Um ateu chega ao céu

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Fernando Silva
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Um ateu chega ao céu

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 23/02/08

Door policy
João Ximenes Braga

O mundo acabou ontem, enfim. E vocês podem imaginar meu alívio ao ver que a Clarisse era a doorwoman do céu. Pra quem não conhece, é aquela que já em 2000 o jornalista Ronald Villardo dizia ter “inaugurado a era das hostess simpáticas no Rio de Janeiro”. E se você não sabe o que isso significa, não sou eu que vou explicar

Fui logo dando dois beijinhos na Clarisse e perguntando se estava animado lá dentro.

— É claro que não. É o céu.

— Posso dar uma olhadinha pra ver se eu quero ficar?

— Não, porque você não vai ficar. É invitation only e seu nome não tá na lista.

— Pô, gata, precisa falar desse jeito?

— “Gata” já é falta de respeito!

— Mas eu sempre te chamei de “gata”.

— Achei que você ia entender logo, não sou a Clarisse, sou São Pedro.
Apenas visto o ectoplasma de alguém com quem o interlocutor se sinta mais à vontade. Posso ser o maître do Antiquarius, o Paiva do Jobi, por aí vai. Quer ver? Pra você também posso ser a Nicole. Só não chama de “gata”.

E eis que Clarisse se fez Nicole.

— Nicole? Já sei que não vou ganhar pulseira VIP, mas dá uma olhada na lista amiga, tenho certeza que recebi o e-mail e dei reply.

— Não recebeu e-mail nenhum, porque não vai entrar no céu.

— Tudo bem, não ia ter ninguém conhecido aí dentro… Mas me diz o porquê. Nunca matei ninguém.

Sempre reprimi o instinto de chutar crianças barulhentas em restaurantes. Só roubei uma vez: um cinzeiro de motel, mas era trote pros estagiários do Jornal do Commercio, se ainda não foi perdoado, é coisa que se resolve com uma semana de purgatório.

— Você não pode entrar no céu porque não acreditava em Deus!

— Xi, não sabia que isso era eliminatório!

— Então, vai sair da fila ou vou ter que chamar o segurança?

— Mas há atenuantes preu não acreditar em Deus! Ele também não ajudou, sempre foi muito mal representado, um problema sério de divulgação.

— Tá anotado que você estudou em colégio de padre, é atenuante, sim.

— Falei no geral, todos aqueles que usam o nome Dele, que dizem que divulgam a palavra Dele, que dizem falar em nome Dele. Você viu a última da Universal? Aquela série de processos contra jornalistas, contra a pobre moça da “Folha” que simplesmente reportou que o bispo Macedo construiu um império de comunicações… E aqueles bispos da Renascer presos em Miami? Vamos combinar, antes do mundo acabar andava muito difícil acreditar em Deus.

Era tanta gente falando Nele, e tanta gente que, vamos combinar… Eu fui praticamente induzido ao ateísmo!

— Tá tudo anotado aqui, seu sofrimento na era Garotinho, sua aversão a quem mistura política com religião. São atenuantes, sim, mas no fim das contas dá no mesmo. Você não acreditava em Deus, não entra.

— Ah, qual é? E o obscurantismo do Bento XVI? Queria que eu engolisse na boa?

— Isso é um problema entre Ele e Sua Santidade o Papa.

— Então vamos mais longe. E os escribas do Antigo Testamento? Aquelas barbaridades todas que disseram que Ele fez? Matou todos os primogênitos do Egito, coitados! E o mesmo Bush que acreditava nisso vinha pregar contra o abor to.

— Deus não tem culpa se os homens levaram uma obra literária a sério demais. E você tá atravancando a fila.

— Só acho que alguém podia ter dado um toque Nele, tipo assim, o nome Dele tava sendo avacalhado, nunca se fez tanta bobagem em nome Dele desde a inquisição. A imagem tava desgastada quase ao nível de Senado e Alerj! E olha que eu só falei dos cristãos, não vou nem começar com os…

— (interrompendo) Próximoooooo!

