A sabedoria do senhor Capra
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A sabedoria do senhor Capra
LANA CAPRINA,
OU: A SABEDORIA DO SR. CAPRA
NO COMEÇO de novembro (7) estará chegando ao Brasil o sr. Fritjof Capra, chamado pela Universidade Holística de Brasília para falar sobre a Nova Era que ele anuncia no seu livro O Ponto de Mutação.
A voz do sr. Capra não clamará no deserto. A Universidade Holística já reuniu uma congregação de intelectuais locais para dizer-lhe amém. Entre os acólitos contam-se Frei Betto e o ex-reitor da UnB, Christovam Buarque. O sr. Capra, já se vê, não é um escritor como os outros: é um líder, uma autoridade espiritual e, admitamos logo, um profeta.
O conteúdo de suas profecias é bastante conhecido: O Ponto de Mutação anda até nas mãos das crianças, que o debatem nas escolas. Mas, segundo a Universidade Holística, isso não basta. O sr. Capra tem de ser ouvido por todos os amigos da espécie humana. Pois, embora homônimo de um cineasta que se celebrizou pelas fitas de happy end, ele não garante nenhum final feliz para o nosso século a não ser que a humanidade siga os seus conselhos. Passemos portanto a examiná-los, com a urgência requerida pelo caso.
Segundo o sr. Capra, a história do mundo chegou a um turning point, e deve mudar o seu curso. As três principais mudanças em pauta são as seguintes: primeira, a humanidade deixará de consumir combustíveis fósseis ( petróleo ); segunda, o patriarcado vai acabar; terceira, o paradigma científico vigente será substituído por um outro, de base holística. Estas três coisas já estão acontecendo, mas, assegura o sr. Capra, urge apressar a sua consumação, que marcará o advento da Nova Era.
Ao falar do primeiro item, o sr. Capra é muito breve, como convém aos profetas. Em vez das longas análises que concede aos dois outros temas, ele emite apenas esta profecia: "Esta década será marcada pela transição da era do combustível fóssil para uma nova era solar, acionada por energia renovável oriunda do Sol." Tendo o livro sido publicado em 1981, a década a que o sr. Capra se refere terminou em 1990. Bem, nem todos os profetas dão sorte. Mas, se a mencionada profecia vier a cumprir-se com quatro, cinco ou nove décadas de atraso, o sr. Capra sempre poderá alegar que S. João Evangelista também não foi muito preciso quanto à data do Apocalipse.
Como muitos outros profetas, o sr. Capra pode queixar-se de ser um incompreendido. Eu, por exemplo, não compreendo como é que o mundo poderia ter saltado direto da era dos combustíveis fósseis para a da energia solar, sem passar pela era atômica, na qual já estávamos na data de emissão da profecia e na qual continuamos a estar após a data do seu vencimento. Mas talvez a intuição profética do sr. Capra opere à velocidade da luz, saltando etapas. Eis aí aliás um bom motivo para saltarmos logo para o item seguinte, já que o primeiro capítulo da mutação não teve um happy end.
O patriarcado consiste, segundo o sr. Capra, num complexo de três elementos: primeiro, o domínio do homem sobre a mulher; segundo, o domínio da espécie humana sobre a natureza; terceiro, o predomínio da razão ( faculdade masculina ) sobre a intuição ( feminina ). São três lados de um fenômeno único, que o sr. Capra resume como a supremacia do yang sobre o yin.
É, como se vê, um tipo especial de patriarcado, bem diferente daquele que podemos encontrar nos livros de história e sociologia. Pois estes nos dizem que o aumento do poderio técnico sobre a natureza abalou o regime de propriedade rural no qual se esteava o patriarcado; e que o advento do Império da Razão, trazido no bojo da Revolução Francesa, promoveu logo em seguida a igualdade de direitos para homens e mulheres, desferindo o golpe de misericórdia na autoridade do pater familias. Em suma, que das três coisas que o sr. Capra reúne sob o rótulo comum de "patriarcado", duas são precisamente o contrário. Mas os profetas não ligam para as ciências profanas. Non enim cogitationes meae cogitationes vestrae, já nos tinha advertido a Bíblia. O sr. Capra, com efeito, não pensa como nós.
Mas há algo nele que pelo menos alguns de nós podem compreender perfeitamente bem. Sendo a lógica, no seu entender, uma expressão do abominável patriarcado cujo fim ele deseja, ele não poderia mesmo obedecê-la sem tornar-se, ipso facto, ilógico. É então por uma simples questão de lógica que ele opta por ser ilógico. Qualquer bebê de colo pode compreender isto. O difícil é compreendê-lo quando já não se é um bebê de colo. Para ser admitido nos céus da Nova Era, o leitor deve portanto tornar-se como os pequeninos.
Eis aqui um caso típico. Para livrar-se do odioso patriarcado, diz o nosso profeta, a humanidade deveria inspirar-se no exemplo da civilização chinesa, cuja concepção da natureza humana, expressa sobretudo no I Ching, "está em flagrante contraste com a da nossa cultura patriarcal". Buscando agora munição antipatriarcal nas páginas do I Ching, o leitor encontrará, no hexagrama 37, as seguintes recomendações: "A esposa deve ser sempre guiada pela vontade do senhor da casa, isto é, pelo pai, pelo marido ou pelo filho adulto. O lugar dela é dentro de casa." A vida que Betty Friedan pediu a Deus. Aliás, segundo informa Marcel Granet no clássico La Civilisation Chinoise (8), o feudalismo chinês, período no qual se redigiu o grosso dos comentários do I Ching, "repousa sobre o reconhecimento do predomínio masculino". A China a que o sr. Capra se refere não deve portanto ser a mesma que os geógrafos profanos conhecem por esse nome.
O que o sr. Capra não pode mesmo é ser acusado de facciosismo sinófilo. Pois, se ele rejeita a lógica ocidental, nem por isto se curva às exigências da oriental. Segundo ele, o yang representa a razão analítica, que divide, e o yin a intuição, que unifica. Os chineses, nada entendendo destas sutilezas, representaram o divisivo yang por um traço contínuo, e o unificante yin por um traço dividido ao meio. Na Nova Era, as edições do I Ching virão devidamente retificadas.
Enquanto essas edições não aparecem, o sr. Capra já vai tratando, por conta, de introduzir no pensamento chinês umas modificações mais sérias. Ele diz, por exemplo, que na civilização chinesa o homem não procura dominar a natureza, mas integrar-se nela. Novamente, a sabedoria chinesa do sr. Capra pegou a China desprevenida: um chinês nem mesmo entenderia essa frase, pela razão de que na sua língua não há uma palavra que signifique "natureza" no sentido ocidental, isto é, ao mesmo tempo o mundo visível e a ordem invisível que o governa ( ambiguidade que as línguas modernas herdaram do grego physis ). O chinês é nisto, com o perdão da palavra, mais "analítico": tem um termo para designar o mundo visível ( khien ), e um outro ( khouen ) para a ordem invisível. Para compensar, o mundo visível ou khien abrange, "sinteticamente", tanto a natureza terrestre quanto a sociedade humana. O sr. Capra não diz a qual das duas "naturezas" o homem deveria integrar-se, mas é claro que ninguém poderia integrar-se em ambas simultaneamente e de um mesmo modo. Os antigos chineses já haviam advertido isto, e resolveram a contradição propondo uma dualidade de atitudes para fazer face a esse duplo aspecto da natureza: o sábio, diz o I Ching, deve buscar ativamente integrar-se na ordem invisível ou khouen ( chamada por isto "perfeição ativa" ) e contornar suavemente as exigências da natureza terrestre ( khien ou "perfeição passiva" ). Dito de outro modo: integrar-se na ordem celeste, integrando em si e superando dialeticamente a ordem terrestre ( e portanto absorvendo-a, por sua vez, na ordem celeste ). O "celeste" e o "terrestre", nesse sentido, identificam-se respectivamente ao dharma e ao kharma da tradição hindu. O homem não se "integra" no kharma, porém "absorve-o" na medida em que se integra no dharma: livra-se do peso da terra na medida em que atende ao apelo celeste. Exatamente no mesmo sentido diz o cristianismo que o homem vence a necessidade natural na medida em que segue as vias da Providência. Não é bem o que diz o sr. Capra.
O ideograma Wang ( "o Imperador" ) esclarece isso melhor. Ele constitui, por si, um compêndio de cosmologia chinesa. Compõe-se de três traços horizontais — o Céu em cima, a Terra em baixo, o Homem no meio, formando a tríade Tien-Ti-Jen, "Céu-Terra-Homem" — cortados por um traço vertical, o Tao, que se traduz um tanto convencionalmente por Lei ou Harmonia. A Harmonia consiste em que cada coisa fique no lugar que lhe cabe, de modo que, por trás de todas as mudanças por que passa o mundo, a ordem suprema não seja violada ( embora neste mundo de aparências ela o seja necessariamente, pois, como dizia o Evangelho, "é necessário que haja escândalo"; mas no fim todas as desordens parciais são reintegradas na ordem total ).
Na Tríade chinesa, o homem é chamado "filho do Céu e da Terra". Sendo o Céu o pai, já se vê, pelo hexagrama 37, quem é que manda. O homem governa portanto o mundo visível, mas não o faz por arbítrio próprio, e sim em nome de uma ordem transcendente. Tien não significa o "céu" no sentido material, mas a "perfeição celeste" ou mais propriamente a "vontade do Céu"; em inglês, que o sr. Capra compreende melhor, não o sky, mas o heaven, morada do Espírito Santo. O sábio ou imperador apreende no invisível a vontade do Céu e a põe em execução na Terra. Na sala central do seu palácio, ele cumpre diariamente ritos de um complexo simbolismo geométrico e numerológico ( similar ao do pitagorismo ), mediante os quais os arquétipos celestes "descem" ( exatamente como na missa "desce" o Espírito Santo ) para trazer à Terra a ordem e a harmonia. Se o imperador pára de fazer os ritos, a Terra — sociedade e natureza ao mesmo tempo — entra em convulsão, espalham-se por toda parte a ignorância, o medo, a violência, a fome, a peste.
Não era só a interrupção dos ritos que podia trazer a catástrofe. "O imperador — escreve Max Weber em A Religião da China — tinha de se conduzir segundo os imperativos éticos das escrituras clássicas. O monarca chinês permanecia basicamente um pontífice. Ele tinha de provar que era mesmo 'filho do Céu', o regente aprovado pelos Céus, para que o povo, sob o seu governo, vivesse bem. Se os rios arrebentavam os diques ou a chuva não caía apesar de todos os ritos, isto era prova — acreditava-se expressamente — de que o imperador não tinha as qualidades carismáticas requeridas pelo Céu."
O homem governa a Terra, mas em nome do Céu. Governa como pontifex, "construtor de pontes", que liga a Terra ao Céu através do Reto Caminho, o Tao. Caso se afaste do Reto Caminho, ele perde de vista a Vontade do Céu e já não pode governar senão em nome próprio, como tirano e usurpador. Aí, num choque de retorno, ele perde seu poder e cai sob o domínio das potências terrestres que antes comandava. Como a Terra designa ao mesmo tempo a natureza física e a sociedade humana, o choque pode significar tanto uma revolução civil ou golpe militar, quanto uma tempestade ou terremoto. O monarca que cai representa, por analogia, qualquer homem que, rompendo com a ordem celeste, perca de vista o seu destino ideal e caia presa das paixões abissais. É a situação descrita no hexagrama 36, O Obscurecimento da Luz: "Primeiro ele subiu ao Céu, depois mergulhou nas profundezas da Terra." O comentário tradicional, resumido por Richard Wilhelm, é o seguinte: "O poder da treva subiu a um posto tão alto que pode trazer dano a quantos estejam do lado do bem e da luz. Mas no fim o poder das trevas perece por sua própria obscuridade."
Já se vê que o conselho do sr. Capra, afetado pela ambiguidade da palavra "natureza", pode ter dois significados opostos: com "integrar-se", pretende ele que obedeçamos à Vontade do Céu ou que mergulhemos nas profundezas da Terra? As falas dos profetas, quando obscuras, merecem interpretação. Interpretemos.
Na versão do sr. Capra, o Céu não é mencionado. A tríade fica reduzida a uma dualidade: de um lado o homem, de outro a natureza visível. O macho e a fêmea. O yang e o yin. A cada um só resta a alternativa de subjugar o outro ou "integrar-se" nele. O homem da civilização industrial optou pela primeira hipótese. O sr. Capra advoga a segunda.
É verdade o que diz o sr. Capra, que a civilização ocidental optou por dominar a natureza. Mas é verdade também que, desde o Renascimento ao menos, ela apagou ( exatamente como o sr. Capra ) toda referência a uma ordem transcendente ( Tien ) e deixou o homem sozinho, face a face com a natureza material. Desde então a história das idéias ocidentais tem sido marcada por uma oscilação pendular entre as ideologias da dominação e as ideologias da submissão: classicismo e romantismo, revolução e reação, historicismo e naturalismo, cientificismo e misticismo, ativismo prometéico e evasionismo quietista, marxismo e existencialismo e, last not least, revolução cultural socialista versus ideologia da "Nova Era".
É neste último par de opostos que reside a chave para a compreensão do nosso profeta. O sr. Capra acerta na mosca ( nenhum profeta pode realizar o prodígio de errar sempre ) ao dizer que sua visão da história cultural é uma alternativa ao marxismo. Para Marx e seus epígonos, a natureza nada mais é que o cenário da história humana. Está aí não como um ser, uma substância ontológica que o homem deva contemplar e respeitar em sua constituição objetiva, mas como matéria-prima a ser apropriada e transformada livremente segundo o arbítrio humano. A natureza, em Marx, é ancilla industriae. O marxismo prossegue a tradição de prometeanismo revolucionário do Renascimento, potencializando-a mediante a submissão completa e explícita da natureza à história. A isto é que se opõe a ideologia da Nova Era.
