a troça com o titio
Enviado: 26 Fev 2008, 19:59
VEJA: AS BOBAGENS MANIQUEÍSTAS DO "ARTICULISTINHA" REINALDO AZEVEDO
No dia-a-dia, ele é blogueiro. Já teve sua revista, que foi fechada tão-logo o banco estadual (sob gestão tucana) Nossa Caixa parou de anunciar. Depois, foi contratado pela Veja. É a vida.
Além de manter um blog no portal da revista, ele escreve vez por outra o que denominam "artigo", mas não sei bem como podemos qualificar. O último, por exemplo, é de uma superficialidade arrasadora, digna dos "gurus da classe-média".
Ele em itálico, destacado; eu logo abaixo:
"Fidel e o golpe da revolução operada por outros meios - A semente do mensalão está na pistola com que Che Guevara executou um guerrilheiro que roubara um pedaço de pão. O dossiê dos aloprados foi planejado em Sierra Maestra. O aparelhamento do estado e a farra dos cartões desfilaram com Fidel Castro em Havana, em 1959. Isso é história de mentalidades, não de nexos pobremente causais. O assalto ao Erário, à ordem legal e à administração do estado seria apenas a revolução operada por outros meios."
O "articulista" tenta explicar as relações que estabelece usando o que chama de "história de mentalidades", dissociando-a do que seriam "nexos pobremente causais" (o "pobremente" faz com que seu critério - em sua própria opinião, claro - seja o "rico").
Houve atrocidades em Cuba? Sim. E ainda há. Daí a dizer que o ideário dos governantes da ilha seria a "semente do mensalão" ou o início do planejamento do "dossiê dos aloprados", convenhamos, há uma longa distância.
Porque o Mensalão surgiu no PSDB mineiro - e não podemos fazer de conta que não houve o episódio da compra de votos para a Emenda da Reeleição, uma espécie de "mensalão com pagamento à vista".
Quanto aos dossiês... Bom, eles remontam a tempos que antecedem o governo petista e, para ficar num único exemplo, podemos citar o "caso Lunus", aquele em que um fax da PF foi enviado ao Palácio do Planalto (então sob FHC) com a mensagem "missão cumprida".
A "missão" acabou destruindo a candidatura de Roseana Sarney e abriu a avenida para passar o bloco tucano (que, no fim das contas, seria atropelado no voto popular).
O PSDB defende Cuba? Não, não defende. O PT, em sua maioria, sim. Mas é risível essa relação "rica" e "de mentalidades" que o "articulista" (haja aspas!) tenta firmar logo no primeiro parágrafo.
O esforço empreendido em desfavor de um partido e - por conseguinte - em favor de outro não apenas beira os limites do ridículo, mas nitidamente os ultrapassa.
* * *
"Fidel, vê-se, é uma figura marcante na história do Brasil. A justificativa nada improcedente do golpe militar de 1964 foi impedir a "cubanização" do país. Figuras que transitam neste governo têm sua folha corrida ou sua lenda pessoal ligadas à trajetória do "comandante". José Dirceu, por exemplo, ganhou seu caráter e uma de suas caras treinando guerrilha na Cuba revolucionária."
"Cubanização" do país? Basta estudar minimamente o tema para constatar que o Golpe de 1964 não tentou impedir algo parecido com o havido em Cuba, mas sim um recrudescimento esquerdista/comunista da gestão de Jango - é um argumento forte e, se verídico, bem razoável para a medida extrema.
O que houve em Cuba foi algo bem diferente: o governo de Fulgêncio Batista foi derrubado por um grupo revolucionário, que implantou uma ditatura que prevalece até os dias de hoje.
No Brasil houve menos uma "cubanização" e mais o que houve no Chile - sem o detalhe das bombas sobre o palácio. Aliás, tendo em vista a cronologia, é quase razoável dizer que no Chile houve uma "Janguização Mais Bem Sucedida e Menos Antidemocrática".
Reinaldo Azevedo, em seu blog, quase sempre tenta desmoralizar Allende. Talvez isso sirva de prova de que ele não seja "serrista".
