Vai uma auto-ajuda aí?

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waldon
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Vai uma auto-ajuda aí?

Mensagem por waldon »

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Vai uma auto-ajuda aí?
Vida de escritor é a maior delícia. Você passa os dias de chinela e pijama, trabalhando em casa enquanto faz cafuné no cocuruto do seu gato gordo – e olha que a tal residência pode ser uma choupana na floresta, uma mansão frente à praia ou um simples apê gigante em Manhattan. Daí você faz suas pesquisas por alguns meses, atira tudo no computador, vende o original para uma boa editora e enche a burra de dinheiro. Ah, claro: esqueci de dizer que essa é a deliciosa vida de um escritor de auto-ajuda.

Antes que alguém atire uma brochura do Seo Lair Ribeiro ou grite “não mexa no queijo”, eu já faço os avisos. Não sou contra o gênero literário e tampouco prego a extinção da espécie. Acredito mesmo no poder de dar idéias para ajudar os leitores. E fico especialmente risonha ao ver que as obras costumam ser muito bem humoradas. Em particular, nos títulos.

É verdade, não são escritas com tanto apuro quanto um volume de Shakespeare. Nem levam a carga emocional dos romances de Nabocov. Mas são capazes de estar por toda a prateleira dos mais vendidos semana após semana. Também, quem não quer ler “Você Pode Influenciar Pessoas” ou “A Cura pela Meditação”? Quer dizer que podemos mandar e fazer todo mundo obedecer? Ou dar fim em bico de papagaio apenas com a força da mente? Tudo isso lendo um livro? Tô dentro.

Não é como aquele e-mail safado que entra na caixa postal prometendo ensinar inglês durante a soneca. Os livros de auto-ajuda foram elaborados durante um bom tempo, em geral por psicólogos, médicos ou professores de renome e certificado na parede. Talvez não funcione para 100% das pessoas, mas se ajeitarem a vida de dois ou três, já vale a tinta.

O que me intriga é que não parece ser lá muito difícil cooptar o leitor. É tudo questão de um bom enunciado. O sujeito está a ponto de jogar tudo para o alto, vender o carro e sair de casa. Então vê na livraria um volume de “Não Leve a Vida Tão a Sério” por apenas 15 pilas. Se ele pagar a quantia e levar a obra para casa, é porque já está 2/3 convencido. Vai virar um relaxado, o marmanjo. Eis o poder da auto-ajuda: dar um pontapé naqueles pré-dispostos a tirar o pé da lama.

É um gênero muito democrático também. Nem só os que perderam a vontade de sair da cama podem ser ajudados. Tem livro para executivos em crise, como “Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes” (que, eu desconfio, não contém um tópico chamado “comprar livros que ensinem a ser assim”). Existem outros para os inimigos da balança, tipo “Mulheres Francesas Não Engordam” (não deve ter a foto da Brigitte Bardot na capa, porque ela anda bem bochechuda).

Tem livro para mãe de primeira viagem – de nome “O Poder da Paciência”, mas que imagino ter o subtítulo oculto de “Tente Não Espancar o Maldito Pivete”. Tem livro para a namorada em desespero (“Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor”, já um clássico). Tem livro para quem gosta de arrastar móveis (“Arrume Sua Bagunça com o Feng Shui”; se bem que paninho e aspirador podem ajudar também).

Ninguém fica de fora, os livros podem ajudar a qualquer um. Particularmente, tenho muita curiosidade para saber o que se descobre lendo “O Que Podemos Aprender com os Gansos” ou “Jesus, O Maior Psicólogo que Já Existiu”. Aquelas aves mal-humoradas só podem nos ensinar a morder e correr atrás de humanos invasores. Já sobre o Filho do Homem, ninguém define sequer como era seu rosto e agora vêm dizer que ele fez faculdade? Ora essa.

Também decidi que preciso muito ler “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” – que, óbvio, não deve ter sido escrito por Ronaldo e Cicarelli. Fico é pensando se esse terá um volume dois chamado “Como Tomar de Volta o Que Aquela Vadia Roubou no Divórcio”. Ou um volume três “Descubra as Contas que Aquele Cachorro Mantinha na Suíça”.

Não deve fazer mal abraçar qualquer dessas brochuras um dia na vida, ué. Eu sei, são óbvios na maioria, entitulando-se com frases tolas e batidas como “Nada é Por Acaso”, “Nunca Desista dos Seus Sonhos” ou “Você é Insubstituível”. Faz favor, eu também posso escrever páginas e mais páginas enroladoras falando de tudo isso. Pois se posso escrever um texto enrolador falando de livros de auto-ajuda...

Só fico mesmo admirada e invejosa do tal Howard C. Cutler, que fez uma joint-venture com ninguém menos que o Dalai Lama para escrever seu livro. Da parceria saiu “A Arte da Felicidade: Um Manual para a Vida”, que vende feito pão quente desde 2001. O senhor Cutler acredita que, em 364 páginas de papel, pode-se aprender o caminho para viver na mais perfeita alegria. Não sei se é verdade. Mas sei que ele deve ter se tornado um homem realmente feliz ao escrever vestindo chinela e pijama em sua choupana na floresta.



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Trancado