Ainda não é possível saber prazos limites para ser pai

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Ainda não é possível saber prazos limites para ser pai

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Para especialistas, ainda não é possível estabelecer prazo limite para ser pai


14/02/2008 - 17h04

IARA BIDERMAN
Colaboração para a Folha de S.Paulo


Relógio biológico, expressão que costuma designar o prazo que a mulher tem para poder engravidar e o período em que isso representa maior risco para o bebê, não era assunto de homem. Pois agora é.

Mas, se é para usar a expressão, o relógio masculino, em condições normais, não costuma tocar o alarme em hora marcada. Nas mulheres, isso pode acontecer: os óvulos envelhecem e o risco de alteração genética no bebê de gestantes mais velhas é conhecido e quantificado. Além disso, o estoque de óvulos é limitado. Já os espermatozóides são produzidos durante toda a vida.

A questão agora é saber até que ponto os espermatozóides gerados após a meia-idade são menos eficazes para a procriação, tanto no sentido da capacidade de fecundar quanto no de gerar bebês saudáveis.

Os estudos relacionando a idade paterna a fatores de risco para a saúde do filho são recentes. "Já se sabia que, com o envelhecimento, os espermatozóides sofrem alterações genéticas. Mas ainda não temos dados conclusivos para dizer até que ponto [essas alterações] aumentam as chances de o homem mais velho gerar filhos com problemas", diz Sidney Glina, coordenador do departamento de reprodução humana do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor do Instituto H. Ellis, de São Paulo.

Para Jorge Hallak, urologista e andrologista do HC (Hospital das Clínicas) da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador associado da Cleveland Clinic Foundation (EUA), "a partir dos 50 anos, aumenta a fragmentação do DNA [dos espermatozóides] e alguns estudos já mostram algumas alterações a partir dos 40 anos. Mas o ritmo biológico do homem sofre, em geral, uma queda lenta e progressiva, não uma mudança abrupta em uma idade precisa."

Vários fatores, porém, podem se somar ao processo fisiológico do envelhecimento e acelerar o relógio do homem. Alguns são males modernos. Se a ciência colabora para o prolongamento da expectativa de vida, teoricamente permitindo o adiamento da paternidade, ela também gera subprodutos, como agentes poluentes, que interferem no ritmo biológico normal. Isso sem falar em certos medicamentos, sem dúvida fundamentais para o controle de doenças, mas que incluem, em seus efeitos adversos, a possibilidade de interferir nas funções sexuais e reprodutivas do homem.

"Além de poluentes e remédios, anabolizantes, cigarro, abuso de álcool, privação de sono e mesmo exercício em excesso são fatores que desgastam a condição hormonal masculina e a saúde celular, criando uma incoerência entre as idades cronológica e biológica", diz a endocrinologista Vânia Assaly, da Sociedade Brasileira de Medicina Antienvelhecimento e da International Hormone Society.

Prazo limite

A novidade são estudos sugerindo que a partir dos 40 anos o homem já alcançaria seu prazo limite para procriar. Um dos mais ativos divulgadores desses estudos é o urologista Harry Fisch, do Centro Médico da Universidade Columbia (EUA) e autor de "The Male Biological Clock" ("O Relógio Biológico Masculino").

Segundo Fisch, além de a fertilidade diminuir para alguns homens, mesmo os que a mantêm apresentam maior risco de gerar filhos com alterações genéticas. As afirmações ganham maior importância na medida em que é cada vez mais comum os casais adiarem a hora de ter filhos.

"A paternidade tardia nunca foi questionada", rebate o ginecologista e terapeuta sexual Gerson Lopes, da Academia Internacional de Sexologia Médica. Para ele, ser pai mais tardiamente é uma mudança positiva. "Antes, o homem era só o provedor [da família], a mãe cuidava do filho enquanto ele se dedicava ao trabalho. Se ele escolhe ser um pai afetivo, tem de estar mais presente. Muitos resolvem ter o filho depois de adquirir uma estabilidade profissional justamente para poder praticar plenamente o exercício da paternidade."

