Religião é Veneno

Repito hoje, por oportuna, uma sugestão que já andei dando: se um dia você, leitor, se sentir em dificuldades tais que o levem a pensar em soluções desesperadas, não vacile: redija um estatuto e funde uma sociedade de fins civis e religiosos. A essa entidade batize com uma denominação que envolva o nome de Deus. Ou de seu filho, Jesus. Escreva que a nova instituição terá por objetivo divulgar a fé cristã e propalar o velho e o novo testamentos. Para sócios fundadores, convide não mais do que cinco pessoas de qualquer profissão. Ou mesmo sem profissão alguma. Distribua as funções de presidente, vice, 1º e 2º secretários e de tesoureiro.

Em artigos e incisos seguintes, estabeleça que todos os membros da instituição não participarão das suas rendas (contribuições que vier a receber). Abra, porém, uma exceção: o presidente. Que será você mesmo. E que se qualificará como sendo, por exemplo, espiritualista-vidente.

A seguir, esclareça que somente o presidente - você! - receberá verba de representação e ajuda de custo, cabendo-lhe, com exclusividade, abrir e movimentar contas bancárias. E também advertir, suspender e expulsar qualquer membro da corporação, inclusive da diretoria.

Isso posto, leve o original dos estatutos ao cartório de títulos e documentos, no qual, na forma da lei, que é risonha e franca para esses assuntos, serão devidamente registrados. Após, publique-os no diário oficial do Estado. Com procedimentos tais, você estará oficialmente reconhecido como chefe espiritual de uma nova igreja. Que nem precisará ser nacional ou universal; se for municipal ou mesmo distrital, servirá.

A partir daí você estará em condições de, em sua própria casa ou em outro local qualquer, começar a arregimentar fiéis. E a fazer, ou melhor, a prometer milagres de todo gênero. Como, por exemplo, curar todas as doenças, Aids e câncer nelas incluídas; resolver problemas como desemprego, desavenças conjugais, amores mal correspondidos, maus-olhados e quantos lhe forem solicitados pelos seus seguidores. Em troca, poderá pedir contribuições financeiras, porque, afinal, como se sabe, é dando que se recebe. De resto, como ficou registrado em cartório, você não é um sujeito qualquer, mas sim um espiritualista-vidente. Como tal, com habilidades, você progredirá e, em breve tempo, poderá estar propagando sua fé e anunciando seus milagres em espaços de rádio e tevê devidamente alugados.

Minha receita é essa. Não a inventei. Tomei-a de empréstimo de um estatuto pelo qual foi formalmente registrada em cartório uma das mais novas igrejas, ou religiões, que funcionam no município de Viamão. Tudo segundo os conformes da lei no duro.


http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora ... fault2.jsp?
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Tentem contar o numero de templos em uma periferia empobrecida.
Mas, prestem atenção, pois alguns deles são difíceis de perceber a primeira vista: parecem um bar ou uma garagem com a denominação pintada em tinta desbotada (as vezes nem isso - só se suspeita de se tratar de um templo quando os vemos de portas abertas e divisamos as cadeiras enfileiradas lá dentro).

A densidade de templos nesses lugares é altíssima. Já cheguei a contar 5 ou 6 somente no espaço de uns 2km em uma via movimentada da periferia de Betim-MG (cidade satélite de Belo Horizonte e polo industrial).
A maioria deles não passa de pequenos cubículos
e tem nomes esdrúxulos. Não seria tão numerosos se não houvessem facilidades legais para se abrir um negócio deste tipo. Devem ser as tais denominações distritais ou municipais as quais o jornalista se refere.
Não consigo imaginar um negócio mais rentável: Use sua garagem ou alugue uma a não mais que uns R$ 500 po mês, compre umas 20 cadeiras plásticas de bar, qualquer coisa velha que possa servir de púlpito, uma bíblia (toda casa tem uma) e uns folhetins de propaganda. O som pode esperar um pouco. Basta esgoelar bastante.
O gasto inicial não vai passar de uns R$ 1000. Impostos? Contabilidade? nem se preocupe com isto pois não há nenhum pra pagar. Só conta de água e luz e olhe lá.
Qual deve ser o tempo de retorno do investimento? Se dez vítimas ao dia, darem cada uma em média R$ 10, tem-se o retorno dos R$ 1000 investidos em apenas DEZ dias!!!! ( e isto em uma periferia com população de baixa renda, sem nenhuma infra-estrutura decente)

Como é que isto ainda não saiu nas Pequenas Empresas - Grandes Negócios????
Os editores daquela revista devem ser completamente cegos e surdos