Discriminação genética no mercado deve ser legal?

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Você é a favor da legalização da discriminação genética?

SIM, as pessoas devem poder decidir negócios com base nos genes.
4
33%
NÃO, as pessoas não devem poder usar critérios genéticos exceto em medicina, ciência, genealogia, etc.
8
67%
 
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zumbi filosófico
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por zumbi filosófico »

Apáte escreveu:Ímpio, não se faça de tonto.

Quanto a questão de ser impossível de constatar preconceito, não tem nada a ver com um suposto crime perfeito, e você já sacou isso há séculos.


Talvez para você não, mas para o foxlover me parece ser o caso, a menos que eu não tenha entendido. Está bem confuso, pelo jeito ele parece estar pensando que eu acho que as pessoas devam ser condenadas sem prova ou algo assim.



A questão é que não há como proibir as pessoas de serem preconceituosas, (além de não ser recomendável por causa das brechas que essa tal proibição traria, mas esta também não é a questão principal) mas há como proibir as pessoas de demonstrarem seu preconceito.

Ou seja, se eu quiser continuar contratando brancos, secretárias gostosas, parentes ou seja lá quem for pra minha empresa, vou continuar fazendo. O que eu não posso é publicar meus interesses e poupar tempo e paciência meu e do candidato.


Bem, na América há diversas legislações quanto a esse tipo de coisa, proibindo discriminação racial, sexual, genética, de orientação sexual e etc.

Eu não vejo isso como meio impedir as pessoas de serem preconceituosas, o que impossível por lei; eu não sugiro que nazistas sejam obrigados por leis a terem amigos judeus, comemorarem hanukkah com eles ou qualquer coisa do tipo.

O objetivo de leis contra discriminação é apenas minimizar as possibilidades das pessoas sofrerem discriminação.

http://en.wikipedia.org/wiki/Employment ... es#_note-0


E quanto a comparar empresas públicas com privadas, não seja leviano. Políticos não são donos das estatais. Se fosse assim, um pai que dá emprego a um filho e um político nepotista que emprega toda sua família de vagabundos com dinheiro do estado (do trabalhador) seria a mesma coisa.


Eu não estou dizendo que eles são donos das estatais nem nada, só acho que as pessoas serem donas de um serviço não significa que não estejam sujeitas às leis de um país, que possam fazer o que bem entenderem; acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Não acho que seria infalível, e que nunca ninguém conseguiria burlar essas leis, mas não é diferente de qualquer outra lei que não sejam as leis da física.
Editado pela última vez por zumbi filosófico em 02 Jan 2008, 02:50, em um total de 1 vez.
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Ilovefoxes
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Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Ilovefoxes »

vc o que beneficia principalmente a industria farmacêutica e de seguros
Depois ainda fazem piada com o quanto a gente fala que fulano ou cicrano é comunista... olha aí, virou luta de sindicalista "povo bom x empresas maléficas".
vacinas e curas permanentes não costumam ser o foco de empresas.
É, mas patentes tem limite de vida.
Comida então a produção alimentaria uma população 6 vezes maior que a da Terra.
E dez anos depois, quando o número de pessoas dobrar e for 12 vezes maior que?
Depois ainda dizem que o capitalismo trata os recursos do planeta ilimitados. :emoticon5:
3) Eu apenas apontei que ficou claro que vc acha aceitável que milhões cheguem a ruína para pagar contas médicas, como que milhões não tenham acesso a qualquer serviço de saúde. Basta que vc reconheça que acha isso normal, que ai sim podemos parar de dialogar. É isso que vc deixa a entender, mas não diz com todas as letras.
Não, você fica tentando ser moralista.
Você sabe minha posição, você acha que se eu disser alguma coisa vou me sentir culpado? Isso é psicologia Videomakeriana.
Ah, e eu tô pouco me lixando para essas pessoas. O mundo não é um lugar mágico, quem não consegue conviver com o sofrimento alheio não entende de biologia.
4) Ta confuso ai. Bem se faz pesquisa cientifica em muitos lugares, nos EUA está inclusive em queda, reportagem da Superinterressante apontou isso, ligando inclusive ao aumento do fundamentalismo religioso. Estão se formando menos cientistas, eles continuam pegando muitos dos melhores de outros países.
Sei, a crise econômica devido a guerra no Iraque ou investida religiosa de Bush não tem nada a ver né?
Mito da social democracia? Sonho... hehehe. O que estou falando existe, basta uma viagem para Inglaterra, ou França. Saúde socializada é o que há na europa ocidental. Um pulo no Canadá tb resolve.
Eu nunca ouvi falar sobre alguém viajar para esses países para fazer tratamento que não existe em suas terras natais. Geralmente viajam para os EUA. :emoticon5:

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André
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por André »

Ilovefoxes escreveu:
vc o que beneficia principalmente a industria farmacêutica e de seguros
Depois ainda fazem piada com o quanto a gente fala que fulano ou cicrano é comunista... olha aí, virou luta de sindicalista "povo bom x empresas maléficas".
vacinas e curas permanentes não costumam ser o foco de empresas.
É, mas patentes tem limite de vida.
Comida então a produção alimentaria uma população 6 vezes maior que a da Terra.
E dez anos depois, quando o número de pessoas dobrar e for 12 vezes maior que?
Depois ainda dizem que o capitalismo trata os recursos do planeta ilimitados. :emoticon5:
3) Eu apenas apontei que ficou claro que vc acha aceitável que milhões cheguem a ruína para pagar contas médicas, como que milhões não tenham acesso a qualquer serviço de saúde. Basta que vc reconheça que acha isso normal, que ai sim podemos parar de dialogar. É isso que vc deixa a entender, mas não diz com todas as letras.
Não, você fica tentando ser moralista.
Você sabe minha posição, você acha que se eu disser alguma coisa vou me sentir culpado? Isso é psicologia Videomakeriana.
Ah, e eu tô pouco me lixando para essas pessoas. O mundo não é um lugar mágico, quem não consegue conviver com o sofrimento alheio não entende de biologia.
4) Ta confuso ai. Bem se faz pesquisa cientifica em muitos lugares, nos EUA está inclusive em queda, reportagem da Superinterressante apontou isso, ligando inclusive ao aumento do fundamentalismo religioso. Estão se formando menos cientistas, eles continuam pegando muitos dos melhores de outros países.
Sei, a crise econômica devido a guerra no Iraque ou investida religiosa de Bush não tem nada a ver né?
Mito da social democracia? Sonho... hehehe. O que estou falando existe, basta uma viagem para Inglaterra, ou França. Saúde socializada é o que há na europa ocidental. Um pulo no Canadá tb resolve.
1)Eu nunca ouvi falar sobre alguém viajar para esses países para fazer tratamento que não existe em suas terras natais. Geralmente viajam para os EUA. :emoticon5:


1)Já eu sei de americanos que vão para o Canadá pois não tem grana para pagar seus tratamentos. E não são poucos tem até sites que organizam isso. Quem vai para os EUA são os ricos que podem pagar tudo. Vc já ouviu falar de gente pobre indo pros EUA por causa do serviço de saúde? hehehe

http://www.hook-a-canuck.com/

Ai um dos sites que trabalham com comunidades para esse fim, casamentos arranjados entre americanos e canadenses para que os americanos tenham serviços de saúde.

Vários americanos que moram perto da fronteira já cruzam com esses objetivos.


P.S Nessa vc se arrombou hehehe. O que não falta é gente com pouca grana indo para países com medicina socializada, inclusive americanos, apelando até para casamentos de fachada, para salvar a pele.

Em Sicko mostra até exemplos, gente comum que faz isso, hehe.
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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Ilovefoxes
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Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Ilovefoxes »

Usuário deletado escreveu:
Ilovefoxes escreveu:
O Estado como parte constituínte do mercado também deveria arbitrar com toda liberdade, podendo restringir empresas cujos donos são "socialmente indesejáveis" (critério definido pelo governante) de licitações para obras públicas por exemplo. Afinal, a função do Estado não é beneficiar empresas em suas terceirizações, mas sim fornecer os serviços à população.
Um estado socialista, sim.


A questão é: Se os agentes empregadores são livres para criarem seus critérios, por que o Estado também não seria, já que ele é um agente empregador?
Acho que porque ele esta a mercê da população. Questão de opinião pública.



1)Já eu sei de americanos que vão para o Canadá pois não tem grana para pagar seus tratamentos. E não são poucos tem até sites que organizam isso. Quem vai para os EUA são os ricos que podem pagar tudo. Vc já ouviu falar de gente pobre indo pros EUA por causa do serviço de saúde? hehehe

http://www.hook-a-canuck.com/

Ai um dos sites que trabalham com comunidades para esse fim, casamentos arranjados entre americanos e canadenses para que os americanos tenham serviços de saúde.

Vários americanos que moram perto da fronteira já cruzam com esses objetivos.


P.S Nessa vc se arrombou hehehe. O que não falta é gente com pouca grana indo para países com medicina socializada, inclusive americanos, apelando até para casamentos de fachada, para salvar a pele.

Em Sicko mostra até exemplos, gente comum que faz isso, hehe.
Quando eu disse "fazer tratamentos que não existem em suas terras natais" eu não quis me referir a "tratamentos que em suas terras natais é muito caro".
Admito que a falha é minha porque "tratamento" não é uma palavra precisa.

