Ilovefoxes escreveu:As empresas privadas não são como paisinhos particulares. Elas existem dentro do estado, possibilitadas por ele, e o estado "é de todos"; ao mesmo tempo, os compradores e clientes também de certa forma mantém uma empresa. Se não tem clientes, a empresa vai a falência. Se a empresa tem a sociedade de forma "geral" como clientes, e não apenas uma parte muito seleta que a sustenta, não faz sentido discriminar como empregados uma parte da população de forma "maluca". Bem, na verdade não faria sentido de nenhuma forma, mas ao menos seria mais defensável.
Isso tem nome: estatizar. Aliás, estatizar de forma tirânica.
Não é estatizar mais do que não permitir trabalho infantil, pedofilia, etc, dentro de propriedades privadas. Como eu disse, propriedades privadas não são paisinhos com suas próprias leis.
Em uma democracia, isso é ridículo. Não é o consumidor que decide o que será vendido, são as empresas. O que cabe é o consumidor é aceitar ou se recusar a comprar. Aí que entre o caso dos clientes manterem as empresas.
Eu não estou dizendo que é o governo ou os consumidores que decidem todos os detalhes possíveis de qualquer negociação imaginável.
O estado proíbe as pessoas de fazerem sexo com bebês, crianças e adolescentes menores de 14 anos, se não me engano, mas não determina com quem você fará sexo, por exemplo; no caso de discriminação no trabalho, o estado também determina que não deve haver trabalho infantil, ou que não se deve vender bebidas alcoólicas e pornografia para crianças, ou que armas e munição devem ser vendidos para quem tem licensa, mas não precisa "logo" determinar "tudo", que algumas pessoas devem comprar e exatamente o que se deve vender.
É possível fazer regulações lógicas num nível consideravelmente mínimo que lide com algumas questões que se considere importantes, como direitos das crianças e das pessoas de modo geral - incluindo igualdade racial, sexual e religiosa - sem que isso implique que o estado tem que determinar todos os detalhes possíveis de negociações.
E igualmente pode até proteger direitos mais legítimos dos empresários, sem que necessariamente implique em ser algum tipo de institucionalização legal de cartéis e monopólios tirânicos que parasitam a sociedade.
Estão cometendo o tempo todo a falácia do declive escorregadio: "se não permitirmos que as pessoas cometam discriminação racial ou sexual não-violenta, logo o estado irá decidir tudo, desde quem devemos empregar, independentemente do nosso desejo de empregar de modo geral, até as nossas relações pessoais, com quem fazemos amizades e com quem casamos, com quem temos filhos, etc".
Eu não sei se seria tão inviável assim esse tipo de fiscalização (não que eu tenha a fórmula perfeita já imaginada), mas imagino que não seja lá tão diferente em termos de viabilidade de se ter um selo do ministério da agricultura e etc. Uma coisa que eu penso é que poderia ser algo meio "esparso", meio como blitzes eventuais mais ou menos aleatórias, exceto quando houver denúncias bem embasadas. Isso deve dar um tipo de efeito "psicológico" nas políticas de admissão, pressionando para que não haja discriminação muito mais eficientemente do que o consumidor poderia fazer.
Tá, e essas blitz vão flagrar o que? Uma seguradora dizendo "não" para uma pessoa?
Eu descrevi melhor num trecho mais adiante como talvez pudesse ser.
Como isso pode ser "non sequitur"?
Assim, veja a falta de concordância no que você escreve:
Eu vejo como moralmente, idealmente melhor tentar acabar com todo esse tipo de discriminações, mas se é tão inviável assim, chego a considerar que talvez cotas de diversos tipos, talvez sociais, raciais, sexuais e etc, promovidas pelo estado (podendo ser em instituições estatais mesmo, mas preferencialmente via vouchers), talvez sejam mesmo uma solução razoável.
Seria como dizer: fulano foi absolvido por ser legítima defesa, logo qualquer gênero de violência é aceitável.
Uma coisa não tem relação com a outra.
Bem, "uma coisa não tem nada a ver com a outra" digo eu. Não entendi a relação aí.
Eu vejo diversos problemas com cotas, sou contra elas, mas me parece lógico que se queremos tornar as coisas menos injustas para parte da população, que é injustiçada através de favoritismo a outras em processos pseudo-seletivos, processos que se supõe não se poder (ou moralmente dever) combater diretamente, um jeito de contornar isso seria proporcionalmente tentar favorecer a uma parte da população desfavorecida nesses processos.
Se escolas preferem dar vagas para meninos, e então o governo poderia algum incentivo a uma admissão menos preferencial, tornando mais igual a admissão de ambos os sexos.