Afinal, José Serra - bem como boa parte da cúpula do PSDB - encontrou guarida no Chile de Salvador Allende e, além disso, o governador paulista se casou com Silvia Monica Allende (desde então também) Serra, que é da família do ex-Presidente chileno execrado por Reinaldo em seu blog hospedado pela Veja Online.
Reinaldo, quando ataca Allende, mostra que é tão anti-serrista como quando semeia a discórdia no PSDB, em especial atacando Aécio Neves.
* * *
"As esquerdas, diz um amigo, não têm uma teologia, só uma demonologia. Ainda não definiram as virtudes pelas quais lutam, mas têm claros os valores contra os quais conspiram, e o mais importante de seus alvos é a liberdade. (...) Como diria o cubanófilo Chico Buarque, inventaram o pecado, mas não o perdão."
Segundo o texto, somos informados de que Reinaldo tem um amigo idiota. O irônico é que ele o cita justamente como fonte de um pensamento estapafúrdio. Porque tanto faz se há teologia ou "demonologia", já que nenhuma das hipóteses serve para o exemplo que ele dá.
O que é a teologia? O estudo "de deus". Em razão da infinita discrição material dessa hipotética figura, e do fato de que não haja provas científicas de sua existência, a "teologia" se resume ao estudo de textos, dogmas e doutrinas religiosos. O que seria, na política, uma "teologia? O estudo de dogmas e doutrinas (e a "demonologia" o seu equivalente a respeito do Coisa-Ruim).
Mas, de acordo com o que segue em tal parágrafo, o "articulista" provavelmente quis dizer que "as esquerdas" sabem o que não querem, mas não sabem exatamente o que querem. Teriam, portanto, uma espécie de "agenda negativa", mas não uma "positiva".
Para contra-argumentar um raciocínio que traz como base a opinião de "um amigo", bastaria citar "dois amigos" que dizem o contrário e pronto. Mas o melhor é a destruição lógica dessa bobagem.
Tenho minhas críticas à esquerda, que não são poucas, mas não caio nessa bobagem escalafobética de que ela não definiu "as virtudes" pelas quais luta. Claro que definiu! Minhas divergências com boa parte da esquerda é a forma pela qual realiza tal luta.
Reinaldo Azevedo, usando um "amigo" como base, tenta dizer o seguinte: as esquerdas não querem nada de bom, só querem o mal.
Por fim, sem estabelecer lógica com o "raciocínio" original, cita Chico Buarque apenas para tirar sarro (e o faz também em seguida, no mesmo artigo).
É a velha tática de chamar atenção distribuindo o maior número possível de ofensas para receber de volta ataques e elogios - respectivamente, dos defensores e detratores das pessoas ofendidas.
Pura apelação para atrair Ibope.
* * *
"Num ambiente em que se articulam "teologia", "demonologia" e "esquerdas", uma voz autorizada é a de Frei Betto, o mais pio dos nossos "cubanos", eventualmente ímpio, já que é um religioso. O homem é de uma coragem moral admirável na amizade que mantém com Fidel. Em seu convicto repúdio ao inferno capitalista, jamais se deixou impressionar por execuções sumárias."
Frei Betto, de fato, é defensor do regime castrista e merece ser cobrado por isso. Não tenho dúvida. Mas o que Reinaldo diria das relações da Igreja Católica com Cuba, sobretudo acerca da visita do Papa João Paulo II? (ou mesmo da recente visita de outro representante do Vaticano, já recebido por Raúl, o irmãocaçula-em-chefe).
E a "Santa" Sé tem uma longa tradição de simpatia com regimes autoritários. Pio XII não nos deixa mentir no que diz respeito a isso, haja vista sua relação nada animosa com Hitler e Mussolini.