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Apáte
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Apáte »

Usuário deletado escreveu:
Ilovefoxes escreveu:
O Estado como parte constituínte do mercado também deveria arbitrar com toda liberdade, podendo restringir empresas cujos donos são "socialmente indesejáveis" (critério definido pelo governante) de licitações para obras públicas por exemplo. Afinal, a função do Estado não é beneficiar empresas em suas terceirizações, mas sim fornecer os serviços à população.
Um estado socialista, sim.


A questão é: Se os agentes empregadores são livres para criarem seus critérios, por que o Estado também não seria, já que ele é um agente empregador?

Até tu, Brutos, meu filho?
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Apáte »

zumbi filosófico escreveu:Talvez para você não, mas para o foxlover me parece ser o caso, a menos que eu não tenha entendido. Está bem confuso, pelo jeito ele parece estar pensando que eu acho que as pessoas devam ser condenadas sem prova ou algo assim.

Ah, credo.

zumbi filosófico escreveu:Bem, na América há diversas legislações quanto a esse tipo de coisa, proibindo discriminação racial, sexual, genética, de orientação sexual e etc.

É.

zumbi filosófico escreveu:Eu não vejo isso como meio impedir as pessoas de serem preconceituosas, o que impossível por lei; eu não sugiro que nazistas sejam obrigados por leis a terem amigos judeus, comemorarem hanukkah com eles ou qualquer coisa do tipo.

E é esta a questão.
Não creio que nazistas tenham a liberdade de difamar, caluniar, incitar o ódio contra judeus. Do mesmo modo, não creio que nazistas sejam obrigados a contratar judeus, confraternizar com eles e respeitar seus feriados religiosos.
E, aliás, se nazistas não quiserem contratar judeus, definitivamente não o farão. O que eles não podem é dizer que não contratam judeus por serem judeus e porque eles não gostam de judeus. Acho isso meio irracional.

ímpio escreveu:O objetivo de leis contra discriminação é apenas minimizar as possibilidades das pessoas sofrerem discriminação.

http://en.wikipedia.org/wiki/Employment ... es#_note-0

Depois eu leio.

ímpio escreveu:Eu não estou dizendo que eles são donos das estatais nem nada, só acho que as pessoas serem donas de um serviço não significa que não estejam sujeitas às leis de um país, que possam fazer o que bem entenderem; acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Não acho que seria infalível, e que nunca ninguém conseguiria burlar essas leis, mas não é diferente de qualquer outra lei que não sejam as leis da física.

A começar, esta lei é impraticável. A analogia com o Estado não procede.

Você acha que toda vez que uma empresa privada for contratar funcionários, ela é obrigada a fazer concurso público. Acha que um pai não pode contratar seu filho, mesmo que seja só para dar uma ocupação e um aprendizado a ele?
Acha que um político poderia fazer o mesmo: contratar um filho só para dar ocupação sendo que este ganharia um alto salário do gabinete?

Se esta lei de não poder contratar sob os critérios que bem quiser entrar em vigor, não demorará muito e só poderá contratar sob os critérios que o ESTADO quiser.

Além do quê, hoje o mundo é prático demais para que grandes empresas tomem medidas tão imbecis.
Indique-me uma empresa grande recente que tome suas atitudes conforme critérios racistas.
Já os Estados Grandes, estes sim fazem isso constantemente.
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Apáte »

Usuário deletado escreveu:O Estado como parte constituínte do mercado também deveria arbitrar com toda liberdade, podendo restringir empresas cujos donos são "socialmente indesejáveis" (critério definido pelo governante) de licitações para obras públicas por exemplo. Afinal, a função do Estado não é beneficiar empresas em suas terceirizações, mas sim fornecer os serviços à população.

Na maneira de prestar os serviços, o Estado deve contratar de forma meritocrática ou utilizar critérios arbitrários (incluindo discriminatórios)?

O Estado como sendo um ente criado para garantir a todos os habitantes de determinado território nacional seus direitos básicos pode fazer uso de meios discriminatórios para atingir seus fins?

- Lembrando que é apenas uma analogia.

Se um parente convida-o para trabalhar na empresa dele sob o salário que ele bem entender, talvez o mais alto, mesmo você tendo 18 anos e acabado de concluir o ensino médio, você acha que ele está sendo imoral?

Se um parente político convida-o para ter o mais alto cargo no gabinete dele, mesmo sem as competência para o trabalho, e sendo que o trabalhador que sustenta o gabinete, você acha que ele é imoral.

Outra analogia melhor ainda:

Se o seu pai tira dinheiro da empresa dele para sua família fazer uma viagem, e aí?
Se um [hipotético] tio deputado tira dinheiro do Estado para fazerem uma viagem, e aí?
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Herf
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Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Herf »

Eu não estou dizendo que eles são donos das estatais nem nada, só acho que as pessoas serem donas de um serviço não significa que não estejam sujeitas às leis de um país, que possam fazer o que bem entenderem; acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Bem, penso que é o que disseram mesmo: permitir um proprietário usar seu bem da maneira que ele melhor compreender não significa que sua propriedade está emancipada legalmente, não significa que leis que vigoram na rua não vigorem lá dentro. Leis anti-discriminação e realização de consurso para admissão devem existir em locais públicos não por que são moralmente bonitos, mas unicamente pelo fato de que um local público é mantido com o dinheiro de todo mundo. Aquilo é de todos e não deve haver privilégios.

acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Se um proprietário assumir que escolheu o candidato A em detrimento de B para o cargo de limpador de vidros só por que o candidato A é bacharel em química, seria sensato o candidato B ser indenizado, ou então que se fizesse uma nova seleção? Deveria ser diferente se o critério de seleção assumido fosse não o título de bacharel, mas qualquer outra característica irrelevante para a função de limpador de vidros?

Não acho que seria infalível, e que nunca ninguém conseguiria burlar essas leis, mas não é diferente de qualquer outra lei que não sejam as leis da física.

Com isso eu concordo: a dificuldade em se fazer cumprir uma lei não é motivo para que ela não exista.

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Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Apáte »

E tome pro-cê-dura!
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Ilovefoxes »

Procedure escreveu:
Não acho que seria infalível, e que nunca ninguém conseguiria burlar essas leis, mas não é diferente de qualquer outra lei que não sejam as leis da física.

Com isso eu concordo: a dificuldade em se fazer cumprir uma lei não é motivo para que ela não exista.
Uma coisa é uma lei difícil de ser cumprida, outra coisa é uma lei fantasiosa.

Se eu for um segurador, e não quiser dar para ele porque ele tem altas chances de ter câncer de próstata, e disser que é porque ele não faz muitos exercícios, ele vai fazer o que?
Vai chamar a vó dele para dizer que ele ajuda ela todo dia em casa?

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Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Apáte »

É irracional, ilógico, impraticável e não recomendável.

Pelo que parece, não há o menor problema em ter preconceitos ou até mesmo praticá-los, o que não pode é expô-los de maneira pacífica.
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por zumbi filosófico »

Apáte escreveu:A começar, esta lei é impraticável. A analogia com o Estado não procede.


Não é bem uma "analogia" com o estado, é um dever legal como "parte" de um país que eu acho bem concebível, muito mais do que voto obrigatório, por exemplo.

E vejo como inescapavelmente necessário numa situação mais próxima da ideal, na qual não existissem ou existissem minimamente serviços estatais.




Você acha que toda vez que uma empresa privada for contratar funcionários, ela é obrigada a fazer concurso público. Acha que um pai não pode contratar seu filho, mesmo que seja só para dar uma ocupação e um aprendizado a ele?
Acha que um político poderia fazer o mesmo: contratar um filho só para dar ocupação sendo que este ganharia um alto salário do gabinete?


Existem diferentes tipos de empresa, como informal, familiar micro, média, grande. Tal como diversas outras regras existentes são concebivelmente justamente diferentes para essas diversas situações, também poderia se ter diferentes regras quanto a nepotismo e etc dependendo do porte da empresa. Uma empresa pequena, familiar, pode colocar um monte de filhos primos e amigos nos cargos que bem entender, mas isso só vai até um determinado tamanho e etc.


Se esta lei de não poder contratar sob os critérios que bem quiser entrar em vigor, não demorará muito e só poderá contratar sob os critérios que o ESTADO quiser.


Por que? Quanto tempo levaria? Qual é a conexão? Não vejo a coisa ir de ser proibido fazer discriminações raciais, sexuais ou genéticas impertinentes, para "os critérios que o ESTADO quiser". Não mais do que, não ser permitido usar trabalho infantil não implica em se ter que empregar apenas as pessoas que o ESTADO quiser de forma mais abrangente.


Além do quê, hoje o mundo é prático demais para que grandes empresas tomem medidas tão imbecis.
Indique-me uma empresa grande recente que tome suas atitudes conforme critérios racistas.
Já os Estados Grandes, estes sim fazem isso constantemente.


Recentemente eu ouvi um debate sobre "ações afirmativas", o único que teve alguns dados interessantes trazidos por um defensor delas que já ouvi, muito embora eu não ache que sejam a resposta, de qualquer forma (em contraposição, outra debatedora veio com os mesmos argumentos nojentos de sempre de que os anti-AA são uns nazistas KKKs e etc).