Mas ela não se opõe somente ao marxismo em geral, e sim a uma forma específica de marxismo, que também, como ela, quis operar uma "mutação", um giro de cento e oitenta graus na orientação do pensamento humano. O fundador desta corrente marxista foi o ideólogo italiano Antonio Gramsci ( 1891-1937 ). O gramscismo propõe uma revolução cultural que subverta todos os critérios admitidos do conhecimento, instaurando em seu lugar um "historicismo absoluto", no qual a função da inteligência e da cultura já não seja captar a verdade objetiva, mas apenas "expressar" a crença coletiva, colocada assim fora e acima da distinção entre verdadeiro e falso. É a total submissão do "objeto" ( natureza ) ao "sujeito" ( humanidade histórica ). Neste novo paradigma, a ênfase da atividade científica já não cai no conhecimento objetivo da natureza ( descrição exata da sua aparência visível e investigação dos princípios invisíveis que a governam ), mas sim na sua transformação pela técnica e pela indústria, a isto correspondendo, na esfera das idéias, uma espécie de "revolução permanente" de todas as categorias de pensamento a suceder-se numa aceleração vertiginosa do devir histórico.
Contra isto levantou-se a ideologia da Nova Era. Ao prometeanismo revolucionário, ela opõe a "integração na natureza"; à aceleração da história, o equilíbrio "ecológico" da Nova Ordem Mundial; e, ao historicismo absoluto, o "fim da História". Capra é inconcebível sem Fukuyama. Capra é a casca da qual Fukuyama é o miolo. Todo o vistoso "esoterismo" da Nova Era, com suas iniciações secretas, seus gurus, seus magos e seus ritos, não constitui senão o exoterismo, o aparato religioso externo e social, cujo interior, cujo "sentido esotérico" é na verdade uma ciência bem moderna, racional e profana: o planejamento estratégico. Fukuyama está para Capra exatamente como o esoterismo está para o exoterismo, como a Igreja de João está para a Igreja de Pedro. Mas ambas, cada qual no seu plano e pelos meios que lhe são próprios, combatem um mesmo adversário.
O gramscismo fez muito sucesso nos anos 60, inspirando a febre passageira do eurocomunismo e revigorando algumas esperanças comunistas. No Brasil, conquistou praticamente a esquerda inteira, e o PT é um partido essencialmente gramsciano, admita-o ou não explicitamente. Mas o intento de renovação foi fraco e tardio: o comunismo acabou sendo derrotado pela ascensão mundial da ideologia da Nova Era. Afinal, a mistura de física quântica e simbolismos orientais, experiências psíquicas e sexo livre, promessas de paz e miragens de auto-realização, que essa ideologia oferece, é infinitamente mais sedutora do que qualquer "historicismo absoluto". O Brasil, sempre atrasado, é um dos poucos lugares do mundo onde o combate ainda prossegue, com um feroz núcleo de remanescentes gramscianos oferecendo uma quixotesca resistência local aos exércitos triunfantes da Nova Era.
Mas, se o prometeanismo revolucionário representou o máximo da hybris, da avidez dominadora do homem sobre a natureza, a ideologia da Nova Era não é outra coisa senão o choque de retorno anunciado pelo I Ching.
A Nova Era venceu a revolução gramsciana. Mas foi uma teratomaquia: um combate de monstros. Diriam os chineses que foi um combate suicida: que, sem a obediência comum a Tien, a luta entre Ti e Jen só pode terminar pelo "Obscurecimento da Luz". A vitória da Nova Era prenuncia, portanto, o próximo passo do ciclo das mutações: a humanidade vai cair da autoglorificação prometéica na passividade inerme; vai integrar-se, "ecologicamente", no equilíbrio da Nova Ordem Mundial, onde o conformismo coletivo será assegurado mediante a justa repartição dos meios de satisfazer as paixões mais baixas e mediante um arremedo de religiosidade externa que dará a essas paixões uma aura lisonjeira de "profundidade" e "autoconhecimento".
Pode-se interpretar isso psicanaliticamente. Gérard Mendel, no seu livro La Révolte contre le Père, uma das mais importantes contribuições das últimas décadas à psicanálise freudiana, diz que, ao longo da história, o impulso do homem para superar o pai tem sido, como pretendia Freud, um dos mais potentes motores do progresso. Mas este impulso, prossegue ele, pode tomar duas direções: ou o homem supera e vence o pai carnal integrando-se na ordem racional representada pelo pai ideal, ou manda logo às urtigas a ordem ideal para, livre de toda trava moral, matar o pai carnal e tomar posse da mãe. Esta última alternativa é a revolta prometéica, a que se segue, num choque de retorno, a queda no irracional, a regressão uterina, a "integração" do homem nas trevas. Daí, segundo Mendel, a importância antropológica, e também psicoterapêutica, das palavras da mais célebre oração cristã: a "revolta contra o pai" só é saudável e frutífera quando empreendida "em nome do Pai". Trocando em miúdos chineses: o pai carnal é, para o homem adulto ( Jen ), nada mais que um aspecto de Ti, a Terra. É preciso submetê-lo à ordem celeste, Tien ou pai ideal, para aí então poder assumir, sem usurpação nem violência, o governo justo e harmônico da Terra. Sempre achei que o dr. Freud tinha algo de chinês.
Nos termos de Mendel, a revolução gramsciana é a revolta destrutiva contra o pai, e a ideologia da Nova Era, com seus apelos à fusão das consciências individuais numa sopa de miragens holísticas, é a regressão uterina que se lhe segue. Todas as regressões uterinas anunciam-se pela exacerbação da fantasia, pelo chamamento hipnótico das esperanças insensatas, pela antevisão mediúnica de delícias sem fim. Todas terminam na escravidão abjeta, na passividade inerme ante a agressão das forças abissais, no obscurecimento da luz.
É inevitável que haja escândalo. A Nova Era venceu o prometeanismo gramsciano, e sai de baixo: lá vem o hexagrama 36. There's coming a shitstorm e Fritjof Capra é o seu profeta. Mas, no fim, que por certo não se anuncia breve, o poder das trevas sucumbirá por força da sua própria obscuridade.
Findo o período das trevas, assegura o Apocalipse, a loucura dos novos profetas que arrastaram a humanidade ao erro será exibida à plena luz do dia, e todos a verão.
Como a Nova Era ainda mal começou, não está na hora de fazer o show completo. Por enquanto, tudo o que se pode fazer é dar umas amostras preliminares, que atestem, para as gerações vindouras, a realidade de um passado que lhes parecerá inverossímil. Como disse o sábio Richard Hooker ante o avanço do besteirol puritano no séc. XVI, quando tudo isto tiver passado "a posteridade poderá saber que não deixamos, pelo silêncio negligente, as coisas se passarem como num sonho".
De amostras está cheio o livro do sr. Capra. Porém manda a justiça que as selecionemos segundo a gradação de importância que lhes dá o próprio autor. Devemos portanto agora examinar o terceiro "ponto de mutação": a revolução do paradigma científico.
Neste terreno o sr. Capra não parece estar em desvantagem como no mundo chinês, que só conheceu por fontes de terceira mão. Doutor em física pela Universidade de Viena, ele não pode ignorar a história da ciência ocidental como ignora a civilização chinesa. Mas quem disse que não pode? Aos profetas tudo é possível.
Segundo o sr. Capra, "o paradigma ora em transformação dominou a nossa cultura por muitas centenas de anos"; ele "compreende certo número de idéias" que "incluem a crença de que o método científico é a única abordagem válida do conhecimento; a concepção do universo como um sistema mecânico composto de unidades materiais elementares; a concepção da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência". Essas concepções têm os nomes respectivos de: cientificismo, mecanicismo e social-darwinismo ou darwinismo social. Repito: segundo o sr. Capra, elas dominam a nossa cultura há muitas centenas de anos. Isto sugere duas perguntas. Primeira: Que é "dominar uma cultura?" Segunda: Quanto é "muitas centenas"?
Dizemos que uma certa idéia domina uma cultura quando: primeiro, ela é acreditada pelos intelectuais mais importantes de todos os setores; segundo, as idéias concorrentes ou já não são férteis, quer dizer, já não se expressam em obras poderosas e significativas, ou então desapareceram completamente de cena. Assim, por exemplo, o cristianismo dominou a Idade Média porque, de um lado, todos os filósofos e os homens cultos em geral eram cristãos e, de outro lado, as correntes de pensamento não-cristãs, ainda que persistindo vivas pelo menos no subconsciente coletivo, não produziram nesse período nenhuma obra digna de atenção. Dizemos que o marxismo dominou a cultura soviética até a década de 60 porque nesse período nenhum intelectual eminente que residisse na URSS produziu nenhuma idéia que saísse dos quadros conceptuais do marxismo e porque as subcorrentes não-marxistas ( exceto no exílio e em línguas ocidentais ) nada criaram de significativo.
Nesse sentido estrito, nenhuma das três idéias que compõem o "paradigma dominante" jamais foi dominante em parte alguma do Ocidente. Desde que surgiram, as três foram incessantemente contestadas, combatidas, refutadas, rejeitadas no todo ou em parte por intelectuais importantes. De outro lado, correntes abertamente hostis a essas idéias continuaram férteis o bastante para produzir algumas das obras mais significativas de seus respectivos campos.
Vejamos o mecanicismo. Como pode ser "dominante" uma corrente que, desde seu nascimento, é rejeitada por gigantes como Leibniz, Schelling, Vico, Schopenhauer, Driesch, Fechner, Boutroux, Nietzsche, Weber, Kierkegaard e muitos outros, até ser derrubada no século XX pela teoria de Planck?
A rigor, o mecanicismo só foi dominante, e mesmo assim com reservas, numa certa parte do mundo, que para o sr. Capra é "o" mundo: os círculos universitários anglo-saxônicos. Que esse mundinho tradicionalmente presunçoso e seguro de si se abra hoje para novas idéias, que se disponha até a ouvir os orientais sem a tradicional incompreensão colonialista, é sem dúvida uma novidade auspiciosa. Mas uma novidade local. Não há meio mais seguro de tornar provinciano um povo do que persuadi-lo de que ele é o centro do mundo. Desde esse momento ele declara inexistente ou irrelevante tudo o que saia do seu campo de visão, e quando finalmente descobre algo que todo o resto do mundo já sabia dá a esta descoberta uns ares de revolução mundial.
Quanto ao cientificismo, tanto se escreveu contra ele, que é perfeitamente errado considerá-lo dominante mesmo num sentido atenuado do termo. Para isto seria preciso excluir do primeiro plano da cultura o marxismo, a psicanálise, a fenomenologia, o neotomismo e o existencialismo, pelo menos. Aqui, novamente, o sr. Capra toma como mundialmente dominante a opinião de um grupo restrito.
O darwinismo social, por sua vez, só chegou a ser dominante, como crença pública, num único país do mundo: nos Estados Unidos. Nunca entrou, por exemplo, nos países comunistas e no mundo islâmico, que, somados, completam quase dois terços da humanidade. Nos países católicos, foi recebido desde logo como perversa anomalia, suscitando reações de escândalo de que dão testemunho as encíclicas sociais dos papas desde pelo menos Leão XIII.
Mas, além de afirmar que essas três crenças "dominam o mundo", o sr. Capra ainda assegura que o fazem "há muitas centenas de anos". Contemos a história.
A mais velha das três é o mecanicismo. Prenunciado por Descartes, foi formulado plenamente por Isaac Newton ( Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, 1687 ), mas só se tornou conhecido da intelectualidade européia em geral a partir de 1738, quando Voltaire divulgou em linguagem compreensível aos leigos os Elementos da Filosofia de Newton.
Não foi só fazendo divulgação científica que Voltaire promoveu a vitória de Newton. Ele tanto difamou com ironias grosseiras o principal opositor de Newton, G.-W. von Leibniz, que os contemporâneos cessaram de prestar atenção ao que este dizia. Leibniz caiu em quase descrédito até o século XX, quando a redescoberta de suas idéias ocasionou avanços prodigiosos nas matemáticas, na lógica e nas ciências da natureza. A nova física de Planck e Heisenberg veio a dar razão a Leibniz contra Newton, substituindo o mecanicismo pelo probabilismo. Esta substituição poderia ter ocorrido dois séculos antes, se Voltaire, imperador da opinião pública no século XVIII, não tivesse tecido em torno de Leibniz uma teia de preconceitos duradouros. Por ironia, Voltaire entrou para a História como o inimigo de todo atraso e de todo preconceito.
Mas, de qualquer modo, a opinião de Voltaire não se propagou com a velocidade do raio. Demorou duas ou três décadas, pelo menos, para tornar-se crença dominante na Europa inteira. Por volta de l780, o mecanicismo gozava de um prestígio invejável, e pode ser dito, desde então, dominante, se dominante não quer dizer unanimemente aceito, ou aceito sem reservas. Não se pode esquecer a oposição que lhe moveram o vitalismo de Goethe e Driesch, o contingencialismo de Boutroux e muitas outras correntes, até o golpe de misericórdia desferido por Planck e Heisenberg.
No momento em que o sr. Capra redigia O Ponto de Mutação, o mecanicismo estava completando portanto dois séculos de glória incessantemente contestada e de periclitante reinado sobre as facções majoritárias do mundo acadêmico. Isto é bem diferente de um domínio de muitos séculos sobre todo o mundo.
Quanto ao darwinismo social, é um filhote do darwinismo biológico e não poderia ter nascido antes do pai. O princípio da "subsistência do mais apto" surgiu como uma teoria biológica e só depois, aos poucos, foi se transformando num argumento ideológico para a legitimação retroativa da concorrência capitalista.
A Origem das Espécies é de 1859. Herbert Spencer, nos seus Primeiros Princípios, publicados em l862, amplia o alcance das idéias evolucionistas, fazendo delas um princípio sociológico. Paralelamente, ocultistas como Allan Kardec e Madame Blavatski pegam no ar o termo "evolução" e lhe dão um sentido místico, ou misticóide: já não são somente os anfíbios que evoluem em répteis, e estes em mamíferos; são as almas desencarnadas que, no outro mundo, evoluem em "seres de luz", subindo na escala cósmica enquanto os macacos descem das árvores. Revestida de mil e um sentidos, a palavra "evolução" se dissemina, e surgem os debates públicos, que atraem a atenção dos intelectuais para o potencial político-ideológico do evolucionismo. Os debates alcançam um auge de sucesso com a conferência de Thomas Henry Huxley, "Evolução e ética", em 1892. Aí está aberto o caminho para a legitimação do capitalismo liberal pela "sobrevivência do mais apto". O resto vem com os livros de Gustav Ratzenhofer ( Natureza e Finalidade da Política, 1893 ) e William G. Sumner ( Folkways, l906 ), que fundamentam explicitamente a noção de "evolução social", dando aos ideólogos capitalistas o precioso slogan de que necessitavam. O darwinismo social tem, portanto, pouco mais ou pouco menos do que um século. Tinha menos no momento em que o sr. Capra redigia o seu livro.
