Acauan escreveu:Neste caso, para termos uma discussão minimamente produtiva, sugiro que leia meu texto e tente entender minha proposição sobre fatores determinantes e determinados da identidade, que é o centro de minha tese.
Acabei de ler. Respondi "não" a cada uma das suas duas proposições.
Acauan escreveu:Samael, sem querer ofender, mas depois de repetir mil vezes a mesma coisa, fico com a impressão que falo grego.
A primeira coisa que faço no meu texto "Aborto" é afastar a discussão desta picuinha idiota de se células sexuais são humanos em potencial tanto quanto fetos, por favor leia e verá.
Depois eu não faço regressão arbitrária de até onde seres humanos são ou não são. Faço exatamente o contrário que é uma análise dos fatores determinantes do que se é e do que não se é.
Por fim, antes da fecundação não há qualquer fator de individualidade definido nas células potencialmente constituintes de um ovo.
Cada uma delas pode gerar qualquer ser humano, homem ou mulher, de qualquer nacionalidade ou raça.
A partir do momento da fecundação, não só já estão definidos a maioria dos fatores genéticos que definirão o indivíduo, como boa parte dos fatores sociais decorrentes do sexo, nacionalidade, raça, condição social dos pais, país de nascimento (potencialmente), língua, cultura etc. Ou seja, uma enorme parte do que todos nós seremos, tanto biológica quanto socialmente, se estabelece já no momento da fecundação, coisa absolutamente impensável de se aplicar a um gameta.
Em primeiro lugar, considero mero jogo retórico "considerar seres por teleologia". Primeiro, porque reafirmo que essa teleologia é uma regressão arbitrária, aos gostos de quem está argumentando. Você, no texto, reafirmou o seu ponto da individualidade a partir da fecundação e, daí, da humanidade a partir dessa mesma individualidade.
Segundo um texto que li do Manuel, considerar o material genético como o fator determinante ao ser é determinismo genético, e foi justo isso que li no seu texto, como na passagem em que você diz : "O ovo, embrião ou feto, pelo contrário, não depende de outros elementos e combinações externos a ele próprio para se tornar um ser humano completo, precisando apenas que as condições ambientais para seu desenvolvimento sejam fornecidas."
Ora, se eu disser que as condições normais para um espermatozoide seja se encontrar com um óvulo, fecundá-lo e formar um novo ser, pronto, está feita novamente essa regressão retórica e arbitrária. Com a diferença que eu admitiria a minha.
De resto, concordo com o Procedure. O vir a ser daquilo que não é ainda não me parece suficiente para gerar Direito. No máximo, expectativa de Direito. E nisso o Direito dos pais de escolher se sobrepõem.
Daí, retorno ao "bom senso" que considero bastante justo: o sistema nervoso central define a tutela legal.
Acauan escreveu:O único que vi até agora afirmando e repetindo que teratomas são humanos foi o autor do tópico, que insiste nisto sei lá porque.
No mais, quem nos dá o direito de decretar o que é e o que não é humano, a menos quando isto é óbvio demais para ser sequer discutido, como no caso do teratoma?
É este um ponto chave que é frequentemente ignorado nestas discussões.
Se podemos decretar arbitrariamente que fetos normais e saudáveis não tem direito a vida, porque não fazer o mesmo com deficientes físicos, pessoas em coma ou idosos inválidos?
Dizer que é falsa comparação não muda em nada o fato, pois se não posso usar os mesmos argumentos arbitrários usados para decretar que o feto não tem direito a vida, posso inventar outros argumentos arbitrários para negar o direito de vida daqueles, inclusive usando também justificativas biológicas – ex.: porque não matar todos os portadores de doenças contagiosas de alto risco, salvando assim milhões que morreriam em caso de uma epidemia?
O fato óbvio de um teratoma não ser um ser humano está posto para quem não vê "inserção de humanidade" na fecundação. Eu incluso.
A sua opinião quanto ao teratoma, então, é que o mesmo era um ser humano enquanto embrião mas que perdeu a humanidade enquanto uma contingência abalou suas condições normais e ele se tornou um tumor?
Quanto ao resto, acho que existem pressupostos éticos que protejam os seus exemplos citados. Não que eu ache que a ética se aplique a amontoados de células sem formação nervosa.
Acauan escreveu:Tem proteção legal quem a lei diz que tem proteção legal.
No caso do Brasil, só os fetos gerados por estupro ou que ponham em risco a vida da mãe não tem este direito.
Por mim, deve continuar assim.
Para mim, isso é um absurdo sem tamanho, pois ataca o princípio de igualdade dos seres perante a lei.
Se eu compartilhasse da sua opinião quanto à humanidade de embriões, eu seria totalmente contra a permissão de abortos a fetos fruto de estupros.
Mas compreendo a sua posição. Só não compartilho da mesma.