Pontos mencionados por esse cara ao qual me refiro (Tim Wise):

- Estudos recentes mostram que, em seleção de currículos para empregos, currículos com nomes que soam "brancos" tem 15% mais de chance de serem chamados que os nomes que soam como sendo de origem africana, mesmo se as qualificações sejam indistinguíveis;

- 8 em 10 empregos nunca são "anunciados", mas acabam sendo ocupados por indicação, independentemente de qualificações via "redes sociais", e etc, de forma que acaba excluindo principalmente os homens negros (ainda que isso seja de certa forma independente de qualquer racismo) e mulheres de todas cores;

- Há na prática, em admissões de faculdades (válido especialmente lá nos EUA, acho que aqui menos), alguns critérios que são como cotas para brancos, como ganhar pontos por morar numa região X, que coincidentemente é habitada principalmente por brancos.

[NPR] Is time to end affirmative action?

Trecho mencionado do Tim Wise no debate (acho que a única coisa mais interessante do debate todo - os argumentos contra AAs são meio batidos e muito fracos se comparados aos do Thomas Sowell, e o resto das coisas pró também são bem dispensáveis - ou ao menos é assim que eu me lembro)


[center]Imagem
Tim Wise, fazendo a saudação nazista.[/center]



Eu vejo como moralmente, idealmente melhor tentar acabar com todo esse tipo de discriminações, mas se é tão inviável assim, chego a considerar que talvez cotas de diversos tipos, talvez sociais, raciais, sexuais e etc, promovidas pelo estado (podendo ser em instituições estatais mesmo, mas preferencialmente via vouchers), talvez sejam mesmo uma solução razoável.



Isso apenas quanto a discriminação racial, mas ainda tem as discriminações genéticas (ainda que por enquanto, menos significativas, já que os testes em si não são ainda suficientemente baratos e comuns), que são coisa bem recente, então nem vem ao caso isso de "hoje em dia" as pessoas serem práticas demais.
Editado pela última vez por zumbi filosófico em 02 Jan 2008, 20:02, em um total de 2 vezes.
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por zumbi filosófico »

Procedure escreveu:
Eu não estou dizendo que eles são donos das estatais nem nada, só acho que as pessoas serem donas de um serviço não significa que não estejam sujeitas às leis de um país, que possam fazer o que bem entenderem; acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Bem, penso que é o que disseram mesmo: permitir um proprietário usar seu bem da maneira que ele melhor compreender não significa que sua propriedade está emancipada legalmente, não significa que leis que vigoram na rua não vigorem lá dentro. Leis anti-discriminação e realização de consurso para admissão devem existir em locais públicos não por que são moralmente bonitos, mas unicamente pelo fato de que um local público é mantido com o dinheiro de todo mundo. Aquilo é de todos e não deve haver privilégios.


Por essa lógica, empregos só para brancos só poderiam existir para empresas que só servissem ou vendessem produtos para brancos. Tinha que ser um tipo de comunidade KKKzinha fechada ou algo do tipo.





acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Se um proprietário assumir que escolheu o candidato A em detrimento de B para o cargo de limpador de vidros só por que o candidato A é bacharel em química, seria sensato o candidato B ser indenizado, ou então que se fizesse uma nova seleção? Deveria ser diferente se o critério de seleção assumido fosse não o título de bacharel, mas qualquer outra característica irrelevante para a função de limpador de vidros?


Nos EUA, depois de algumas leis contra discriminação racial no emprego, houveram casos de exigência de currículo escolar que incidentalmente eliminaria negros, geralmente com menor estudo, e acabou sendo decidido que esse tipo de critério irrelevante não é aceitável. Os empregadores devem provar que a os critérios de seleção são de fato pertinentes para a atuação.

Mas acho que isso acabou se referindo principalmente para coisas públicas, de qualquer maneira... ou talvez a restrição aos empregos públicos foi numa emenda constitucional... não lembro... de qualquer forma há leis estatais mais ou menos nesse sentido também.


Não acho que seria infalível, e que nunca ninguém conseguiria burlar essas leis, mas não é diferente de qualquer outra lei que não sejam as leis da física.

Com isso eu concordo: a dificuldade em se fazer cumprir uma lei não é motivo para que ela não exista.


Eu inclusive acho que esse potencialmente é o maior e mais fundamental problema. Tem bastante potencial de ser um tipo de lei "só no papel", apenas um tipo de declaração do que se acha correto, mas que na prática não garante muita coisa, como talvez uma boa metade de direitos civis, direitos das crianças e etc. A menos que houvesse algum tipo de fiscalização ou qualquer coisa assim.
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Herf
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Herf »

zumbi filosófico escreveu:
Procedure escreveu:
Eu não estou dizendo que eles são donos das estatais nem nada, só acho que as pessoas serem donas de um serviço não significa que não estejam sujeitas às leis de um país, que possam fazer o que bem entenderem; acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Bem, penso que é o que disseram mesmo: permitir um proprietário usar seu bem da maneira que ele melhor compreender não significa que sua propriedade está emancipada legalmente, não significa que leis que vigoram na rua não vigorem lá dentro. Leis anti-discriminação e realização de consurso para admissão devem existir em locais públicos não por que são moralmente bonitos, mas unicamente pelo fato de que um local público é mantido com o dinheiro de todo mundo. Aquilo é de todos e não deve haver privilégios.


Por essa lógica, empregos só para brancos só poderiam existir para empresas que só servissem ou vendessem produtos para brancos. Tinha que ser um tipo de comunidade KKKzinha fechada ou algo do tipo.

Hein?? Não faz sentido essa conclusão. Empresas públicas não podem discriminar arbitrariamente por que são mantidas por todos. Empresas privadas podem adotar qualquer critério de contratação por que são mantidas por recursos de particulares. Esse é meu ponto. Não sei como isso implica em que uma empresa que só contrata membros do grupo X necessariamente só possa prestar serviços para X.

Com isso eu concordo: a dificuldade em se fazer cumprir uma lei não é motivo para que ela não exista.
Eu inclusive acho que esse potencialmente é o maior e mais fundamental problema. Tem bastante potencial de ser um tipo de lei "só no papel", apenas um tipo de declaração do que se acha correto, mas que na prática não garante muita coisa, como talvez uma boa metade de direitos civis, direitos das crianças e etc. A menos que houvesse algum tipo de fiscalização ou qualquer coisa assim.

O problema é que não há meios eficientes para fazer valer essa lei. Seria algo como as políticas radicais contra o assassintado que foram descritas antes. Colocar vídeos em todos os ambientes e descrever detalhadamente todas as atividades feitas no dia seria o ideal para que ninguém conspirasse contra ninguém, mas são medidas tão radicais que acabariam tolhendo muitas outras liberdades que nos são muito importantes.

De qualquer forma, mesmo que houvesse meios relativamente seguros de pegar apenas os que discriminam, ainda me oporia a essas políticas, pois entendo que forçar demais a convivência de pessoas que não se gostam, por mais estúpidos que sejam os motivos, não é uma boa forma de acabar com os seus preconceitos. Muito pelo contrário. É algo que deve partir de dentro, e tudo o que o estado pode fazer é impedir a incitação e o uso da violência.

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Ilovefoxes
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Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Ilovefoxes »

Eu vejo como moralmente, idealmente melhor tentar acabar com todo esse tipo de discriminações, mas se é tão inviável assim, chego a considerar que talvez cotas de diversos tipos, talvez sociais, raciais, sexuais e etc, promovidas pelo estado (podendo ser em instituições estatais mesmo, mas preferencialmente via vouchers), talvez sejam mesmo uma solução razoável.
Non sequitur.
Por essa lógica, empregos só para brancos só poderiam existir para empresas que só servissem ou vendessem produtos para brancos. Tinha que ser um tipo de comunidade KKKzinha fechada ou algo do tipo.
Tá, e se eu só contratar brancos mas vender para negros também, vai fazer o que? Se você acha sem sentido, vai querer o que, que eu me sinta culpado?
Eu inclusive acho que esse potencialmente é o maior e mais fundamental problema. Tem bastante potencial de ser um tipo de lei "só no papel", apenas um tipo de declaração do que se acha correto, mas que na prática não garante muita coisa, como talvez uma boa metade de direitos civis, direitos das crianças e etc. A menos que houvesse algum tipo de fiscalização ou qualquer coisa assim.
Existe fiscalização viável?
Quando o estado decide quem está apto ou não para os negócios da empresa é estatizar.

Lembra quando você falou que "outro médico faria a avaliação"?
Pense na situação: você é um desenhista, você teria um assistente para te ajudar em uma história em quadrinhos, mas você achou que ele desenha mal. Depois vem um bundão do estado dizer "não, ele desenha muito bem, então você vai contratá-lo". :emoticon5:



Procedure escreveu:De qualquer forma, mesmo que houvesse meios relativamente seguros de pegar apenas os que discriminam
O que é impossível.
Simplesmente, a razão pelo que eu escolhi alguém depende unicamente da minha palavra. Como os outros podem provar o que eu estou pensando?

E não, nenhum país de primeiro mundo condena alguém baseado somente em detectores de mentira, mesmo que os usados hoje sejam bem confiáveis, diferente do polígrafo.

