Linux - How "not" to
Enviado: 27 Jan 2008, 11:34
18/11/2002 - 6:11 Cesar Boschetti
Pois é! O mundo Linux está tão infestado de “HOW TOs” que achei que era hora de escrever um “HOW NOT TO”. Essa idéia cristalizou-se depois que saiu na página da InfoGuerra (http://www.infoguerra.com.br) um artigo meu (“Os problemas de uma mudança para Linux”) com algumas críticas à comunidade Linux. O artigo deu margem a tantas interpretações e reações diferentes que resolvi abordar novamente o assunto. A exemplo do primeiro artigo, a intenção é a mesma: dar uma força ao simpático Pingüim e seus amigos.
O maior problema do Pingüim é que seus admiradores, na maioria das vezes, agem como inimigos. De um lado temos o experto que sabe tudo sobre Linux, mas é um zero a esquerda em termos de didática e marketing. De outro lado, temos os fanáticos que só vêm as qualidades do Linux e os defeitos do Windows. Com isso levam o novato a fazer uma idéia completamente errada do que vem a ser esse sistema operacional. O resultado é a decepção do novato. Uma decepção que poderia perfeitamente ter sido evitada, pois só acarreta prejuízos à imagem do Linux e afasta possíveis futuros colaboradores.
Sinto-me muito à vontade para tecer essas críticas e considerações sobre o Pingüim e sua família. Sou um novato e tenho certeza de que falo em nome de um grande número de possíveis e futuros usuários-colaboradores. A primeira coisa que não deve ser dita a um novato é que o Linux é uma maravilha. Isso é uma grande mentira que o novato logo irá perceber. Maldizer o Windows também é algo que não traz benefício algum ao Linux. O novato logo irá descobrir que o Windows, apesar dos “enormes” defeitos que lhe imputam, se instala e roda em quase qualquer máquina. Abusando um pouco da linguagem figurada, minha experiência (como novato em Linux e macaco velho em Windows) me leva a vislumbrar maiores chances de fazer o Windows ME rodar em um velho XT que um Debian em um Pentium 100 com placa-mãe sem pedigree.
Evidentemente, estou falando de um ambiente de trabalho gráfico, com alta resolução, ampla gama de cores e, acima de tudo, amigável. Os expertos em Linux precisam entender que o novato que está migrando do Windows para o Linux, ou apenas tentando conhecer o sistema do Pingüim está a procura de uma opção e não com saudades do MS-DOS 3.0. É um absurdo, uma verdadeira aberração de marketing, o experto querer cativar o novato com explicações sobre as qualidades do editor VI, a flexibilidade da linha de comando e as vantagens do navegador Lynx. É claro que tudo isso pode ser verdade em determinadas situações, mas não se aplica ao usuário comum.
Em primeiríssimo lugar, o novato precisa ser alertado deste aspecto. Não adianta querer dar as explicações depois da decepção. O Linux é preconceituoso. Isso é um fato. Não é qualquer “hardware” que o sistema aceita, pelo menos não de primeira como acontece com o Windows. É aqui que entra em cena um outro aspecto muito mal colocado para os novatos – as distribuições. A existência de um sem número delas é uma faca de dois gumes. Se por um lado dá opções, por outro dificulta, e muito, a escolha, principalmente, para o novato.
Com raras exceções, o experto dirige-se ao novato falando sobre a sua distribuição, como se esta fosse a única ou, por definição e de conhecimento geral, a melhor distribuição do planeta. Com seu entusiasmo fanático, o experto esquece de alertar o novato que, apesar do esforço dos desenvolvedores, existem diferenças entre as distribuições. Mais ainda, essas diferenças não são pequenas e nem acidentais. Elas vão desde a finalidade e facilidade de instalação até a existência ou inexistência e localização de pacotes inteiros na árvore de diretórios. É muito frustrante e angustiante para o novato achar um tutorial que lhe manda editar um determinado arquivo em determinado diretório que só existe na distribuição do autor. O novato é levado a supor que sua distribuição está aleijada e por isso não funciona. Isso é ridículo. Uma total falta de didática e bom senso por parte de quem deveria ajudar ao invés de atrapalhar.
Como um novato teimoso já perdi a conta de quantas distribuições tentei instalar. Já experimentei RedHat, Mandrake, Corel Linux, Slackware, Gnu/Debian, Conectiva, TechLinux, Lybranet, Peanut Linux, WinLinux, Cygwin etc. Tudo começou porque precisei me entender com um antigo sistema NextStep (variante de Unix com kernel Mach) que controla um equipamento em meu laboratório. Esse sistema não existe mais, embora o projeto GnuStep esteja tentando resgatá-lo.
