Mestres do Ateísmo

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Joe
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Mestres do Ateísmo

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MESTRES DO ATEISMO

INTRODUÇÃO: O ateísmo tem uma longa e orgulhosa história de publicação e oratória. Infelizmente, porém, a maior parte dessa história é inacessível aos leitores modernos, sobrevivendo apenas em raros livretes e panfletos abrigados em dispersas bibliotecas e coleções particulares. O American Atheist tenta disponibilizar essa literatura aos Ateístas modernos através de ensaios reimpressos pelos " Mestres do Ateísmo" de ontem.

O ensaio deste mês é de Robert G. Ingersoll (1833-1899), um advogado americano e orador conhecido como o "Grande Agnóstico". Joseph McCabe o descreveu então em A Rationalist Encyclopedia: "Ele começou em 1860 a dar palestras racionalistas, e durante os próximos trinta anos sua oratória vibrante, de sentimento amigável e personalidade impressionante o tornou a força mais eficaz para o progresso no Novo Mundo". O American Atheist devotou sua edição de agosto 1983 à Ingersoll. "Deus na Constituição" apareceu originalmente no The Arena (Boston) em janeiro 1890. Nosso texto é uma reimpressão da edição do New Dresden do The Works of Ingersoll (New York City: The Ingersoll Publishers Inc, 1900).

"Todos os governos obtêm seus justos poderes pelo consentimento dos governados."

Neste país é admitido que o poder de governar resida nas próprias pessoas; que elas sejam a única fonte legítima de autoridade. Por muitos séculos antes da formação do nosso governo, antes da promulgação da declaração de independência, as pessoas tinham meramente pouca vós em assuntos do estado. A fonte de autoridade não estava neste mundo; reis não eram coroados por seus súditos, o cedro não era erguido pelo consentimento dos governados. O rei sentava em seu trono pela vontade de Deus, e por essa razão não precisava dar satisfações às pessoas pelo exercício de seu poder. O rei comandava e as pessoas obedeciam. Ele era o senhor de seus corpos, e seu companheiro, o padre, era o senhor de suas almas. O governo do mundo era moldado em cima do reino dos céus. Deus era um autocrata supremo no céu, cuja vontade era a lei, e o rei era o supremo autocrata na mundo cuja vontade era a lei. O Deus no céu tinha seres inferiores para fazer sua vontade, e o rei na Terra tinha alguns favoritos e oficiais para fazer a sua. Esses oficiais tinham que responder a ele e ele era responsável perante Deus.

O sistema feudal deveria estar de acordo com o plano divino. As pessoas não eram governadas pela inteligência, mas por ameaças de punições e promessas de recompensas. Nenhum esforço era feito para iluminar as pessoas comuns; ninguém pensava em educar um camponês - em desenvolver a mente de um trabalhador. As pessoas eram criadas para apoiar tronos e altares. O destino deles era trabalhar e obedecer - trabalhar e querer. Era para eles ficarem satisfeitos com cabanas e choupanas, com ignorância e trapos, e suas crianças não deveriam esperar mais do que isso também. Na presença do rei eles se ajoelhavam, e diante do padre eles se humilhavam no mesmo chão. O próprio camponês dividia seu lucro com o estado, porque ele imaginava que este protegia seu corpo, ele dividia seu pedaço de pão com a igreja, acreditando que esta protegia sua alma. Ele era a vítima do trono e do altar - um deformava seu corpo, o outro sua mente - e esses dois abutres se alimentavam de seu árduo trabalho. Ele foi ensinado pelo rei a odiar os povos de outras nações, e pelos padres a desprezar os crentes de todas as outras religiões. Ele foi considerado inimigo de todos os povos exceto de seu próprio. Ele não teve simpatia com os camponeses de outras terras, escravizados e saqueados como ele mesmo era. Ele foi mantido na ignorância, porque a educação é o inimigo da superstição e porque a educação é inimigo daquele egotismo freqüentemente confundido por patriotismo.

O homem bom e inteligente guarda em suas afeições o que há de bom e verdadeiro em cada terra - as fronteiras dos países não são as limitações de sua simpatia. Não se importando com a raça, ou cor, e ama aqueles que falam outras línguas e adoram outros deuses. Entre ele e aqueles que sofrem, não há nenhum abismo intransponível. Ele saúda o mundo e estende a mão da amizade à raça humana. Ele não se curva diante de um deus provincial e patriótico - aquele que protege sua tribo ou nação, e sente repugnância do resto da humanidade.