* * *
"E há Chico Buarque, o terror da propriedade e dos casamentos privados do Leblon. Sim, a nossa Palas Athena da MPB tem até um retrato no Museu da Revolução de Cuba, tal é a admiração que lhe devota o "comandante". O povo prefere Nelson Ned e a novela Escrava Isaura. Entendo: deve identificar o dono da ilha com Leôncio, o bandidão senhor de escravos. "Chico", essa entidade acima da moral e, quiçá, dos bons costumes, faz lirismo voluntário com o sangue involuntário das vítimas de Fidel. Um talentoso idiota moral."
Concordo que Chico Buarque deva ser cobrado por sua simpatia com o regime ditatorial cubano; não entro nessa onda de que o compositor é um "intocável".
Mas, fazendo como fez, Reinaldo não quer suscitar um debate. Nada disso. O que ele quer é ver o circo pegar fogo. Cria uma polêmica, aguarda tabefes de um lado e aplausos de outro, e se coloca no centro de tudo.
Citar os "casamentos privados" do Leblon, em cuja praia o compositor foi flagrado com uma mulher casada, é uma mistura de ataque com talvez inveja; porque além de intelectualmente muito superior, Chico Buarque absurdamente acima de Reinaldo em qualquer nível de avaliação estética.
Mas Reinaldo "?porquenotecallas?" Azevedo nunca sabe a hora de parar. É o "Joselito" da blogosfera e também da imprensa.
Como já disse: é uma velha tática.
Vários já tiraram esse sarro cubano de Chico Buarque, e quem o fez de forma parecida com a de Azevedo foi Clodovil, o deputado. Quando informado de um apartamento de Chico em Paris, o parlamentar respondeu com ironia: "ué, achei que ele preferisse Cuba..." (algo assim, não sei quais foram as palavras exatas)
Se um articulista é superado em genialidade por Clodovil Hernandez, convenhamos, é hora da revista repensar alguns conceitos.
* * *
"Boa parte da imprensa não fugiu a esse clima de leniência (ou "leninência": não resisti ao trocadilho, perdoe-me) com o "comandante". Sua renúncia assanhou as células do ódio à democracia e à economia de mercado. Sob o pretexto da isenção, atribuíram ao facínora uma herança "ambígua". Num rasgo de covardia intelectual, decretou-se: "Só a história poderá julgá-lo"."
A melhor parte do texto de Reinaldo é o trocadilho. Seus leitores não apenas devem "perdoá-lo", como principalmente estimulá-lo a fazer apenas isso: trocadilhos. É seu ponto alto. O resto é bobagenzinha de pretenso intelectual.
Então a renúncia de Fidel "assanhou as células do ódio à democracia e à economia de mercado"? Avepai! É por isso que Fernando de Barros e Silva, Eliane Cantanhêde e até Nelson Motta o tratam com desdém.
Só nos resta dar risada, mesmo.
* * *
"Fidel mandou matar em julgamentos sumários 9 479 pessoas. Estima-se que os mortos do regime cheguem a 17 000. Dois milhões de pessoas fugiram do país – 15% dos 13 milhões de cubanos. Isso corresponderia a 27 milhões de brasileiros no exílio. Ele matou 130,76 indivíduos por 100 000 habitantes; Pinochet, o facínora chileno, "apenas" 24; a ditadura brasileira, "só" 0,3. O comandante é 435,86 vezes mais assassino do que os generais brasileiros, que encheram de metáforas humanistas a conta bancária de Chico Buarque. A história dirá quem foi Fidel? Já disse! Permaneceu 49 anos no poder; no período, passaram pela Casa Branca, lá no "Império" detestado por Niemeyer, dez presidentes!"
Reinaldo está certo. Fidel é um ditador facínora e os que o defendem ou defenderam merecem - mesmo! - ser lembrados disso de forma sempre negativa, não importa quão sacrossantos parecem ser.
Depois do trocadilho, essa é a parte mais adequada de seu artigo e a única que não merece contestação alguma.
É triste que o "articulista" se valha desses fatos verídicos - e evidentemente deploráveis - para fazer suas analogias pobres, seus ataques a figuras carismáticas (para atrair IBOPE) etc.
