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Implantes de silício "ampliarão os sentidos"

Enviado: 10 Jan 2006, 23:34
por Res Cogitans
Implantes de silício "ampliarão os sentidos" humanos, diz cientista

Kevin Warwick diz receber uma média de 20 e-mails por semana de gente interessada em participar da pesquisa

Convencido de que em 50 anos o mundo será dominado pelas máquinas, o professor britânico Kevin Warwick, da Universidade de Reading, falou sobre a ampliação dos sentidos humanos, o uso que os deficientes físicos e amputados podem fazer de sua pesquisa e até das futuras "drogas cibernéticas", que, segundo ele, poderão ser baixadas da internet diretamente no corpo. (CTF)

Folha - Que respostas o senhor busca com sua pesquisa?

Kevin Warwick - Quero saber o que acontece quando o homem e o computador se fundem, quanto de informação artificial a mente suporta, se ela aceita essa informação extra-corpórea com facilidade e também como a entende.

Folha - Quais são seus objetivos finais?

Warwick - Tenho dois. Um é ver meu trabalho sendo aplicado na área médica, com deficientes físicos e amputados, por exemplo, e outro é puramente científico. Quero saber como a mente humana computa sinais artificiais.

Folha - De que forma sua pesquisa pode ajudar deficientes e amputados?

Warwick - Na segunda fase da minha pesquisa, os sinais nervosos que iam para o meu braço foram canalizados para um computador e conseguiram mexer um braço robótico que estava do outro lado do oceano Atlântico. Imagine o que isso pode representar para um paralítico ou uma pessoa que foi amputada e que nunca deixou de produzir os estímulos nervosos.

Folha - A mente humana estaria pronta para receber esses sinais nervosos vindos do computador?

Warwick - Na minha opinião, sim. Foi fantástica a sensação de que minha mente estava entendendo que o que se movia era meu braço mecânico, não o natural. Não tenho dúvidas de que o homem pode ter muito mais do que cinco sentidos e de que a mente pode se adaptar a eles. Se quisermos, poderemos ter uns dez sentidos e perceber muitas coisas que não percebemos hoje em dia.

Folha - Que usos o mundo poderia dar a suas descobertas?

Warwick - No universo militar, por exemplo, os soldados não teriam de estar no campo de batalha para fazer o que se faz lá. Poderiam fazer isso sem sair de casa. No que diz respeito às viagens espaciais, a mesma coisa.

Folha - O senhor tem 51 anos. Existe alguém que queira fazer implantes como os seus? Quem dará continuidade a seu projeto?

Warwick - Que eu saiba, não há ninguém no mundo que queira implantar chips no cérebro em dez anos. No entanto, recebo uma média de 20 e-mails por semana de gente interessada em participar da pesquisa. Em geral, são jovens estudantes de computação que, como eu, querem quebrar barreiras.

Folha - Os humanos correm algum risco?

Warwick - Considero um risco muito grande desenvolver as máquinas na velocidade em que estamos fazendo e não desenvolver o corpo humano ao mesmo tempo. Hoje já temos provas de que não vivemos sem as máquinas. Tente desligar a internet por 24 horas e você verá o caos. Estamos totalmente dependentes delas.

Folha - Os riscos de suas experiências são grandes. O senhor tem consciência disso?

Warwick - Claro. Ninguém, nem eu, sabe onde está pisando no campo que estudo. Ao me conectar à internet, posso acabar recebendo estímulos ruins para mim.

Folha - Vírus?

Warwick - Chamaria de drogas cibernéticas. Sabemos que o cérebro funciona de forma eletroquímica, mas até hoje os remédios são todos químicos. Por que não pode haver remédios eletrônicos? E por que não podem surgir drogas cibernéticas que façam mal? Tudo é arriscado, mas eu não volto atrás.
(Folha de SP, 7/1)