Através das eras de superstição, cada nação insistia que ela era a preocupação peculiar do verdadeiro Deus, e que ela sozinha possuía a verdadeira religião - que os deuses de outras nações eram falsos e fraudulentos, e que outras religiões eram pecaminosas, ignorantes e absurdas. Desta forma as sementes do ódio foram sendo semeadas e dessa forma as chamas da guerra se ascenderam. Os homens não tinham simpatia para com aqueles de aparência diferente, para com aqueles que se ajoelhavam sob outros altares e expressavam seus pensamentos em outras palavras - e até mesmo uma diferença nas peças de vestuário os colocavam além da simpatia dos outros. Cada peculiaridade era o alimento do preconceito e a desculpa para o ódio.

As fronteiras das nações foram finalmente cruzadas pelo comercio. De alguma forma as pessoas se tornaram conhecidas, e eles descobriram que as virtudes e os vícios estavam bem distribuídos igualmente. Finalmente, os súditos se tornaram de alguma forma conhecidos dos reis - camponeses tiveram o prazer de olhar para príncipes e era palidamente percebido que as diferenças estavam na maioria das vezes nos trapos e nos nomes.

Em 1776 nosso pais se empenhou em aposentar os deuses da política. Eles declararam que "todos os governos obtêm seus justos poderes pelo consentimento dos governados". Isso era uma contradição com as então idéias políticas do mundo; era, como muitos acreditavam, um ato de pura blasfêmia - uma renúncia à Divindade. Era na verdade uma declaração de independência do mundo. Era um aviso a todas as igrejas e padres que depois disso a humanidade governaria e protegeria a si mesma. Politicamente ele destruiu todos os altares e negou a autoridade de todos os "livros sagrados", e suplicou da Providência de Deus à Providência do Homem. Aqueles que promulgaram a Declaração adotaram a Constituição para a grande Republica.

Qual era a obrigação ou o propósito dessa Constituição? Admitindo que todo poder viesse do povo, era necessário, primeiramente, que certos meios fossem adotados para o propósito de verificar a vontade do povo, e em segundo lugar, era apropriado e conveniente designar certos departamentos que deveriam exercer certos poderes do governo. Deveria haver o departamento legislativo, judiciário e executivo. Aqueles que fazem as leis não deveriam executá-las. Aqueles que executam as leis não deveriam ter o poder de determinar absolutamente seus significados ou sua constitucionalidade. Por essas razões, entre outras, uma Constituição foi adotada.

Essa Constituição também continha um declaração de direitos. Ele demarcou as limitações do discernimento, de tal forma que na excitação da paixão, os homens não deveriam ir além do ponto designado nos calmos momentos da razão. Quando o homem é sem preconceito e suas paixões são sujeitas à razão, é bom que ele defina o limite do poder, de modo que as ondas levadas pela tempestade da paixão não subjuguem as margens.

Uma constituição é para o governo do homem neste mundo. Ela é a corrente que as pessoas colocam em seus servos, bem como em si mesmos. Ela define o limite do poder e o limite da obediência. Ela prossegue, então, dizendo que nada deveria estar em uma constituição que não pudesse ser forçado pelo poder do estado - isto é, pelo exercito e marinha. Atras de cada provisão da constituição deveria estar a força da nação. Cada espada, cada baioneta, cada canhão deveria estar lá.

Suponha, então, que nós reformulássemos a constituição e admitíssemos a existência e a supremacia de Deus - o que seria da supremacia dos povos, e como seria essa emenda cumprida? Uma constituição não se auto obriga. Isso deve ser feito pela legislação apropriada.

Seria um crime negar a existência desse Deus constitucional? O réu pode ser processado nas cortes criminais? Sua boca pode ser calada pelo poder do estado? Isso não seria a inauguração de uma perseguição religiosa?