Finalmente, o cientificismo. A rejeição formal e completa, em nome da ciência, de qualquer explicação filosófica ou teológica da realidade, foi proposta, pela primeira vez, por Augusto Comte ( Discurso sobre o Espírito Positivo, l844 ). Mas Comte ainda reservava para a filosofia a tarefa de síntese e ordenação do conhecimento científico, e Comte só foi aceito sem contestação num único lugar deste planeta: no Brasil! ( Em 1914, o positivista Alain atribuía a guerra mundial ao fato de nenhum outro país do globo haver seguido o exemplo do Brasil, que adotara na bandeira republicana o positivismo como doutrina oficial do Estado: Ordem e Progresso é, com efeito, o resumo da filosofia comtiana. ) Uma declaração formal e taxativa de cientificismo, com a completa demissão de todas as demais formas de conhecimento como vazias ou insignificantes, só veio mesmo em 1934, com Rudolf Carnap, em Sintaxe Lógica da Linguagem. Mas Carnap não era nenhum Voltaire, para contar com a imediata aprovação de um vasto público. A maioria dos filósofos do século XX rejeitou categoricamente o cientificismo, que só exerceu domínio sobre grupos determinados, principalmente no mundo anglo-saxão. Contemporaneamente à declaração de Carnap, o matemático e filósofo Edmund Husserl, fundador da fenomenologia — escola que iria gerar Heidegger, Scheler, Hartmann, Sartre e Merleau-Ponty, entre outros —, fazia na Universidade de Praga as célebres conferências depois reunidas no livro A Crise das Ciências Européias, em que negava o cientificismo pela base e desde dentro: as ciências físicas, dizia ele, haviam perdido o seu essencial fundamento científico e já não serviam como modelo de conhecimento da realidade. Husserl era e é pelo menos tão influente quanto Carnap, embora não tanto no mundo anglo-saxônico que é o limite do horizonte mental do sr. Capra.
Em suma, o cientificismo, que "domina a nossa cultura desde há séculos", está completando sessenta primaveras neste ano de 1994. Mas, para cúmulo, sua primeira manifestação ostensiva já foi posterior, de três décadas, à publicação dos primeiros trabalhos de Max Planck, cujo indeterminismo viria a ser uma das bases do "novo paradigma" cujo advento o sr. Capra veio agora nos anunciar. O novo paradigma é um tanto anterior ao velho.
O sr. Capra, como se vê, pouco entende dos assuntos em que exerce, para um público multitudinário, uma autoridade profética. Ele prima pela carência de informação elementar sobre a cosmologia chinesa, na qual diz basear sua visão da história cultural, bem como sobre a história cultural mesma, que ele procura, mediante generalizações grosseiras, e escandalosas alterações da cronologia, encaixar à força num modelo preconcebido.
Não questiono, aqui, a validade da proposta holística em geral. Reservo-me o direito de fazê-lo num outro trabalho. Apenas creio que ela deve ter defensores um pouco mais qualificados do que o sr. Capra.
Meu propósito foi dar um testemunho sobre um fato de relevância mundial, que acontece bem diante das nossas barbas, e de cuja realidade as gerações vindouras terão o direito de duvidar. Pois, para a razão e o bom-senso, não é verossímil que milhares de intelectuais de prestígio, em seu juízo perfeito, possam aceitar e aplaudir como um marco da história do pensamento uma obra como O Ponto de Mutação, que não atende sequer aos requisitos mínimos de informação fidedigna, de autenticidade das fontes e de rigor conceptual que se exigem de uma tese de mestrado. Dentre tantos outros defeitos que um livro pode ter, este padece do único que não se pode tolerar em hipótese alguma: a ignoratio elenchi, a ignorância completa do assunto. O sr. Capra define o seu livro, pretensiosamente, como um novo modelo de história cultural baseado nas concepções chinesas do homem e do universo. Mas ele não estudou o suficiente nem a história cultural nem as concepções chinesas para que sua opinião a respeito possa ter qualquer importância objetiva, fora do seu círculo de convivência pessoal. O conteúdo de sua propalada sabedoria do assunto é pura lana caprina.
O sucesso deste livro só pode ser explicado por um único fator, inteiramente alheio ao seu valor intrínseco: sua oportunidade. Ele diz o que as pessoas desejam ouvir, no momento em que o desejam. Ele oferece uma perspectiva sedutora a um público que pede para ser seduzido.
Que esse público não inclua somente populares incultos, mas intelectuais de projeção, e que estes se prontifiquem a aceitar as promessas do autor sem pedir-lhe sequer as credenciais científicas que se exigem de um estudante de faculdade, é realmente um acontecimento inverossímil.
Mas, dizia Aristóteles, não é mesmo verossímil que tudo sempre se passe de maneira verossímil. O inverossímil aconteceu. Ele atesta que, após séculos de fúria iconoclástica voltada contra todas as crenças do passado e os valores de outras civilizações, a opinião letrada do Ocidente enfim se cansou de ser arrogante; mas, em vez de um arrependimento sincero, está encenando diante de nós um arremedo de conversão, que deixa à mostra todas as marcas do fingimento histeriforme. Estonteada pela visão súbita de suas próprias culpas, ela abjurou de toda precaução crítica como quem repele um vício do passado; e entregou-se, inerme e crédula, ao culto do primeiro ídolo que lhe ofereceu uma promessa de alívio. Ela pensa ou finge pensar que esse ídolo é o seu salvador. Na verdade é a sua Nêmesis.
Mas não é só ela que está enganada. O profeta do engano também se engana: ele imagina trazer ao mundo a sabedoria, quando traz o obscurecimento e a confusão. Imagina trazer uma nova profecia, quando traz o cumprimento de uma velha maldição.
Mas não posso encerrar estas considerações sobre o profeta da Nova Era sem fazer, também eu, uma profecia: nos séculos vindouros, quando puderem encarar o nosso tempo com alguma objetividade, o fenômeno da Nova Era será considerado um escândalo que depõe contra a inteligência humana.
É forçoso que venha o escândalo. Nada se pode fazer para evitá-lo. Nem mesmo vou sugerir, como Jesus, que se amarre ao seu portador uma pesada pedra, para jogá-lo ao fundo do mar. Pois, como diria o hexagrama 36, ele já está no fundo. Tudo o que posso fazer é deixar à posteridade, se vier a ter notícia destas páginas, um testemunho pessoal destes tempos obscuros: Nem todos, nem todos acreditaram no falso profeta (9).
Adendo
Há no livro do sr. Capra uma infinidade de erros e contra-sensos, além dos mencionados. Apontá-los e corrigi-los todos requereria um volumoso comentário: uma lei constitutiva da mente humana concede ao erro o privilégio de poder ser mais breve do que a sua retificação.
Mas vale a pena dar mais algumas amostras, para que o leitor veja quanto um erro nas premissas pode ser fértil em consequências:
l. O sr. Capra combate o uso da energia nuclear, mesmo para fins pacíficos, mas, ao mesmo tempo, faz da física moderna um dos fundamentos do "novo paradigma" que propõe. Ele separa a física enquanto modalidade de conhecimento teórico e a natureza das suas aplicações práticas, como se uma não decorresse da outra necessariamente.
O sr. Capra é, nisto, perfeitamente inconsequente com o método holístico que advoga. Para o holismo, toda separação estanque entre uma idéia e suas manifestações práticas é nada mais que um abstratismo. Holisticamente falando, o efeito benéfico ou destrutivo dos engenhos nucleares tem de estar arraigado no próprio modus cognoscendi que os produziu. Se o sr. Capra enxerga ligações até mesmo entre o mecanicismo e a estrutura da família patriarcal, como pode ser cego para as relações, muito mais próximas, entre o conteúdo teorético de uma ciência e suas aplicações práticas?
2. Em nossa sociedade, afirma o sr. Capra, o trabalho entrópico ( trabalho repetitivo que não deixa efeitos duradouros, como por exemplo cozinhar um jantar que será consumido imediatamente ) é desvalorizado, e por isto é atribuído às mulheres e aos grupos minoritários. Esta desvalorização, diz ele, é típica da sociedade industrial.
Nesse caso, deveríamos considerar sociedades industriais as tribos do Alto Xingu, as cidades-Estado da antiga Grécia, a sociedade européia da Idade Média. Não existiu jamais uma sociedade em que os serviços entrópicos fossem mais valorizados que os outros.
Mas, segundo o sr. Capra, existiu. Ele dá como exemplos os mosteiros de monges budistas e cristãos, onde cozinhar é uma honra e limpar as privadas um mérito invejável. Será preciso explicar ao sr. Capra que uma ordem monástica não constitui uma "sociedade", mas uma comunidade minoritária que pressupõe em torno a existência de uma sociedade a cujos valores possa se opor? Se, dentro de um mosteiro, o trabalho entrópico tem valor, é justamente porque não o tem na sociedade maior em torno. Os trabalhos humildes adquirem ali dentro um valor espiritual e disciplinar justamente na medida em que no "mundo" têm pouco prestígio social ou valor econômico. A desvalorização social do trabalho entrópico não é característica da sociedade industrial, mas da sociedade humana em geral; inversamente, a sua valorização espiritual é um traço distintivo das minorias espiritualizadas envolvidas em alguma forma de rejeição religiosa do "mundo".
3. "Tradições como o vedanta, a ioga, o budismo e o taoismo assemelham-se muito mais a psicoterapias do que a filosofias ou religiões", diz o sr. Capra. Bem, se há um traço característico do Ocidente moderno, que o distingue radicalmente das tradições orientais, é justamente o desenvolvimento, nele, de uma psicologia como ciência independente de qualquer referência mística ou religiosa; e, em decorrência, o esforço para dar uma explicação "psicológica" de todos os fenômenos espirituais. Ao englobar as tradições espirituais do Oriente no conceito de "psicoterapia", o sr. Capra mostra a típica incapacidade do cientificista moderno para apreender tudo quanto há nelas de puramente metafísico e não-psicológico.
Dizer, ademais, que essas tradições "se baseiam no conhecimento empírico e, assim, apresentam mais afinidades com a ciência moderna" é pretender enquadrar à força as idéias orientais numa moldura ocidental e moderna, para torná-las aceitáveis ao provincianismo acadêmico. Acontece que, nessa operação, tudo que há nelas de essencialmente oriental se perde por completo. O vedanta, por exemplo, afirma categoricamente que a experiência não pode trazer conhecimento espiritual de espécie alguma, e esta afirmação é mesmo um dos pontos basilares da doutrina, que o sr. Capra parece desconhecer completamente: toda experiência é ação, e a ação, não sendo o contrário da ignorância, não pode destruí-la ( cf. Brihadaranyaka Upanishad, livro 10 ).
Por esse exemplo, vê-se que o sr. Capra está muito mais preso a esquemas mentais de acadêmico ocidental médio do que desejaria deixar transparecer. Alguém mais próximo da perspectiva oriental jamais procuraria explicar as doutrinas sapienciais da Índia ou da China à luz da moderna psicologia ocidental, mas, ao contrário, emitiria sobre esta, em nome delas, um julgamento bastante severo ( v., por exemplo, Wolfgang Smith, Cosmos and Transcendence, New York, l970, ou Titus Burckhardt, Scienza Moderna e Sagezza Tradizionale, Torino, l968 ).
4. Após realçar o sentido holístico das concepções fisiológicas de Hipócrates, o sr. Capra insinua que esse sentido desapareceu completamente da medicina ocidental e agora temos de ir buscá-lo na tradição chinesa: "A noção chinesa do corpo como um sistema indivisível de componentes inter-relacionados está muito mais próxima da moderna abordagem sistêmica do que do modelo cartesiano clássico." Se o sr. Capra não seguisse o hábito ocidental moderno de saltar direto do pensamento grego para o Renascimento, teria reparado que a mesma concepção holística domina todo o pensamento médico e biológico do Ocidente medieval, com destaque para Sto. Alberto Magno e Roger Bacon. Na verdade, as concepções chinesas são muito mais parecidas com as da Idade Média que com a "moderna abordagem sistêmica".
5. Ao explicar a psicoterapia de Arthur Janov, o sr. Capra diz que, segundo este eminente psiquiatra, as neuroses são tipos simbólicos de comportamento que "representam as defesas da pessoa contra a excessiva dor associada a traumas de infância". Quem quer que tenha lido Janov sabe que, na teoria deste, a etiologia das neuroses não é de ordem traumática, mas reside na frustração constante e habitual de necessidades básicas, frustração que às vezes não é sequer percebida no nível consciente. Um trauma, na psicopatologia de Janov, nada mais é que um fator superveniente. A minimização da importância etiológica dos traumas é justamente o que singulariza o sistema de Janov. Embora conhecendo o assunto de orelhada, o sr. Capra não se inibe de opinar a respeito com ar professoral: "O sistema conceitual de Janov não é suficientemente amplo para explicar experiências transpessoais..." O que certamente não é amplo é o conhecimento que o sr. Capra tem do sistema de Janov.
Sugestões de Leitura
Além das obras citadas no texto, o leitor poderá consultar com proveito as seguintes:
l. Quem aprecie o holismo e deseje ter uma informação séria a respeito, sem aberrações caprinas e com mais ensinamento valioso, leia o livro de Joël de Rosnay, Le Macroscope. Vers une Vision Globale ( Paris, Le Seuil, l975 ). O prof. de Rosnay ensinou no MIT e trabalha no Instituto Pasteur de Paris. É interessante ler também as obras de Edgar Morin, que foi aliás quem lançou a expressão "novo paradigma". V. especialmente La Méthode, em dois tomos ( I, La Nature de la Nature, Paris, Le Seuil, l977; II, La Vie de la Vie, id., 1980 ).