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zumbi filosófico
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por zumbi filosófico »

Procedure escreveu:
zumbi filosófico escreveu:
Procedure escreveu:
Eu não estou dizendo que eles são donos das estatais nem nada, só acho que as pessoas serem donas de um serviço não significa que não estejam sujeitas às leis de um país, que possam fazer o que bem entenderem; acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Bem, penso que é o que disseram mesmo: permitir um proprietário usar seu bem da maneira que ele melhor compreender não significa que sua propriedade está emancipada legalmente, não significa que leis que vigoram na rua não vigorem lá dentro. Leis anti-discriminação e realização de consurso para admissão devem existir em locais públicos não por que são moralmente bonitos, mas unicamente pelo fato de que um local público é mantido com o dinheiro de todo mundo. Aquilo é de todos e não deve haver privilégios.


Por essa lógica, empregos só para brancos só poderiam existir para empresas que só servissem ou vendessem produtos para brancos. Tinha que ser um tipo de comunidade KKKzinha fechada ou algo do tipo.

Hein?? Não faz sentido essa conclusão. Empresas públicas não podem discriminar arbitrariamente por que são mantidas por todos. Empresas privadas podem adotar qualquer critério de contratação por que são mantidas por recursos de particulares. Esse é meu ponto. Não sei como isso implica em que uma empresa que só contrata membros do grupo X necessariamente só possa prestar serviços para X.


As empresas privadas não são como paisinhos particulares. Elas existem dentro do estado, possibilitadas por ele, e o estado "é de todos"; ao mesmo tempo, os compradores e clientes também de certa forma mantém uma empresa. Se não tem clientes, a empresa vai a falência. Se a empresa tem a sociedade de forma "geral" como clientes, e não apenas uma parte muito seleta que a sustenta, não faz sentido discriminar como empregados uma parte da população de forma "maluca". Bem, na verdade não faria sentido de nenhuma forma, mas ao menos seria mais defensável.


Com isso eu concordo: a dificuldade em se fazer cumprir uma lei não é motivo para que ela não exista.
Eu inclusive acho que esse potencialmente é o maior e mais fundamental problema. Tem bastante potencial de ser um tipo de lei "só no papel", apenas um tipo de declaração do que se acha correto, mas que na prática não garante muita coisa, como talvez uma boa metade de direitos civis, direitos das crianças e etc. A menos que houvesse algum tipo de fiscalização ou qualquer coisa assim.

O problema é que não há meios eficientes para fazer valer essa lei. Seria algo como as políticas radicais contra o assassintado que foram descritas antes. Colocar vídeos em todos os ambientes e descrever detalhadamente todas as atividades feitas no dia seria o ideal para que ninguém conspirasse contra ninguém, mas são medidas tão radicais que acabariam tolhendo muitas outras liberdades que nos são muito importantes.

De qualquer forma, mesmo que houvesse meios relativamente seguros de pegar apenas os que discriminam, ainda me oporia a essas políticas, pois entendo que forçar demais a convivência de pessoas que não se gostam, por mais estúpidos que sejam os motivos, não é uma boa forma de acabar com os seus preconceitos. Muito pelo contrário. É algo que deve partir de dentro, e tudo o que o estado pode fazer é impedir a incitação e o uso da violência.


Eu acho que o direito do cidadão de não ser discriminado deve se sobrepor ao de outro de discriminar nesse tipo de coisa.

Eu não sei se seria tão inviável assim esse tipo de fiscalização (não que eu tenha a fórmula perfeita já imaginada), mas imagino que não seja lá tão diferente em termos de viabilidade de se ter um selo do ministério da agricultura e etc. Uma coisa que eu penso é que poderia ser algo meio "esparso", meio como blitzes eventuais mais ou menos aleatórias, exceto quando houver denúncias bem embasadas. Isso deve dar um tipo de efeito "psicológico" nas políticas de admissão, pressionando para que não haja discriminação muito mais eficientemente do que o consumidor poderia fazer.
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zumbi filosófico
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por zumbi filosófico »

Ilovefoxes escreveu:
Eu vejo como moralmente, idealmente melhor tentar acabar com todo esse tipo de discriminações, mas se é tão inviável assim, chego a considerar que talvez cotas de diversos tipos, talvez sociais, raciais, sexuais e etc, promovidas pelo estado (podendo ser em instituições estatais mesmo, mas preferencialmente via vouchers), talvez sejam mesmo uma solução razoável.
Non sequitur.


Como isso pode ser "non sequitur"?

O problema é que "naturalmente" umas pessoas de um grupo A são favorecidas em detrimento de outras do grupo B, a despeito de qualificação;

Idealmente, eliminaria-se esse favoritismo injustificável de umas pessoas em detrimento de outras, mas constata-se que isso é muito difícil de ser feito na prática. No entanto, se é difícil corrigir essa situação que afeta as pessoas do grupo B dessa forma, não significa que se deva desistir e deixar por isso mesmo;

Se eliminar a discriminação que desfavorece as pessoas do grupo B é considerado inviável, e pretendemos diminuir a injustiça que afeta as pessoas do grupo B, uma forma lógica de se alcançar isso seria, inversamente, favorecê-los "artificialmente" de forma proporcional à que eles são desfavorecidos "naturalmente".


Não é o que eu considero ideal, de qualquer forma. Acho que o ideal é fiscalização para diminuir discriminações impertinentes. Em segundo lugar vem essa tosquice, e nem considero deixar a discriminação simplesmente rolar solta como "ideal" em qualquer posição.


Por essa lógica, empregos só para brancos só poderiam existir para empresas que só servissem ou vendessem produtos para brancos. Tinha que ser um tipo de comunidade KKKzinha fechada ou algo do tipo.
Tá, e se eu só contratar brancos mas vender para negros também, vai fazer o que? Se você acha sem sentido, vai querer o que, que eu me sinta culpado?


Não, acho que teria que ser multado ou algo do tipo (talvez algo mais grave dependendo da seriedade do que se averiguasse), e ficar sob fiscalização cerrada a partir daí.


Eu inclusive acho que esse potencialmente é o maior e mais fundamental problema. Tem bastante potencial de ser um tipo de lei "só no papel", apenas um tipo de declaração do que se acha correto, mas que na prática não garante muita coisa, como talvez uma boa metade de direitos civis, direitos das crianças e etc. A menos que houvesse algum tipo de fiscalização ou qualquer coisa assim.
Existe fiscalização viável?


Acredito que sim. Isso não significa que pode ser perfeita e infalível, mas é sempre preferível ter as coisas com alguma fiscalização do que sem ela. Pode ser que hajam estabelecimentos que deveriam ter sido pegos pela vigilância sanitária mas não foram, por imperfeição do sistema, mas eu me sinto mais tranqüilo para comer em algum lugar sabendo que existe esse tipo de coisa em vez de ficar simplesmente a cargo dos gerentes dos estabelecimentos.



Quando o estado decide quem está apto ou não para os negócios da empresa é estatizar.


"quando o estado decide que uma lanchonete está bem limpa e pode funcionar, é estatizar". :emoticon61:


Lembra quando você falou que "outro médico faria a avaliação"?
Pense na situação: você é um desenhista, você teria um assistente para te ajudar em uma história em quadrinhos, mas você achou que ele desenha mal. Depois vem um bundão do estado dizer "não, ele desenha muito bem, então você vai contratá-lo". :emoticon5:


Como eu venho dizendo, isso não se aplica em toda e qualquer área imaginável. Não sugiro que o governo decida diretamente quem é contratado para todos cargos de todas as empresas. Acho apenas que se pode ter um mínimo de fiscalização e regulação que minimize as chances de discriminações indevidas como as já mencionadas.

Como o estilo de desenho é algo bastante subjetivo, não acho que houvesse margem para questionamento objetivo de terceiros, diversas outras coisas poderiam ser assim também.

Mas no exemplo específico do cara rejeitado pela companhia de seguros alegadamente por problemas de saúde, eles tinham é que tomar um puta de um processo, bem como o médico que fraudou o exame para ocultar a discriminação genética, desde que constatado que, fora esse gene, o cara está nas mesmas condições de saúde rotineiramente aceitas.

Outras áreas de atividade também podem ter medidas consideravelmente objetivas, como por exemplo, no caso que eu mencionei que acabou criando a precedência contra discriminação racial nos EUA, os trabalhadores eram primeiramente rejeitados por raça, mas quando isso foi proibido, inventaram de exigir ensino médio - não exigido antes e não necessário para o serviço; no outro caso citado pelo Tim Wise dos currículos com nomes tipicamente afro-americanos, mesmo com qualificações idênticas terem 15% menos de chance de serem chamados para uma entrevista, etc. São coisas averiguáveis, não é algo tão abstrato e questionável quanto um estilo de desenho.

Claro, pode-se apelar para que os avaliadores do currículo usaram avaliações grafológicas, numerológicas ou "nomeológicas"; mas também teoricamente seria possível se verificar isso com outros "profissionais" (ainda que a coisa seja apenas uma baboseira sem qualquer fundamento; algumas dessas coisas ao menos tem "padrões", por exemplo, pessoas com o mesmo nome ou com caligrafia similar devem ter "resultados" similares), pode-se pegar os currículos e através de regressão múltipla verificar se é mesmo a numerologia, nomeologia, ou grafologia, ou a combinação de todas, que está decidindo quem é ou não chamado para entrevistas. Na verdade, poderia se usar até mesmo o mesmo "profissional" que tivesse sido apontado como responsável por essa pré-seleção.
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Apáte
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Apáte »

Procedure escreveu:
zumbi filosófico escreveu:
Procedure escreveu:
Eu não estou dizendo que eles são donos das estatais nem nada, só acho que as pessoas serem donas de um serviço não significa que não estejam sujeitas às leis de um país, que possam fazer o que bem entenderem; acho perfeiamente razoável que hajam regulações diversas (não necessariamente muitas), dentre elas, umas para evitar discriminação que não tenha nada a ver com as exigências concebíveis para a atividade do empregado.

