O problema duro da consciencia

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mi9
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O problema duro da consciencia

Mensagem por mi9 »

Quanto mais leio menos entendo o assunto :)

Algumas citações:

"Ninguém faz a menor ideia de como uma coisa material pode ter consciencia. Eis o que vale a filosofia da consciencia" Jerry Fodor

Já Dennett defende que é suficiente "uma explicação adequada das faculdades cognitivas em termos funcionais, neurológicos e evolutivos... a isso de resume o problema da consciencia" Keith Sutherland

A pergunta essencial do problema duro é esta:

"Como é possivel que coisas objectivas como as células cerebrais produzam experiencias subjectivas como a sensação de que eu piso a relva, penhasco acima?" Susan Blackmore...

Há muita confusão neste meio. Há aqueles que negam o problema, afirmando que o problema da consciencia é como o problema da vida... é uma questão fisiológica (Patricia e Paul Churchland). Há os misterianos (como Colin Mcginn) que dizem que o problema é transcendente e insoluvel. No meio disto há tipos como Jerry Fodor (funcionalismo) que diz que a consciencia não depende do material onde assenta (o que abre um caminho óbvio a teorias computacionais da mente ...Dennett, Steven Pinker), mas depois escreve artigos atacando os modelos computacionais da mente. Tipos como Roger Penrose ou o filosofo Bill Seager são misterianos como Mcginn... mas são misterianos que vão solucionar o problema duro introduzindo a mecanica quantica, o panpsiquismo, e o diabo a quatro.

No meio desta fauna só um consenso parece unir todos:

Descartes nunca mais :emoticon12:

Mas há quem pense que Descartes ainda pode dizer algo a essa gente:

"O dualismo de descartes é uma das áreas do seu pensamento que é frequentemente incompreendida e mal interpretada. Apesar das criticas descuidadas e pouco escrupulosas, descartes não disse que a pessoa é apenas uma mente, usando um corpo como uma espécie de veiculo temporário (um espírito numa máquina); na verdade negou-o. Em vez disso, cada pessoa é uma complexa combinação de mente e corpo...
Descartes argumenta apenas que é logicamente possivel que a mente e o corpo existam separadamente (algo semelhante a isto é defendido pelo funcionalismo... uma teoria da mente materialista); nada pode ser separado de si próprio, por isso a mente e o corpo não podem ser a mesma coisa. É um argumento subtil e poderoso, que os seus detratores costumam ignorar ou desprezar."
Peter J. King

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Ilovefoxes
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Re.: O problema duro da consciencia

Mensagem por Ilovefoxes »

O problema das crenças, é que assumem que as coisas não vem de onde parecem vir, e sim de lugares mágicas.
Uma fruta está na árvore, você só viu frutas em árvores. Como o índio não viu evidência de nenhuma outra coisa, ele deveria de assumir que frutas vem das árvores.

Então, a mente está no corpo. Porque não dizer que é um subproduto do corpo?
Alguém pode dizer que é complexo demais ou diferente demais, mas a física não funciona assim, por mais estranho que algo pareça para nós.
Um índio também não entende como pode haver algo tão saboroso vindo de folhas sem sabor, ou um alimento pular sem motivo para as mãos deles. Mas a falta de conhecimento sobre como a fruta pode ser como é, não a tornam menos provável de vir da árvore.

mi9
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Mensagem por mi9 »

Estás com os Churchland então. A mente tem o mesmo estatuto da digestão. Mas não confundas as coisas. Colin McGinn, por exemplo, é misteriano e ateu. Não defende a magia sobrenatural. Muita gente simplesmente olha o problema duro e pensa: OWND :)

mi9
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Re.: O problema duro da consciencia

Mensagem por mi9 »

Não percebi a parábola do indio, da folha e do fruto saboroso. Mas parece que tem menos a ver com a árvore e mais a ver com a experiência subjetiva do indio. toda a questão do problema duro não é 'de onde vem... mas como pode ser'

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zencem
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Mensagem por zencem »

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Eu tenho uma idéia, pra consumo interno, de que a mente/consciência, é uma espécie de tela inteligente, interligada com a memória que forma o conhecimento e com as realidades que são enviadas pelos órgãos sensoriais.

A função dessa tela é detalhar e processar essas realidades e arquivá-las na memória, onde se formará o fundo que dará subsídios para a interpretação e compreensão dos desafios inerentes a novas realidades.

Assunto compreendido, assunto metabolizado e arquivado, formando a parte sã da memória, deixando a mente livre, para se dispor a novas experiências.

O que não é compreendido faz parte da memória doente, fornecedora de pensamentos, espécies de bolas de ping-pong que ficam esvoaçando em nosso cérebro como se dissessem: "Estou aquí, compreenda-me, (ou, se possível, me descarte), para que eu não fique aquí, feito zumbí, te azucrinando".

Esta memória doente, e em constante atividade, é que, de forma equivocada, se utiliza dos instintos e forma o "EU", este verme que todos nós carregamos e que pensamos que dirige nossas ações.