* * *
"Cadê a ambigüidade? A mitologia da resistência é uma trapaça ideológica a emprestar a homicidas compulsivos a dignidade de utopistas. Hoje, os nossos "cubanófilos" estão empenhados é em assaltar os cofres. O problema não está nas duas caras que eles têm, mas na moral que eles não têm. E é bom lembrar: os ladrões vulgares não desistiram de solapar a democracia."
Quem são nossos "cubanófilos"? E que cofres Chico Buarque ou Niemeyer assaltaram? Ah, entendi... Ele fala sobre o PT? Bom... Então os não-cubanófilos são mais competentes no que diz respeito aos assaltos aos "cofres", não?
Porque os petistas que foram pegos com a boca na botija, coitados, levaram meros tostões. Merecem punição, sim! Mas isso tudo, perto do que foi feito em gestões passadas, faz parecer que os "pró-Cuba" são menos nocivos ao erário.
Cuba tem algo a ver com isso? Creio que não. Esse tipo de tunga na Administração Pública, muito infelizmente, é produto 100% brasileiro. Não há semente em Che ou raiz em Fidel ou coisa que o valha.
A coisa começou, mesmo, com Pedro Álvares Cabral. Isso não faz de Fidel Castro menos facínora. Apenas faz com que a associação de uma coisa com outra, feita por Reinaldo Azevedo, seja considerada bem ridícula.
Mas o "articulista" é espertucho e, logo no início, avisa que suas analogias não são "pobremente causais". De fato, não são causais. Mas são pobres, sim. E muito. São paupérrimas sob qualquer ponto de vista.
* * *
Ouvi dizer que ele estaria escrevendo um livro e que a editora teria encomendado três obras, sei lá, algo assim. Evidentemente, trata-se de auto-ajuda. Não no sentido literário, mas no literal.
* * *
Em tempo: Nelson Motta, na FSP, já escreveu brilhantemente sobre Cuba, sem esses adjetivos sofríveis de Azevedo - e fazendo uma crítica muito mais contundente do que a tentativa do "articulista/blogueiro" de atacar o PT a todo custo.
http://www.interney.net/blogs/imprensamarrom/
No dia-a-dia, ele é blogueiro. Já teve sua revista, que foi fechada tão-logo o banco estadual (sob gestão tucana) Nossa Caixa parou de anunciar. Depois, foi contratado pela Veja. É a vida.
Além de manter um blog no portal da revista, ele escreve vez por outra o que denominam "artigo", mas não sei bem como podemos qualificar. O último, por exemplo, é de uma superficialidade arrasadora, digna dos "gurus da classe-média".
Ele em itálico, destacado; eu logo abaixo:
"Fidel e o golpe da revolução operada por outros meios - A semente do mensalão está na pistola com que Che Guevara executou um guerrilheiro que roubara um pedaço de pão. O dossiê dos aloprados foi planejado em Sierra Maestra. O aparelhamento do estado e a farra dos cartões desfilaram com Fidel Castro em Havana, em 1959. Isso é história de mentalidades, não de nexos pobremente causais. O assalto ao Erário, à ordem legal e à administração do estado seria apenas a revolução operada por outros meios."
O "articulista" tenta explicar as relações que estabelece usando o que chama de "história de mentalidades", dissociando-a do que seriam "nexos pobremente causais" (o "pobremente" faz com que seu critério - em sua própria opinião, claro - seja o "rico").
Houve atrocidades em Cuba? Sim. E ainda há. Daí a dizer que o ideário dos governantes da ilha seria a "semente do mensalão" ou o início do planejamento do "dossiê dos aloprados", convenhamos, há uma longa distância.
Porque o Mensalão surgiu no PSDB mineiro - e não podemos fazer de conta que não houve o episódio da compra de votos para a Emenda da Reeleição, uma espécie de "mensalão com pagamento à vista".
Quanto aos dossiês... Bom, eles remontam a tempos que antecedem o governo petista e, para ficar num único exemplo, podemos citar o "caso Lunus", aquele em que um fax da PF foi enviado ao Palácio do Planalto (então sob FHC) com a mensagem "missão cumprida".