E se fosse para haver um reconhecimento de Deus na Constituição, a pergunta sobre qual Deus teria essa honra surge naturalmente. Devemos escolher o Deus dos Católicos - aquele que fundou uma igreja infalível presidida por um papa infalível, e que se deleita com certas cerimonias e é apaziguado por orações proferidas em latim extremamente comum? Seria o Deus dos Presbiterianos com os Cinco Pontos do Calvinismo, que é engenhoso suficiente para harmonizar a necessidade e a responsabilidade, e que de alguma forma se justifica por amaldiçoar a maioria de suas próprias crianças? Seria o Deus dos Puritanos, o inimigo da felicidade - dos Batistas, que é grande o suficiente para governar o universo, e pequeno suficiente para permitir que o destino de uma alma dependa se o corpo que o habita for imerso ou borrifado? Qual Deus seria proposto para ser colocado na Constituição? Seria o Deus do Velho Testamento, que acreditava na escravidão e que justificava a poligamia? Se a escravidão já foi correta, então é correta agora; e se Jeová estava correto, os Mormoms estão corretos agora. É para nós termos um Deus que emitiu um mandamento contra todas as artes - que fosse o inimigo da investigação e do livre discurso? Seria o Deus que mandou o marido apedrejar a esposa até a morte porque ela discordava dele quanto à religião? É para termos um Deus que promulgaria novamente o código Mosaico e puniria centenas de pecadores com a morte? Qual corte, qual tribunal de última estância, definira esse Deus, e quem faria notar sua vontade? Em sua presença, as leis passadas pelos homens não teriam nenhum valor. As decisões das cortes seriam como um nada. Mas quem iria fazer notar a vontade deste Deus supremo? Haveria um tribunal supremo composto de padres?

É claro que todas as pessoas eleitas para o ofício irão ou jurar ou declarar seu apoio à Constituição. Homens que não acreditam nesse Deus, não podem jurar ou declarar tal apoio. A tais homens não seriam permitidos ocupar qualquer cargo de confiança ou honra. Um Deus na Constituição não interferiria nos juramentos ou declarações de hipócritas. Tal provisão só iria excluir ateus honestos e conscienciosos. Pessoas inteligentes sabem que ninguém sabe se existe um Deus ou não. A existência de tal Ser é meramente uma questão de opinião.

Homens que acreditam na liberdade do homem, que estão dispostos a morrer pela honra de seu país, seriam excluídos de tomar parte em qualquer administração de assuntos do estado. Tal provisão colocaria o país aos pés dos padres. Para reconhecer uma Deidade na lei orgânica de nosso país seria a destruição da liberdade religiosa. O Deus na Constituição teria que ser protegido. Haveriam leis contra a blasfêmia, leis contra a publicação de pensamentos honestos, leis contra portar livros e papéis por correspondências nas quais essa constituição seria atacada. Nossa terra seria cheia de espiões teológicos, com informantes religiosos e com todos os tipos de cobras e répteis da mais baixa natureza, que nesse alvorecer de autoridade religiosa, se desenrolariam e rastejariam.

Está sendo proposto admitir um Deus que seja o governante legítimo e direito das nações, aquele que determina os poderes que podem existir. Se esse Deus for realmente o Governador das nações, não é necessário reconhece-lo na Constituição. Isso não somaria à seus poderes. Se ele governa todas as nações agora, ele sempre controlou os assuntos dos homens.

Tendo esse controle, por que ele já não providenciou que fosse reconhecido na Constituição dos Estados Unidos? Se ele tivesse a autoridade suprema e omitiu de se colocar na Constituição, não seria isso, pelo menos, uma evidência prima facie que ele não desejava estar lá? Na minha opinião, eu não sou a favor de um Deus que "determina os poderes que podem existir". O que temos nós a dizer da Rússia -- da Sibéria? O que podemos dizer dos perseguidos e escravizados? E os reis e nobres que vivem do trabalho roubado dos outros? E os padres e cardinais e papas que tiram a força, mesmo das mãos da pobreza, a única moeda ganha? É possível bajular o Infinito com uma emenda constitucional? Os Estados Confederados admitiram Deus em sua constituição, e ainda assim eles eram subjugados pelas pessoas de cuja lei orgânica não era feita nenhuma referência. Todos os reis do mundo admitem a existência de Deus, e Deus é aliado deles; e essa crença em Deus é usada pelos reis como um meio de escravizar e roubar, para governar e degradar as pessoas que eles os chamam de súditos.