Isso fez parte do conjunto de ponderações do músico e produtor cultural Guga Stroeter, 47. "Eu vivia muito absorvido na minha vida artística e pessoal, filhos não faziam parte de meus planos." A mudança de perspectiva ocorreu após a chegada dos 40. A filha de Guga, Dora, nasceu quando o músico completou 42 anos.

Ele conta que, além de estar em um ótimo relacionamento afetivo, "já tinha atingido um padrão mínimo de estabilidade, já sabia como gerenciar minha vida e meus afetos".

As teorias sobre a qualidade do sêmen do homem com mais de 40 não preocuparam o pai de Dora, que sentiu os benefícios da paternidade para a saúde. "Depois que 'engravidamos', passei a ser muito mais cuidadoso comigo. Precisamos ter saúde para cuidar de pessoas que gostamos mais do que de nós mesmos."

Alarmes diferentes

A psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade da USP, acha que hoje o homem tem essa disponibilidade de se manter como reprodutor saudável. "Se a condição dos testículos está preservada, ele pode ser pai mais tarde. Para o homem, o que limita é a possibilidade de ver o filho crescer, de acompanhar a criança nas brincadeiras, nos compromissos etc."

Desse ponto de vista, o relógio biológico, que, no caso da mulher, sinaliza uma urgência para ter filhos, toca diferente para o homem. "Não é comum o homem ter essa urgência, como [ocorre] com a mulher. Ele vai gradativamente amadurecendo e dependerá de várias experiências (encontros, desencontros, idealizações etc.) que farão parte de seu imaginário como pai para ele começar a lidar com esse tema", diz Luiz Cuschnir, psiquiatra do Ipq (Instituto de Psiquiatria) do HC da USP e autor de livros sobre relações entre os gêneros masculino e feminino.

Em alguns casos, a sensação pode ser premente. O cineasta Mario Masetti, 56, a sentiu quando se aproximou dos 50. Após anos de "uma vida meio nômade" e uma tentativa que não deu certo de ter filho, ele havia deixado a idéia de ser pai meio de lado.

Um novo relacionamento, iniciado aos 47 anos, e a estabilização da vida profissional acenderam novamente o desejo de procriar. "Comecei a pensar seriamente no assunto, a ponto de virar quase uma obsessão. Senti como se fosse a última oportunidade", conta Mario.

A sensação do correr dos ponteiros, para ele, estava ligada aos aspectos gerais do amadurecimento. "Achei que, se deixasse mais para frente, a chance de acompanhar a infância de meu filho seria menor." O nascimento de Antônio, hoje com sete anos, reverteu o andar dos ponteiros para o cineasta. "Eu me senti mais jovem, mais disposto, revitalizado. Até no trabalho me senti mais fértil, reprogramei a minha vida profissional e me reciclei."

Pai-avô

Além dos que são pais pela primeira vez após a meia-idade, há homens que, em um segundo ou terceiro casamento, têm um novo filho quando já são avôs.

É o caso do advogado Geraldo Michelotti, 64. Gian Luca nasceu quando Geraldo estava em um novo casamento e, aos 57 anos, já era avô. Cinco anos depois, veio Luigi, hoje com dois anos. Para Geraldo, a vantagem de ser pai depois dos 60 é a possibilidade de participar mais ativamente da vida dos filhos. A desvantagem, para ele, é a insegurança no papel de provedor da família, já que o mercado de trabalho fica mais restrito com a idade.

Com os novos estudos sobre a paternidade tardia, outras desvantagens começam a ser colocadas em questão. "O que se tem discutido é a qualidade dos espermatozóides. Isso depende não apenas da quantidade deles, mas de seu grau de mobilidade e sua morfologia. A partir dos 50 anos, a menor mobilidade e o formato alterado diminuem a possibilidade de fertilização e de geração de um embrião normal", diz Silvana Chedid, chefe do setor de reprodução humana do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo.

Isso não quer dizer que os médicos apontem uma idade ideal para ser pai (ou desistir de ter filhos). "Por enquanto, não há dados estatísticos suficientes para identificar as conseqüências dessas alterações [nos espermatozóides]. Portanto, não há nada que nos autorize a contra-indicar a fecundação após certa idade", diz Chedid.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/equi ... 2438.shtml
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