A "missão" acabou destruindo a candidatura de Roseana Sarney e abriu a avenida para passar o bloco tucano (que, no fim das contas, seria atropelado no voto popular).
O PSDB defende Cuba? Não, não defende. O PT, em sua maioria, sim. Mas é risível essa relação "rica" e "de mentalidades" que o "articulista" (haja aspas!) tenta firmar logo no primeiro parágrafo.
O esforço empreendido em desfavor de um partido e - por conseguinte - em favor de outro não apenas beira os limites do ridículo, mas nitidamente os ultrapassa.
* * *
"Fidel, vê-se, é uma figura marcante na história do Brasil. A justificativa nada improcedente do golpe militar de 1964 foi impedir a "cubanização" do país. Figuras que transitam neste governo têm sua folha corrida ou sua lenda pessoal ligadas à trajetória do "comandante". José Dirceu, por exemplo, ganhou seu caráter e uma de suas caras treinando guerrilha na Cuba revolucionária."
"Cubanização" do país? Basta estudar minimamente o tema para constatar que o Golpe de 1964 não tentou impedir algo parecido com o havido em Cuba, mas sim um recrudescimento esquerdista/comunista da gestão de Jango - é um argumento forte e, se verídico, bem razoável para a medida extrema.
O que houve em Cuba foi algo bem diferente: o governo de Fulgêncio Batista foi derrubado por um grupo revolucionário, que implantou uma ditatura que prevalece até os dias de hoje.
No Brasil houve menos uma "cubanização" e mais o que houve no Chile - sem o detalhe das bombas sobre o palácio. Aliás, tendo em vista a cronologia, é quase razoável dizer que no Chile houve uma "Janguização Mais Bem Sucedida e Menos Antidemocrática".
Reinaldo Azevedo, em seu blog, quase sempre tenta desmoralizar Allende. Talvez isso sirva de prova de que ele não seja "serrista".
Afinal, José Serra - bem como boa parte da cúpula do PSDB - encontrou guarida no Chile de Salvador Allende e, além disso, o governador paulista se casou com Silvia Monica Allende (desde então também) Serra, que é da família do ex-Presidente chileno execrado por Reinaldo em seu blog hospedado pela Veja Online.
Reinaldo, quando ataca Allende, mostra que é tão anti-serrista como quando semeia a discórdia no PSDB, em especial atacando Aécio Neves.
* * *
"As esquerdas, diz um amigo, não têm uma teologia, só uma demonologia. Ainda não definiram as virtudes pelas quais lutam, mas têm claros os valores contra os quais conspiram, e o mais importante de seus alvos é a liberdade. (...) Como diria o cubanófilo Chico Buarque, inventaram o pecado, mas não o perdão."
Segundo o texto, somos informados de que Reinaldo tem um amigo idiota. O irônico é que ele o cita justamente como fonte de um pensamento estapafúrdio. Porque tanto faz se há teologia ou "demonologia", já que nenhuma das hipóteses serve para o exemplo que ele dá.
O que é a teologia? O estudo "de deus". Em razão da infinita discrição material dessa hipotética figura, e do fato de que não haja provas científicas de sua existência, a "teologia" se resume ao estudo de textos, dogmas e doutrinas religiosos. O que seria, na política, uma "teologia? O estudo de dogmas e doutrinas (e a "demonologia" o seu equivalente a respeito do Coisa-Ruim).
Mas, de acordo com o que segue em tal parágrafo, o "articulista" provavelmente quis dizer que "as esquerdas" sabem o que não querem, mas não sabem exatamente o que querem. Teriam, portanto, uma espécie de "agenda negativa", mas não uma "positiva".
Para contra-argumentar um raciocínio que traz como base a opinião de "um amigo", bastaria citar "dois amigos" que dizem o contrário e pronto. Mas o melhor é a destruição lógica dessa bobagem.