O Governo dos Estados Unidos é secular. Ele deriva seus poderes do consentimento dos homens. É um governo com o qual Deus não tem absolutamente nada a ver - e todas as formas e costumes, inconsistentes com o fato fundamental de que as pessoas são a fonte da autoridade, deveriam ser abandonadas. Nesse país não deveria haver juramentos - ninguém deveria jurar dizer a verdade, e em nenhuma corte deveria haver qualquer apelo a qualquer ser supremo. Um patife ao fazer esse juramento parece se relacionar com Deus, e júris ignorantes dão crédito no firmamento ao invés de na pessoa. Uma testemunha deveria contar sua estória, e se ele contar mentiras ele deveria ser culpado de perjúrio. Governantes e presidentes não deveria proferir proclamações religiosas. Eles não deveriam chamar as pessoas a agradecerem a Deus. Isso não é parte de sua tarefa oficial. Isso está fora e além do horizonte da autoridade deles. Não há nada na Constituição dos Estados Unidos que justifique essa impertinência religiosa.

Por muitos anos os padres tem tentado dar ao nosso Governo uma forma religiosa. Os Maçons tiveram sucesso em colocar a legenda em nosso dinheiro: "Em Deus Nós Confiamos"; além de temos capelães no exercito e na marinha, os procedimentos legislativos são geralmente abertos com uma oração. Tudo isso é contrario ao gênio da republica. Contrario à declaração de Independência e realmente contraria à Constituição dos Estados Unidos. Nós tomamos como premissa que os povos podem se governar sem a ajuda de qualquer poder sobrenatural. Nós tomamos a posição de que as pessoas são a verdadeira e única fonte legítima de autoridade. Nós declaramos solenemente que as pessoas devem determinar o que é politicamente correto e o que é errado, e que sua vontade expressada legalmente é a lei suprema. Isso não deixa lugar para superstições nacionais - nenhum lugar para deuses patrióticos e seres sobrenaturais - e isso elimina a necessidade de orações políticas.

O governo de Deus já foi tentado. Ele foi experimentado na Palestina vários milênios atrás, e o Deus dos judeus foi um monstro de crueldade e ignorância, e os povos governados por esse Deus perderam suas nacionalidades. A teocracia foi experimentada na Idade Média. Deus era o Governador - o papa era seu agente, e cada padre, bispo e cardinal estava armado com credenciais do Mais Elevado - e o resultado foi que os mais nobres e melhores foram para prisões, os grandiosos e famosos pereceram na fogueira. O resultado foi que os vícios foram coroados com honra, e as virtudes torturadas nuas pelas ruas. O resultado foi que a hipocrisia influenciou o cedro da autoridade, enquanto a honestidade definhava nos calabouços da Inquisição.

O governo de Deus foi experimentado em Genebra quando John Calvin foi seu representante, e sob esse governo de Deus as chamas se ergueram pelos membros e cegou as vistas de Michael Servetus porque ele se atreveu a expressar um pensamento honesto. Esse governo de Deus foi experimentado na Escócia, e as sementes do ódio teológico foram semeados, naquele enfado, durante centenas de anos, pelo fruto do massacre e assassinato. Esse governo de Deus foi instituído na Nova Inglaterra e o resultado foi que Quakers foram enforcados ou queimados - as leis de Moisés foram promulgadas novamente e a "bruxa não era tolerada viver."

O resultado foi que a investigação era um crime, e a expressão de um pensamento honesto uma ofensa capital. Esse governo de Deus foi estabelecido na Espanha, e os judeus foram expelidos, os mouros expulsos, os moricos (descendentes de espanhóis muçulmanos que falavam árabe e praticavam o islãmismo escondidos) foram exterminados e nada restou além de adoradores ignorantes e falidos deste monstro. Esse governo de Deus foi tentado nos Estados Unidos quando a escravidão era considerada uma instituição divina, quando homens e mulheres eram considerados criminosos porque buscavam a liberdade fugindo, e quando outros eram considerados criminosos porque lhes davam comida e abrigo. O púlpito daqueles dias defendia a compra e venda de mulheres e bebês, enquanto as bocas de comerciantes de escravos estavam cheios de passagens das Escrituras, defendendo e sustentando o trafico de "carne humana."