Uma experiência recente que me chamou atenção foi proporcionada pela leitura de um excelente material, “Entendendo e dominando o Linux”, de autoria de Carlos E. Morimoto (http://www.guiadohardware.net). Acredito que todos, novatos e expertos, deveriam ler matérias desse gênero. Os novatos por razões óbvias, o material é claro, objetivo e imparcial. Os expertos têm aí um excelente exemplo de como escrever tutoriais para os novatos. Foi nesse livro que pude entender melhor a diferença entre as distribuições e quais critérios utilizar para efetuar uma escolha compatível com minhas necessidades e disponibilidade de hardware. É pura perda de tempo querer instalar a última versão do RedHat ou do Mandrake em uma máquina modesta. Modesta, neste contexto, deve ser entendido não apenas como uma máquina com limitações de memória e processador, mas principalmente uma máquina com componentes de hardware populares e baratos.
É importante alertar o novato que muitas vezes uma distribuição mais antiga e com versões anteriores do X pode ser mais adequada que a versão atual. Por exemplo, recentemente tentei instalar, pela segunda vez, o Mandrake 8.0 em um Pentium MMX 233MHz com 64MB de RAM e uma placa de vídeo S3Virge com 4MB (placa-mãe Pcchips). Da primeira vez tentei instalar usando o modo iniciante, com o instalador tomando a maioria das decisões. Não funcionou! Na segunda vez, seguindo orientação do livro citado acima, optei pela instalação no modo experto. Para minha surpresa, no final da instalação pode-se optar pelo Xfree86 3.3 ou 4.2. Optei pela versão mais antiga e tudo funcionou muito bem. A razão é a seguinte. O Xfree 3.3 tem muito mais drivers para placas de video antigas que a versão mais atual. Acho isso um tremendo furo que precisa ser reavaliado.
Vale dizer que o TechLinux 3.0, baseado no Mandrake 8.0, foi instalado de primeira e sem nenhum problema num PIII 850 MHz, 256 MB de RAM e placa de vídeo Nvidia Gforce, tudo montado numa placa-mãe Soyo. Também não tive problemas para instalar o mesmo TechLinux num AMD Athlon 1.8 XP com placa mãe ASUS. Já o Debian/GNU 3.0 além de exigir muito mais atenção e decisões do usuário, não rodou nesta última máquina.
Outro problema terrível para quem está começando é a instalação de programas adicionais. Isso, em minha modesta opinião, é um verdadeiro jogo de adivinhação. Com raríssimas exceções, o novato jamais é avisado sobre em qual diretório o pacote deve ser descompactado e instalado. Parece segredo de Estado ou então o tipo de coisa que o indivíduo deveria nascer sabendo. É um absurdo a falta de didatismo. Uma enorme salada de “tar”, “gz”, “tgz”, “rpm”, “pkg” etc., etc... Até agora não consegui instalar o AbiWord. Está sempre faltando alguma biblioteca ou outra coisa qualquer. Esse é outro ponto, extremamente deficitário do Linux. O novato se vê frente a um emaranhado de bibliotecas que ele não sabe se tem. Não faz a menor idéia de como saber se tem ou não a dita cuja, pois ninguém lhe diz como fazer isso. Só vai descobrir quando o programa instalado não funciona, o que é muito freqüente.
Para finalizar, acho que a comunidade Linux teria muito mais a ganhar se parasse de fazer apologia do Linux e maldizer o Windows. Seria mais útil se preocupar em informar melhor e corretamente os novos usuários. O novato está pouco se lixando se o Windows trava de vez em quando. O que conta é que o Windows, na imensa maioria das vezes, se instala e roda quase sem problemas em qualquer máquina.
Por enquanto, a única real vantagem do Linux é o baixo custo de instalação e operação. Isso, bem entendido, no caso de redes corporativas. Para o usuário doméstico esse aspecto é irrelevante. A Microsoft sabe muito bem que, no caso do pequeno usuário, a pirataria é uma grande aliada na divulgação do seu produto. Paradoxalmente e, pela mesma razão, é o Windows que supre o usuário pobre e com poucos recursos de hardware.
O Linux é um sistema com enorme potencial de crescimento. Sua segurança e estabilidade precisam ser melhor exploradas e explicadas. Além disto, existem várias possibilidades de instalar Linux em máquinas com poucos recursos. Esse aspecto precisa ser melhor divulgado com didatismo e objetividade. A comunidade precisa se unir em lugar de fechar os olhos aos vários defeitos do Linux, sobretudo no que diz respeito à instalação de programas adicionais. Esse aspecto precisa ser melhor trabalhado pelos desenvolvedores. Por enquanto, é hilário querer cativar um novato com os procedimentos de instalação usados no Linux, sobretudo com as explicações “detalhadas e altamente didáticas” existentes.