Tenho minhas críticas à esquerda, que não são poucas, mas não caio nessa bobagem escalafobética de que ela não definiu "as virtudes" pelas quais luta. Claro que definiu! Minhas divergências com boa parte da esquerda é a forma pela qual realiza tal luta.
Reinaldo Azevedo, usando um "amigo" como base, tenta dizer o seguinte: as esquerdas não querem nada de bom, só querem o mal.
Por fim, sem estabelecer lógica com o "raciocínio" original, cita Chico Buarque apenas para tirar sarro (e o faz também em seguida, no mesmo artigo).
É a velha tática de chamar atenção distribuindo o maior número possível de ofensas para receber de volta ataques e elogios - respectivamente, dos defensores e detratores das pessoas ofendidas.
Pura apelação para atrair Ibope.
* * *
"Num ambiente em que se articulam "teologia", "demonologia" e "esquerdas", uma voz autorizada é a de Frei Betto, o mais pio dos nossos "cubanos", eventualmente ímpio, já que é um religioso. O homem é de uma coragem moral admirável na amizade que mantém com Fidel. Em seu convicto repúdio ao inferno capitalista, jamais se deixou impressionar por execuções sumárias."
Frei Betto, de fato, é defensor do regime castrista e merece ser cobrado por isso. Não tenho dúvida. Mas o que Reinaldo diria das relações da Igreja Católica com Cuba, sobretudo acerca da visita do Papa João Paulo II? (ou mesmo da recente visita de outro representante do Vaticano, já recebido por Raúl, o irmãocaçula-em-chefe).
E a "Santa" Sé tem uma longa tradição de simpatia com regimes autoritários. Pio XII não nos deixa mentir no que diz respeito a isso, haja vista sua relação nada animosa com Hitler e Mussolini.
* * *
"E há Chico Buarque, o terror da propriedade e dos casamentos privados do Leblon. Sim, a nossa Palas Athena da MPB tem até um retrato no Museu da Revolução de Cuba, tal é a admiração que lhe devota o "comandante". O povo prefere Nelson Ned e a novela Escrava Isaura. Entendo: deve identificar o dono da ilha com Leôncio, o bandidão senhor de escravos. "Chico", essa entidade acima da moral e, quiçá, dos bons costumes, faz lirismo voluntário com o sangue involuntário das vítimas de Fidel. Um talentoso idiota moral."
Concordo que Chico Buarque deva ser cobrado por sua simpatia com o regime ditatorial cubano; não entro nessa onda de que o compositor é um "intocável".
Mas, fazendo como fez, Reinaldo não quer suscitar um debate. Nada disso. O que ele quer é ver o circo pegar fogo. Cria uma polêmica, aguarda tabefes de um lado e aplausos de outro, e se coloca no centro de tudo.
Citar os "casamentos privados" do Leblon, em cuja praia o compositor foi flagrado com uma mulher casada, é uma mistura de ataque com talvez inveja; porque além de intelectualmente muito superior, Chico Buarque absurdamente acima de Reinaldo em qualquer nível de avaliação estética.
Mas Reinaldo "?porquenotecallas?" Azevedo nunca sabe a hora de parar. É o "Joselito" da blogosfera e também da imprensa.
Como já disse: é uma velha tática.
Vários já tiraram esse sarro cubano de Chico Buarque, e quem o fez de forma parecida com a de Azevedo foi Clodovil, o deputado. Quando informado de um apartamento de Chico em Paris, o parlamentar respondeu com ironia: "ué, achei que ele preferisse Cuba..." (algo assim, não sei quais foram as palavras exatas)
Se um articulista é superado em genialidade por Clodovil Hernandez, convenhamos, é hora da revista repensar alguns conceitos.
* * *
"Boa parte da imprensa não fugiu a esse clima de leniência (ou "leninência": não resisti ao trocadilho, perdoe-me) com o "comandante". Sua renúncia assanhou as células do ódio à democracia e à economia de mercado. Sob o pretexto da isenção, atribuíram ao facínora uma herança "ambígua". Num rasgo de covardia intelectual, decretou-se: "Só a história poderá julgá-lo"."