Nós entramos em uma nova época. Esse é o século do homem. Todos os esforços para realmente melhorar a condição da humanidade foram opostos pelos adoradores de algum Deus. A igreja em todas as eras e entre todos os povos tem sido o inimigo consistente da raça humana. Em todo lugar e em todas as épocas, ela se opôs à liberdade de pensamento e de expressão. Tem sido o inimigo jurado da investigação e do desenvolvimento intelectual. Ela negou à existência de fatos, a tendência que foi para solapar seu poder. Tem sempre carregado lenha para os pés da filosofia. Ela ergueu a forca para os Gênios. Ela construiu o calabouço para os pensadores. E hoje a igreja ortodoxa é tão contraria quanto sempre foi à liberdade mental da raça humana. É claro, existe uma distinção feita entre igrejas e membros individuais. Existem milhões de cristãos que acreditam na liberdade e na liberdade de expressão - milhões que lutaram pelos direitos do homem - mas igrejas como organizações, estiveram do outro lado. É verdade que igrejas lutaram contra igrejas - que Protestantes batalharam contra os Católicos pelo que eles estavam satisfeitos em chamar de liberdade de consciência, e é também verdade que no momento que esses Protestantes obtiveram o poder civil, eles negaram essa liberdade de consciência aos outros.

Deixe me mostrar a vocês a diferença do espirito teológico e secular. Quase trezentos anos atras, um dos mais nobres da raça humana, Giordano Bruno, foi queimado em Roma pela igreja Católica - isso quer dizer pelas "Bestas Triunfantes". Esse homem tinha cometido alguns crimes - ele tinha declarado publicamente que haviam outros mundos fora este - outras constelações fora a nossa. Ele tinha se aventurado na suposição de que esses outros planetas poderiam ser habitados. Mais do que isso, e pior do que isso, ele tinha confirmado a teoria heliocentrica - de que a terra fazia sua jornada anual ao redor do sol. Ele também tinha dado como sua opinião que a matéria fosse eterna. Por esses crimes ele foi considerado não merecedor de viver, e sobre seu corpo foi colocado a lenha da igreja Católica. Esse homem, esse gênio, esse pioneiro da ciência do século 19, pereceu tão serenamente quanto o sol se põe. Os infiéis de hoje encontram desculpas por seus assassinatos. Eles levam em consideração a ignorância e a brutalidade daqueles tempos. Eles se lembram que o mundo foi governado por um Deus que era então a fonte de toda autoridade. Essa é a caridade da infidelidade - da filosofia. Mas a igreja de hoje é tão insensível, e é ainda tão fria e cruel, que ela não consegue achar nenhuma desculpa para os assassinados.

Essa é a diferença entre a Teocracia e a Democracia - entre Deus e o homem.

Se Deus for permitido na Constituição, o homem deve abdicar-se. Não há lugar para ambos. Se as pessoas da grande Republica se tornarem suficientemente supersticiosos e ignorantes para colocar Deus na Constituição dos Estados Unidos, a experiência de autogoverno terá falhado, e a grande e esplêndida declaração de que "todo governo obtém seus justos poderes pelo consentimento dos governados" terá sido negado, e em seu lugar será encontrado isso: Todo poder vem de Deus; os padres são seus agentes, as pessoas são seus escravos.

Religião é um assunto individual e cada alma deveria ser deixada inteiramente livre para formar sua própria opinião e julgar sua responsabilidade para com um suposto ser supremo. Com religião, o governo não tem nada a ver. O governo é fundado pela força, e a força não deveria nunca interferir com as opiniões religiosas dos homens. Leis deveriam definir os direitos dos homens e seus deveres para com cada um, e essas leis deveriam ser para o benefício do homem nesse mundo.

Uma nação não pode ser nem Cristã nem infiel - uma nação é incapaz de ter opiniões sobre esses assuntos. Se uma nação for Cristã, todos os cidadãos irão para o céu? Se não for, eles serão condenados? É claro que é admitido que a maioria dos cidadãos que compõem uma nação devam acreditar ou desacreditar, e eles podem chamar a nação do que eles bem quiserem. Uma nação é uma corporação. Para citar um dizer familiar, "ela não tem alma". Não poderia haver tal coisa como uma corporação Cristã. Vários cristãos podem formar uma corporação, mas dificilmente poder ser dito que a corporação então formada será incluída na compensação. Por exemplo: Sete Cristãos formam uma corporação - isso quer dizer que há sete pessoas naturais e uma artificial - pode se dizer que há oito almas para ser salva?

