CUBA, O CHE E O MST
Enviado: 11 Jan 2006, 22:12
11.01, 17h42
por Denis Rosenfield, filósofo
Fortalecido pelo petróleo proveniente das benesses de Hugo Chávez, no dizer de dissidentes cubanos, Cuba acentua, no melhor estilo stalinista, a repressão sobre os seus dissidentes. Familiares de vozes críticas ao regime são ameaçadas de morte e, inclusive, vítimas de arbítrio nas ruas. Recorrendo à polícia, têm como única resposta: vocês tiveram apenas o merecido. Estado de direito e democracia, nesta perspectiva, são nada mais do que palavras vãs.
No entanto, aqui no Brasil, setores mais à esquerda, com destaque especial ao MST, louvam Chávez, Fidel Castro e o Che. O MST, em outubro de 2005, dedicou todo um pequeno livrinho a Che Guevara, elogiando os seus feitos e colocando-o como exemplo para os seus quadros e simpatizantes. Um dos artífices do socialismo cubano, com toda a repressão ali perpretada, com a supressão completa das liberdades, é tomado como uma figura rica em ensinamentos, que deveriam ser assimilados por todos aqueles que querem trilhar um novo mundo.
A publicação em questão é integralmente dedicada a Ernesto Che Guevara, relembrando a sua morte há 38 anos. Desde o início, ela se faz sob a égide de uma história de santo, grandiloqüente, onde ele apareceria como um modelo para as atuais e futuras gerações. Trata-se, portanto, de uma celebração que resgata aqueles traços de sua personalidade e de sua ação que melhor correspondem aos propósitos do MST: “se quisermos uma referência de um militante ou dirigente, sem dúvida, devemos olhar para o Che” (Apresentação). Observe-se, ademais, que o MST está preocupado em resgatar o legado do Che, o que significa o legado da revolução, do internacionalismo latino-americano e o da fundação de uma sociedade socialista que teria em Cuba o seu modelo. Isto também explicaria o apreço que o MST tem por ações violentas, algo característico da ação de Che Guevara, que não hesitava a recorrer à força para a consecução de seus objetivos. A glamourização do Che é uma glamourização da violência.
A introdução da publicação é feita pela filha do Che, Aleida Guevara March, escrevendo de Havana, no dia 1 de setembro de 2005. Ela se dirige aos “queridos companheiros e companheiras do MST”, mostrando o apreço e a estima comum que os unem, compartilhando dos mesmos ideais e idéias. Lá, a filha do Che reitera a validade da revolução, nada tendo essencialmente mudado com a história, a meta seguindo a mesma, a saber, “a formação de um ser humano mais completo e melhor preparado para formar uma nova sociedade”. Destaquemos aqui a idéia marxista, levada a rigor nos países comunistas, de formar um novo homem, o que significa moldar os cidadãos desses países segundo os desígnios do partido/governo, que sabe de antemão e para sempre o que é o bem da sociedade. A formação de consciências é uma das mais perigosas experiências feitas pelas sociedades totalitárias, pois corresponde à completa abolição das liberdades e dos direitos. A esfera da vida privada se vê completamente abolida em nome de um Estado que sabe o que é melhor para cada indivíduo, como se o homem fosse um ser incapaz de saber por si mesmo o que é melhor para si. Ocorre uma completa subordinação do indivíduo ao Estado/partido. Ora, mais especificamente, a “nova sociedade”, que têm em vista a filha do Che e o MST, é aquela representada por Cuba, com uma ditadura que permeia todos os aspectos da vida privada e pública, cerceando-as pelo partido e reduzindo a sociedade a um nível médio, porém bastante baixo de pobreza. Cuba aparece, assim, como um referencial concreto do que deveria ser essa nova sociedade.
Num dos textos selecionados de Che Guevara, a propósito de um elogio aos camponeses, ao seu espírito de independência, à sua experiência no trato com a natureza, ele aproveita para fazer um elogio da violência, pois os camponeses aprenderiam com os revolucionários o “valor de um homem, quando nas suas mãos tem um fuzil e quando este fuzil está disposto a disparar contra outro homem, por mais fuzis que esse homem tenha”. Esse traço de elogio da violência é compartilhado totalmente pelo MST, embora essa organização política sempre procure transferir ao outro, no caso aos proprietários de terras, o uso da violência, que é sua arma corriqueira nas invasões, nas depredações, nos cárceres privados, na destruição dos maquinários e na utilização de armas. O MST joga aqui para a opinião pública, como se fosse um movimento pacífico que enfrenta uma reação violenta. Ao inverter os termos do problema, ele visa, assim, a justificar a violência por ele mesmo utilizada, procurando, nos seus simpatizantes, um apoio às suas iniciativas.