Bem, penso que é o que disseram mesmo: permitir um proprietário usar seu bem da maneira que ele melhor compreender não significa que sua propriedade está emancipada legalmente, não significa que leis que vigoram na rua não vigorem lá dentro. Leis anti-discriminação e realização de consurso para admissão devem existir em locais públicos não por que são moralmente bonitos, mas unicamente pelo fato de que um local público é mantido com o dinheiro de todo mundo. Aquilo é de todos e não deve haver privilégios.


Por essa lógica, empregos só para brancos só poderiam existir para empresas que só servissem ou vendessem produtos para brancos. Tinha que ser um tipo de comunidade KKKzinha fechada ou algo do tipo.

Hein?? Não faz sentido essa conclusão. Empresas públicas não podem discriminar arbitrariamente por que são mantidas por todos. Empresas privadas podem adotar qualquer critério de contratação por que são mantidas por recursos de particulares. Esse é meu ponto. Não sei como isso implica em que uma empresa que só contrata membros do grupo X necessariamente só possa prestar serviços para X.

Com isso eu concordo: a dificuldade em se fazer cumprir uma lei não é motivo para que ela não exista.
Eu inclusive acho que esse potencialmente é o maior e mais fundamental problema. Tem bastante potencial de ser um tipo de lei "só no papel", apenas um tipo de declaração do que se acha correto, mas que na prática não garante muita coisa, como talvez uma boa metade de direitos civis, direitos das crianças e etc. A menos que houvesse algum tipo de fiscalização ou qualquer coisa assim.

O problema é que não há meios eficientes para fazer valer essa lei. Seria algo como as políticas radicais contra o assassintado que foram descritas antes. Colocar vídeos em todos os ambientes e descrever detalhadamente todas as atividades feitas no dia seria o ideal para que ninguém conspirasse contra ninguém, mas são medidas tão radicais que acabariam tolhendo muitas outras liberdades que nos são muito importantes.

De qualquer forma, mesmo que houvesse meios relativamente seguros de pegar apenas os que discriminam, ainda me oporia a essas políticas, pois entendo que forçar demais a convivência de pessoas que não se gostam, por mais estúpidos que sejam os motivos, não é uma boa forma de acabar com os seus preconceitos. Muito pelo contrário. É algo que deve partir de dentro, e tudo o que o estado pode fazer é impedir a incitação e o uso da violência.

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Ilovefoxes
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Mensagem por Ilovefoxes »

As empresas privadas não são como paisinhos particulares. Elas existem dentro do estado, possibilitadas por ele, e o estado "é de todos"; ao mesmo tempo, os compradores e clientes também de certa forma mantém uma empresa. Se não tem clientes, a empresa vai a falência. Se a empresa tem a sociedade de forma "geral" como clientes, e não apenas uma parte muito seleta que a sustenta, não faz sentido discriminar como empregados uma parte da população de forma "maluca". Bem, na verdade não faria sentido de nenhuma forma, mas ao menos seria mais defensável.
Isso tem nome: estatizar. Aliás, estatizar de forma tirânica.

Em uma democracia, isso é ridículo. Não é o consumidor que decide o que será vendido, são as empresas. O que cabe é o consumidor é aceitar ou se recusar a comprar. Aí que entre o caso dos clientes manterem as empresas.
Eu não sei se seria tão inviável assim esse tipo de fiscalização (não que eu tenha a fórmula perfeita já imaginada), mas imagino que não seja lá tão diferente em termos de viabilidade de se ter um selo do ministério da agricultura e etc. Uma coisa que eu penso é que poderia ser algo meio "esparso", meio como blitzes eventuais mais ou menos aleatórias, exceto quando houver denúncias bem embasadas. Isso deve dar um tipo de efeito "psicológico" nas políticas de admissão, pressionando para que não haja discriminação muito mais eficientemente do que o consumidor poderia fazer.
Tá, e essas blitz vão flagrar o que? Uma seguradora dizendo "não" para uma pessoa?
Como isso pode ser "non sequitur"?
Assim, veja a falta de concordância no que você escreve:
Eu vejo como moralmente, idealmente melhor tentar acabar com todo esse tipo de discriminações, mas se é tão inviável assim, chego a considerar que talvez cotas de diversos tipos, talvez sociais, raciais, sexuais e etc, promovidas pelo estado (podendo ser em instituições estatais mesmo, mas preferencialmente via vouchers), talvez sejam mesmo uma solução razoável.
Seria como dizer: fulano foi absolvido por ser legítima defesa, logo qualquer gênero de violência é aceitável.
Uma coisa não tem relação com a outra.
Não, acho que teria que ser multado ou algo do tipo (talvez algo mais grave dependendo da seriedade do que se averiguasse), e ficar sob fiscalização cerrada a partir daí.
Vai fiscalizar meu pensamento? :emoticon5:
Acredito que sim. Isso não significa que pode ser perfeita e infalível, mas é sempre preferível ter as coisas com alguma fiscalização do que sem ela. Pode ser que hajam estabelecimentos que deveriam ter sido pegos pela vigilância sanitária mas não foram, por imperfeição do sistema, mas eu me sinto mais tranqüilo para comer em algum lugar sabendo que existe esse tipo de coisa em vez de ficar simplesmente a cargo dos gerentes dos estabelecimentos.
Você pode fiscalizar um estabelecimento de forma plausível.
A higiene de um lugar é visível, os motivos pelo qual alguém tem um negócio com alguém nem tanto.
Quando o estado decide quem está apto ou não para os negócios da empresa é estatizar.


"quando o estado decide que uma lanchonete está bem limpa e pode funcionar, é estatizar". :emoticon61:
Você não sabe a diferença ou finge que não faz pois não quer dar o braço a torcer?
Como o estilo de desenho é algo bastante subjetivo, não acho que houvesse margem para questionamento objetivo de terceiros, diversas outras coisas poderiam ser assim também.

Mas no exemplo específico do cara rejeitado pela companhia de seguros alegadamente por problemas de saúde, eles tinham é que tomar um puta de um processo, bem como o médico que fraudou o exame para ocultar a discriminação genética, desde que constatado que, fora esse gene, o cara está nas mesmas condições de saúde rotineiramente aceitas.
Isso é mais subjetivo ainda.
A razão pelo qual uma seguradora escolhe alguém, varia desde a pessoa ter atividades perigosas em até a aparência física de alguém. Ou a pessoa pode mudar suas atividades em certo período. Seria uma discussão sem fins em tribunais e não terminaria em nada.

Mas por exemplo, para contratar alguém, é muito menos subjetivo que ambos os casos, é mais fácil avaliar diplomas do que exames médicos. Só que nem tudo se resume a um diploma, da mesma forma que uma segurado não se resume a um exame médico.

No caso de contratar alguém, a defesa seria de que ele decide quem quer contratar, porque o negócio é dele. Não daria para alegar que a função dele é "fornecer cargos ao povo".

Só que na sua imaginação, uma seguradora é uma empresa de caridade. Eu sempre achei que ela queria ganhar dinheiro.
Aliás, a frente de impedir a discriminação para "servir ao povo", estaria baratear os custos, e que não se limita a seguradoras.
Outras áreas de atividade também podem ter medidas consideravelmente objetivas, como por exemplo, no caso que eu mencionei que acabou criando a precedência contra discriminação racial nos EUA, os trabalhadores eram primeiramente rejeitados por raça, mas quando isso foi proibido, inventaram de exigir ensino médio - não exigido antes e não necessário para o serviço; no outro caso citado pelo Tim Wise dos currículos com nomes tipicamente afro-americanos, mesmo com qualificações idênticas terem 15% menos de chance de serem chamados para uma entrevista, etc. São coisas averiguáveis, não é algo tão abstrato e questionável quanto um estilo de desenho.
Como não é abstrato? É só uma estatística.
Vai fazer o que, vai generalizar e dizer que todos fazem isso?
Ou vai procurar alguns que estão nas estatísticas, e esperar que eles não se defendem com argumentos como "usamos métodos arbritários e esses números são por um acaso" ou "eu contratei estes porque conheço a família"?

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Herf
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Mensagem por Herf »

As empresas privadas não são como paisinhos particulares. Elas existem dentro do estado, possibilitadas por ele, e o estado "é de todos"

Dar aos proprietários uma grande autonomia sobre suas posses, incluindo definir a quem ele vai ou não prestar serviços, não implica em que então se poderá assassinar pessoas ou comer criancinhas lá dentro e ficar impune, não significa que se tratará de um "paisinho particular". Isso é exagero.

ao mesmo tempo, os compradores e clientes também de certa forma mantém uma empresa. Se não tem clientes, a empresa vai a falência. Se a empresa tem a sociedade de forma "geral" como clientes, e não apenas uma parte muito seleta que a sustenta, não faz sentido discriminar como empregados uma parte da população de forma "maluca". Bem, na verdade não faria sentido de nenhuma forma, mas ao menos seria mais defensável.