Nenhum ser humano tem alma suficiente, ou conhecimento suficiente, ou experiência suficiente, para dizer se existe, ou não, um Deus. Dentro dessa escuridão a Ciência ainda não carregou sua tocha. Nenhum ser humano foi além do horizonte do natural. Quanto à existência do sobrenatural, um homem sabe precisamente tão bem e exatamente tão pouco quanto qualquer outro. Sobre essa questão, chimpanzés e cardinais, primatas e papas, estão sob a mesma igualdade. O menor inseto, identificável somente pelo mais poderoso microscópio, é tão familiarizado com esse assunto quanto o maior gênio que já foi produzido pela raça humana. Governos e leis são para a preservação dos direitos e para a regulamentação da conduta. A um homem não deveria ser permitido interferir com a liberdade de um outro. No mundo metafísico não deveria haver qualquer interferência. O mesmo é verdadeiro no mundo da arte. As leis não podem regular o que é e o que não é música, o que é e o que não é bonito - e as constituições não podem definitivamente fixar e determinar a perfeição das estátuas, o valor das pinturas, ou da glória e subtilmente do pensamento. Apesar das leis e da constituição o cérebro pensará. Em cada direção consistente com o bem-estar e paz da sociedade, deveria haver liberdade. Nenhum homem deveria ser compelido a adotar a teologia de outro; nem mesmo uma minoria, por menor que seja, deveria ser forçada a consentir com a opinião da maioria, por maior que seja.

Se houver um Ser infinito, ele não precisa de nossa ajuda - não precisamos desperdiçar nossas energias em sua defesa. Basta dar a cada ser humano a liberdade que reivindicamos para nós mesmos. Deve ou não haver um Soberano Supremo do universo - mas temos certeza que o homem existe, e nós acreditamos que a liberdade é a condição para o progresso, que é o raiar de um mundo mais mental e moral, e que sem ela o homem voltaria para o antro de selvajeria, e se tornaria o sócio aliado de bestas selvagens e ferozes.

Nós já tentamos o governo de padres, e sabemos que tais governos são sem misericórdia. Na administração da teocracia, todos os instrumentos de torturas foram inventados. Se algum homem deseja ter Deus reconhecido na Constituição de nosso país, deixe-o ler a história da Inquisição, e deixe-o lembrar que centenas de milhares de homens, mulheres e crianças que foram sacrificadas para aplacar a ira, ou ganhar a aprovação desse Deus.

Houve no nosso país um divorcio entre a igreja e o estado. Isso seque como uma sequência natural da declaração que "governos obtém seus justos poderes pelo consentimento dos governados". O padre não era mais uma necessidade. Sua presença era uma contradição do princípio no qual a Republica foi fundada. Ele representava, não a autoridade das pessoas, mas de algum "Poder das Alturas", e para reconhecer esse outro Poder era inconsistente com um governo livre. Os fundadores da Republica daquela época discordavam com os padres, e disse a eles: "Você pode voltar sua atenção para o outro mundo - nós vamos nos ater aos assuntos deste". Igual liberdade foi dada a todos. Mas o ultra teológico não está satisfeito com isso - ele deseja destruir a liberdade das pessoas - ele deseja um reconhecimento de seu Deus como a fonte da autoridade, para a finalidade da igreja se tornar o poder supremo. Mas o sol não andará para trás. O povo dos Estados Unidos é inteligente. Eles não mais acreditam implicitamente na religião sobrenatural. Eles estão perdendo a confiança nos milagres e maravilhas das Idades das Trevas. Eles conhecem o valor da escola livre. Eles apreciam os benefícios da ciência. Eles acreditam na educação, no livre ato do pensamento, e tem uma suspeita de que padres, teólogos estão destinados a tomar seus lugares ao lado de canalizadores, astrólogos, mágicos e professores da magia negra.

Nós já comparamos os benefícios da teologia e da ciência. Quando o teólogo governava o mundo, este estava coberto por cabanas e choupanas para os muitos, palácios e catedrais para uns poucos. Para a maioria de todas as crianças, ler e escrever era uma arte desconhecida. Os pobres se vestiam com trapos e peles - eles devoravam cascas de pão e roíam ossos. Agora, o dia da ciência começou a se manifestar e as luxurias de um século atras são as necessidades de hoje. Homens de posição social média possuem mais conveniências e elegâncias do que príncipes e reis de períodos teológicos. Mas acima disso tudo está o desenvolvimento da mente. Existe mais valor no cérebro de um homem mediano de hoje - de um mecânico mestre, de um químico, de um naturalista, de um inventor - do que havia no cérebro do mundo quatrocentos anos atrás.