Nela, estão contidas, por extensão, todas as falácias, crenças e invenções que criamos, na esperança de que nos tirem deste inferno.

Portanto, está aí o mapa da consciência humana, de uma forma simples e sem jaça, a disposição de psicólogos, psiquiátras e laboratórios.

Não cobro roialtys. :emoticon22:
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


mi9
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Mensagem por mi9 »

O problema duro é outro assunto. Não implica a mente em geral: inteligência, pensamento, memória. Segundo Susan Greenfield, a consciência é mais uma coisa em bruto... que se manifesta com mais propriedade na ausência de pensamento ou recordação.

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zencem
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Mensagem por zencem »

mi9 escreveu:O problema duro é outro assunto. Não implica a mente em geral: inteligência, pensamento, memória. Segundo Susan Greenfield, a consciência é mais uma coisa em bruto... que se manifesta com mais propriedade na ausência de pensamento ou recordação.


Exatamente!

É por isso que eu destaquei a memória sã, que representa o conhecimento, como sendo apenas um arquivo e, portanto, não produz pensamentos.

É essa consciência que é capaz de ficar em estado de observação silenciosa e assim possibilitar a compreensão.

A memoria doente é barulhenta, causa a distração e, por conseguinte, prejudica a função da inteligência.
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


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zencem
Mensagens: 4452
Registrado em: 29 Out 2005, 19:41

Mensagem por zencem »

.
À propósito, Miguel, no que implica esse detalhe da palavra "duro", nesta questão da consciência, ou o que ela quer significar?
Eu entendí, como sólido, consistente, real.
Estou intrigado, porque se não for isso, estou misturando pato com porco, e aí não dá cria mesmo. :emoticon16:
Sócrates, o pai da sabedoria, 470 aC, dizia:

- "Conhece-te a ti mesmo;
O 'Eu' é o caminho (da sabedoria)".


500 anos depois, um cara estragou tudo, tascando essa, num gesto de egolatria e auto-contemplação patológica:

- "EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA".

Deu no que deu !!! ... :emoticon147:


mi9
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Registrado em: 12 Jan 2008, 20:35

Mensagem por mi9 »

Davd Chalmers cunhou o termo. Significa dificil...

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Azathoth
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Re.: O problema duro da consciencia

Mensagem por Azathoth »

Mighell, segue-se a melhor explicação que conheço. Depende do externalismo ativo acerca do conteúdo mental da percepção. É uma idéia que decorreu do externalismo ativo para processos cognitivos:

http://consc.net/papers/extended.html

Dennett já havia proposto isso parcialmente em em Consciousness Explained. Mas o que estou mencionando é mais radical ainda; em nada ajuda para explicar a consciência depender de representações do mundo externo dentro da caixa craniana. O nervo óptico não precisa fazer uma transformação complicada e projetar um bitmap do que você observa no córtice visual.

Uma apresentação já traduzida ilustrando de forma destacante o fenômeno de change blindness previsto por Dennett e amparado de forma experimental por Kevin O'Regan e suas consequências para a filosofia da percepção explicitadas por Alv Noë - teve um usuário que fugiu daqui que estava relutante em estudar isso e compreender suas consequências cruciais ao estudo da consciência:
http://www.ceticismoaberto.com/ciencia/ ... erebro.htm

Kevin O'Regan e Alva Noë - A sensorimotor account of vision and visual consciousness:
http://socrates.berkeley.edu/~noe/oregan.noe.pdf

Alva Noë - Experience without the head:
http://socrates.berkeley.edu/~noe/EWTH.pdf

Alva Noë e Evan Thompson - Are there neural correlates of consciousness?
http://socrates.berkeley.edu/~noe/NCC.pdf

Se isso estiver certo, os neurocientistas seguindo a linha de Francis Crick & Christopher Koch estão dead wrong. Não precisa existir correspondência 1:1 entre os conteúdos da experiência consciente e a dinâmica do cérebro. O córtice visual pode se ocupar com os algoritmos e rotinas de controle dos globos oculares. Os objetos do conteúdo mental consciente podem permanecer onde estão, bem longe do crânio. Essa perspectiva também explica muito melhor por quê ouvir é tão diferente de cheirar e tão diferente de tatear - são sentidos que dependem de conhecimentos muito diferentes da masterização das leis de contingência sensori-motoras.

A abordagem das contingências sensori-motoras é funcionalista por excelência. Acima é o tratamento para o conteúdo mental da percepção, mas com ajustes especulativos já podemos adiantar como podem funcionar para sensações de emoções e para dores.

Não há gap explanatório e não há qualia. Experiência é uma forma ativa de exploração do mundo, é uma habilidade do cérebro, não é um floreio especial sobre o processamento de informação do cérebro.

Bom divertimento.
Imagem

mi9
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Registrado em: 12 Jan 2008, 20:35

Mensagem por mi9 »

Danka Aza. Vou tentar absorver, e se algo surgir depois digo qualquer coisa.

Trancado