A melhor parte do texto de Reinaldo é o trocadilho. Seus leitores não apenas devem "perdoá-lo", como principalmente estimulá-lo a fazer apenas isso: trocadilhos. É seu ponto alto. O resto é bobagenzinha de pretenso intelectual.
Então a renúncia de Fidel "assanhou as células do ódio à democracia e à economia de mercado"? Avepai! É por isso que Fernando de Barros e Silva, Eliane Cantanhêde e até Nelson Motta o tratam com desdém.
Só nos resta dar risada, mesmo.
* * *
"Fidel mandou matar em julgamentos sumários 9 479 pessoas. Estima-se que os mortos do regime cheguem a 17 000. Dois milhões de pessoas fugiram do país – 15% dos 13 milhões de cubanos. Isso corresponderia a 27 milhões de brasileiros no exílio. Ele matou 130,76 indivíduos por 100 000 habitantes; Pinochet, o facínora chileno, "apenas" 24; a ditadura brasileira, "só" 0,3. O comandante é 435,86 vezes mais assassino do que os generais brasileiros, que encheram de metáforas humanistas a conta bancária de Chico Buarque. A história dirá quem foi Fidel? Já disse! Permaneceu 49 anos no poder; no período, passaram pela Casa Branca, lá no "Império" detestado por Niemeyer, dez presidentes!"
Reinaldo está certo. Fidel é um ditador facínora e os que o defendem ou defenderam merecem - mesmo! - ser lembrados disso de forma sempre negativa, não importa quão sacrossantos parecem ser.
Depois do trocadilho, essa é a parte mais adequada de seu artigo e a única que não merece contestação alguma.
É triste que o "articulista" se valha desses fatos verídicos - e evidentemente deploráveis - para fazer suas analogias pobres, seus ataques a figuras carismáticas (para atrair IBOPE) etc.
* * *
"Cadê a ambigüidade? A mitologia da resistência é uma trapaça ideológica a emprestar a homicidas compulsivos a dignidade de utopistas. Hoje, os nossos "cubanófilos" estão empenhados é em assaltar os cofres. O problema não está nas duas caras que eles têm, mas na moral que eles não têm. E é bom lembrar: os ladrões vulgares não desistiram de solapar a democracia."
Quem são nossos "cubanófilos"? E que cofres Chico Buarque ou Niemeyer assaltaram? Ah, entendi... Ele fala sobre o PT? Bom... Então os não-cubanófilos são mais competentes no que diz respeito aos assaltos aos "cofres", não?
Porque os petistas que foram pegos com a boca na botija, coitados, levaram meros tostões. Merecem punição, sim! Mas isso tudo, perto do que foi feito em gestões passadas, faz parecer que os "pró-Cuba" são menos nocivos ao erário.
Cuba tem algo a ver com isso? Creio que não. Esse tipo de tunga na Administração Pública, muito infelizmente, é produto 100% brasileiro. Não há semente em Che ou raiz em Fidel ou coisa que o valha.
A coisa começou, mesmo, com Pedro Álvares Cabral. Isso não faz de Fidel Castro menos facínora. Apenas faz com que a associação de uma coisa com outra, feita por Reinaldo Azevedo, seja considerada bem ridícula.
Mas o "articulista" é espertucho e, logo no início, avisa que suas analogias não são "pobremente causais". De fato, não são causais. Mas são pobres, sim. E muito. São paupérrimas sob qualquer ponto de vista.
* * *
Ouvi dizer que ele estaria escrevendo um livro e que a editora teria encomendado três obras, sei lá, algo assim. Evidentemente, trata-se de auto-ajuda. Não no sentido literário, mas no literal.
* * *
Em tempo: Nelson Motta, na FSP, já escreveu brilhantemente sobre Cuba, sem esses adjetivos sofríveis de Azevedo - e fazendo uma crítica muito mais contundente do que a tentativa do "articulista/blogueiro" de atacar o PT a todo custo.
http://www.interney.net/blogs/imprensamarrom/