Sim, claro, um cliente ajuda a manter uma empresa. Mas isso não é o mesmo que você ajudar a manter uma propriedade pública. Quando eu contrato um empresa privada eu o faço voluntariamente. E recebo o serviço em troca. Não há motivo para que eu tenha algum direito político sobre a empresa pelo simples fato de comprar dela. Já a propriedade pública eu mantenho na marra, sou obrigado a pagar impostos.


Eu acho que o direito do cidadão de não ser discriminado deve se sobrepor ao de outro de discriminar nesse tipo de coisa.

Penso que falar em "direito de não ser discriminado por particulares" é algo como falar em "direito de ter os contratos fechados/as propostas aceitas a qualquer custo" (por "discriminar" entenda qualquer forma de discriminação possível, e não apenas os casos de discriminação por critérios raciais e/ou religiosos, que são os que mais nos causam revolta, porém nada possuem de diferente de uma seleção por um outro critério altamente pessoal como simplesmente simpatizar mais com esta pessoa do que com aquela, ou mesmo no caso onde um doutor em física quântica seja preferido em uma seleção de emprego mesmo que seu título em nada acrescente no desempenho da função para que foi contratado).

Eu não sei se seria tão inviável assim esse tipo de fiscalização (não que eu tenha a fórmula perfeita já imaginada), mas imagino que não seja lá tão diferente em termos de viabilidade de se ter um selo do ministério da agricultura e etc. Uma coisa que eu penso é que poderia ser algo meio "esparso", meio como blitzes eventuais mais ou menos aleatórias, exceto quando houver denúncias bem embasadas. Isso deve dar um tipo de efeito "psicológico" nas políticas de admissão, pressionando para que não haja discriminação muito mais eficientemente do que o consumidor poderia fazer.

A única forma de se ter certeza sobre quais critérios uma pessoa usa para discriminar outras é essa pessoa dizê-los. Qualquer outra forma de condenação por parte dessa polícia especializada seria na base do achismo.

Não é só pela imagem negativa que a empresa racista adquiriria entre os consumidores, mas também pela necessidade que a empresa tem de colocar a eficiência e o potencial de consumo das pessoas em primeiro plano que o mercado força em favor de uma empresa não-racista. A impessoalidade inerente ao sistema capitalista é muito vantajosa. O que gera lucro é a eficiência do funcionário, não sua cor ou credo. Logo, qualquer um que coloque critérios idiotas na frente da eficiência acaba prejudicado. O mesmo para uma empresa que se restrinja a vender a pessoas de uma etnia ou religião.

Leo
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Re: Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por Leo »

Ilovefoxes escreveu:...Vocês estão sendo moralistas...


O preocupante é quando isso se torna o problema.

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zumbi filosófico
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Mensagem por zumbi filosófico »

Ilovefoxes escreveu:
As empresas privadas não são como paisinhos particulares. Elas existem dentro do estado, possibilitadas por ele, e o estado "é de todos"; ao mesmo tempo, os compradores e clientes também de certa forma mantém uma empresa. Se não tem clientes, a empresa vai a falência. Se a empresa tem a sociedade de forma "geral" como clientes, e não apenas uma parte muito seleta que a sustenta, não faz sentido discriminar como empregados uma parte da população de forma "maluca". Bem, na verdade não faria sentido de nenhuma forma, mas ao menos seria mais defensável.
Isso tem nome: estatizar. Aliás, estatizar de forma tirânica.


Não é estatizar mais do que não permitir trabalho infantil, pedofilia, etc, dentro de propriedades privadas. Como eu disse, propriedades privadas não são paisinhos com suas próprias leis.



Em uma democracia, isso é ridículo. Não é o consumidor que decide o que será vendido, são as empresas. O que cabe é o consumidor é aceitar ou se recusar a comprar. Aí que entre o caso dos clientes manterem as empresas.


Eu não estou dizendo que é o governo ou os consumidores que decidem todos os detalhes possíveis de qualquer negociação imaginável.

O estado proíbe as pessoas de fazerem sexo com bebês, crianças e adolescentes menores de 14 anos, se não me engano, mas não determina com quem você fará sexo, por exemplo; no caso de discriminação no trabalho, o estado também determina que não deve haver trabalho infantil, ou que não se deve vender bebidas alcoólicas e pornografia para crianças, ou que armas e munição devem ser vendidos para quem tem licensa, mas não precisa "logo" determinar "tudo", que algumas pessoas devem comprar e exatamente o que se deve vender.

É possível fazer regulações lógicas num nível consideravelmente mínimo que lide com algumas questões que se considere importantes, como direitos das crianças e das pessoas de modo geral - incluindo igualdade racial, sexual e religiosa - sem que isso implique que o estado tem que determinar todos os detalhes possíveis de negociações.

E igualmente pode até proteger direitos mais legítimos dos empresários, sem que necessariamente implique em ser algum tipo de institucionalização legal de cartéis e monopólios tirânicos que parasitam a sociedade.

Estão cometendo o tempo todo a falácia do declive escorregadio: "se não permitirmos que as pessoas cometam discriminação racial ou sexual não-violenta, logo o estado irá decidir tudo, desde quem devemos empregar, independentemente do nosso desejo de empregar de modo geral, até as nossas relações pessoais, com quem fazemos amizades e com quem casamos, com quem temos filhos, etc".




Eu não sei se seria tão inviável assim esse tipo de fiscalização (não que eu tenha a fórmula perfeita já imaginada), mas imagino que não seja lá tão diferente em termos de viabilidade de se ter um selo do ministério da agricultura e etc. Uma coisa que eu penso é que poderia ser algo meio "esparso", meio como blitzes eventuais mais ou menos aleatórias, exceto quando houver denúncias bem embasadas. Isso deve dar um tipo de efeito "psicológico" nas políticas de admissão, pressionando para que não haja discriminação muito mais eficientemente do que o consumidor poderia fazer.
Tá, e essas blitz vão flagrar o que? Uma seguradora dizendo "não" para uma pessoa?


Eu descrevi melhor num trecho mais adiante como talvez pudesse ser.



Como isso pode ser "non sequitur"?
Assim, veja a falta de concordância no que você escreve:
Eu vejo como moralmente, idealmente melhor tentar acabar com todo esse tipo de discriminações, mas se é tão inviável assim, chego a considerar que talvez cotas de diversos tipos, talvez sociais, raciais, sexuais e etc, promovidas pelo estado (podendo ser em instituições estatais mesmo, mas preferencialmente via vouchers), talvez sejam mesmo uma solução razoável.
Seria como dizer: fulano foi absolvido por ser legítima defesa, logo qualquer gênero de violência é aceitável.
Uma coisa não tem relação com a outra.

Bem, "uma coisa não tem nada a ver com a outra" digo eu. Não entendi a relação aí.

Eu vejo diversos problemas com cotas, sou contra elas, mas me parece lógico que se queremos tornar as coisas menos injustas para parte da população, que é injustiçada através de favoritismo a outras em processos pseudo-seletivos, processos que se supõe não se poder (ou moralmente dever) combater diretamente, um jeito de contornar isso seria proporcionalmente tentar favorecer a uma parte da população desfavorecida nesses processos.

Se escolas preferem dar vagas para meninos, e então o governo poderia algum incentivo a uma admissão menos preferencial, tornando mais igual a admissão de ambos os sexos.





Quando o estado decide quem está apto ou não para os negócios da empresa é estatizar.


"quando o estado decide que uma lanchonete está bem limpa e pode funcionar, é estatizar". :emoticon61:
Você não sabe a diferença ou finge que não faz pois não quer dar o braço a torcer?


Você vê as diferenças onde lhe agrada para defender o que quer defender. Pessoas mais libertárias de fato defendem que não deve ter coisas como vigilância sanitária, e você mesmo nesse tópico, se não me engano, defendeu que não deve ter nada como FDA ou ministério da saúde. :emoticon61:




Como o estilo de desenho é algo bastante subjetivo, não acho que houvesse margem para questionamento objetivo de terceiros, diversas outras coisas poderiam ser assim também.

Mas no exemplo específico do cara rejeitado pela companhia de seguros alegadamente por problemas de saúde, eles tinham é que tomar um puta de um processo, bem como o médico que fraudou o exame para ocultar a discriminação genética, desde que constatado que, fora esse gene, o cara está nas mesmas condições de saúde rotineiramente aceitas.
Isso é mais subjetivo ainda.
A razão pelo qual uma seguradora escolhe alguém, varia desde a pessoa ter atividades perigosas em até a aparência física de alguém. Ou a pessoa pode mudar suas atividades em certo período. Seria uma discussão sem fins em tribunais e não terminaria em nada.

Mas por exemplo, para contratar alguém, é muito menos subjetivo que ambos os casos, é mais fácil avaliar diplomas do que exames médicos. Só que nem tudo se resume a um diploma, da mesma forma que uma segurado não se resume a um exame médico.


