto, creio que essa "mente coletiva" é necessária enquanto o homem for como é. Leis são necessárias para quem precisa delas para viver.
Para quem começa o processo de auto conhecimento, (dificil e dolorido que é) expande-se a consciencia interior ,e as coisas começam a pesar, pesar mesmo. Responsabilidade é um peso extra que advém com o conhecimento. Sobre seus atos, sobre tudo que acontece, sobre omissão.
Às vezes, gostaria de poder continuar uma morta -viva, uma zumbi como era outrora , quando meu conhecimento interior não existia, quando seguia tal qual manada,uma mente coletiva pré-existente.Mas depois reconheço que tudo tem um preço.
E se esse é o preço a pagar, ainda é pouco.
E começa-se então a ser solitário.
Porque parece que ninguém nos entende.
Assuntos que outrora nos interessavam tornam-se futilidades pesadas de aguentar.
Mas fazer o que? Ainda para muitos que não podem suportar o peso de se auto descobrir, há necessidade de leis, de uma mente coletiva.
E temos que respeitá-los, até que estejam preparados para carregar nas costas o peso do mundo que é o auto-conhecimento.

Enviado: 26 Dez 2007, 14:40
por Wayne
"o Eu é uma ilusão" Buda

Re.: Religião? Fe? ...A verdade como ela é.

Enviado: 27 Dez 2007, 00:54
por Tally
Opinião dele.