Da mesma maneira, o processo revolucionário é entendido como uma forma de “redenção”, mostrando uma afinidade, em termos religiosos, entre as posições do Che e as do MST. Não podemos, neste sentido, menosprezar a íntima conexão entre o MST e a Igreja católica por intermédio de suas diferentes pastorais, em particular a da terra. Assinale-se a esse respeito o componente fortemente religioso da teoria do MST por intermédio da teologia da libertação. É esse o exemplo que querem dar para o Brasil?
http://www.diegocasagrande.com.br/
por Denis Rosenfield, filósofo

Fortalecido pelo petróleo proveniente das benesses de Hugo Chávez, no dizer de dissidentes cubanos, Cuba acentua, no melhor estilo stalinista, a repressão sobre os seus dissidentes. Familiares de vozes críticas ao regime são ameaçadas de morte e, inclusive, vítimas de arbítrio nas ruas. Recorrendo à polícia, têm como única resposta: vocês tiveram apenas o merecido. Estado de direito e democracia, nesta perspectiva, são nada mais do que palavras vãs.
No entanto, aqui no Brasil, setores mais à esquerda, com destaque especial ao MST, louvam Chávez, Fidel Castro e o Che. O MST, em outubro de 2005, dedicou todo um pequeno livrinho a Che Guevara, elogiando os seus feitos e colocando-o como exemplo para os seus quadros e simpatizantes. Um dos artífices do socialismo cubano, com toda a repressão ali perpretada, com a supressão completa das liberdades, é tomado como uma figura rica em ensinamentos, que deveriam ser assimilados por todos aqueles que querem trilhar um novo mundo.
A publicação em questão é integralmente dedicada a Ernesto Che Guevara, relembrando a sua morte há 38 anos. Desde o início, ela se faz sob a égide de uma história de santo, grandiloqüente, onde ele apareceria como um modelo para as atuais e futuras gerações. Trata-se, portanto, de uma celebração que resgata aqueles traços de sua personalidade e de sua ação que melhor correspondem aos propósitos do MST: “se quisermos uma referência de um militante ou dirigente, sem dúvida, devemos olhar para o Che” (Apresentação). Observe-se, ademais, que o MST está preocupado em resgatar o legado do Che, o que significa o legado da revolução, do internacionalismo latino-americano e o da fundação de uma sociedade socialista que teria em Cuba o seu modelo. Isto também explicaria o apreço que o MST tem por ações violentas, algo característico da ação de Che Guevara, que não hesitava a recorrer à força para a consecução de seus objetivos. A glamourização do Che é uma glamourização da violência.
A introdução da publicação é feita pela filha do Che, Aleida Guevara March, escrevendo de Havana, no dia 1 de setembro de 2005. Ela se dirige aos “queridos companheiros e companheiras do MST”, mostrando o apreço e a estima comum que os unem, compartilhando dos mesmos ideais e idéias. Lá, a filha do Che reitera a validade da revolução, nada tendo essencialmente mudado com a história, a meta seguindo a mesma, a saber, “a formação de um ser humano mais completo e melhor preparado para formar uma nova sociedade”. Destaquemos aqui a idéia marxista, levada a rigor nos países comunistas, de formar um novo homem, o que significa moldar os cidadãos desses países segundo os desígnios do partido/governo, que sabe de antemão e para sempre o que é o bem da sociedade. A formação de consciências é uma das mais perigosas experiências feitas pelas sociedades totalitárias, pois corresponde à completa abolição das liberdades e dos direitos. A esfera da vida privada se vê completamente abolida em nome de um Estado que sabe o que é melhor para cada indivíduo, como se o homem fosse um ser incapaz de saber por si mesmo o que é melhor para si. Ocorre uma completa subordinação do indivíduo ao Estado/partido. Ora, mais especificamente, a “nova sociedade”, que têm em vista a filha do Che e o MST, é aquela representada por Cuba, com uma ditadura que permeia todos os aspectos da vida privada e pública, cerceando-as pelo partido e reduzindo a sociedade a um nível médio, porém bastante baixo de pobreza. Cuba aparece, assim, como um referencial concreto do que deveria ser essa nova sociedade.
Num dos textos selecionados de Che Guevara, a propósito de um elogio aos camponeses, ao seu espírito de independência, à sua experiência no trato com a natureza, ele aproveita para fazer um elogio da violência, pois os camponeses aprenderiam com os revolucionários o “valor de um homem, quando nas suas mãos tem um fuzil e quando este fuzil está disposto a disparar contra outro homem, por mais fuzis que esse homem tenha”. Esse traço de elogio da violência é compartilhado totalmente pelo MST, embora essa organização política sempre procure transferir ao outro, no caso aos proprietários de terras, o uso da violência, que é sua arma corriqueira nas invasões, nas depredações, nos cárceres privados, na destruição dos maquinários e na utilização de armas. O MST joga aqui para a opinião pública, como se fosse um movimento pacífico que enfrenta uma reação violenta. Ao inverter os termos do problema, ele visa, assim, a justificar a violência por ele mesmo utilizada, procurando, nos seus simpatizantes, um apoio às suas iniciativas.
Da mesma maneira, o processo revolucionário é entendido como uma forma de “redenção”, mostrando uma afinidade, em termos religiosos, entre as posições do Che e as do MST. Não podemos, neste sentido, menosprezar a íntima conexão entre o MST e a Igreja católica por intermédio de suas diferentes pastorais, em particular a da terra. Assinale-se a esse respeito o componente fortemente religioso da teoria do MST por intermédio da teologia da libertação. É esse o exemplo que querem dar para o Brasil?
http://www.diegocasagrande.com.br/