Essas benções não caíram dos céus. Esses benefícios não caíram das mãos estiradas dos padres. Elas não foram encontradas em catedrais ou atrás de altares - nem foram eles procurados com velas sagradas. Eles não foram descobertos pelos olhos fechados das orações, nem vieram como resposta para súplicas supersticiosas. Elas são as crianças da liberdade, os donos da razão, observação e experiência - e por tudo isso, está endividado com si próprio.

Vamos nos segurar firme à sublime declaração de Lincoln. Vamos insistir que seja, a republica, "Um governo do povo, feito pelo povo e para o povo."


Fonte: http://str.com.br/Libertas/constituicao.htm

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zencem
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Mensagem por zencem »

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Joe escreveu:Essas benções não caíram dos céus. Esses benefícios não caíram das mãos estiradas dos padres.

Elas não foram encontradas em catedrais ou atrás de altares - nem foram eles procurados com velas sagradas.

Eles não foram descobertos pelos olhos fechados das orações, nem vieram como resposta para súplicas supersticiosas.

Elas são as crianças da liberdade, os donos da razão, observação e experiência - e por tudo isso, está endividado com si próprio.

Vamos nos segurar firme à sublime declaração de Lincoln.

Vamos insistir que seja, a republica, "Um governo do povo, feito pelo povo e para o povo."


Magnífico!!!

São declarações, que, antes, alcançavam apenas alguns, mas que hoje ecôa pra toda a humanidade, através desse poder fantástico que a internet nos dá, o de nos comunicarmos com todos, ôlho no ôlho.

Viva o Homo Sapiens, despertando, enfim, para a razão.
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


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Caro Colega
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Re.: Mestres do Ateísmo

Mensagem por Caro Colega »

To imprimindo pra ler em casa. Vamos ver o que me acrescenta..
:emoticon5:
"Agradeço a Deus por me emprestar diariamente o coração que pulsa, o oxigênio que respiro, o solo em que caminho e milhões de intens para que eu exista. Ele suportou meu cético ateísmo, me levou a encontrar a Sua assinatura atrás da cortina da existênica e me fez enxergar que Seu sonho de ver a espécie humana unida, fraterna e solidária é o maior de todos os sonhos." - (Augusto Cury)
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Darwin quer banana.. uh! hu!..

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zencem
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Re: Re.: Mestres do Ateísmo

Mensagem por zencem »

Caro Colega escreveu:To imprimindo pra ler em casa. Vamos ver o que me acrescenta..
:emoticon5:


:emoticon12: Desista! Você é um saco sem fundo.
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


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Joe
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Mensagem por Joe »

zencem escreveu:.
Joe escreveu:Essas benções não caíram dos céus. Esses benefícios não caíram das mãos estiradas dos padres.

Elas não foram encontradas em catedrais ou atrás de altares - nem foram eles procurados com velas sagradas.

Eles não foram descobertos pelos olhos fechados das orações, nem vieram como resposta para súplicas supersticiosas.

Elas são as crianças da liberdade, os donos da razão, observação e experiência - e por tudo isso, está endividado com si próprio.

Vamos nos segurar firme à sublime declaração de Lincoln.

Vamos insistir que seja, a republica, "Um governo do povo, feito pelo povo e para o povo."


Magnífico!!!

São declarações, que, antes, alcançavam apenas alguns, mas que hoje ecôa pra toda a humanidade, através desse poder fantástico que a internet nos dá, o de nos comunicarmos com todos, ôlho no ôlho.

Viva o Homo Sapiens, despertando, enfim, para a razão.


Zencem,

Esse texto é jóia mais rara do mundo. Eu estou pensando seriamente em encomendar algumas revistas da American Atheists ou não, caso eu encontrar na internet.

A joía mais rara do mundo esse texto. O cara tem uma oratória ótima.

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Joe
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Re: Re.: Mestres do Ateísmo

Mensagem por Joe »

Caro Colega escreveu:To imprimindo pra ler em casa. Vamos ver o que me acrescenta..
:emoticon5:


Caro Colega,

Se você caso for mente aberta e julgar o texto sem preceitos dogmáticos, vai te acrescentar em tudo na sua vida.

Trancado