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Fedidovisk
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Registrado em: 02 Mar 2007, 17:46

maniqueísmo esquerdista!

Mensagem por Fedidovisk »

bahhh... eu esperava mais deles...


"É preciso legalizar a educação"

Só uma população instruída decidirá sobre as drogas, MV Bill e Athayde afirmam aos leitores de ÉPOCA

O produtor musical Celso Athayde e o rapper MV Bill ficaram conhecidos pelo documentário Falcão – Meninos do Tráfico, lançado em 2006. Em Falcão – Mulheres e o Tráfico, que está sendo lançado em presídios femininos por todo o país, eles voltam ao tema das drogas, desta vez pela ótica feminina. Athayde e Bill entrevistam namoradas, mães, filhas e amigas dos “falcões”, as crianças envolvidas com o tráfico. Em resposta aos leitores de ÉPOCA, os autores dão sua opinião sobre temas como a legalização das drogas e o que deve ser feito para acabar com a guerra entre traficantes e policiais na periferia das grandes cidades.

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QUEM SÃO Celso Athayde (à dir.), de 45 anos, é um dos produtores pioneiros do hip-hop e fundador da Central Única das Favelas. MV Bill (à esq.), de 32, rapper e escritor, recebeu diversos prêmios por seu trabalho social, entre eles o de Cidadão do Mundo, da ONU

OBRA Ficaram conhecidos pelo documentário Falcão – Meninos do Tráfico, que também originou um livro


Por que escrever um livro sobre o envolvimento das mulheres com o tráfico?
Juliano Ribeiro, Vinhedo, SP

Celso Athayde – Escrever esse livro era um caminho natural depois de descobrir a importância das mulheres nesse universo. Conhecer a vida dos jovens que retratamos durante anos foi uma experiência rica e depressiva para nós, mas saber que suas mães, irmãs, filhas e companheiras de crime exercem um papel fundamental nessa estrutura do crime e na família dos criminosos foi revelador para cada um de nós. Fazer um livro sobre esse universo foi conseqüência natural a partir do material que temos e da nossa convivência com essa louca realidade.

Vocês tiveram e têm contato direto com o tráfico, a marginalidade e a pobreza. Por que motivo os jovens de classe média entram no mundo do crime?
Tiago Lima, Belo Horizonte, MG

Athayde – Conheço muitos deles, e muitos entram normalmente pela magia que é o tráfico, pelo ambiente viciado e – por fim – pela possibilidade real de aumentar suas fortunas. Pode ter certeza de que o número de ricos que vêm se dando bem no tráfico é bem maior que o dos que estão perdendo. Tanto é que, quando alguns são pegos, viram notícia. Mas quem garante que estão presos ainda?

MV Bill – Convivi com muitos jovens de classe média que estavam assim no crime. Percebi que existem muitas histórias de vida, muitos motivos, mas um dos principais continua sendo a questão financeira, o dinheiro. E a grande diferença – há várias – entre o jovem da classe média e o da própria periferia é que o jovem da periferia quer ganhar e o da classe média quer somente aumentar o que já tem.

Vocês são ousados e desafiam a sociedade brasileira a enxergar um Brasil oculto com seus livros. Houve algum resultado positivo para os jovens pobres?
Celidalva Santos de Santana, Salvador, BA

Athayde – O fato de você dizer que deixou de ser oculto é positivo para nós. Esse problema não é novo, e não vai ser solucionado com um filme. Mas a idéia é justamente trazer essa realidade para o mundo. Tenho visto muitos projetos sendo criados a partir do filme. O próprio governo federal criou um projeto com o nome do filme. A Central Única das Favelas vai fazer uma audiência pública em Brasília com todos os deputados que quiserem abraçar as causas da juventude de periferia brasileira. É pouco, mas é o que conseguimos fazer.

MV Bill – O documentário está sendo exibido há menos de dois anos. E seria muita pretensão e ingenuidade minha achar que a gente ia mudar mais de 400 anos de história, de segregação e de escravidão. Porém, em dois anos vi acontecer muita coisa, alguns avanços superpositivos. Vejo jovens de favela que nunca tinham lido nem gibi com meu livro na mão. E sei que aquele é o primeiro de vários outros que vão ler. Vi pessoas entenderem a importância de seu trabalho e se sentirem motivadas a fazê-lo, por mais humilde que seja.

Se as drogas forem legalizadas, sua comercialização deverá ser exclusiva das favelas, onde elas são sustento e desgraça hoje
Qual é sua posição quanto à legalização das drogas?
Marlene Gomes, Rio de Janeiro, RJ

Athayde – Muita gente me pergunta isso, mas existe uma discussão que antecede essa. Antes de decidir se somos a favor ou contra, temos de definir de quais drogas estamos falando. Seria maconha? Crack? Heroína? Cocaína? Merla (um subproduto da cocaína)? Se liberarmos o crack e a merla, temos de ter a noção exata da tragédia que isso representa. Não significaria simplesmente conviver com maconheiros e suas lombras fedorentas. Certas drogas representam o caos social. Por outro lado, legalizar uma delas significa dar alguns passos para liberar todas. Aí é que está a questão. Se vamos legalizar as drogas, o ideal é entregar as concessões da comercialização com exclusividade para as favelas, pois essa vem sendo em certa medida a desgraça e o sustento de milhões de pessoas das favelas. Se alguém tem de se beneficiar dessa nova fase das drogas, seriam as famílias que sofreram diretamente até agora as desgraças geradas por essas drogas.

MV Bill – Quando se fala em legalização das drogas, fala-se da maconha. E, na verdade, a maconha é o que menos dá lucro nas bocas de fumo. Na minha opinião, deveriam se chamar “nariz de cheiro”, porque o que mais rende dinheiro é a cocaína. Talvez a legalização dela, ou a descriminalização, ajudasse somente no processo de as crianças terem um conhecimento controlado, assim como acontece com o álcool e com o cigarro. Primeiro, a gente teria de legalizar outras coisas mais importantes. A educação, por exemplo. Um povo educado vai estar mais instruído para discutir sobre as drogas. Sem educação não dá para falar sobre esse assunto.

Qual é a solução para o conflito entre o tráfico e a polícia no Rio de Janeiro?
Sladiow Dridiow, Itapaci, GO

Athayde – Por que as milícias dão certo? Porque elas entram nas favelas e não aceitam a corrupção. Em contrapartida, elas pegam o morro para elas e exploram a comunidade também. A única solução, a curto prazo, é criar um mecanismo que acabe com a corrupção na polícia. Se isso não é possível, então vamos continuar enxugando gelo e contando mortes, de marginais, de marginais militares e de civis. O ruim é que está cada vez mais difícil identificar quem é quem.

MV Bill – Que pergunta difícil, p.q.p... Logo após a execução do nosso documentário, o Cacá Diegues falou uma coisa muito interessante. Ele disse que, ao ver nosso documentário, entendeu que o Brasil tem sido o problema para essas favelas. Então, tem solução, mas está distante do que seria o ideal, a mobilização.

Foto: Daryan Dornelles/ÉPOCA

Trancado