2. O I Ching tem três traduções ocidentais famosas: a de James Legge ( versão brasileira de E. Peixoto de Souza e Maria Judith Martins, São Paulo, Hemus, l972 ), a de Richard Wilhelm ( versão inglesa de Cary F. Baynes, London, Routledge and Kegan Paul, l95l, várias reedições; versão brasileira de Lya Luft e Alayde Mutzembecher, São Paulo, Nova Acrópole ), e a de P.-L. F. Philastre: Le Yi:King. Livre des Changements de la Dynastie des Tsheou. Annales du Musée Guimet, t. huitième, 2 vols. ( Paris, Adrien Maisonneuve, l975 ). Um estudo sério do assunto requer o exame das três. A de Wilhelm é mais didática e fácil de consultar. Legge enfatiza muito as ligações estruturais entre as partes e abre para um estudo mais aprofundado. Das três a de Philastre é de longe a mais interessante, pois é a única que transcreve integralmente e pela ordem as glosas das dez "gerações" de comentaristas chineses.
3. Sobre os símbolos da tradição chinesa, v. o livro clássico de René Guénon, La Grande Triade ( Paris, Gallimard, 1957 ). Convém recorrer ainda, quanto aos ideogramas, à obra monumental do Pe. L. Wieger, Chinese Characters. Their Origin, Etimology, History, Classification and Signification. A Thorough Study from Chinese Documents, transl. by L. Davrout, s. j. ( New York, Dover, 1965; a primeira edição é de 1915 ).
4. Sobre o pensamento chinês é ainda indispensável, a quem deseje aprofundar o assunto, estudar: quanto às concepções cosmológicas, Marcel Granet, La Pensée Chinoise ( Paris, Albin Michel, l968 ) e La Réligion des Chinois ( Paris, Payot, 1980 ). Quanto às instituições e ao governo, Granet, La Civilisation Chinoise ( Paris, La Renaissance du Livre, 1929 ). Sobre a moral, o direito e as classes sociais, Max Weber, The Religion of China, transl. by H. H. Gerth and C. Wright Mills ( New York, The Free Press, 195l ).
5. Um "novo modelo de história cultural" baseado em concepções orientais é algo que já estava realizado pelo menos desde l945, em Le Règne de la Quantité et les Signes des Temps, de René Guénon ( Paris, Gallimard ). Um monumento de sabedoria.
6. Sobre a disputa Leibniz-Newton pode-se ler: José Ortega y Gasset, La Idea de Principio en Leibniz y la Evolución de la Teoría Deductiva ( em Obras Completas, t. 8, Madrid, Alianza, 1983 ); Paul Hazard, La Crise de la Conscience Européenne 1660-1715 ( Paris, Gallimard, 1961 ); Edwin A. Burtt, As Bases Metafísicas da Ciência Moderna, trad. José Viegas Filho e Orlando Araújo Henriques ( Brasília, UnB, 1983 ).
NOTAS
7. Escrito em setembro de 1993. Voltar
8. Livro I, Cap. III. Voltar
9. Tendo enviado a Frei Betto uma cópia deste capítulo antes de sua publicação em livro, recebi dele uma resposta em duas linhas, que é um singular documento psicológico. Ela diz: "Apesar das suas reservas, o evento [ NB: recepção ao sr. Capra ] foi bom para quem lá esteve." Deve ter sido mesmo um barato, imagino eu. Mas o ilustre frade não me compreendeu. Longe de mim depreciar o evento em si — a organização do programa, o serviço de som ou o tempero dos salgadinhos. O que eu disse que não presta é a filosofia do sr. Capra, subentendendo que celebrá-la num congresso de intelectuais é jogar dinheiro fora; e quanto melhor o evento, mais lamentável o desperdício. Caso, porém, o missivista tenha pretendido alegar a qualidade do evento como um argumento em favor do sr. Capra, isto seria o mesmo que dizer que o preço da vela prova a qualidade do defunto. Além disso, que opinião se poderia ter de um pensador que argumentasse em favor de uma filosofia mediante a alegação de que ela lhe dá a oportunidade de freqüentar lugares agradáveis? [ N. da 2ª ed. ]
Olavo de Carvalho
http://www.olavodecarvalho.org/livros/nelana.htm
OU: A SABEDORIA DO SR. CAPRA
NO COMEÇO de novembro (7) estará chegando ao Brasil o sr. Fritjof Capra, chamado pela Universidade Holística de Brasília para falar sobre a Nova Era que ele anuncia no seu livro O Ponto de Mutação.
A voz do sr. Capra não clamará no deserto. A Universidade Holística já reuniu uma congregação de intelectuais locais para dizer-lhe amém. Entre os acólitos contam-se Frei Betto e o ex-reitor da UnB, Christovam Buarque. O sr. Capra, já se vê, não é um escritor como os outros: é um líder, uma autoridade espiritual e, admitamos logo, um profeta.
O conteúdo de suas profecias é bastante conhecido: O Ponto de Mutação anda até nas mãos das crianças, que o debatem nas escolas. Mas, segundo a Universidade Holística, isso não basta. O sr. Capra tem de ser ouvido por todos os amigos da espécie humana. Pois, embora homônimo de um cineasta que se celebrizou pelas fitas de happy end, ele não garante nenhum final feliz para o nosso século a não ser que a humanidade siga os seus conselhos. Passemos portanto a examiná-los, com a urgência requerida pelo caso.
Segundo o sr. Capra, a história do mundo chegou a um turning point, e deve mudar o seu curso. As três principais mudanças em pauta são as seguintes: primeira, a humanidade deixará de consumir combustíveis fósseis ( petróleo ); segunda, o patriarcado vai acabar; terceira, o paradigma científico vigente será substituído por um outro, de base holística. Estas três coisas já estão acontecendo, mas, assegura o sr. Capra, urge apressar a sua consumação, que marcará o advento da Nova Era.
Ao falar do primeiro item, o sr. Capra é muito breve, como convém aos profetas. Em vez das longas análises que concede aos dois outros temas, ele emite apenas esta profecia: "Esta década será marcada pela transição da era do combustível fóssil para uma nova era solar, acionada por energia renovável oriunda do Sol." Tendo o livro sido publicado em 1981, a década a que o sr. Capra se refere terminou em 1990. Bem, nem todos os profetas dão sorte. Mas, se a mencionada profecia vier a cumprir-se com quatro, cinco ou nove décadas de atraso, o sr. Capra sempre poderá alegar que S. João Evangelista também não foi muito preciso quanto à data do Apocalipse.
Como muitos outros profetas, o sr. Capra pode queixar-se de ser um incompreendido. Eu, por exemplo, não compreendo como é que o mundo poderia ter saltado direto da era dos combustíveis fósseis para a da energia solar, sem passar pela era atômica, na qual já estávamos na data de emissão da profecia e na qual continuamos a estar após a data do seu vencimento. Mas talvez a intuição profética do sr. Capra opere à velocidade da luz, saltando etapas. Eis aí aliás um bom motivo para saltarmos logo para o item seguinte, já que o primeiro capítulo da mutação não teve um happy end.
O patriarcado consiste, segundo o sr. Capra, num complexo de três elementos: primeiro, o domínio do homem sobre a mulher; segundo, o domínio da espécie humana sobre a natureza; terceiro, o predomínio da razão ( faculdade masculina ) sobre a intuição ( feminina ). São três lados de um fenômeno único, que o sr. Capra resume como a supremacia do yang sobre o yin.
É, como se vê, um tipo especial de patriarcado, bem diferente daquele que podemos encontrar nos livros de história e sociologia. Pois estes nos dizem que o aumento do poderio técnico sobre a natureza abalou o regime de propriedade rural no qual se esteava o patriarcado; e que o advento do Império da Razão, trazido no bojo da Revolução Francesa, promoveu logo em seguida a igualdade de direitos para homens e mulheres, desferindo o golpe de misericórdia na autoridade do pater familias. Em suma, que das três coisas que o sr. Capra reúne sob o rótulo comum de "patriarcado", duas são precisamente o contrário. Mas os profetas não ligam para as ciências profanas. Non enim cogitationes meae cogitationes vestrae, já nos tinha advertido a Bíblia. O sr. Capra, com efeito, não pensa como nós.
Mas há algo nele que pelo menos alguns de nós podem compreender perfeitamente bem. Sendo a lógica, no seu entender, uma expressão do abominável patriarcado cujo fim ele deseja, ele não poderia mesmo obedecê-la sem tornar-se, ipso facto, ilógico. É então por uma simples questão de lógica que ele opta por ser ilógico. Qualquer bebê de colo pode compreender isto. O difícil é compreendê-lo quando já não se é um bebê de colo. Para ser admitido nos céus da Nova Era, o leitor deve portanto tornar-se como os pequeninos.
Eis aqui um caso típico. Para livrar-se do odioso patriarcado, diz o nosso profeta, a humanidade deveria inspirar-se no exemplo da civilização chinesa, cuja concepção da natureza humana, expressa sobretudo no I Ching, "está em flagrante contraste com a da nossa cultura patriarcal". Buscando agora munição antipatriarcal nas páginas do I Ching, o leitor encontrará, no hexagrama 37, as seguintes recomendações: "A esposa deve ser sempre guiada pela vontade do senhor da casa, isto é, pelo pai, pelo marido ou pelo filho adulto. O lugar dela é dentro de casa." A vida que Betty Friedan pediu a Deus. Aliás, segundo informa Marcel Granet no clássico La Civilisation Chinoise (8), o feudalismo chinês, período no qual se redigiu o grosso dos comentários do I Ching, "repousa sobre o reconhecimento do predomínio masculino". A China a que o sr. Capra se refere não deve portanto ser a mesma que os geógrafos profanos conhecem por esse nome.
O que o sr. Capra não pode mesmo é ser acusado de facciosismo sinófilo. Pois, se ele rejeita a lógica ocidental, nem por isto se curva às exigências da oriental. Segundo ele, o yang representa a razão analítica, que divide, e o yin a intuição, que unifica. Os chineses, nada entendendo destas sutilezas, representaram o divisivo yang por um traço contínuo, e o unificante yin por um traço dividido ao meio. Na Nova Era, as edições do I Ching virão devidamente retificadas.
Enquanto essas edições não aparecem, o sr. Capra já vai tratando, por conta, de introduzir no pensamento chinês umas modificações mais sérias. Ele diz, por exemplo, que na civilização chinesa o homem não procura dominar a natureza, mas integrar-se nela. Novamente, a sabedoria chinesa do sr. Capra pegou a China desprevenida: um chinês nem mesmo entenderia essa frase, pela razão de que na sua língua não há uma palavra que signifique "natureza" no sentido ocidental, isto é, ao mesmo tempo o mundo visível e a ordem invisível que o governa ( ambiguidade que as línguas modernas herdaram do grego physis ). O chinês é nisto, com o perdão da palavra, mais "analítico": tem um termo para designar o mundo visível ( khien ), e um outro ( khouen ) para a ordem invisível. Para compensar, o mundo visível ou khien abrange, "sinteticamente", tanto a natureza terrestre quanto a sociedade humana. O sr. Capra não diz a qual das duas "naturezas" o homem deveria integrar-se, mas é claro que ninguém poderia integrar-se em ambas simultaneamente e de um mesmo modo. Os antigos chineses já haviam advertido isto, e resolveram a contradição propondo uma dualidade de atitudes para fazer face a esse duplo aspecto da natureza: o sábio, diz o I Ching, deve buscar ativamente integrar-se na ordem invisível ou khouen ( chamada por isto "perfeição ativa" ) e contornar suavemente as exigências da natureza terrestre ( khien ou "perfeição passiva" ). Dito de outro modo: integrar-se na ordem celeste, integrando em si e superando dialeticamente a ordem terrestre ( e portanto absorvendo-a, por sua vez, na ordem celeste ). O "celeste" e o "terrestre", nesse sentido, identificam-se respectivamente ao dharma e ao kharma da tradição hindu. O homem não se "integra" no kharma, porém "absorve-o" na medida em que se integra no dharma: livra-se do peso da terra na medida em que atende ao apelo celeste. Exatamente no mesmo sentido diz o cristianismo que o homem vence a necessidade natural na medida em que segue as vias da Providência. Não é bem o que diz o sr. Capra.
O ideograma Wang ( "o Imperador" ) esclarece isso melhor. Ele constitui, por si, um compêndio de cosmologia chinesa. Compõe-se de três traços horizontais — o Céu em cima, a Terra em baixo, o Homem no meio, formando a tríade Tien-Ti-Jen, "Céu-Terra-Homem" — cortados por um traço vertical, o Tao, que se traduz um tanto convencionalmente por Lei ou Harmonia. A Harmonia consiste em que cada coisa fique no lugar que lhe cabe, de modo que, por trás de todas as mudanças por que passa o mundo, a ordem suprema não seja violada ( embora neste mundo de aparências ela o seja necessariamente, pois, como dizia o Evangelho, "é necessário que haja escândalo"; mas no fim todas as desordens parciais são reintegradas na ordem total ).
Na Tríade chinesa, o homem é chamado "filho do Céu e da Terra". Sendo o Céu o pai, já se vê, pelo hexagrama 37, quem é que manda. O homem governa portanto o mundo visível, mas não o faz por arbítrio próprio, e sim em nome de uma ordem transcendente. Tien não significa o "céu" no sentido material, mas a "perfeição celeste" ou mais propriamente a "vontade do Céu"; em inglês, que o sr. Capra compreende melhor, não o sky, mas o heaven, morada do Espírito Santo. O sábio ou imperador apreende no invisível a vontade do Céu e a põe em execução na Terra. Na sala central do seu palácio, ele cumpre diariamente ritos de um complexo simbolismo geométrico e numerológico ( similar ao do pitagorismo ), mediante os quais os arquétipos celestes "descem" ( exatamente como na missa "desce" o Espírito Santo ) para trazer à Terra a ordem e a harmonia. Se o imperador pára de fazer os ritos, a Terra — sociedade e natureza ao mesmo tempo — entra em convulsão, espalham-se por toda parte a ignorância, o medo, a violência, a fome, a peste.
