Anencéfala já tem 16 meses e passa bem
Enviado: 19 Mar 2008, 16:51

Marcela de Jesus Ferreira, a menina sem cérebro, completou um ano de vida em 19/11/2007.
Marcelinha já ganhou muitos presentes (vestidos, blusas, brinquedos, sapatinhos) e passou boa parte do dia usando um vestidinho branco que a mãe comprou. O outro modelinho, pronto para ser usado, é um vestido vermelho, com detalhes em branco, ornando com as sandálias também vermelhas e bolinhas brancas.
Dia de aniversário:
Avós, tios e primos
Pela primeira vez, desde que veio ao mundo, toda a família estará ao lado de Marcela: seu avó paterno e os avôs maternos, além de tios e primos que residem em cidades mais distantes.
Os primeiros médicos que cuidaram de Marcela durante o parto, no começo da tarde de 20 de novembro do ano passado, vão levar o bolo.
Cacilda Galante Ferreira, a mãe, trouxe a filha do meio, Dirlene, de 15 anos, para ajudá-la na arrumação da casa de um quarto, sala e cozinha e que está sendo ampliada.
Cacilda, pela primeira vez depois do nascimento de Marcela, passou quarenta minutos, ontem, no cabeleireiro. Um luxo!
A cidade dos 194 nascimentos e 77 mortes
Durante o primeiro ano de vida de Marcela de Jesus Ferreira, em Patrocínio Paulista, cidade com 13.400 habitantes, foram constatadas 77 mortes. Em compensação, o número de nascimento foi muito maior: vieram ao mundo 194 – mais que o dobro dos mortos. Patrocínio, no mesmo período, registrou 77 casamentos. Os dados foram obtidos no único cartório de registros de pessoas do município, distante 95 quilômetros de Ribeirão Preto. Uma unidade da usina de beneficiamento de leite (Jussara) continua sendo uma das maiores empregadoras privadas. Mas a Prefeitura é recordista em funcionários –mais de 1.500.
Médica confirma anencefalia e tronco
A pediatra francana Márcia Bear, que cuida de Marcela de Jesus Ferreira desde o período de gestação, confirmou que a menina tem anencefalia dotada de tronco. Mais uma vez – e isso vem repetindo sempre – explicou que não se trata de uma anencefalia clássica, em que o cérebro é totalmente desprovido de massa.
“Desde que foi detectado o problema, venho repetindo que Marcela tem um tronco no cerébro, que controla a respiração, a freqüência cardíaca e, em conseqüência, mantém os órgãos vitais – coração, pulmão e rins – em funcionamento”.
A pediatra revelou que nunca existiu interesse de grandes hospitais ou médicos especialistas em acompanhar o caso de Marcela.
“E de certa forma isso é explicável. Não existe medicação ou tratamento para a doença de Marcela. A única coisa que temos a fazer é dar a ela qualidade de vida. É o que temos feito”, disse.
Márcia Bear contou que apenas uma pessoa, o professor Okomura, um cirurgião aposentado da USP, residente em São Paulo, se interessou pelo caso da menina. Eles esteve duas vezes em Patrocínio Paulista.
“O professor Okomura veio de táxi, viu a Marcela e continuamos falando pelo telefone. Marcela realmente é uma fonte de vida. Nossa missão é continuar zelando por ela, controlando a alimentação, a permanente oxigenação do tronco e acompanhar o desenvolviento dos órgãos vitais”.
Em cadeira de roda
Marcela está pesando quase 13 quilos, usa fralda GG, toma papinha a cada três horas, sucos e comidinha amassada nos intervalos.
Tem boa audição, conforme exame de ressonância feita há dez dias, mas seus movimentos são breves. Mexe os bracinhos, as pernas, boceja forte quando tem sono.
Isso significa que Marcela poderá, futuramente, ser conduzida em cadeira de rodas.
“Mas não se trata de vida vegetativa. Isso ocorre quando a pessoa fica presa ao aparelho, mantida viva pelo aparelho. Não é o caso da Marcela. Por isso, precisamos melhorar sempre a qualidade de vida dela”, disse a pediatra.