— Só mais uma coisa.
Quem entrou? O Macedo tá aí dentro? Os Hernandez? O Ratzinger?

— A lista é confidencial.

— Desisto! Tudo bem, vou conviver com assassinos e prefeitos que não recolhiam crianças das ruas, vou pro inferno.

— Não conheço a door policy de lá.

— Então pr’onde é que eu vou?

— Se vira. Mas no botequim da esquina tem cerveja de garrafa.

* * * * * * *

Se você percebeu que esta crônica é um plágio mal acabado de “Vida eterna”, de Luis Fernando Verissimo, parabéns. Sinal de que você lê Verissimo. Mas lembre-se que, tecnicamente, preferimos o termo “intertextualidade”. E, socialmente, “homenagem”.

E-mail para esta coluna jxbraga@oglobo.com.br

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docdeoz
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por docdeoz »

É agora que a gente ri?
(HNT) ויאמר אלי אחד מן־הזקנים אל־תבכה הנה נצח האריה אשר הוא משבט Rev 5:5
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http://rv.cnt.br/viewtopic.php?t=14653

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docdeoz
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por docdeoz »

auhuahuahuhauhauhuhauhuahuhuahuhauhauhauh
(HNT) ויאמר אלי אחד מן־הזקנים אל־תבכה הנה נצח האריה אשר הוא משבט Rev 5:5
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Claudio - SP
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por Claudio - SP »

docdeoz escreveu:É agora que a gente ri?


É, pode ser... :emoticon19:
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Botanico
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por Botanico »

docdeoz escreveu:É agora que a gente ri?


É bom não rir não, pois a coisa pode ser séria! Especialmente para os casados... Vejam só o que aconteceu a um marido que não foi lá essas coisas:

Casada há 15 anos com um marido meio preguiçoso que apesar de trabalhar, nunca conseguia trazer dinheiro o bastante, a pobre mulher passou dificuldades muitas e trabalhava em casa e fora para se sustentar e ao vagal. Sentindo muitas dores, finalmente pôde consultar-se com um médico após meses na fila do SUS. Resultado: câncer em avançado estado e inoperável, expectativa de vida: dois meses. A infeliz esposa, apesar de todas as dificuldades, guardava sempre um pouco de seu dinheirinho numa poupança e pensou enfim:
_ Tive uma vida difícil, mas ao menos poderei ter um enterro e funeral dignos. Ela então combinou as compras de ataúde luxuoso, flores, grinaldas, velas, mortalha com a funerária e comprou um jazigo num cemitério simples (o dinheiro também não era tanto assim...). Já no leito de morte, passou então as instruções ao marido de todos os arranjos que fizera.

Então ela se foi e o viuvo casou-se com uma amante ricaça que arrumara pouco antes; teve uns filhinhos e viveu numa boa a partir daí. Quanto a falecida, ela chegou ao portão do céu e recebida por São Pedro, ele então lhe passou as instruções de entrada no céu:
_ Diga-me o que fez na sua vida. Tudo bem, eu sei tudo, mas normalmente gosto de ver como está a sinceridade dos que aqui se postam.
_ Olha, eu fui uma boa e comportada criança, desde cedo trabalhava para ajudar meus pais até eles partirem. Casei-me na esperança de ter uma vida mais confortável, mas meu marido ganhava pouco e assim tive de trabalhar para ajudá-lo até me descobrir doente.
_ Está tudo correto! Agora vou dizer uma palavra que corresponde ao que melhor representa a sua vida. Veja bem que não posso repeti-la e por isso preste muita atenção! A palavra é amor. Soletre-a.
_ A, eme, o, erre.
_ Correto! Bem-vinda ao céu!