Não era só a interrupção dos ritos que podia trazer a catástrofe. "O imperador — escreve Max Weber em A Religião da China — tinha de se conduzir segundo os imperativos éticos das escrituras clássicas. O monarca chinês permanecia basicamente um pontífice. Ele tinha de provar que era mesmo 'filho do Céu', o regente aprovado pelos Céus, para que o povo, sob o seu governo, vivesse bem. Se os rios arrebentavam os diques ou a chuva não caía apesar de todos os ritos, isto era prova — acreditava-se expressamente — de que o imperador não tinha as qualidades carismáticas requeridas pelo Céu."
O homem governa a Terra, mas em nome do Céu. Governa como pontifex, "construtor de pontes", que liga a Terra ao Céu através do Reto Caminho, o Tao. Caso se afaste do Reto Caminho, ele perde de vista a Vontade do Céu e já não pode governar senão em nome próprio, como tirano e usurpador. Aí, num choque de retorno, ele perde seu poder e cai sob o domínio das potências terrestres que antes comandava. Como a Terra designa ao mesmo tempo a natureza física e a sociedade humana, o choque pode significar tanto uma revolução civil ou golpe militar, quanto uma tempestade ou terremoto. O monarca que cai representa, por analogia, qualquer homem que, rompendo com a ordem celeste, perca de vista o seu destino ideal e caia presa das paixões abissais. É a situação descrita no hexagrama 36, O Obscurecimento da Luz: "Primeiro ele subiu ao Céu, depois mergulhou nas profundezas da Terra." O comentário tradicional, resumido por Richard Wilhelm, é o seguinte: "O poder da treva subiu a um posto tão alto que pode trazer dano a quantos estejam do lado do bem e da luz. Mas no fim o poder das trevas perece por sua própria obscuridade."
Já se vê que o conselho do sr. Capra, afetado pela ambiguidade da palavra "natureza", pode ter dois significados opostos: com "integrar-se", pretende ele que obedeçamos à Vontade do Céu ou que mergulhemos nas profundezas da Terra? As falas dos profetas, quando obscuras, merecem interpretação. Interpretemos.
Na versão do sr. Capra, o Céu não é mencionado. A tríade fica reduzida a uma dualidade: de um lado o homem, de outro a natureza visível. O macho e a fêmea. O yang e o yin. A cada um só resta a alternativa de subjugar o outro ou "integrar-se" nele. O homem da civilização industrial optou pela primeira hipótese. O sr. Capra advoga a segunda.
É verdade o que diz o sr. Capra, que a civilização ocidental optou por dominar a natureza. Mas é verdade também que, desde o Renascimento ao menos, ela apagou ( exatamente como o sr. Capra ) toda referência a uma ordem transcendente ( Tien ) e deixou o homem sozinho, face a face com a natureza material. Desde então a história das idéias ocidentais tem sido marcada por uma oscilação pendular entre as ideologias da dominação e as ideologias da submissão: classicismo e romantismo, revolução e reação, historicismo e naturalismo, cientificismo e misticismo, ativismo prometéico e evasionismo quietista, marxismo e existencialismo e, last not least, revolução cultural socialista versus ideologia da "Nova Era".
É neste último par de opostos que reside a chave para a compreensão do nosso profeta. O sr. Capra acerta na mosca ( nenhum profeta pode realizar o prodígio de errar sempre ) ao dizer que sua visão da história cultural é uma alternativa ao marxismo. Para Marx e seus epígonos, a natureza nada mais é que o cenário da história humana. Está aí não como um ser, uma substância ontológica que o homem deva contemplar e respeitar em sua constituição objetiva, mas como matéria-prima a ser apropriada e transformada livremente segundo o arbítrio humano. A natureza, em Marx, é ancilla industriae. O marxismo prossegue a tradição de prometeanismo revolucionário do Renascimento, potencializando-a mediante a submissão completa e explícita da natureza à história. A isto é que se opõe a ideologia da Nova Era.
Mas ela não se opõe somente ao marxismo em geral, e sim a uma forma específica de marxismo, que também, como ela, quis operar uma "mutação", um giro de cento e oitenta graus na orientação do pensamento humano. O fundador desta corrente marxista foi o ideólogo italiano Antonio Gramsci ( 1891-1937 ). O gramscismo propõe uma revolução cultural que subverta todos os critérios admitidos do conhecimento, instaurando em seu lugar um "historicismo absoluto", no qual a função da inteligência e da cultura já não seja captar a verdade objetiva, mas apenas "expressar" a crença coletiva, colocada assim fora e acima da distinção entre verdadeiro e falso. É a total submissão do "objeto" ( natureza ) ao "sujeito" ( humanidade histórica ). Neste novo paradigma, a ênfase da atividade científica já não cai no conhecimento objetivo da natureza ( descrição exata da sua aparência visível e investigação dos princípios invisíveis que a governam ), mas sim na sua transformação pela técnica e pela indústria, a isto correspondendo, na esfera das idéias, uma espécie de "revolução permanente" de todas as categorias de pensamento a suceder-se numa aceleração vertiginosa do devir histórico.
Contra isto levantou-se a ideologia da Nova Era. Ao prometeanismo revolucionário, ela opõe a "integração na natureza"; à aceleração da história, o equilíbrio "ecológico" da Nova Ordem Mundial; e, ao historicismo absoluto, o "fim da História". Capra é inconcebível sem Fukuyama. Capra é a casca da qual Fukuyama é o miolo. Todo o vistoso "esoterismo" da Nova Era, com suas iniciações secretas, seus gurus, seus magos e seus ritos, não constitui senão o exoterismo, o aparato religioso externo e social, cujo interior, cujo "sentido esotérico" é na verdade uma ciência bem moderna, racional e profana: o planejamento estratégico. Fukuyama está para Capra exatamente como o esoterismo está para o exoterismo, como a Igreja de João está para a Igreja de Pedro. Mas ambas, cada qual no seu plano e pelos meios que lhe são próprios, combatem um mesmo adversário.
O gramscismo fez muito sucesso nos anos 60, inspirando a febre passageira do eurocomunismo e revigorando algumas esperanças comunistas. No Brasil, conquistou praticamente a esquerda inteira, e o PT é um partido essencialmente gramsciano, admita-o ou não explicitamente. Mas o intento de renovação foi fraco e tardio: o comunismo acabou sendo derrotado pela ascensão mundial da ideologia da Nova Era. Afinal, a mistura de física quântica e simbolismos orientais, experiências psíquicas e sexo livre, promessas de paz e miragens de auto-realização, que essa ideologia oferece, é infinitamente mais sedutora do que qualquer "historicismo absoluto". O Brasil, sempre atrasado, é um dos poucos lugares do mundo onde o combate ainda prossegue, com um feroz núcleo de remanescentes gramscianos oferecendo uma quixotesca resistência local aos exércitos triunfantes da Nova Era.
Mas, se o prometeanismo revolucionário representou o máximo da hybris, da avidez dominadora do homem sobre a natureza, a ideologia da Nova Era não é outra coisa senão o choque de retorno anunciado pelo I Ching.
A Nova Era venceu a revolução gramsciana. Mas foi uma teratomaquia: um combate de monstros. Diriam os chineses que foi um combate suicida: que, sem a obediência comum a Tien, a luta entre Ti e Jen só pode terminar pelo "Obscurecimento da Luz". A vitória da Nova Era prenuncia, portanto, o próximo passo do ciclo das mutações: a humanidade vai cair da autoglorificação prometéica na passividade inerme; vai integrar-se, "ecologicamente", no equilíbrio da Nova Ordem Mundial, onde o conformismo coletivo será assegurado mediante a justa repartição dos meios de satisfazer as paixões mais baixas e mediante um arremedo de religiosidade externa que dará a essas paixões uma aura lisonjeira de "profundidade" e "autoconhecimento".
Pode-se interpretar isso psicanaliticamente. Gérard Mendel, no seu livro La Révolte contre le Père, uma das mais importantes contribuições das últimas décadas à psicanálise freudiana, diz que, ao longo da história, o impulso do homem para superar o pai tem sido, como pretendia Freud, um dos mais potentes motores do progresso. Mas este impulso, prossegue ele, pode tomar duas direções: ou o homem supera e vence o pai carnal integrando-se na ordem racional representada pelo pai ideal, ou manda logo às urtigas a ordem ideal para, livre de toda trava moral, matar o pai carnal e tomar posse da mãe. Esta última alternativa é a revolta prometéica, a que se segue, num choque de retorno, a queda no irracional, a regressão uterina, a "integração" do homem nas trevas. Daí, segundo Mendel, a importância antropológica, e também psicoterapêutica, das palavras da mais célebre oração cristã: a "revolta contra o pai" só é saudável e frutífera quando empreendida "em nome do Pai". Trocando em miúdos chineses: o pai carnal é, para o homem adulto ( Jen ), nada mais que um aspecto de Ti, a Terra. É preciso submetê-lo à ordem celeste, Tien ou pai ideal, para aí então poder assumir, sem usurpação nem violência, o governo justo e harmônico da Terra. Sempre achei que o dr. Freud tinha algo de chinês.
Nos termos de Mendel, a revolução gramsciana é a revolta destrutiva contra o pai, e a ideologia da Nova Era, com seus apelos à fusão das consciências individuais numa sopa de miragens holísticas, é a regressão uterina que se lhe segue. Todas as regressões uterinas anunciam-se pela exacerbação da fantasia, pelo chamamento hipnótico das esperanças insensatas, pela antevisão mediúnica de delícias sem fim. Todas terminam na escravidão abjeta, na passividade inerme ante a agressão das forças abissais, no obscurecimento da luz.
É inevitável que haja escândalo. A Nova Era venceu o prometeanismo gramsciano, e sai de baixo: lá vem o hexagrama 36. There's coming a shitstorm e Fritjof Capra é o seu profeta. Mas, no fim, que por certo não se anuncia breve, o poder das trevas sucumbirá por força da sua própria obscuridade.
Findo o período das trevas, assegura o Apocalipse, a loucura dos novos profetas que arrastaram a humanidade ao erro será exibida à plena luz do dia, e todos a verão.
Como a Nova Era ainda mal começou, não está na hora de fazer o show completo. Por enquanto, tudo o que se pode fazer é dar umas amostras preliminares, que atestem, para as gerações vindouras, a realidade de um passado que lhes parecerá inverossímil. Como disse o sábio Richard Hooker ante o avanço do besteirol puritano no séc. XVI, quando tudo isto tiver passado "a posteridade poderá saber que não deixamos, pelo silêncio negligente, as coisas se passarem como num sonho".
De amostras está cheio o livro do sr. Capra. Porém manda a justiça que as selecionemos segundo a gradação de importância que lhes dá o próprio autor. Devemos portanto agora examinar o terceiro "ponto de mutação": a revolução do paradigma científico.
Neste terreno o sr. Capra não parece estar em desvantagem como no mundo chinês, que só conheceu por fontes de terceira mão. Doutor em física pela Universidade de Viena, ele não pode ignorar a história da ciência ocidental como ignora a civilização chinesa. Mas quem disse que não pode? Aos profetas tudo é possível.
Segundo o sr. Capra, "o paradigma ora em transformação dominou a nossa cultura por muitas centenas de anos"; ele "compreende certo número de idéias" que "incluem a crença de que o método científico é a única abordagem válida do conhecimento; a concepção do universo como um sistema mecânico composto de unidades materiais elementares; a concepção da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência". Essas concepções têm os nomes respectivos de: cientificismo, mecanicismo e social-darwinismo ou darwinismo social. Repito: segundo o sr. Capra, elas dominam a nossa cultura há muitas centenas de anos. Isto sugere duas perguntas. Primeira: Que é "dominar uma cultura?" Segunda: Quanto é "muitas centenas"?
Dizemos que uma certa idéia domina uma cultura quando: primeiro, ela é acreditada pelos intelectuais mais importantes de todos os setores; segundo, as idéias concorrentes ou já não são férteis, quer dizer, já não se expressam em obras poderosas e significativas, ou então desapareceram completamente de cena. Assim, por exemplo, o cristianismo dominou a Idade Média porque, de um lado, todos os filósofos e os homens cultos em geral eram cristãos e, de outro lado, as correntes de pensamento não-cristãs, ainda que persistindo vivas pelo menos no subconsciente coletivo, não produziram nesse período nenhuma obra digna de atenção. Dizemos que o marxismo dominou a cultura soviética até a década de 60 porque nesse período nenhum intelectual eminente que residisse na URSS produziu nenhuma idéia que saísse dos quadros conceptuais do marxismo e porque as subcorrentes não-marxistas ( exceto no exílio e em línguas ocidentais ) nada criaram de significativo.
Nesse sentido estrito, nenhuma das três idéias que compõem o "paradigma dominante" jamais foi dominante em parte alguma do Ocidente. Desde que surgiram, as três foram incessantemente contestadas, combatidas, refutadas, rejeitadas no todo ou em parte por intelectuais importantes. De outro lado, correntes abertamente hostis a essas idéias continuaram férteis o bastante para produzir algumas das obras mais significativas de seus respectivos campos.
Vejamos o mecanicismo. Como pode ser "dominante" uma corrente que, desde seu nascimento, é rejeitada por gigantes como Leibniz, Schelling, Vico, Schopenhauer, Driesch, Fechner, Boutroux, Nietzsche, Weber, Kierkegaard e muitos outros, até ser derrubada no século XX pela teoria de Planck?
A rigor, o mecanicismo só foi dominante, e mesmo assim com reservas, numa certa parte do mundo, que para o sr. Capra é "o" mundo: os círculos universitários anglo-saxônicos. Que esse mundinho tradicionalmente presunçoso e seguro de si se abra hoje para novas idéias, que se disponha até a ouvir os orientais sem a tradicional incompreensão colonialista, é sem dúvida uma novidade auspiciosa. Mas uma novidade local. Não há meio mais seguro de tornar provinciano um povo do que persuadi-lo de que ele é o centro do mundo. Desde esse momento ele declara inexistente ou irrelevante tudo o que saia do seu campo de visão, e quando finalmente descobre algo que todo o resto do mundo já sabia dá a esta descoberta uns ares de revolução mundial.
