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Quem estiver temendo que Barack Obama possa sucumbir a um "complexo de messias" pode mudar de idéia ao observar sua mulher, Michelle Obama, na campanha. Defensora cada vez mais eficaz do marido, ela tem uma tendência a lembrar das qualidades menos glamourosas de Obama.
Tendo revelado que Obama ronca, deixa a manteigueira fora da geladeira e joga meias velhas pela casa de três andares em Chicago, Michelle foi criticada por aparentemente prejudicar a dignidade do marido. Maureen Dowd, do "New York Times", até acusou-a de "emascular" Obama quando deveria estar fazendo o oposto.
Contudo, o efeito da atitude de Michelle Obama pode ser de "humanizar" um candidato cujos defensores mais dedicados estão tratando como algo similar a um santo, diz Tad Devine, alto consultor democrata. "Todo mundo sabe que ele sabe dar discursos de alto nível, mas nem todos conhecem Barack Obama como pessoa", disse Devine. "Michelle Obama está fazendo um papel essencial ao fornecer um retrato humano do marido."
Em entrevista a Larry King na CNN na noite de segunda-feira (11/2), ela fez precisamente isso. "Ele é um grande orador, é inspirador, é brilhante -tudo isso", disse ela. "Mas sabe o que? É um bom homem. Esse é um sujeito que, no meio de toda essa campanha, não perdeu uma reunião de pais e mestres. Esse é o tipo de coisa que eu observo. Ele levou as meninas para pedir balas no dia das bruxas. Ele veio para casa por um dia para comprar uma árvore de Natal. Ele me levou para sair no nosso aniversário de casamento."
Com uma agenda que às vezes é mais cheia que a do marido, a Sra. Obama está fornecendo um serviço mais amplo. Palestrante articulada -graduada em Direito em Harvard e Princeton- ela teve um papel importante em ajudar a conquistar o apoio de afro-americanos na Carolina do Sul e em outras partes, em uma época que Hillary Clinton ainda estava na frente entre eleitores negros.
Muitos afro-americanos duvidaram de Obama. Sua criação por avós brancos no Havaí e seu background "bi-racial" dificultaram a identificação imediata do candidato como uma pessoa que compartilhava as preocupações da comunidade. Apesar de Obama nunca ter se apresentado como candidato negro, o background afro-americano de Michelle ajudou a assegurar alguns eleitores hesitantes.
Obama conquistou o apoio de mais de 80% dos eleitores negros nas primárias da Carolina do Sul no mês passado. "Ela foi uma defensora muito persuasiva", disse outro consultor democrata. "Se a mulher de Obama fosse branca ou menos articulada, poderia ter sido mais difícil."
Outra qualidade é sua resistência. Tendo encontrado seu futuro marido em um escritório de advocacia no início dos anos 90, ela inicialmente questionou a política e colocou seu marido na "geladeira" quando ele anunciou planos de concorrer ao Congresso em 2000 (sem sucesso). Antes de seu muito celebrado discurso de 2004 na Convenção Democrata em Boston, que o levou ao estrelato nacional e o posicionou para a eleição ao Senado no final daquele ano, ela disse a ele: "Não estrague isso". Ele seguiu o conselho.
Antes de decidir se concorreria à presidência, Obama teve que persuadir a esposa. Ela precisava saber se isso não prejudicaria a vida de suas duas filhas, Malia, 9, e Sascha, 6. Uma mulher forte de carreira, Michelle impôs uma condição clara -que ele parasse de fumar. Obama foi visto muitas vezes mascando chiclete de nicotina durante a campanha.
Tendo recebido uma série de ameaças de morte no ano passado, a Sra. Obama foi essencial em assegurar a proteção do Serviço Secreto para o marido. O único outro candidato com proteção é Hillary Clinton, de seus tempos como primeira dama. Diferentemente de Bill Clinton, cujas intervenções na campanha da mulher se provaram controversas, a Sra. Obama evitou gafes.
Mesmo assim, desenvolveu uma habilidade de tirar pontos da Sra. Clinton sem parecer fazê-lo. "Barack fará erros, mas a beleza disso é que Barack não vai ser tão teimoso que não possa admitir que está errando", disse a Larry King.
Na trilha da campanha, Michelle Obama também está se mostrando uma futura primeira-dama cada vez mais plausível -até atraiu comparações com Jackie Kennedy. Tendo sido criada em um apartamento de um cômodo no decadente South Side de Chicago, sua biografia cai bem com o tema mais amplo de "esperança" de Obama.
"Ela tem graça, elegância, tato e postura", diz Devine. "Não é difícil imaginá-la na Casa Branca."