Quando o estado decide quem está apto ou não para os negócios da empresa é estatizar.
"quando o estado decide que uma lanchonete está bem limpa e pode funcionar, é estatizar".
Você não sabe a diferença ou finge que não faz pois não quer dar o braço a torcer?
Você vê as diferenças onde lhe agrada para defender o que quer defender. Pessoas mais libertárias de fato defendem que não deve ter coisas como vigilância sanitária, e você mesmo nesse tópico, se não me engano, defendeu que não deve ter nada como FDA ou ministério da saúde.
Como o estilo de desenho é algo bastante subjetivo, não acho que houvesse margem para questionamento objetivo de terceiros, diversas outras coisas poderiam ser assim também.
Mas no exemplo específico do cara rejeitado pela companhia de seguros alegadamente por problemas de saúde, eles tinham é que tomar um puta de um processo, bem como o médico que fraudou o exame para ocultar a discriminação genética, desde que constatado que, fora esse gene, o cara está nas mesmas condições de saúde rotineiramente aceitas.
Isso é mais subjetivo ainda.
A razão pelo qual uma seguradora escolhe alguém, varia desde a pessoa ter atividades perigosas em até a aparência física de alguém. Ou a pessoa pode mudar suas atividades em certo período. Seria uma discussão sem fins em tribunais e não terminaria em nada.
Mas por exemplo, para contratar alguém, é muito menos subjetivo que ambos os casos, é mais fácil avaliar diplomas do que exames médicos. Só que nem tudo se resume a um diploma, da mesma forma que uma segurado não se resume a um exame médico.
Você está fazendo uma enorme enrolação aí, mas continua sendo fato que se fulano está em plena forma, e o seguro o rejeita por um laudo médico fajuto dizendo que ele está em má forma, me parece perfeitamente razoável que o cara consiga outros exames médicos, feitos por médicos que não tem esse interesse em fraudar o exame, e conteste legalmente essa decisão, provando que esse motivo para exclusão é inválido.
Quanto a outras situações, mesmo que nem tudo se resuma a diploma, não é inconcebível que haja um modo de averiguar se pode estar havendo discriminação indevida - como racial.
No caso de contratar alguém, a defesa seria de que ele decide quem quer contratar, porque o negócio é dele. Não daria para alegar que a função dele é "fornecer cargos ao povo".
Eu nunca disse que a função dos contratantes é "fornecer cargos ao povo". Isso não é implícito a partir da premissa que se deveria coibir a discriminação racial, sexual, etc, no emprego.
Só que na sua imaginação, uma seguradora é uma empresa de caridade.
Não, isso é no espantalho da sua imaginação.
Outras áreas de atividade também podem ter medidas consideravelmente objetivas, como por exemplo, no caso que eu mencionei que acabou criando a precedência contra discriminação racial nos EUA, os trabalhadores eram primeiramente rejeitados por raça, mas quando isso foi proibido, inventaram de exigir ensino médio - não exigido antes e não necessário para o serviço; no outro caso citado pelo Tim Wise dos currículos com nomes tipicamente afro-americanos, mesmo com qualificações idênticas terem 15% menos de chance de serem chamados para uma entrevista, etc. São coisas averiguáveis, não é algo tão abstrato e questionável quanto um estilo de desenho.
Como não é abstrato? É só uma estatística.
Ferramentas estatísticas diversas têm o poder de dizer com elevado grau de segurança se algo é por acaso ou não; estatísticas são usadas em decisões médicas e em diversas outras áreas, não são só como malabarismos com números que não significam nada.
Vai fazer o que, vai generalizar e dizer que todos fazem isso?
Não. Eu nunca disse nada no sentido de que todos os empregadores fazem discriminações raciais, sexuais, etc, indevidas, muito menos que deveriamos generalizar a partir de um caso e dizer que todos fazem isso. Eu simplesmente não tenho idéia do que está se passando na sua cabeça para fazer uma pergunta dessas.
Ou vai procurar alguns que estão nas estatísticas, e esperar que eles não se defendem com argumentos como "usamos métodos arbritários e esses números são por um acaso" ou "eu contratei estes porque conheço a família"?
Mais ou menos isso, na verdade as estatísticas seriam feitas a partir dos dados de cada empresa, e possivelmente teria como se saber com um bom grau de segurança se estariam havendo discriminações indevidas; a empresa poderia se defender da acusação de diversas maneiras, uma delas sendo provar qual teria sido o critério real, o que não é impossível, mesmo que aleguem algo estapafúrdio como grafologia ou astrologia, que deveriam, apesar de serem pseudociências, determinar padrões (como haver uma rejeição significativa de pessoas com o mesmo signo e ascendente, etc, independentemente de raça ou sexo).