Você está fazendo uma enorme enrolação aí, mas continua sendo fato que se fulano está em plena forma, e o seguro o rejeita por um laudo médico fajuto dizendo que ele está em má forma, me parece perfeitamente razoável que o cara consiga outros exames médicos, feitos por médicos que não tem esse interesse em fraudar o exame, e conteste legalmente essa decisão, provando que esse motivo para exclusão é inválido.

Quanto a outras situações, mesmo que nem tudo se resuma a diploma, não é inconcebível que haja um modo de averiguar se pode estar havendo discriminação indevida - como racial.



No caso de contratar alguém, a defesa seria de que ele decide quem quer contratar, porque o negócio é dele. Não daria para alegar que a função dele é "fornecer cargos ao povo".


Eu nunca disse que a função dos contratantes é "fornecer cargos ao povo". Isso não é implícito a partir da premissa que se deveria coibir a discriminação racial, sexual, etc, no emprego.



Só que na sua imaginação, uma seguradora é uma empresa de caridade.


Não, isso é no espantalho da sua imaginação.




Outras áreas de atividade também podem ter medidas consideravelmente objetivas, como por exemplo, no caso que eu mencionei que acabou criando a precedência contra discriminação racial nos EUA, os trabalhadores eram primeiramente rejeitados por raça, mas quando isso foi proibido, inventaram de exigir ensino médio - não exigido antes e não necessário para o serviço; no outro caso citado pelo Tim Wise dos currículos com nomes tipicamente afro-americanos, mesmo com qualificações idênticas terem 15% menos de chance de serem chamados para uma entrevista, etc. São coisas averiguáveis, não é algo tão abstrato e questionável quanto um estilo de desenho.
Como não é abstrato? É só uma estatística.


Ferramentas estatísticas diversas têm o poder de dizer com elevado grau de segurança se algo é por acaso ou não; estatísticas são usadas em decisões médicas e em diversas outras áreas, não são só como malabarismos com números que não significam nada.



Vai fazer o que, vai generalizar e dizer que todos fazem isso?


Não. Eu nunca disse nada no sentido de que todos os empregadores fazem discriminações raciais, sexuais, etc, indevidas, muito menos que deveriamos generalizar a partir de um caso e dizer que todos fazem isso. Eu simplesmente não tenho idéia do que está se passando na sua cabeça para fazer uma pergunta dessas.



Ou vai procurar alguns que estão nas estatísticas, e esperar que eles não se defendem com argumentos como "usamos métodos arbritários e esses números são por um acaso" ou "eu contratei estes porque conheço a família"?


Mais ou menos isso, na verdade as estatísticas seriam feitas a partir dos dados de cada empresa, e possivelmente teria como se saber com um bom grau de segurança se estariam havendo discriminações indevidas; a empresa poderia se defender da acusação de diversas maneiras, uma delas sendo provar qual teria sido o critério real, o que não é impossível, mesmo que aleguem algo estapafúrdio como grafologia ou astrologia, que deveriam, apesar de serem pseudociências, determinar padrões (como haver uma rejeição significativa de pessoas com o mesmo signo e ascendente, etc, independentemente de raça ou sexo).
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zumbi filosófico
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Mensagem por zumbi filosófico »

Procedure escreveu:
As empresas privadas não são como paisinhos particulares. Elas existem dentro do estado, possibilitadas por ele, e o estado "é de todos"

Dar aos proprietários uma grande autonomia sobre suas posses, incluindo definir a quem ele vai ou não prestar serviços, não implica em que então se poderá assassinar pessoas ou comer criancinhas lá dentro e ficar impune, não significa que se tratará de um "paisinho particular". Isso é exagero.


E de forma similar, proibir critérios racistas não implica em tirar toda autonomia dos empresários, o governo decidindo as políticas de contratações, obrigando a contratar mesmo que não tenha vagas nem planos de contratação e etc.






ao mesmo tempo, os compradores e clientes também de certa forma mantém uma empresa. Se não tem clientes, a empresa vai a falência. Se a empresa tem a sociedade de forma "geral" como clientes, e não apenas uma parte muito seleta que a sustenta, não faz sentido discriminar como empregados uma parte da população de forma "maluca". Bem, na verdade não faria sentido de nenhuma forma, mas ao menos seria mais defensável.

Sim, claro, um cliente ajuda a manter uma empresa. Mas isso não é o mesmo que você ajudar a manter uma propriedade pública. Quando eu contrato um empresa privada eu o faço voluntariamente. E recebo o serviço em troca. Não há motivo para que eu tenha algum direito político sobre a empresa pelo simples fato de comprar dela. Já a propriedade pública eu mantenho na marra, sou obrigado a pagar impostos.


Acho que é uma forma de ver as coisas na maior parte do tempo correta, mas também perde alguns pontos que podem ser importantes por simplificação. Ou talvez eu esteja quase que "criando" esses pontos onde não precisasse para ir de acordo com o que eu acredito que seja melhor, o que inclui diminuir ao máximo serviços públicos...

O ponto principal é que acho que as empresas não tem exatamente os mesmos direitos que os indivíduos, os deveres da empresa se sobrepõem a alguns direitos individuais dos empresários (dentro dessa esfera profissional).

Uma pessoa que more sozinha, teoricamente poderia viver na maior imundice; mas já uma empresa teria que ter condições de trabalho não prejudicassem a saúde dos empregados, por exemplo, não é como o "direito de viver na sujeira que quiser, porque a casa é minha".

De forma similar, o direito de contratar por quaisquer critérios por mais descabidos que sejam, não é uma extensão do critério de convidar quem quiser para entrar em casa.

É algo que afeta muito mais a sociedade do que os círculos de amizades e coisas do tipo, algo sobre o qual é importante para uma sociedade que visa ser democrática (usando o termo aqui como mais do que mero "enfeite" como acho que é usado em 95% das vezes em discussões do tipo) regular de forma a evitar que essa diferença de poder prejudique a sociedade. Me parece uma parte importante do "contrato social".

Sem esse tipo de regulação (que é mínima), a democracia se corrompe em parte, se aproximando de pluto e oligarquia, ou simplesmente de coisas mais "desumanas" como uma sociedade que permite trabalho infantil ser da mesma forma que o "adulto".







Eu acho que o direito do cidadão de não ser discriminado deve se sobrepor ao de outro de discriminar nesse tipo de coisa.

Penso que falar em "direito de não ser discriminado por particulares" é algo como falar em "direito de ter os contratos fechados/as propostas aceitas a qualquer custo" (por "discriminar" entenda qualquer forma de discriminação possível, e não apenas os casos de discriminação por critérios raciais e/ou religiosos, que são os que mais nos causam revolta, porém nada possuem de diferente de uma seleção por um outro critério altamente pessoal como simplesmente simpatizar mais com esta pessoa do que com aquela, ou mesmo no caso onde um doutor em física quântica seja preferido em uma seleção de emprego mesmo que seu título em nada acrescente no desempenho da função para que foi contratado).


Nessa discussão toda, geralmente subentende-se que "discriminação" é específica a discriminações como raciais, sexuais e religiosas, não que toda e qualquer pessoa deva ser vista como exatamente igual, não está se falando que empregadores não podem discriminar quanto ao que for realmente pertinente ao emprego.

Esse tipo de coisa não é indistinguível, pode-se dar como consenso que alguns tipos de discriminação não são de modo geral pertinentes, e proibí-las de forma a proteger os direitos dessas pessoas.







Eu não sei se seria tão inviável assim esse tipo de fiscalização (não que eu tenha a fórmula perfeita já imaginada), mas imagino que não seja lá tão diferente em termos de viabilidade de se ter um selo do ministério da agricultura e etc. Uma coisa que eu penso é que poderia ser algo meio "esparso", meio como blitzes eventuais mais ou menos aleatórias, exceto quando houver denúncias bem embasadas. Isso deve dar um tipo de efeito "psicológico" nas políticas de admissão, pressionando para que não haja discriminação muito mais eficientemente do que o consumidor poderia fazer.

A única forma de se ter certeza sobre quais critérios uma pessoa usa para discriminar outras é essa pessoa dizê-los. Qualquer outra forma de condenação por parte dessa polícia especializada seria na base do achismo.


Não acho que seja tudo tão incerto assim. O Tim Wise por exemplo, disse que há estudos indicando que os currículos com nomes afro-americanos tem 50%-15% menos chance de serem chamados para entrevistas de emprego, sendo um fator mais relevante do que os outros, como a qualificação em si. Esse tipo de coisa definitivamente pode ser mensurada (pode também ser contestada), sem ser mero achismo.

E de forma similar, pode ser estudado em casos particulares, se uma a empresa apresenta esse tipo de padrão.







Não é só pela imagem negativa que a empresa racista adquiriria entre os consumidores, [...]


Isso poderia ser evitado através de sigilo das investigações. Não sabemos de um monte de coisa que se passa pelas investigações policiais.






[...] mas também pela necessidade que a empresa tem de colocar a eficiência e o potencial de consumo das pessoas em primeiro plano que o mercado força em favor de uma empresa não-racista. A impessoalidade inerente ao sistema capitalista é muito vantajosa. O que gera lucro é a eficiência do funcionário, não sua cor ou credo. Logo, qualquer um que coloque critérios idiotas na frente da eficiência acaba prejudicado.


Não necessariamente, na verdade, isso é até bem pouco provável.