Cesar Boschetti é Físico e Tecnologista do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos.
Pois é! O mundo Linux está tão infestado de “HOW TOs” que achei que era hora de escrever um “HOW NOT TO”. Essa idéia cristalizou-se depois que saiu na página da InfoGuerra (http://www.infoguerra.com.br) um artigo meu (“Os problemas de uma mudança para Linux”) com algumas críticas à comunidade Linux. O artigo deu margem a tantas interpretações e reações diferentes que resolvi abordar novamente o assunto. A exemplo do primeiro artigo, a intenção é a mesma: dar uma força ao simpático Pingüim e seus amigos.
O maior problema do Pingüim é que seus admiradores, na maioria das vezes, agem como inimigos. De um lado temos o experto que sabe tudo sobre Linux, mas é um zero a esquerda em termos de didática e marketing. De outro lado, temos os fanáticos que só vêm as qualidades do Linux e os defeitos do Windows. Com isso levam o novato a fazer uma idéia completamente errada do que vem a ser esse sistema operacional. O resultado é a decepção do novato. Uma decepção que poderia perfeitamente ter sido evitada, pois só acarreta prejuízos à imagem do Linux e afasta possíveis futuros colaboradores.
Sinto-me muito à vontade para tecer essas críticas e considerações sobre o Pingüim e sua família. Sou um novato e tenho certeza de que falo em nome de um grande número de possíveis e futuros usuários-colaboradores. A primeira coisa que não deve ser dita a um novato é que o Linux é uma maravilha. Isso é uma grande mentira que o novato logo irá perceber. Maldizer o Windows também é algo que não traz benefício algum ao Linux. O novato logo irá descobrir que o Windows, apesar dos “enormes” defeitos que lhe imputam, se instala e roda em quase qualquer máquina. Abusando um pouco da linguagem figurada, minha experiência (como novato em Linux e macaco velho em Windows) me leva a vislumbrar maiores chances de fazer o Windows ME rodar em um velho XT que um Debian em um Pentium 100 com placa-mãe sem pedigree.
Evidentemente, estou falando de um ambiente de trabalho gráfico, com alta resolução, ampla gama de cores e, acima de tudo, amigável. Os expertos em Linux precisam entender que o novato que está migrando do Windows para o Linux, ou apenas tentando conhecer o sistema do Pingüim está a procura de uma opção e não com saudades do MS-DOS 3.0. É um absurdo, uma verdadeira aberração de marketing, o experto querer cativar o novato com explicações sobre as qualidades do editor VI, a flexibilidade da linha de comando e as vantagens do navegador Lynx. É claro que tudo isso pode ser verdade em determinadas situações, mas não se aplica ao usuário comum.
Em primeiríssimo lugar, o novato precisa ser alertado deste aspecto. Não adianta querer dar as explicações depois da decepção. O Linux é preconceituoso. Isso é um fato. Não é qualquer “hardware” que o sistema aceita, pelo menos não de primeira como acontece com o Windows. É aqui que entra em cena um outro aspecto muito mal colocado para os novatos – as distribuições. A existência de um sem número delas é uma faca de dois gumes. Se por um lado dá opções, por outro dificulta, e muito, a escolha, principalmente, para o novato.
Com raras exceções, o experto dirige-se ao novato falando sobre a sua distribuição, como se esta fosse a única ou, por definição e de conhecimento geral, a melhor distribuição do planeta. Com seu entusiasmo fanático, o experto esquece de alertar o novato que, apesar do esforço dos desenvolvedores, existem diferenças entre as distribuições. Mais ainda, essas diferenças não são pequenas e nem acidentais. Elas vão desde a finalidade e facilidade de instalação até a existência ou inexistência e localização de pacotes inteiros na árvore de diretórios. É muito frustrante e angustiante para o novato achar um tutorial que lhe manda editar um determinado arquivo em determinado diretório que só existe na distribuição do autor. O novato é levado a supor que sua distribuição está aleijada e por isso não funciona. Isso é ridículo. Uma total falta de didática e bom senso por parte de quem deveria ajudar ao invés de atrapalhar.
Como um novato teimoso já perdi a conta de quantas distribuições tentei instalar. Já experimentei RedHat, Mandrake, Corel Linux, Slackware, Gnu/Debian, Conectiva, TechLinux, Lybranet, Peanut Linux, WinLinux, Cygwin etc. Tudo começou porque precisei me entender com um antigo sistema NextStep (variante de Unix com kernel Mach) que controla um equipamento em meu laboratório. Esse sistema não existe mais, embora o projeto GnuStep esteja tentando resgatá-lo.
