[center]O QUE OS BRASILEIROS PENSAM DOS ATEUS[/center]
Não sei se essa matéria da Revista Veja já havia sido registrada aqui no Fórum. Estive de férias em Dezembro e neste período não acessei o Fórum. De qualquer forma, a mesma é recente e retrata um pouco do que Richard Dawkins ( Ateu ), Francis Collins ( Teísta ) e Sam Harris ( Ateu ), evidenciam, procurando, cada um e a seu modo, defender seus pontos de vista. Aqui vai apenas um resumo.

No maior país católico do planeta, no país do sincretismo religioso, no país onde católico tem benzedeira e evangélicos vão a sessões espíritas, num país que alega num misto de gracejo e esperança, ser a terra natal de Deus, quase nada é pior do que ser ateu.
Uma pesquisa encomendada pela Veja, realizada pelo CNT/Sensus, mostra que 84% dos brasileiros votariam em um negro para Presidente da República, 57% dariam seu voto para uma mulher, 32% aceitariam um gay como Presidente, mas, e perdendo longe, apenas 13% votariam em um candidato ateu. Ser Gay e ateu então, pior que isso, só o capeta.
O levantamento mostra que, entre os grupos populacionais que se convencionou chamar de minorias – racial, sexual ou de gênero – a minoria mais rejeitada é a religiosa ou anti-religiosa. No Brasil de São Frei Galvão, portanto, ser religioso é mais que uma marca nacional. Chega a ser, informa a pesquisa, um imperativo social.

Nova Ibiá, no interior da Bahia, 59,85% de seus habitantes são sem religião ( Não confundir com ateus ) e passou a conviver com o estigma de ser a cidade que menos possui filiação religiosa. Alguns até resumem ( erradamente ) a cidade com ateísta.
Desde então, a obsessão de Nova Ibiá é livrar-se do estigma do ateísmo. “Conheço dois ou três ateus e é só!”, diz Raimundo Santana, Bispo da Igreja Batista. “Não acredito nisso", reforça o Padre Albervan da Silva Cruz. “A cidade mais atéia? Não acredito nisso!” sentencia o Prefeito José Murilo Nunes, meio constrangido.

VADE-RETRO, ATEU
Uma pesquisa CNT/Sensus revela que 6 de cada 10 JAMAIS votariam, sob nenhuma circunstância, em um candidato ateu para o Palácio do Planalto.
Os números da fé no Brasil talvez sirvam como explicação para dois fenômenos. Explicam a resistência da religiosidade em um mundo marcado pela descrença e, ao mesmo tempo, o notável preconceito da maioria dos brasileiros em relação aos ateus. Faz sentido rejeitar alguém apenas porque não acredita em Deus?
“Faz todo o sentido”, afirma a historiadora Eliane Moura, Professora da Universidade de Campinas, e especialista em Religião, ela própria, uma atéia. “O brasileiro ainda entende o ateu como alguém sem caráter, sem ética, sem moral”. É um entendimento que parece espalhar-se de modo mais ou menos homogêneo por todas as classes sociais.

Os Sem fé crescem, mas são poucos. Em números absolutos, o Brasil tinha 12,5 milhões de pessoas sem religião em 2000, um total superior à população atual de Cuba ou Portugal. Entre as capitais, Salvador é disparado, a que possui o maior contingente de pessoas sem religião, e Vitória-ES, o menor. O Rio de Janeiro é o Estado menos católico e simultaneamente tem o maior pelotão de sem-religião.
Também é certo que que boa parte dos católicos está virando neopentecostal. Nas últimas duas décadas, a queda acentuada de católicos correspondeu a uma alta igualmente acentuada de evangélicos – em especial da Igreja Universal do reino de Deus que, sendo uma voraz sugadora de fiéis e dízimos, transformou-se em potência divina e comercial.

Ainda que sua história seja pouco conhecida, o ateísmo nasceu junto com com a primeira religião, mas só entrou no cardápio das idéias abertamente debatidas com o advento do iluminismo, no século XVIII. Assim como os crente que se dividem em uma miríade de correntes e denominações, os ateus de hoje divergem em muito pontos, mas há alguns consensos. Um deles é que a moralidade não depende das religiões e, portanto, um ateu pode ser ético e bom. A favor deles está a neurociência, cujas descobertas já provaram que até os chipanzés têm noções morais, sentimentos de empatia e solidariedade, e não rezam e nem crêem em Deus.
É verdade que a moralidade não é resultado da religião, mas também não é resultado da sua ausência. Josef Stalin ( 1879 – 1953 ), responsável por vítimas fatais que podem chegar a 20 milhões de soviéticos, dizia-se ateu.

O Filósofo americano Sam Harris, junto com o Biólogo Dawkins, autor de “Deus, um delírio”, é um do mais ativos militantes contra as religiões. Em 2005, nos EUA, ele lançou um Livro “O fim da fé” que ficou mais de 30 semanas na lista dos mais vendidos, segundo o New York Times. Com 91 páginas “Carta a uma Nação Cristã” já lançado no Brasil pela Companhia de letras, é um compêndio em defesa do ateísmo.
É regido por uma linguagem tão cortante e argumentos tão implacáveis que, por vezes, roça o panfletário.

Sam harris diz que :
“... no Brasil é mais fácil crescer o ateismo. O convívio intenso de crenças inconciliáveis deve levar as pessoas a compreenderem que tais crenças são produtos de acidentes históricos, não contingenciais. São criadas pelo homem e, portanto, não são o que pregam ser. Judeus e Cristãos não podem estar ambos certos porque o núcleo de suas crenças é contraditório.
Em qualquer lugar em que os seres humanos façam um esforço honesto para chegar à verdade, nosso discurso transcende o sectarismo religioso.
Se há verdades espirituais ou éticas a serem descobertas, e tenho certeza de que há, elas vão transceder os acidentes culturais e as localizações geográficas. Falando honestamente, este é o único fundamento sobre o qual poderemos erguer uma civilização verdadeiramente global."