Se você é um empresário, e tem um encarregado de decidir diversos empregos ou promoções que é racista - mas você não sabe. A sua empresa pode ir bem, porque, apesar de terem pessoas negras ou asiáticas sendo discriminadas desfavoravelmente, como elas são minorias, a chance é que tenham de sobra brancos para preencher essas vagas com igual ou insignificativamente menor eficiência. E em menor grau, homens numa situação em que mulheres estejam sendo discriminadas.

Mesmo que de alguma forma a eficiência fosse sempre menor (meio improvável, mas mais ou menos válido em casos de poucas contratações-chave), você não tem como comparar os seus números com números hipotéticos de empregados melhores que teriam sido escolhidos se o encarregado disso não fosse racista. Poderia ver a ineficiência de um empregado menos apto como algo mais "natural" do processo, por não ter o referencial.


Não só você, mas os empresários de forma geral, não percebem a diferença, mas disso pode resultar, como alguns estudos apontam, curriculos nomes que soam mais negros tem 15-50% menos chances de terem os donos chamados para entrevistas de empregos. O mercado sozinho não pressiona significativamente para contratações não-racistas.

Outras minorias judeus e asiáticos (ao menos nos EUA) em muitos casos até prefeririam ir mudando de nomes que evidenciam a origem étnica para nomes "americanizados", enquanto negros acabaram optando até por nomes mais "africanizados", o que agravou o problema para muitos deles.



O mesmo para uma empresa que se restrinja a vender a pessoas de uma etnia ou religião.


Esse é o menor problema, e o que acho mais fácil de resolver. Se eu vou em algum mercado e o cara diz que não vai me vender nada, não me quer lá, sem nem dar qualquer justificativa, se não tiver outro mercado por perto, acho que vou a polícia e ele tem que justificar. Não sei, mas acho que as coisas já são assim, de certa forma.
Editado pela última vez por zumbi filosófico em 05 Jan 2008, 19:05, em um total de 2 vezes.
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zumbi filosófico
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Re.: Discriminação genética no mercado deve ser legal?

Mensagem por zumbi filosófico »

Onde é que está o Lefty-Squad quando se precisa deles? Só o André acho que deu as caras por aqui...

É o que dá ser um lone ranger político....
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Herf
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Mensagem por Herf »

zumbi filosófico escreveu:
Procedure escreveu:Dar aos proprietários uma grande autonomia sobre suas posses, incluindo definir a quem ele vai ou não prestar serviços, não implica em que então se poderá assassinar pessoas ou comer criancinhas lá dentro e ficar impune, não significa que se tratará de um "paisinho particular". Isso é exagero.


E de forma similar, proibir critérios racistas não implica em tirar toda autonomia dos empresários, o governo decidindo as políticas de contratações, obrigando a contratar mesmo que não tenha vagas nem planos de contratação e etc.

Mas se é justificável impedir que um critério étnico seja usado para uma contratação pelo fato de a cor da pele em nada interferir na função, por que não haveria de existir a mesma proibição do estado com relação a qualquer outro critério pessoal, como alguém ser contratado para limpar vidros só por que tem um doutorado (totalmente independente da cor)?

Por que privilegiar os critérios étnicos e mesmo os religiosos?

A única forma de ser plenamente coerente seria o estado ditar os critérios que deveriam ser usados para contratação de todo o tipo de profissional, "estatizar" as contratações em meio privado.

O ponto principal é que acho que as empresas não tem exatamente os mesmos direitos que os indivíduos, os deveres da empresa se sobrepõem a alguns direitos individuais dos empresários (dentro dessa esfera profissional).

Uma pessoa que more sozinha, teoricamente poderia viver na maior imundice; mas já uma empresa teria que ter condições de trabalho não prejudicassem a saúde dos empregados, por exemplo, não é como o "direito de viver na sujeira que quiser, porque a casa é minha".

De forma similar, o direito de contratar por quaisquer critérios por mais descabidos que sejam, não é uma extensão do critério de convidar quem quiser para entrar em casa.

E por que não? Trata-se de uma relação entre duas partes, apenas. Por que diferenciar esta relação só porque ela visa a obtenção de renda?

Sem esse tipo de regulação (que é mínima), a democracia se corrompe em parte, se aproximando de pluto e oligarquia, ou simplesmente de coisas mais "desumanas" como uma sociedade que permite trabalho infantil ser da mesma forma que o "adulto".

Não vejo como isso se aproxima de um regime em que se permita o trabalho de crianças. Dar condições especiais às crianças é algo que defendo como universal, assim como leis que impedem o assassinato. Ou seja: ninguém deve ter o poder de negar essas leis mesmo dentro de suas propriedades. Pode-se dissociar o caso de não querer contratar um branco/negro/índio do trabalho infantil ou outras coisas.

Esse tipo de coisa não é indistinguível, pode-se dar como consenso que alguns tipos de discriminação não são de modo geral pertinentes, e proibí-las de forma a proteger os direitos dessas pessoas.

Na verdade, eu me referia a todo o tipo de discriminação por critérios que não possuam relação com a função a ser desempenhada. Não há porque privilegiar certos tipos de discriminação (étnica, religiosa e sexual) em detrimento de outros (simpatizar mais com um candidato do que com outro, ou o caso do limpador de vidros com curso superior).

A única forma de se ter certeza sobre quais critérios uma pessoa usa para discriminar outras é essa pessoa dizê-los. Qualquer outra forma de condenação por parte dessa polícia especializada seria na base do achismo.


Não acho que seja tudo tão incerto assim. O Tim Wise por exemplo, disse que há estudos indicando que os currículos com nomes afro-americanos tem 50%-15% menos chance de serem chamados para entrevistas de emprego, sendo um fator mais relevante do que os outros, como a qualificação em si. Esse tipo de coisa definitivamente pode ser mensurada (pode também ser contestada), sem ser mero achismo.

E de forma similar, pode ser estudado em casos particulares, se uma a empresa apresenta esse tipo de padrão.

De qualquer forma, não estaria o contratante em seu direito se afirmasse simplesmente que achou aqueles funcionários mais adequados às propostas da empresa? Ou deveria também dizer os motivos pelos quais os achou mais adequados? Não seria ridiculamente fácil ele mentir a respeito dizendo que achou que aqueles eram "mais simpáticos"? E se ele de fato não foi racista?

Veja só a quantidade de burocracia e de interferência do estado que seria necessária só para se provar que o sujeito não é racista.

Perceba que se não aceitarmos o "ir com a cara"/"achar mais simpático" como um critério válido de contratação em meio privado, então não será um declive escorregadio afirmar que o estado poderia criar uma lei contendo todas as atividades laborais existentes e os critérios que poderão ser usados para que se contrate em cada uma delas. Não será um declive escorregadio pois os fiscais, ao se deparar com uma empresa, teriam de analisar os currículos de todos os candidatos (que também deveriam seguir um padrão) que ali passaram e verificar se eles batem com o que é exigido para aquela atividade. O que é exigido para uma atividade não pode ficar a arbítrio do fiscal. Seria absolutamente necessário, então, que ele se baseasse nos mais rigorosos critérios: tal atividade deve exige tal e tal qualificação, nada mais. Se os candidatos contratados foram aqueles cujos currículos mais bateram com essas exigências, então a empresa passa. Senão, podemos afirmar que o contratante agiu de modo discriminatório (no mau sentido).

Não é só pela imagem negativa que a empresa racista adquiriria entre os consumidores, [...]


Isso poderia ser evitado através de sigilo das investigações. Não sabemos de um monte de coisa que se passa pelas investigações policiais.

Na verdade, eu me referi à imagem de uma empresa que assumidamente faz uso de critérios racistas. Ela teria sua imagem bastante abalada se isso fosse permitido. Usei isso na argumentação de que o mercado "força" em direção a uma empresa não-racista em um lugar que não possua leis a respeito.

Não necessariamente, na verdade, isso é até bem pouco provável.
Se você é um empresário, e tem um encarregado de decidir diversos empregos ou promoções que é racista - mas você não sabe. A sua empresa pode ir bem, porque, apesar de terem pessoas negras ou asiáticas sendo discriminadas desfavoravelmente, como elas são minorias, a chance é que tenham de sobra brancos para preencher essas vagas com igual ou insignificativamente menor eficiência. E em menor grau, homens numa situação em que mulheres estejam sendo discriminadas.

Mesmo que de alguma forma a eficiência fosse sempre menor (meio improvável, mas mais ou menos válido em casos de poucas contratações-chave), você não tem como comparar os seus números com números hipotéticos de empregados melhores que teriam sido escolhidos se o encarregado disso não fosse racista. Poderia ver a ineficiência de um empregado menos apto como algo mais "natural" do processo, por não ter o referencial.


Não só você, mas os empresários de forma geral, não percebem a diferença, mas disso pode resultar, como alguns estudos apontam, curriculos nomes que sooam mais negros tem 15-50% menos chances de terem os donos chamados para entrevistas de empregos. O live-mercado não pressiona significativamente para contratações não-racistas.

Outras minorias judeus e asiáticos (ao menos nos EUA) em muitos casos até prefeririam ir mudando de nomes que evidenciam a origem étnica para nomes "americanizados", enquanto negros acabaram optando até por nomes mais "africanizados", o que agravou o problema para muitos deles.

Realmente, é uma possibilidade no caso de o grupo discriminado ser uma minoria.

Trancado