Fidel renuncia após 49 anos e abre caminho para irmão
‘Não me despeço de vocês. Desejo combater como um soldado das idéias’, escreveu.
Carta de renuncia foi escrita na segunda-feira (18) e publicada nesta terça-feira.

O líder cubano Fidel Castro renunciou à presidência após 49 anos no poder, em uma mensagem publicada nesta terça-feira (19) pela imprensa oficial, a cinco dias do Parlamento definir a nova cúpula do governo.
"Não aspirarei nem aceitarei - repito - não aspirarei nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-em-Chefe", afirmou o líder ditatorial cubano na carta, assinada de próprio punho e com data de 18 de fevereiro às 17h30 locais (19h30 de Brasília).
Para historiador, Fidel passou de 'libertador a ditador'
Argentino diz que trajetória de cubano lembra a de outros líderes latino-americanos.
O líder cubano Fidel Castro teve uma trajetória política semelhante à de líderes latino-americanos do século 19, como José de San Martín e Símon Bolívar, na opinião do historiador argentino Jose García Hamilton.
Assim como os dois "libertadores da América", Fidel tentou se eternizar no poder depois de ter liderado uma campanha de libertação, diz Hamilton.
"San Martín e Bolívar chegaram ao poder graças à libertação dos povos, mas depois tentaram se perpetuar no cargo", disse o autor de livros sobre Bolívar e San Martín.
Para o historiador, Fidel "virou um ditador pior do que seu principal inimigo, Fulgêncio Batista", em referência ao líder do regime derrubado pela Revolução Cubana. A diferença, continua Hamilton, é que Fidel bateu recorde de tempo no poder.
"Nenhum deles, nem mesmo Franco, permaneceu tantos anos na Presidência", afirmou, referindo-se ao general espanhol Francisco Franco, que governou a Espanha entre 1939 e 1975. San Martín, libertador da Argentina, do Chile e do Peru, exerceu sua liderança entre 1812 e 1826. Bolívar esteve cerca de 20 anos no poder em uma trajetória similar que foi de 1810 a 1830.
Com o anúncio de sua renúncia nesta semana, Castro encerrará quase cinco décadas no comando da política cubana.
Fidel e 'Che'
O historiador acredita, no entanto, que, ao menos inicialmente, Fidel Castro "libertou" Cuba da ditadura de Batista.
"Naquele momento, suas ações foram vistas com bons olhos pela comunidade internacional", disse. Foi logo depois, lembra Hamilton, do início de mudanças na política de diferentes países da região.
Getúlio Vargas se suicidou em 1954, Perón foi derrubado do poder em 1955, por uma revolta militar, Perez Jímenez, na Venezuela, caiu em 1958, e Fidel tomou o poder, em Havana, em 1959.
Já o historiador e psicanalista Pacho O'Donnell, autor da biografia Che sobre o ex-guerrilheiro argentino Ernesto "Che" Guevara, prefere não fazer comparações entre personagens de diferentes períodos históricos, mas diz acreditar que o paralelo mais próximo seja o próprio ex-companheiro de revolução.
A diferença entre Fidel e Che, que estiveram unidos na decisão de derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista, em 1959, está, segundo O'Donnell, no fato de "o cubano ter apostado na política, e o argentino, na epopéia".
Ou seja, um entrou para a história e o outro virou mito - o rosto de Che Guevara está, por exemplo, nas passeatas e protestos de várias partes do mundo, representando o desejo de igualdade social.
O'Donnell recorda que foi Raúl Castro quem apresentou Che Guevara a Fidel Castro, como contou o próprio ex-guerrilheiro argentino em uma carta enviada a sua família, em julho de 1955, quatro anos antes da queda da ditadura de Batista.
"Guevara e Raúl Castro representaram, no início, o setor mais radicalizado da Revolução Cubana. Eles eram os únicos que se reconheciam, publicamente, como marxistas", recordou.
'Autoritarismo'
Autor de livros sobre o general e "libertador" José San Martín ("Don Jose") e sobre o também general e igualmente conhecido como "libertador" Simón Bolívar ("Simón"), García Hamilton entende que Fidel também é o único a deixar o irmão no poder - mesmo que temporariamente.
Raúl Castro está no poder na ilha desde meados de 2006 e tem chances de permanecer no posto após as eleições da Assembléia Nacional, no próximo dia 24.
Ele cita, no entanto, três outros casos de nepotismo na história recente da América Latina. François Duvalier, no Haiti, deixou o cargo para o filho, Jean Claude Duvalier. A cadeira de Anastasio Somoza, na Nicarágua, foi ocupada pelo filho, Luis Somoza. Na Argentina, o ex-presidente Juan Domingo Perón morreu no cargo, deixando a Presidência para sua mulher, Isabel Perón.
Tanto Hamilton como O'Donnell reconheceram que o líder cubano, a despeito da opinião que se tenha sobre ele, é um dos principais personagens políticos da América Latina - e talvez do mundo - no século 20 e início do século 21.
Último líder histórico do comunismo, Fidel, de 81 anos, anunciou a renúncia após quase 19 meses de convalescença de uma grave doença - de origem intestinal (veja mais abaixo) -, que o levou a ceder o comando do país em caráter provisório ao irmão Raúl, ministro da Defesa de 76 anos.
Último líder histórico do comunismo, Fidel, de 81 anos, anunciou a renúncia após quase 19 meses de convalescença de uma grave doença - de origem intestinal (veja mais abaixo) -, que o levou a ceder o comando do país em caráter provisório ao irmão Raúl, ministro da Defesa de 76 anos.

Reprodução/Associated Press
Lula conversa com Fidel em janeiro último (Foto: Reprodução/Associated Press)Fidel anunciou a renúncia a cinco dias da sessão do Parlamento na qual deveria ser candidato à reeleição para um mandato presidencial de cinco anos.
Na noite de 31 de julho de 2006, Fidel Castro surpreendeu Cuba e o mundo com o anúncio de que cedia o poder ao irmão Raúl, em caráter provisório, depois de sofrer hemorragias.
Sem revelar até o momento qual doença o afeta, Fidel admitiu que esteve à beira da morte. Perdeu quase 20 quilos nos primeiros 34 dias de crise, passou por várias cirurgias e dependeu por muitos meses de cateteres.
Caminho aberto
Com sua renúncia, deixa o caminho livre para Raúl ser eleito presidente do Conselho de Estado, sem que se descarte uma eventual surpresa como o vice-presidente Carlos Lage, de 56 anos, o que levaria ao poder uma nova geração.