Quanto ao cientificismo, tanto se escreveu contra ele, que é perfeitamente errado considerá-lo dominante mesmo num sentido atenuado do termo. Para isto seria preciso excluir do primeiro plano da cultura o marxismo, a psicanálise, a fenomenologia, o neotomismo e o existencialismo, pelo menos. Aqui, novamente, o sr. Capra toma como mundialmente dominante a opinião de um grupo restrito.
O darwinismo social, por sua vez, só chegou a ser dominante, como crença pública, num único país do mundo: nos Estados Unidos. Nunca entrou, por exemplo, nos países comunistas e no mundo islâmico, que, somados, completam quase dois terços da humanidade. Nos países católicos, foi recebido desde logo como perversa anomalia, suscitando reações de escândalo de que dão testemunho as encíclicas sociais dos papas desde pelo menos Leão XIII.
Mas, além de afirmar que essas três crenças "dominam o mundo", o sr. Capra ainda assegura que o fazem "há muitas centenas de anos". Contemos a história.
A mais velha das três é o mecanicismo. Prenunciado por Descartes, foi formulado plenamente por Isaac Newton ( Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, 1687 ), mas só se tornou conhecido da intelectualidade européia em geral a partir de 1738, quando Voltaire divulgou em linguagem compreensível aos leigos os Elementos da Filosofia de Newton.
Não foi só fazendo divulgação científica que Voltaire promoveu a vitória de Newton. Ele tanto difamou com ironias grosseiras o principal opositor de Newton, G.-W. von Leibniz, que os contemporâneos cessaram de prestar atenção ao que este dizia. Leibniz caiu em quase descrédito até o século XX, quando a redescoberta de suas idéias ocasionou avanços prodigiosos nas matemáticas, na lógica e nas ciências da natureza. A nova física de Planck e Heisenberg veio a dar razão a Leibniz contra Newton, substituindo o mecanicismo pelo probabilismo. Esta substituição poderia ter ocorrido dois séculos antes, se Voltaire, imperador da opinião pública no século XVIII, não tivesse tecido em torno de Leibniz uma teia de preconceitos duradouros. Por ironia, Voltaire entrou para a História como o inimigo de todo atraso e de todo preconceito.
Mas, de qualquer modo, a opinião de Voltaire não se propagou com a velocidade do raio. Demorou duas ou três décadas, pelo menos, para tornar-se crença dominante na Europa inteira. Por volta de l780, o mecanicismo gozava de um prestígio invejável, e pode ser dito, desde então, dominante, se dominante não quer dizer unanimemente aceito, ou aceito sem reservas. Não se pode esquecer a oposição que lhe moveram o vitalismo de Goethe e Driesch, o contingencialismo de Boutroux e muitas outras correntes, até o golpe de misericórdia desferido por Planck e Heisenberg.
No momento em que o sr. Capra redigia O Ponto de Mutação, o mecanicismo estava completando portanto dois séculos de glória incessantemente contestada e de periclitante reinado sobre as facções majoritárias do mundo acadêmico. Isto é bem diferente de um domínio de muitos séculos sobre todo o mundo.
Quanto ao darwinismo social, é um filhote do darwinismo biológico e não poderia ter nascido antes do pai. O princípio da "subsistência do mais apto" surgiu como uma teoria biológica e só depois, aos poucos, foi se transformando num argumento ideológico para a legitimação retroativa da concorrência capitalista.
A Origem das Espécies é de 1859. Herbert Spencer, nos seus Primeiros Princípios, publicados em l862, amplia o alcance das idéias evolucionistas, fazendo delas um princípio sociológico. Paralelamente, ocultistas como Allan Kardec e Madame Blavatski pegam no ar o termo "evolução" e lhe dão um sentido místico, ou misticóide: já não são somente os anfíbios que evoluem em répteis, e estes em mamíferos; são as almas desencarnadas que, no outro mundo, evoluem em "seres de luz", subindo na escala cósmica enquanto os macacos descem das árvores. Revestida de mil e um sentidos, a palavra "evolução" se dissemina, e surgem os debates públicos, que atraem a atenção dos intelectuais para o potencial político-ideológico do evolucionismo. Os debates alcançam um auge de sucesso com a conferência de Thomas Henry Huxley, "Evolução e ética", em 1892. Aí está aberto o caminho para a legitimação do capitalismo liberal pela "sobrevivência do mais apto". O resto vem com os livros de Gustav Ratzenhofer ( Natureza e Finalidade da Política, 1893 ) e William G. Sumner ( Folkways, l906 ), que fundamentam explicitamente a noção de "evolução social", dando aos ideólogos capitalistas o precioso slogan de que necessitavam. O darwinismo social tem, portanto, pouco mais ou pouco menos do que um século. Tinha menos no momento em que o sr. Capra redigia o seu livro.
Finalmente, o cientificismo. A rejeição formal e completa, em nome da ciência, de qualquer explicação filosófica ou teológica da realidade, foi proposta, pela primeira vez, por Augusto Comte ( Discurso sobre o Espírito Positivo, l844 ). Mas Comte ainda reservava para a filosofia a tarefa de síntese e ordenação do conhecimento científico, e Comte só foi aceito sem contestação num único lugar deste planeta: no Brasil! ( Em 1914, o positivista Alain atribuía a guerra mundial ao fato de nenhum outro país do globo haver seguido o exemplo do Brasil, que adotara na bandeira republicana o positivismo como doutrina oficial do Estado: Ordem e Progresso é, com efeito, o resumo da filosofia comtiana. ) Uma declaração formal e taxativa de cientificismo, com a completa demissão de todas as demais formas de conhecimento como vazias ou insignificantes, só veio mesmo em 1934, com Rudolf Carnap, em Sintaxe Lógica da Linguagem. Mas Carnap não era nenhum Voltaire, para contar com a imediata aprovação de um vasto público. A maioria dos filósofos do século XX rejeitou categoricamente o cientificismo, que só exerceu domínio sobre grupos determinados, principalmente no mundo anglo-saxão. Contemporaneamente à declaração de Carnap, o matemático e filósofo Edmund Husserl, fundador da fenomenologia — escola que iria gerar Heidegger, Scheler, Hartmann, Sartre e Merleau-Ponty, entre outros —, fazia na Universidade de Praga as célebres conferências depois reunidas no livro A Crise das Ciências Européias, em que negava o cientificismo pela base e desde dentro: as ciências físicas, dizia ele, haviam perdido o seu essencial fundamento científico e já não serviam como modelo de conhecimento da realidade. Husserl era e é pelo menos tão influente quanto Carnap, embora não tanto no mundo anglo-saxônico que é o limite do horizonte mental do sr. Capra.
Em suma, o cientificismo, que "domina a nossa cultura desde há séculos", está completando sessenta primaveras neste ano de 1994. Mas, para cúmulo, sua primeira manifestação ostensiva já foi posterior, de três décadas, à publicação dos primeiros trabalhos de Max Planck, cujo indeterminismo viria a ser uma das bases do "novo paradigma" cujo advento o sr. Capra veio agora nos anunciar. O novo paradigma é um tanto anterior ao velho.
O sr. Capra, como se vê, pouco entende dos assuntos em que exerce, para um público multitudinário, uma autoridade profética. Ele prima pela carência de informação elementar sobre a cosmologia chinesa, na qual diz basear sua visão da história cultural, bem como sobre a história cultural mesma, que ele procura, mediante generalizações grosseiras, e escandalosas alterações da cronologia, encaixar à força num modelo preconcebido.
Não questiono, aqui, a validade da proposta holística em geral. Reservo-me o direito de fazê-lo num outro trabalho. Apenas creio que ela deve ter defensores um pouco mais qualificados do que o sr. Capra.
Meu propósito foi dar um testemunho sobre um fato de relevância mundial, que acontece bem diante das nossas barbas, e de cuja realidade as gerações vindouras terão o direito de duvidar. Pois, para a razão e o bom-senso, não é verossímil que milhares de intelectuais de prestígio, em seu juízo perfeito, possam aceitar e aplaudir como um marco da história do pensamento uma obra como O Ponto de Mutação, que não atende sequer aos requisitos mínimos de informação fidedigna, de autenticidade das fontes e de rigor conceptual que se exigem de uma tese de mestrado. Dentre tantos outros defeitos que um livro pode ter, este padece do único que não se pode tolerar em hipótese alguma: a ignoratio elenchi, a ignorância completa do assunto. O sr. Capra define o seu livro, pretensiosamente, como um novo modelo de história cultural baseado nas concepções chinesas do homem e do universo. Mas ele não estudou o suficiente nem a história cultural nem as concepções chinesas para que sua opinião a respeito possa ter qualquer importância objetiva, fora do seu círculo de convivência pessoal. O conteúdo de sua propalada sabedoria do assunto é pura lana caprina.
O sucesso deste livro só pode ser explicado por um único fator, inteiramente alheio ao seu valor intrínseco: sua oportunidade. Ele diz o que as pessoas desejam ouvir, no momento em que o desejam. Ele oferece uma perspectiva sedutora a um público que pede para ser seduzido.
Que esse público não inclua somente populares incultos, mas intelectuais de projeção, e que estes se prontifiquem a aceitar as promessas do autor sem pedir-lhe sequer as credenciais científicas que se exigem de um estudante de faculdade, é realmente um acontecimento inverossímil.
Mas, dizia Aristóteles, não é mesmo verossímil que tudo sempre se passe de maneira verossímil. O inverossímil aconteceu. Ele atesta que, após séculos de fúria iconoclástica voltada contra todas as crenças do passado e os valores de outras civilizações, a opinião letrada do Ocidente enfim se cansou de ser arrogante; mas, em vez de um arrependimento sincero, está encenando diante de nós um arremedo de conversão, que deixa à mostra todas as marcas do fingimento histeriforme. Estonteada pela visão súbita de suas próprias culpas, ela abjurou de toda precaução crítica como quem repele um vício do passado; e entregou-se, inerme e crédula, ao culto do primeiro ídolo que lhe ofereceu uma promessa de alívio. Ela pensa ou finge pensar que esse ídolo é o seu salvador. Na verdade é a sua Nêmesis.
Mas não é só ela que está enganada. O profeta do engano também se engana: ele imagina trazer ao mundo a sabedoria, quando traz o obscurecimento e a confusão. Imagina trazer uma nova profecia, quando traz o cumprimento de uma velha maldição.
Mas não posso encerrar estas considerações sobre o profeta da Nova Era sem fazer, também eu, uma profecia: nos séculos vindouros, quando puderem encarar o nosso tempo com alguma objetividade, o fenômeno da Nova Era será considerado um escândalo que depõe contra a inteligência humana.
É forçoso que venha o escândalo. Nada se pode fazer para evitá-lo. Nem mesmo vou sugerir, como Jesus, que se amarre ao seu portador uma pesada pedra, para jogá-lo ao fundo do mar. Pois, como diria o hexagrama 36, ele já está no fundo. Tudo o que posso fazer é deixar à posteridade, se vier a ter notícia destas páginas, um testemunho pessoal destes tempos obscuros: Nem todos, nem todos acreditaram no falso profeta (9).
Adendo
Há no livro do sr. Capra uma infinidade de erros e contra-sensos, além dos mencionados. Apontá-los e corrigi-los todos requereria um volumoso comentário: uma lei constitutiva da mente humana concede ao erro o privilégio de poder ser mais breve do que a sua retificação.
Mas vale a pena dar mais algumas amostras, para que o leitor veja quanto um erro nas premissas pode ser fértil em consequências:
l. O sr. Capra combate o uso da energia nuclear, mesmo para fins pacíficos, mas, ao mesmo tempo, faz da física moderna um dos fundamentos do "novo paradigma" que propõe. Ele separa a física enquanto modalidade de conhecimento teórico e a natureza das suas aplicações práticas, como se uma não decorresse da outra necessariamente.
O sr. Capra é, nisto, perfeitamente inconsequente com o método holístico que advoga. Para o holismo, toda separação estanque entre uma idéia e suas manifestações práticas é nada mais que um abstratismo. Holisticamente falando, o efeito benéfico ou destrutivo dos engenhos nucleares tem de estar arraigado no próprio modus cognoscendi que os produziu. Se o sr. Capra enxerga ligações até mesmo entre o mecanicismo e a estrutura da família patriarcal, como pode ser cego para as relações, muito mais próximas, entre o conteúdo teorético de uma ciência e suas aplicações práticas?
2. Em nossa sociedade, afirma o sr. Capra, o trabalho entrópico ( trabalho repetitivo que não deixa efeitos duradouros, como por exemplo cozinhar um jantar que será consumido imediatamente ) é desvalorizado, e por isto é atribuído às mulheres e aos grupos minoritários. Esta desvalorização, diz ele, é típica da sociedade industrial.
Nesse caso, deveríamos considerar sociedades industriais as tribos do Alto Xingu, as cidades-Estado da antiga Grécia, a sociedade européia da Idade Média. Não existiu jamais uma sociedade em que os serviços entrópicos fossem mais valorizados que os outros.
Mas, segundo o sr. Capra, existiu. Ele dá como exemplos os mosteiros de monges budistas e cristãos, onde cozinhar é uma honra e limpar as privadas um mérito invejável. Será preciso explicar ao sr. Capra que uma ordem monástica não constitui uma "sociedade", mas uma comunidade minoritária que pressupõe em torno a existência de uma sociedade a cujos valores possa se opor? Se, dentro de um mosteiro, o trabalho entrópico tem valor, é justamente porque não o tem na sociedade maior em torno. Os trabalhos humildes adquirem ali dentro um valor espiritual e disciplinar justamente na medida em que no "mundo" têm pouco prestígio social ou valor econômico. A desvalorização social do trabalho entrópico não é característica da sociedade industrial, mas da sociedade humana em geral; inversamente, a sua valorização espiritual é um traço distintivo das minorias espiritualizadas envolvidas em alguma forma de rejeição religiosa do "mundo".
3. "Tradições como o vedanta, a ioga, o budismo e o taoismo assemelham-se muito mais a psicoterapias do que a filosofias ou religiões", diz o sr. Capra. Bem, se há um traço característico do Ocidente moderno, que o distingue radicalmente das tradições orientais, é justamente o desenvolvimento, nele, de uma psicologia como ciência independente de qualquer referência mística ou religiosa; e, em decorrência, o esforço para dar uma explicação "psicológica" de todos os fenômenos espirituais. Ao englobar as tradições espirituais do Oriente no conceito de "psicoterapia", o sr. Capra mostra a típica incapacidade do cientificista moderno para apreender tudo quanto há nelas de puramente metafísico e não-psicológico.
Dizer, ademais, que essas tradições "se baseiam no conhecimento empírico e, assim, apresentam mais afinidades com a ciência moderna" é pretender enquadrar à força as idéias orientais numa moldura ocidental e moderna, para torná-las aceitáveis ao provincianismo acadêmico. Acontece que, nessa operação, tudo que há nelas de essencialmente oriental se perde por completo. O vedanta, por exemplo, afirma categoricamente que a experiência não pode trazer conhecimento espiritual de espécie alguma, e esta afirmação é mesmo um dos pontos basilares da doutrina, que o sr. Capra parece desconhecer completamente: toda experiência é ação, e a ação, não sendo o contrário da ignorância, não pode destruí-la ( cf. Brihadaranyaka Upanishad, livro 10 ).
Por esse exemplo, vê-se que o sr. Capra está muito mais preso a esquemas mentais de acadêmico ocidental médio do que desejaria deixar transparecer. Alguém mais próximo da perspectiva oriental jamais procuraria explicar as doutrinas sapienciais da Índia ou da China à luz da moderna psicologia ocidental, mas, ao contrário, emitiria sobre esta, em nome delas, um julgamento bastante severo ( v., por exemplo, Wolfgang Smith, Cosmos and Transcendence, New York, l970, ou Titus Burckhardt, Scienza Moderna e Sagezza Tradizionale, Torino, l968 ).
4. Após realçar o sentido holístico das concepções fisiológicas de Hipócrates, o sr. Capra insinua que esse sentido desapareceu completamente da medicina ocidental e agora temos de ir buscá-lo na tradição chinesa: "A noção chinesa do corpo como um sistema indivisível de componentes inter-relacionados está muito mais próxima da moderna abordagem sistêmica do que do modelo cartesiano clássico." Se o sr. Capra não seguisse o hábito ocidental moderno de saltar direto do pensamento grego para o Renascimento, teria reparado que a mesma concepção holística domina todo o pensamento médico e biológico do Ocidente medieval, com destaque para Sto. Alberto Magno e Roger Bacon. Na verdade, as concepções chinesas são muito mais parecidas com as da Idade Média que com a "moderna abordagem sistêmica".
5. Ao explicar a psicoterapia de Arthur Janov, o sr. Capra diz que, segundo este eminente psiquiatra, as neuroses são tipos simbólicos de comportamento que "representam as defesas da pessoa contra a excessiva dor associada a traumas de infância". Quem quer que tenha lido Janov sabe que, na teoria deste, a etiologia das neuroses não é de ordem traumática, mas reside na frustração constante e habitual de necessidades básicas, frustração que às vezes não é sequer percebida no nível consciente. Um trauma, na psicopatologia de Janov, nada mais é que um fator superveniente. A minimização da importância etiológica dos traumas é justamente o que singulariza o sistema de Janov. Embora conhecendo o assunto de orelhada, o sr. Capra não se inibe de opinar a respeito com ar professoral: "O sistema conceitual de Janov não é suficientemente amplo para explicar experiências transpessoais..." O que certamente não é amplo é o conhecimento que o sr. Capra tem do sistema de Janov.
Sugestões de Leitura
Além das obras citadas no texto, o leitor poderá consultar com proveito as seguintes:
l. Quem aprecie o holismo e deseje ter uma informação séria a respeito, sem aberrações caprinas e com mais ensinamento valioso, leia o livro de Joël de Rosnay, Le Macroscope. Vers une Vision Globale ( Paris, Le Seuil, l975 ). O prof. de Rosnay ensinou no MIT e trabalha no Instituto Pasteur de Paris. É interessante ler também as obras de Edgar Morin, que foi aliás quem lançou a expressão "novo paradigma". V. especialmente La Méthode, em dois tomos ( I, La Nature de la Nature, Paris, Le Seuil, l977; II, La Vie de la Vie, id., 1980 ).
2. O I Ching tem três traduções ocidentais famosas: a de James Legge ( versão brasileira de E. Peixoto de Souza e Maria Judith Martins, São Paulo, Hemus, l972 ), a de Richard Wilhelm ( versão inglesa de Cary F. Baynes, London, Routledge and Kegan Paul, l95l, várias reedições; versão brasileira de Lya Luft e Alayde Mutzembecher, São Paulo, Nova Acrópole ), e a de P.-L. F. Philastre: Le Yi:King. Livre des Changements de la Dynastie des Tsheou. Annales du Musée Guimet, t. huitième, 2 vols. ( Paris, Adrien Maisonneuve, l975 ). Um estudo sério do assunto requer o exame das três. A de Wilhelm é mais didática e fácil de consultar. Legge enfatiza muito as ligações estruturais entre as partes e abre para um estudo mais aprofundado. Das três a de Philastre é de longe a mais interessante, pois é a única que transcreve integralmente e pela ordem as glosas das dez "gerações" de comentaristas chineses.
3. Sobre os símbolos da tradição chinesa, v. o livro clássico de René Guénon, La Grande Triade ( Paris, Gallimard, 1957 ). Convém recorrer ainda, quanto aos ideogramas, à obra monumental do Pe. L. Wieger, Chinese Characters. Their Origin, Etimology, History, Classification and Signification. A Thorough Study from Chinese Documents, transl. by L. Davrout, s. j. ( New York, Dover, 1965; a primeira edição é de 1915 ).
4. Sobre o pensamento chinês é ainda indispensável, a quem deseje aprofundar o assunto, estudar: quanto às concepções cosmológicas, Marcel Granet, La Pensée Chinoise ( Paris, Albin Michel, l968 ) e La Réligion des Chinois ( Paris, Payot, 1980 ). Quanto às instituições e ao governo, Granet, La Civilisation Chinoise ( Paris, La Renaissance du Livre, 1929 ). Sobre a moral, o direito e as classes sociais, Max Weber, The Religion of China, transl. by H. H. Gerth and C. Wright Mills ( New York, The Free Press, 195l ).
5. Um "novo modelo de história cultural" baseado em concepções orientais é algo que já estava realizado pelo menos desde l945, em Le Règne de la Quantité et les Signes des Temps, de René Guénon ( Paris, Gallimard ). Um monumento de sabedoria.
6. Sobre a disputa Leibniz-Newton pode-se ler: José Ortega y Gasset, La Idea de Principio en Leibniz y la Evolución de la Teoría Deductiva ( em Obras Completas, t. 8, Madrid, Alianza, 1983 ); Paul Hazard, La Crise de la Conscience Européenne 1660-1715 ( Paris, Gallimard, 1961 ); Edwin A. Burtt, As Bases Metafísicas da Ciência Moderna, trad. José Viegas Filho e Orlando Araújo Henriques ( Brasília, UnB, 1983 ).
NOTAS
7. Escrito em setembro de 1993. Voltar
8. Livro I, Cap. III. Voltar
9. Tendo enviado a Frei Betto uma cópia deste capítulo antes de sua publicação em livro, recebi dele uma resposta em duas linhas, que é um singular documento psicológico. Ela diz: "Apesar das suas reservas, o evento [ NB: recepção ao sr. Capra ] foi bom para quem lá esteve." Deve ter sido mesmo um barato, imagino eu. Mas o ilustre frade não me compreendeu. Longe de mim depreciar o evento em si — a organização do programa, o serviço de som ou o tempero dos salgadinhos. O que eu disse que não presta é a filosofia do sr. Capra, subentendendo que celebrá-la num congresso de intelectuais é jogar dinheiro fora; e quanto melhor o evento, mais lamentável o desperdício. Caso, porém, o missivista tenha pretendido alegar a qualidade do evento como um argumento em favor do sr. Capra, isto seria o mesmo que dizer que o preço da vela prova a qualidade do defunto. Além disso, que opinião se poderia ter de um pensador que argumentasse em favor de uma filosofia mediante a alegação de que ela lhe dá a oportunidade de freqüentar lugares agradáveis? [ N. da 2ª ed. ]
Olavo de Carvalho
http://www.olavodecarvalho.org/livros/nelana.htm

"O Brasil me parece ser o único País do mundo onde ser de esquerda ainda dá uma conotação de prestígio." (Roberto Campos, 1993)
"How do you tell a Communist? Well, it's someone who reads Marx and Lenin. And how do you tell an anti-Communist? It's someone who understands Marx and Lenin." - Ronald Reagan
No Brasil, os notáveis o são pela estupidez.
- Aurelio Moraes
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Re.: A sabedoria do senhor Capra
Alguém tem alguma receita de mousse de maracujá?
Serve torta de limão também.
Serve torta de limão também.
"Uau! O Brasil é grande"
Reação de Bush, quando Lula mostrou um mapa do Brasil. Essa frase foi finalista em 2006 do site StupidityAwards.com, na categoria "Afirmação mais estúpida de Bush".
Reação de Bush, quando Lula mostrou um mapa do Brasil. Essa frase foi finalista em 2006 do site StupidityAwards.com, na categoria "Afirmação mais estúpida de Bush".
Re.: A sabedoria do senhor Capra
Eu gostaria "imensamente" de saber quem é Capra. E pela voz de alguém menos tendencioso que Olavo de Carvalho.
Que lindo, rolou uma lágrima aqui !
E a ciência de Capra ? Pode ser lida em qualquer Forum Ascensão da vida.
Olavo se supera, será que ele já havia previsto esta visita em seus mapas astrais ?
[ ]´s
E a ciência de Capra ? Pode ser lida em qualquer Forum Ascensão da vida.
Olavo se supera, será que ele já havia previsto esta visita em seus mapas astrais ?

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You wanna fuck with me? Okay. You wanna play rough? Okay. Say hello to my little friend!
Tony Montana
Mantra diário dos Criacionistas:
"Que mal poderia haver se um homem dissesse uma grande mentira para o bem e para a igreja Cristã... uma mentira sem necessidade, uma mentira útil, tais mentiras não seriam contra Deus, ele as aceitaria."
Martinho Lutero
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Tony Montana
Mantra diário dos Criacionistas:
"Que mal poderia haver se um homem dissesse uma grande mentira para o bem e para a igreja Cristã... uma mentira sem necessidade, uma mentira útil, tais mentiras não seriam contra Deus, ele as aceitaria."
Martinho Lutero
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Capra na ciência
fonte:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe3006200203.htm
Capra na politica ambiental
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienci ... 200303.htm
O Ascencionismo Capriano ( melhor seria Caprino )
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe18079903.htm
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Usos e abusos da desconstrução do quantum
Marcelo Gleiser
especial para Folha
Sem a menor dúvida, o mundo dos átomos é muito diferente do nosso. As três primeiras décadas do século 20 foram marcadas por uma combinação de debates angustiados e idéias geniais propostas por um grupo de cientistas que incluía Werner Heisenberg, Niels Bohr, Erwin Schrödinger, Max Planck, Albert Einstein, entre muitos outros. A angústia vinha da crise pela qual passava a chamada física clássica, que, apesar de tão eficiente na descrição das coisas que ocorrem à nossa volta, era praticamente inútil para explicar o que ocorria com os átomos. Pode-se dizer que a revolução quântica, o resultado dessas várias idéias geniais, foi imposta contra a vontade dos físicos, uma revolução provocada pelo desenvolvimento de tecnologias e técnicas de laboratório que permitiram a exploração de toda uma nova realidade física, invisível aos nossos olhos. Esse ponto é muito importante: na história das ciências naturais, a maioria das revoluções foi causada pela descoberta de novas tecnologias e instrumentação.
A revolução quântica, devido à sua excentricidade, causa grandes confusões de interpretação, especialmente quando os seus conceitos são usados fora de contexto. Para explicar os resultados obtidos no laboratório, os pioneiros da física quântica criaram toda uma nova linguagem, apropriada ao que ocorre em sistemas de dimensões atômicas e subatômicas.
Por exemplo, o elétron não é descrito como uma partícula de posição bem determinada no espaço ou como uma onda com uma posição indeterminada no espaço, mas como sendo potencialmente partícula e onda: a realidade física do elétron e de todas as outras partículas de matéria e radiação é determinada pelo ato de observar. Quem determina se o elétron é partícula ou onda é o observador, na medida em que ele interage com o elétron. De fato, antes de o elétron ser medido, ou seja, antes da interação entre o observador e o observado, não se pode nem dizer que o elétron existe. No mundo quântico, entidades só existem quando medidas por um observador (ou melhor, por um aparelho).
É fácil ver como a dualidade partícula-onda pode ser distorcida fora de contexto. Por exemplo: "Ah! Então, sem observadores, a realidade não existe. Mais ainda, como a realidade é definida pelo observador por meio do ato de observar, e como o observador carrega consigo a sua própria subjetividade, a essência fundamental da realidade é subjetiva, dependente do observador."
A consequência direta dessa interpretação é pôr o homem no centro do cosmo, ao menos na medida em que somos aqueles que têm consciência do que significa observar: a realidade física passa a ser consequência de nossa existência. Pior ainda: como cada observador define a própria realidade, é impossível termos uma realidade universal. Tudo passa a ser ameno a interpretações, a desconstruções subjetivas do mundo e dos seus significados. A própria ciência se torna vítima do seu sucesso: afinal, se o seu objetivo é descrever a realidade e essa realidade é subjetiva, devem existir tantas ciências quanto há observadores. A ciência se torna inútil.
Outra consequência interessante da má interpretação da física quântica é que ela implica um holismo, uma conexão entre tudo o que existe, entre as nossas mentes e o Universo, desde as suas partículas mais fundamentais até as galáxias mais distantes. Inevitavelmente, esse holismo é visto como uma dimensão espiritual da física, uma redescoberta de ensinamentos antigos, em particular aqueles das religiões orientais.