Lá na Terra, o viúvo e novamente casado maridão curtiu sua vida e um dia em que passava férias na Suíça, foi dar uma de esquiador, aprendeu mais ou menos, mas não o bastante para se desviar de uma árvore contra a qual bateu a cara a 90 km/h. Lá no céu, S. Pedro precisou atender a um chamado de Deus e colocou aquela boa ex-esposa para recepcionar o pessoal. E foi aí que ela se deparou com maridão. Trocam cumprimentos e então ela repete as palavras do santo:
_ Diga-me o que fez na sua vida. Tudo bem, eu sei tudo, mas fui instruída a fazer essa pergunta para ver como está a sinceridade dos que aqui dizem ter o direito de entrar.
Diante dessa, o maridão viu que não ia adiantar mentir ou inventar.
_ Bem... eu fui um garoto levado e preguiço, nunca fui de ajudar minha mãe nem para arrumar a cama. Aí depois me casei com você. No início foi bom, mas sacomé: arroz e feijão todo o dia enjoa e como eu ganha até mais ou menos bem no serviço, então catava umas amantezinhas de vez em quando e quando não era com elas, pagava rodadas pros amigos...
_ É... e eu dando duro para sustentar a casa!
_ Ah! Sinto muito querida, mas a vida é assim mesmo!
_ Bem, ao menos eu fiz arranjos para ter um enterro mais adequado. Você cumpriu tudo, certo?
_ Ah... Bem, na verdade não...
_ O que fez afinal?
_ Olha, eu já tinha amante que estava prestes a receber uma boa herança, mas precisava dar a ela a impressão de que eu não estava interessado na grana dela e aí sempre me apresentava de terno e todo embonecado e quando vi que você tinha juntado toda aquela grana na poupança, então cancelei tudo. Achei também um vestido surrado que estava no lixo e vesti você com ele. Afinal os seus vestidos e as outras roupas estavam bem conservadas e pude vender tudo a um preço bom. Ah! Também vendi o jazigo...
_ E onde me enterrou?
_ Na verdade mandei seu corpo pro IML e sei lá o que fizeram dele... Enterraram como indigente em algum lugar por aí... Não fica brava não, querida. Sacomé, se tinha morrido e eu precisava continuar com a minha vida...
_ Tudo bem, sem problemas. Mas de acordo com as regras, eu tenho de lhe dizer uma coisa aqui e só poderá entrar no céu se a soletrar corretamente.
_ E de que coisa se trata.
_ Do nome de uma pessoa. Lembra do Zé Hindu? É o nome dele que você vai ter de soletrar. Afinal o seu modo de vida foi muito incentivado por ele, não é? As regras dizem que tenho de dizer aquilo que foi mais significativo em sua vida.
_ Ah é! O Zé Hindu sempre foi muito legal e eu contava tudo para ele e ele sempre me disse que era assim mesmo. Que se um homem amasse mesmo a sua esposa, deveria traí-la... Mas então tudo bem! Aí vai: Zê, e, agá...
_ Um momento aí querido, você terá de soletrar o NOME dele e não o apelido. Lembra-se que ele era um brâmane legítimo que emigrou para o Brasil. Então vai ter de soletrar o nome verdadeiro dele.
_ Ih! Mas eu sempre conheci ele como Zé Hindu. Ele nunca me disse que isso era apelido. Mas então qual é o nome dele?
_ Estou com ele aqui na mão, mas preste muita atenção, pois só posso falar uma vez. Não me é permitido repetir.
_ Então diz aí! Sou todo ouvidos e quero curtir um barato aí no céu! Tô vendo daqui que tem arrasta-pé e até cerveja e cachaça!
_ É tem sim! Bom, então ouça bem o nome verdadeiro do Zé Hindu: Brahmashivhadharmaputra Omaharmayogananda.

Bem, isso é para aqueles que acham que as mulheres não guardam rancores...

(baseado no filme A falecida, com Fernanda Montenegro (mocinha) e originalmente não era o Brahma alguma coisa e sim Arnold Schwazzenegger.)