Uma experiência recente que me chamou atenção foi proporcionada pela leitura de um excelente material, “Entendendo e dominando o Linux”, de autoria de Carlos E. Morimoto (http://www.guiadohardware.net). Acredito que todos, novatos e expertos, deveriam ler matérias desse gênero. Os novatos por razões óbvias, o material é claro, objetivo e imparcial. Os expertos têm aí um excelente exemplo de como escrever tutoriais para os novatos. Foi nesse livro que pude entender melhor a diferença entre as distribuições e quais critérios utilizar para efetuar uma escolha compatível com minhas necessidades e disponibilidade de hardware. É pura perda de tempo querer instalar a última versão do RedHat ou do Mandrake em uma máquina modesta. Modesta, neste contexto, deve ser entendido não apenas como uma máquina com limitações de memória e processador, mas principalmente uma máquina com componentes de hardware populares e baratos.
É importante alertar o novato que muitas vezes uma distribuição mais antiga e com versões anteriores do X pode ser mais adequada que a versão atual. Por exemplo, recentemente tentei instalar, pela segunda vez, o Mandrake 8.0 em um Pentium MMX 233MHz com 64MB de RAM e uma placa de vídeo S3Virge com 4MB (placa-mãe Pcchips). Da primeira vez tentei instalar usando o modo iniciante, com o instalador tomando a maioria das decisões. Não funcionou! Na segunda vez, seguindo orientação do livro citado acima, optei pela instalação no modo experto. Para minha surpresa, no final da instalação pode-se optar pelo Xfree86 3.3 ou 4.2. Optei pela versão mais antiga e tudo funcionou muito bem. A razão é a seguinte. O Xfree 3.3 tem muito mais drivers para placas de video antigas que a versão mais atual. Acho isso um tremendo furo que precisa ser reavaliado.
Vale dizer que o TechLinux 3.0, baseado no Mandrake 8.0, foi instalado de primeira e sem nenhum problema num PIII 850 MHz, 256 MB de RAM e placa de vídeo Nvidia Gforce, tudo montado numa placa-mãe Soyo. Também não tive problemas para instalar o mesmo TechLinux num AMD Athlon 1.8 XP com placa mãe ASUS. Já o Debian/GNU 3.0 além de exigir muito mais atenção e decisões do usuário, não rodou nesta última máquina.
Outro problema terrível para quem está começando é a instalação de programas adicionais. Isso, em minha modesta opinião, é um verdadeiro jogo de adivinhação. Com raríssimas exceções, o novato jamais é avisado sobre em qual diretório o pacote deve ser descompactado e instalado. Parece segredo de Estado ou então o tipo de coisa que o indivíduo deveria nascer sabendo. É um absurdo a falta de didatismo. Uma enorme salada de “tar”, “gz”, “tgz”, “rpm”, “pkg” etc., etc... Até agora não consegui instalar o AbiWord. Está sempre faltando alguma biblioteca ou outra coisa qualquer. Esse é outro ponto, extremamente deficitário do Linux. O novato se vê frente a um emaranhado de bibliotecas que ele não sabe se tem. Não faz a menor idéia de como saber se tem ou não a dita cuja, pois ninguém lhe diz como fazer isso. Só vai descobrir quando o programa instalado não funciona, o que é muito freqüente.
Para finalizar, acho que a comunidade Linux teria muito mais a ganhar se parasse de fazer apologia do Linux e maldizer o Windows. Seria mais útil se preocupar em informar melhor e corretamente os novos usuários. O novato está pouco se lixando se o Windows trava de vez em quando. O que conta é que o Windows, na imensa maioria das vezes, se instala e roda quase sem problemas em qualquer máquina.
Por enquanto, a única real vantagem do Linux é o baixo custo de instalação e operação. Isso, bem entendido, no caso de redes corporativas. Para o usuário doméstico esse aspecto é irrelevante. A Microsoft sabe muito bem que, no caso do pequeno usuário, a pirataria é uma grande aliada na divulgação do seu produto. Paradoxalmente e, pela mesma razão, é o Windows que supre o usuário pobre e com poucos recursos de hardware.
O Linux é um sistema com enorme potencial de crescimento. Sua segurança e estabilidade precisam ser melhor exploradas e explicadas. Além disto, existem várias possibilidades de instalar Linux em máquinas com poucos recursos. Esse aspecto precisa ser melhor divulgado com didatismo e objetividade. A comunidade precisa se unir em lugar de fechar os olhos aos vários defeitos do Linux, sobretudo no que diz respeito à instalação de programas adicionais. Esse aspecto precisa ser melhor trabalhado pelos desenvolvedores. Por enquanto, é hilário querer cativar um novato com os procedimentos de instalação usados no Linux, sobretudo com as explicações “detalhadas e altamente didáticas” existentes.
Cesar Boschetti é Físico e Tecnologista do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos.