Nem os bons conseguem exportar

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Nem os bons conseguem exportar

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Nem os bons conseguem exportar

| 21.02.2008

- O Brasil tem alguns dos melhores pecuaristas do planeta. E eles pagam caro pela irresponsabilidade dos maus produtores e pela inépcia do governo


Claudio Rossi Hill, na fazenda Jacarezinho: está na hora de arrumar a casa
Por Roberta Paduan - EXAME

O inglês Ian David Hill deu graças a Deus pelo embargo da União Européia à carne brasileira, em vigor desde 1o de fevereiro. Não, Hill não está defendendo seus patrícios nem é adepto do protecionismo do Velho Mundo -- que tenta barrar as importações para proteger produtores incapazes de competir com o preço da carne produzida no Brasil. Seu raciocínio é outro: "Quem sabe, agora, pecuaristas, donos de frigoríficos e o governo brasileiro comecem a arrumar a casa para conseguirmos vender para o mundo inteiro", diz.
Aos 55 anos, 31 deles vivendo no Brasil, Hill preside a Agropecuária Jacarezinho, dos irmãos Alexandre e Pedro Grendene, conhecidos empresários do setor de calçados. Administra duas enormes propriedades, que somam 72 000 hectares de terra e abrigam 36 000 cabeças de gado nelore. As fazendas, uma em Araçatuba, no interior de São Paulo, e outra em Cotegipe, na Bahia, são reconhecidas como modelares na criação de gado no país. Mesmo assim, há quase três anos a Agropecuária Jacarezinho não consegue exportar para a Europa a carne in natura (ou seja, que não é industrializada) produzida na fazenda de Araçatuba.

O motivo? Desde 2005, a União Européia suspendeu a importação desse tipo de carne de fazendas paulistas, porque São Paulo faz divisa com Mato Grosso do Sul e Paraná, estados que registraram focos de febre aftosa naquele ano. Agora, foi a vez de a fazenda baiana também parar de vender para a Europa, já que o país inteiro foi embargado depois que auditores europeus constataram falhas no sistema de rastreamento do gado brasileiro. "A situação da Agropecuária Jacarezinho é apenas mais um triste exemplo do Brasil do bem que sai prejudicado pelo Brasil do mal", afirma o consultor César de Castro Alves, da MB Agro, especializada em agropecuária.

O Brasil do mal -- entenda-se, aí, parte dos pecuaristas, dos frigoríficos e várias áreas do governo -- foi responsável por fraudar e facilitar fraudes do sistema de rastreamento que o país se comprometeu a seguir. O controle exigido pela União Européia consiste na identificação de cada animal com um número que funciona como um RG.
Atrelado a esse RG deve ser criado um prontuário com informações da vida do animal, como as fazendas por onde passou e as vacinas que tomou. O ob jetivo do sistema -- cujo armazenamento de informações e fiscalização devem ser feitos pelo Ministério da Agricultura -- é permitir que, caso se constate um problema num bife vendido na Europa, seja possível localizar a fazenda de onde saiu o animal e impedir o alastramento de doenças. Uma série de falhas na implantação do programa e a falta de seriedade com que foi encarado resultaram no vexame pelo qual o país está passando há um mês perante o mundo, com episódios como o vai-e-vem de listas de fazendas e o bate-cabeça protagonizado pelo governo.

ESSE TIPO DE ERRO ERA TUDO o que os produtores europeus esperavam para fortalecer seu lobby protecionista contra o Brasil. Nos últimos tempos, a indústria brasileira de carne agigantou-se. Em 12 anos, a fatia de mercado do país na totalidade das exportações mundiais passou de 4% para 31%. O Brasil bateu todos os concorrentes e, há dois anos, assumiu a liderança mundial do setor à frente da Austrália. Hoje, o custo de produção da carne brasileira corresponde a 30% do custo médio na Europa.

No jogo da concorrência, apela-se para tudo, até para o YouTube, site na internet onde está disponível um vídeo produzido por uma publicação da Associação dos Fazendeiros Irlandeses. No vídeo, os irlandeses mostram cenas do que seria uma fazenda brasileira que comete uma série de irregularidades. O repórter mostra frascos de hormônios supostamente aplicados no gado, prática banida pela União Européia. Também exibe vacinas mal acondicionadas, animais sem brincos identificadores, além de trabalhadores vivendo em casas precárias.
Em certo ponto do vídeo, o repórter aparece na fronteira do estado de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul, impedido desde 2005 de exportar para a Europa em razão de ter registrado casos de febre aftosa, e afirma que o gado pode passar livremente de um estado embargado para o outro (até então) livre. E arremata: "O rastreamento de gado no Brasil é pura ficção". Não é possível saber se o vídeo foi fraudado ou se os europeus de fato encontraram os problemas. O certo é que problemas existem, assim como existe o protecionismo por motivos econômicos.


Mais...http://portalexame.abril.com.br/revista ... 52082.html
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