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Fernando Silva
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por Fernando Silva »

São Pedro teve que resolver um assunto e deixou o anjo Miguel tomando conta da porta do céu.
Disse a ele: "Mostre a quem chegar a Bíblia e este monte de dólares. Quem escolher a Bíblia, entra".
Dalí a pouco, chegou um sujeito e o anjo lhe propôs a escolha.
O cara pegou a Bíblia, começou a folheá-la e disse:
"Veja, é o livro do Gênesis".
E marcou a página com uma nota de 100 dólares.
"Veja, é o livro do profeta Isaías".
E marcou a página com outra nota.
Depois de algum tempo e várias notas de 100 dólares, o anjo disse:
"Vejo que você é um conhecedor da Bíblia. Pode entrar".
Quando Pedro voltou e soube da história, ficou furioso:
"Porra, Miguel, você deixou entrar o Edir Macedo!".

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Nota: a piada original estava em catalão e o cara era da Opus Dei.

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Lúcifer
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por Lúcifer »

Fernando Silva escreveu:São Pedro teve que resolver um assunto e deixou o anjo Miguel tomando conta da porta do céu.
Disse a ele: "Mostre a quem chegar a Bíblia e este monte de dólares. Quem escolher a Bíblia, entra".
Dalí a pouco, chegou um sujeito e o anjo lhe propôs a escolha.
O cara pegou a Bíblia, começou a folheá-la e disse:
"Veja, é o livro do Gênesis".
E marcou a página com uma nota de 100 dólares.
"Veja, é o livro do profeta Isaías".
E marcou a página com outra nota.
Depois de algum tempo e várias notas de 100 dólares, o anjo disse:
"Vejo que você é um conhecedor da Bíblia. Pode entrar".
Quando Pedro voltou e soube da história, ficou furioso:
"Porra, Miguel, você deixou entrar o Edir Macedo!".

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Nota: a piada original estava em catalão e o cara era da Opus Dei.



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Deise Garcia
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por Deise Garcia »

Aconteceu o final do mundo. A galinha chocou seu último ovo e quando chegou ao céu a porta estava fechada. Pediu então a São Pedro que lhe desse uma chance para entrar pois estava com seus filhinhos pequenos e não tinha para onde ir. São Pedro, penalizado, disse que abriria a porta apenas por um segundo e que todos deveriam correr para entrar, caso contrário ficariam pela eternidade do lado de fora. Abriu-se então a porta e foi aquele corre-corre. Quase todos conseguiram entrar, menos um pintinho que ficou chorando.
Qual é a moral da história?
Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.

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Anansi
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por Anansi »

Deise Garcia escreveu:Aconteceu o final do mundo. A galinha chocou seu último ovo e quando chegou ao céu a porta estava fechada. Pediu então a São Pedro que lhe desse uma chance para entrar pois estava com seus filhinhos pequenos e não tinha para onde ir. São Pedro, penalizado, disse que abriria a porta apenas por um segundo e que todos deveriam correr para entrar, caso contrário ficariam pela eternidade do lado de fora. Abriu-se então a porta e foi aquele corre-corre. Quase todos conseguiram entrar, menos um pintinho que ficou chorando.
Qual é a moral da história?


a) O pintinho não pagou seu karma na hora certa e por isso se sobrou.

b) São Pedro é um velho sacana que deixou o pintinho do lado de fora e este se sobrou.

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Lúcifer
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Re: Um ateu chega ao céu

Mensagem por Lúcifer »

Deise Garcia escreveu:Aconteceu o final do mundo. A galinha chocou seu último ovo e quando chegou ao céu a porta estava fechada. Pediu então a São Pedro que lhe desse uma chance para entrar pois estava com seus filhinhos pequenos e não tinha para onde ir. São Pedro, penalizado, disse que abriria a porta apenas por um segundo e que todos deveriam correr para entrar, caso contrário ficariam pela eternidade do lado de fora. Abriu-se então a porta e foi aquele corre-corre. Quase todos conseguiram entrar, menos um pintinho que ficou chorando.
Qual é a moral da história?


O pinto que demora, brocha!!
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Trancado