Mesmo físicos, como Fritjof Capra, caem vítimas dessa tentação. O problema com esses abusos do quantum é usar conceitos aplicáveis a uma realidade que existe em dimensões de bilionésimos de metro a situações do nosso cotidiano, que é completamente removido da realidade quântica. As regras que regem as nossas interpretações do que é um elétron ou de como ele se comporta em um átomo são completamente irrelevantes para explicar como nos relacionamos com o mundo à nossa volta, como o nosso cérebro obtém e registra informação desse mundo ou como decidimos agir em nossas vidas. Elétrons não explicam neurônios ou decisões morais que tomamos no decorrer de nossas vidas.
Para aprender sobre o mundo, é necessário se aproximar dele. A espiritualidade que vejo na ciência está nessa aproximação, no constante processo de desvendar algo de novo sobre a natureza, nesse levantar dos véus. É nessa ressonância que reside o mistério, na agonia da dúvida e no êxtase da descoberta.
fonte:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe3006200203.htm
Capra na politica ambiental
Fritjof Capra viaja na transversal
Marcelo Leite
editor de Ciência
Passou por Brasília na semana passada o autor de best-sellers paracientíficos Fritjof Capra, conhecido por obras como "O Tao da Física" e "Ponto de Mutação". Deitou falação, em seminário do Ministério do Meio Ambiente (MMA), sobre o desafio da "transversalidade" para a administração Lula, ou seja, sobre a necessidade de permear todas as ações de governo com preocupações como a "sustentabilidade social, cultural, política e ambiental" -nas palavras da ministra Marina Silva.
Nos últimos anos, Capra voltou suas lucubrações além da ciência para o tema do ambiente, que tem atraído o maior número de espíritos simples -ainda que bem-intencionados- nostálgicos de um mundo uno que nunca existiu, não-dilacerado, virgem de tecnologia. Duas de suas obras recentes são "As Conexões Ocultas - Integrando Dimensões Biológicas, Cognitivas e Sociais da Vida em uma Ciência da Sustentabilidade) e "A Teia da Vida - Um Novo Entendimento dos Sistemas Vivos", ambos traduzidos para o português.
A julgar pelos títulos dos volumes, têm tudo a ver com preocupações vicejantes nas margens do Fórum Social Mundial. Foi numa dessas reuniões em Porto Alegre que Capra se engajou, em companhia da ministra, na proposta de uma rede internacional por um "Brasil Sustentável", cujos primeiros passos foram dados com a reunião encerrada sexta-feira na ecologicamente duvidosa Academia de Tênis de Brasília.
Capra pontificou: "Formular políticas para um Brasil sustentável significa introduzir uma nova dimensão ética na política. A ética ecológica é um padrão de comportamento que flui através da percepção de que todos pertencemos à comunidade global da biosfera". Disse mais: "A rede é o padrão básico de organização da vida. Desde o princípio, há mais de 3 bilhões de anos, a vida surgiu no planeta não através da competição, mas através da cooperação, de parcerias e da formação de redes".
Marina Silva aplaudiu: "Essa rede mundial de ecologistas está aqui para nos ajudar a tornar o nosso sonho realidade". De fato, a ministra anda necessitada de ajuda internacional, porque no plano doméstico os "ecologistas" (ambientalistas) já começaram a chiar. O Instituto Socioambiental (ISA), do qual saiu o secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Ribeiro Capobianco, publicara dias antes um primeiro documento de cobrança, sintomaticamente intitulado "Transversalidade na Corda Bamba" ( http://www.socioambiental.org/ website/especiais/novogov2/index.shtm).
Coincidência ou não, eles se queixam exatamente da perene ausência do MMA, ou pelo menos da questão ambiental, na formulação de políticas públicas por outros ministérios -como no caso do agronegócio exportador e sua predileção pela soja transgênica. Já lá vão quase dois meses desde que se tornou conhecido o desmatamento de mais de 25 mil km2 na Amazônia no período 2001-2002, 40% a mais que no anterior, e não há ainda notícia concreta da comissão interministerial (mais uma) criada para resolver o problema.
Enquanto isso, a monocultura da soja avança em direção a Santarém (PA), produzindo divisas para o país ao mesmo tempo em que induz desmatamento. Não é contradição que se resolva com platitudes e transversalidades caprianas.
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienci ... 200303.htm
O Ascencionismo Capriano ( melhor seria Caprino )
Ciência e espiritualidade
MARCELO GLEISER
especial para a Folha
Nestes tempos "pré-milenares", em que tudo se transforma tão rapidamente, o apetite das pessoas por verdades e certezas mais permanentes vem atingindo níveis jamais vistos ou mesmo previstos. O acesso fácil aos computadores e às telecomunicações criou uma aldeia global, onde a troca de informação entre diferentes culturas e pessoas do mundo é mais fácil e barata do que em qualquer outro período da história humana.
Esse excesso de informação, ao mesmo tempo inspirador e aterrorizador, causa muita confusão e estresse na cabeça das pessoas.
A tecnologia é muitas vezes percebida como uma espécie de monstro, capaz de curas milagrosas e de viagens interplanetárias, mas também de produzir armas que poderiam aniquilar a vida na Terra.
Inevitavelmente, surgem teorias de conspirações clandestinas e o governo (em muitos casos, merecidamente!) perde a sua credibilidade, enquanto uma intolerância generalizada ameaça polarizar ainda mais a sociedade. O resultado é uma sensação de pânico e abandono avidamente explorada por oportunistas que se apresentam como a única alternativa em um "mundo louco".
Com isso, observamos a proliferação de seitas da "Nova Era", de várias superstições (gnomos, anjos, fadas e outras criaturas fantásticas) e de pregadores da "verdade". Observamos também o crescimento do desprezo pela ciência e pelo que ela tem a dizer sobre o mundo.
A ciência é considerada a antítese da espiritualidade, uma atividade fria e manipuladora, dedicada a tirar Deus das pessoas. Ou as pessoas de Deus.
Acredito que essa concepção completamente errônea do que é a ciência e de como ela funciona seja a responsável por sua impopularidade, descontados os fãs, claro. Parte da culpa pertence, sem dúvida, à comunidade científica; historicamente, poucos cientistas dedicaram parte de seu tempo à divulgação, ao público, de suas idéias e descobertas. Essa situação está gradualmente se transformando, mas muito ainda precisa ser feito, especialmente nos meios de comunicação de maior penetração, como a televisão ou o cinema. O que ainda vemos, na maior parte desses veículos, depende do sensacionalismo barato e de distorções da imagem do cientista ou de seu trabalho.
Como, então, podemos reconciliar a ciência com o grande público, fazendo com que sua divulgação não traga, necessariamente, sua distorção? Vários livros de divulgação científica tiveram sucesso por revelar uma conexão entre ciência e espiritualidade, como "O Tao da Física", de Fritjof Capra. A julgar por esses livros, a resposta deve revolver em torno de uma reconciliação entre ciência e espiritualidade. Infelizmente, não creio que o caminho usado por esses autores revele a espiritualidade da ciência de forma correta; não creio que a ciência esteja simplesmente redescobrindo "verdades" descobertas através da meditação ou de uma conexão mística com o mundo, como nas religiões orientais.
A espiritualidade da ciência não é encontrada através de comparações entre suas descobertas e as práticas e ensinamentos de diversas religiões. Ela é encontrada na paixão com que os cientistas devotam toda uma vida na tentativa de desvendar os mistérios do mundo à sua volta. Ela é encontrada no próprio ato criativo, aquele momento de autotranscendência que desafia qualquer explicação racional. Ela é encontrada em sua humanidade e na poesia que revela.
Enquanto a ciência tenta entender o "como", deixando de lado o "porquê", a religião aceita o "porquê" baseada na fé, pouco se preocupando com o "como". Certas questões são exclusivas da ciência, enquanto outras pertencem somente à religião.
O fundamental é saber discernir os limites de ambas, suas diferentes missões e o simples fato de elas serem necessárias para a nossa existência.
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe18079903.htm
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You wanna fuck with me? Okay. You wanna play rough? Okay. Say hello to my little friend!
Tony Montana
Mantra diário dos Criacionistas:
"Que mal poderia haver se um homem dissesse uma grande mentira para o bem e para a igreja Cristã... uma mentira sem necessidade, uma mentira útil, tais mentiras não seriam contra Deus, ele as aceitaria."
Martinho Lutero
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Re: Re.: A sabedoria do senhor Capra
Samael escreveu:Eu gostaria "imensamente" de saber quem é Capra. E pela voz de alguém menos tendencioso que Olavo de Carvalho.
Alguns links, obtidos no Google: http://www.fritjofcapra.net/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fritjof_Capra
Abç
Leo
Re: Re.: A sabedoria do senhor Capra
Leonardo escreveu:Samael escreveu:Eu gostaria "imensamente" de saber quem é Capra. E pela voz de alguém menos tendencioso que Olavo de Carvalho.
Alguns links, obtidos no Google: http://www.fritjofcapra.net/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fritjof_Capra
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Valeu, Leonardo!
- Aurelio Moraes
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Re.: A sabedoria do senhor Capra
Excelentes textos, apodman.
Nada mais retardado mental, desonesto, estúpido e canalha do que misturar física com idéias emaconhadas, como faz o CABRA.
Nada mais retardado mental, desonesto, estúpido e canalha do que misturar física com idéias emaconhadas, como faz o CABRA.
Re: Re.: A sabedoria do senhor Capra
Samael escreveu:Eu gostaria "imensamente" de saber quem é Capra. E pela voz de alguém menos tendencioso que Olavo de Carvalho.
É um Físico New age... e como todos os New agers, gosta de fazer saladas misturando, ciência, religião, filosofia esotérica e outras coisas. É Sincretismo á pressa, ou fast-sincretismo. Aliás vivemos numa sociedade com muita pressa: do fast-food, do pronto a vestir, do pronto a pensar, do pronto a fuder sem preliminares e por aí... etc e tal... e abaixo a lavagem mental

Re.: A sabedoria do senhor Capra
Agora o Liquid Snake pode postar um artigo sobre o messianismo neoconservador daqueles que vivem na casa branca... para que alguém possa ver como são esses sincréticos da casa Branca...
- Flavio Costa
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Re.: A sabedoria do senhor Capra
Capra, como típico new ager, entende semelhanças entre áreas distintas do conhecimento como se fossem ligações entre elas. Acho que não precisa ser dito mais nada.
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006
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- Liquid Snake
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Se não fossem tão estúpidos e analfabetos, teriam lido o texto e visto que Olavo NÃO apoia Capra, muito pelo contrário, DÁ UMA BELA SURRA nesse hippie esquerdista.

"O Brasil me parece ser o único País do mundo onde ser de esquerda ainda dá uma conotação de prestígio." (Roberto Campos, 1993)
"How do you tell a Communist? Well, it's someone who reads Marx and Lenin. And how do you tell an anti-Communist? It's someone who understands Marx and Lenin." - Ronald Reagan
No Brasil, os notáveis o são pela estupidez.
- Liquid Snake
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Re.: A sabedoria do senhor Capra
O Samael vai adorar o Capra. Tem tudo a ver com sua concepção pessoal de Ciência.

"O Brasil me parece ser o único País do mundo onde ser de esquerda ainda dá uma conotação de prestígio." (Roberto Campos, 1993)
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- Aurelio Moraes
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Re.: A sabedoria do senhor Capra
O Olaveco é outro misticóide maluco, que passou a década de 80 se dizendo astrólogo.
Liquid Snake escreveu:Se não fossem tão estúpidos e analfabetos, teriam lido o texto e visto que Olavo NÃO apoia Capra, muito pelo contrário, DÁ UMA BELA SURRA nesse hippie esquerdista.
E qual a diferença entre um hippie esquerdista e um astrólogo criacionista de direita ?
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"Que mal poderia haver se um homem dissesse uma grande mentira para o bem e para a igreja Cristã... uma mentira sem necessidade, uma mentira útil, tais mentiras não seriam contra Deus, ele as aceitaria."
Martinho Lutero
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Tony Montana
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- Aurelio Moraes
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APODman escreveu:Liquid Snake escreveu:Se não fossem tão estúpidos e analfabetos, teriam lido o texto e visto que Olavo NÃO apoia Capra, muito pelo contrário, DÁ UMA BELA SURRA nesse hippie esquerdista.
E qual a diferença entre um hippie esquerdista e um astrólogo criacionista de direita ?
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Esqueceu que ele acredita nos "fenômenos espíritas " também...
Mr.Hammond escreveu:APODman escreveu:Liquid Snake escreveu:Se não fossem tão estúpidos e analfabetos, teriam lido o texto e visto que Olavo NÃO apoia Capra, muito pelo contrário, DÁ UMA BELA SURRA nesse hippie esquerdista.
E qual a diferença entre um hippie esquerdista e um astrólogo criacionista de direita ?
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Esqueceu que ele acredita nos "fenômenos espíritas " também...
Oh !! Como pude esquecer de incluir isto no curriculo do grande Olavo !!
Refaço a pegunta:
E qual a diferença entre um hippie esquerdista e um astrólogo criacionista que acredita em fantasmas, de direita ?
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rapha... escreveu:Liquid Snake escreveu:Se não fossem tão estúpidos e analfabetos, teriam lido o texto e visto que Olavo NÃO apoia Capra, muito pelo contrário, DÁ UMA BELA SURRA nesse hippie esquerdista.
Se Olavo não gosta do cara, boa pessoa ele deve ser.
Tudo que já vi "pessoalmente" dele, não me icomodou. Coisas sobre ecologia e desenvolvimento sustentável.
Mas parece realmente que ele também defende um monte de baboseiras de livre-associação de coisas de física e misticismo.
Sem tempo nem paciência para isso.
Site com explicações para 99,9999% de todas as mentiras, desinformações e deturpações criacionistas:
www.talkorigins.org
Todos os tipos de criacionismos, Terra jovem, velha, de fundamentalistas cristãos, islâmicos e outros.
Série de textos sugerida: 29+ evicences for macroevolution
Índice com praticamente todas as asneiras que os criacionistas sempre repetem e breves correções
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Liquid Snake escreveu:Se não fossem tão estúpidos e analfabetos, teriam lido o texto e visto que Olavo NÃO apoia Capra, muito pelo contrário, DÁ UMA BELA SURRA nesse hippie esquerdista.
Não se trata tanto de serem analfabetos, mas de serem impacientes não adeptos de técnicas de leitura dinâmica.
Sem tempo nem paciência para isso.
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