docdeoz escreveu:Mas o ser humano não adquiriu o bipedismo para poupar energia? Não buscou o andar ereto para buscar mais alimentos (e portanto mais energia?)
Na verdade é bem possível que o bipedismo seja apenas inércia dos ancestrais arborícolas, que seriam anatômicamente mais paracidos em alguns aspectos com os gibões e orangotangos (os últimos sendo ainda hoja mais parecidos conosco em alguns aspectos anatômicos), em vez da evolução de um estágio meio "quadrúpede" como o dos chimpanzés e gorilas até o bipedismo. Os ancestrais dos gorilas e chimpanzés, já teriam se beneficiado de um tipo de "volta"
improvisada ao quadrupedismo, que é bem mais eficiente em velocidade, tendo a vantagem adicional de maior força nos membros anteriores.
Assim, essa herança do bipedismo simplesmente teria permitido poupar energia e percorrer áreas mais longas andando, mas não teria sido selecionada diretamente para isso a partir de um estágio mais próximo de quadrúpede que gastasse mais energia para percorrer longas distâncias.
De qualquer forma, mesmo que tenha sido isso, uma evolução de um estágio já meio quadrúpede ao bipedismo, isso simplesmente não importa porque a seleção natural não é uma mente consciente que tem como objetivo ficar criando modos dos seres organismos cada vez mais eficientes energéticamente independentemente de possibilidades de exploração dos nichos ecológicos.
A seleção natural não é produto de um "raciocínio", é como se fosse uma erosão, causada por forças que são irracionais, mas que esculpem a paisagem de acordo; a força dos ventos, da água, etc, "adapta" aspectos paisagem a elas.
Então qual é a vantagem de um cérebro tão perdulário energeticamente?
Diversas capacidades mentais são ampliadas, isso não é mais ou menos óbvio?
Nos primatas sociais, o tamanho do cérebro cresce mais ou menos proporcionalmente de acordo com o tamanho dos grupos sociais; em parte talvez seja algo que tenha possibilitado que os humanos vivessem em grupos sociais maiores (e daí ganhando várias vantagens concebíveis de se viver em grupo). Também temos maiores capacidades de planejamento, o que não é exatamente algo inútil. E há ainda a possibilidade do cérebro, das capacidades mentais serem (ou terem sido) em parte algo meio como uma "cauda de pavão", um adorno sexual que, se não fosse selecionado sexualmente, tenderia a diminuir em "exuberância" pela seleção natural apenas, por ser mais dispendioso e não tão necessário para mera sobrevivência. A seleção sexual da cauda do pavão também é selecionada naturalmente, mas de maneira mais indireta.
A exuberância das penas do pavão é um indicador de aptidão: indivíduos com caudas exuberantes tem maior probabilidade de serem saudáveis, de terem um bom sistema imunológico, e um bom condicionamento físico, além de terem tido a capacidade de não terem sido pegos por um predador apesar de terem aquela cauda. De forma similar, o cérebro/mente saudável e o seu comportamento decorrente sinaliza um certo grau de saúde/genes que são importante para a aptidão, e assim, as pessoas que sentem mais atração por pessoas cujo comportamento não denuncie nenhum problema nesse sentido, tem maior probabilidade de terem filhos saudáveis e mais aptos.
O negócio é poupar energia:
When microbes evolve in a continuous, nutrient-limited environment, natural selection can be predicted to favor
genetic changes that give cells greater access to limiting substrate. We analyzed a population of baker’s yeast that
underwent 450 generations of glucose-limited growth.
http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/reprint/15/8/931.pdf
Um cérebro mais capaz, apesar de ser em si mesmo mais dispendioso que um cérebro menos desenvolvido, pode levar a economia de energia: pense na diferença de pessoas mais e menos inteligentes tentando fazer a mesma coisa, ou mesmo crianças e adultos.
Mas reduzir tudo a questões energéticas atrapalha um pouco, é mais fácil se lembrar que antes de energia, é questão de reprodução e sobrevivência, custe o que custar. Diferentes gastos de energia podem influenciar diferentes graus de aptidão e capacidade de sobrevivência, mas não é algo simplesmente "mais energia gasta, menos aptidão, menor sobrevivência", e isso deve ser bastante óbvio.
Pense numa situação cartunesca, em que por exemplo, todos os homens tem que percorrer diferentes distâncias de carro para trabalhar, para sobreviver, e para ter uma vida social, na qual conhecem mulheres e tem filhos.
Há os carros que gastam mais e menos gasolina, mas esses diferentes gastos em gasolina podem estar relacionados a diferentes níveis de velocidade e capacidade de passar por terrenos mais acidentados, ou km por litro. Ter um carro econômico ou mesmo não ter carro, gastaria menos gasolina (ou não gastaria gasolina alguma), mas mesmo assim diminuiria a aptidão, porque passar por essa distância a pé ou por carrinhos econômicos não seria tão eficiente quanto ter um carro mais potente, ainda que esse gaste mais combustível, e assim os homens sem carro ou com carros mais econômicos, tem menores oportunidades de emprego porque a área em que podem procurar é menor. Ao mesmo tempo, talvez um carro até tivesse vantagem em ser potente demais, excessivamente dispendioso, desde que esse carrão fizesse mais sucesso com as mulheres.
E diga-se de passsagem, cérebros permitem inventar adatações "extras", que não temos naturalmente, como carros.