Após um ano de aprovação da Lei Cidade Limpa, publicidade aumenta em transportes públicos de SP
SÃO PAULO - Com a Lei Cidade Limpa, aprovada em 26 de setembro do ano passado na Câmara Municipal de São Paulo e que retira os outdoors irregulares da cidade desde janeiro deste ano, as peças publicitárias nos transportes públicos da cidade aumentaram e os anunciantes utilizam novas mídias como alternativa. No Metrô, por exemplo, o número de anúncios deve crescer em cerca de 30% em 2007, enquanto, nos três anos anteriores, o aumento era de 20%.
Acostumados com as longas viagens dentro dos transportes públicos, os paulistanos agora dividem espaço com os cartazes e telas nos ônibus e metrôs de São Paulo. O aumento de peças publicitárias já está sendo percebido pela população e é discutido entre empresas de mídia, transporte e urbanistas de São Paulo.
De acordo com a gerente de negócios do Metrô, Renata Lucena, todas as linhas são igualmente procuradas por anunciantes e 80% dos espaços publicitários já foram ocupados. Segundo Renata, a publicidade traz R$ 18 milhões ao ano para a empresa, "que serão investidos para a melhoria das operações no transporte metroviário da cidade”. A instalação de novas mídias é uma idéia antiga que foi colocada em prática a partir da procura de agências por esse espaço em que, “2,8 milhões de consumidores circulam por dia”, como diz a própria propaganda do Metrô.
Há também uma programação televisiva chamada "TV Minuto" que, desde o ano passado, divulga notas e programação cultural da cidade de São Paulo na Linha-2-Verde (Vila Madalena - Vila Prudente).
O controle do conteúdo das peças publicitárias é o mesmo de qualquer outra feito pela Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), responsável pela Lei Cidade Limpa. Não pode ser divulgado, portanto, propagandas de bebidas alcoólicas, político-partidárias e religiosas.
Ônibus
Dentro dos ônibus da cidade, a propaganda é controlada pela Lei Cidade Limpa e, hoje, se restringe às telas da BusTV, uma empresa européia responsável pela programação e administração de monitores instalados nos coletivos.
Segundo diretor de comunicação da empresa portuguesa, João Coragem, a BusTV funciona desde 2004 na Europa e desde abril deste ano em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Recife e Porto Alegre.
“Nosso principal objetivo é entreter pessoas que ficam muito tempo dentro dos ônibus com notícias leves, que não sejam violentas”, diz o diretor. O conteúdo, principalmente composto por notícias de esportes, cultura, cidadania, música, entrevistas, horóscopo e publicidade, é feito pela própria empresa e específico para cada região.
O gerente de marketing da SPTrans, José Nader, diz que ainda não há cálculos da receita gerada pela publicidade nos ônibus. Hoje, a BusTV já atinge cerca de 150 ônibus dos 8.500 de São Paulo. Nader afirma que o número pode chegar a 2.500 até o ano que vem. “Ainda é uma experiência, mas deve gerar uma receita razoável até o final do ano”, afirma.
Poluição visual
O professor de Comunicação Visual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Issao Minami, acredita que, assim como as ruas e prédios da cidade, os ônibus e o metrô são espaços públicos que devem ser respeitados e melhor planejados. Para ele, “apesar da melhora ocasionada pela Lei Cidade Limpa, ainda existe um estresse visual muito grande”.
O professor afirma que a publicidade no transporte público já alcançou saturação completa e, com isso, não respeita o direito básico de escolha dos passageiros entre ver ou não as propagandas e conteúdos televisivos espalhados pelos ônibus e trens. “O passageiro não pode desligar ou fechar a página, é obrigado a digerir o que essas mídias produzem”, afirma.
Público aprova
A maioria dos passageiros ouvidos pelo Último Segundo aprova a publicidade e o conteúdo informativo divulgado nos meios de transporte. A vendedora Mônica Souza diz que “com tanto prédio e carro feio por aí, as propagandas embelezam os trens”. Gabriela Amaro, secretária, concorda: “As TVs são boas. Ajudam a distrair”.
O estudante de publicidade, Leonardo Fernandes, declara que o metrô “é um bom espaço para anúncios, mas são iguais aos outdoors. Deviam usar o espaço de um jeito mais criativo”. A comerciante Lizete Ogata, que utiliza a Linha-2-Verde do Metrô , diz que “as notícias são muito interessantes. Só não pode ficar com propaganda o tempo todo”.
Lei Cidade Limpa
A Prefeitura de São Paulo regulamentou, através de um decreto publicado no Diário Oficial da Cidade em 6 de dezembro de 2006, a lei que criou o projeto Cidade Limpa. A legislação, que tem como objetivo eliminar a poluição visual em São Paulo, proíbe todo tipo de publicidade externa, como outdoors, painéis em fachadas de prédios, backlights e frontlights. Também ficam vetados anúncios publicitários em táxis e bicicletas. Nos ônibus, so´são permitidos os cartazes em que a propaganda seja voltada para dentro do veículo. Na segunda fase do projeto, o governo exige a inspeção veicular de todos os carros da cidade para combater a poluição do ar.
Uma pesquisa realizada pelo Ibope em julho mostrou que o projeto Cidade Limpa é o mais conhecido da atual administração da capital paulista: 73% dos paulistanos já ouviram falar da lei. Entre os entrevistados, 56% acreditam que a redução da poluição visual deixou a cidade mais bonita e 90% aprovam a continuidade do projeto.
Último Segundo
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