Falta de alimentos se agrava na Venezuela
Enviado: 19 Mar 2008, 23:01
FALTA DE ALIMENTOS SE AGRAVA NA VENEZUELA
Carne, leite e açúcar somem das prateleiras. Governo faz acordo de importação de US$300 milhões com Argentina.
"Perco até quatro horas na fila para comprar leite", diz, resignada, Nancy de Vázquez, que trabalha numa empresa de internet e vive em Sabana Grande, bairro de Caracas.
- Não tenho alternativa, tenho filhos pequenos.
Os vendedores têm ordem de vender só um litro (ou um quilo, no caso do leite em pó) por pessoa, e Nancy tentou uma vez comprar dois levando seu sobrinho. Não pôde:
- Negaram-se a vender para o menino por ser menor de idade. Imagine! Como se o leite fosse nocivo para a criança.
Pelo menos, as filas são democráticas. São vistos pobres nas filas dos mercados estatais da mesma forma que ricos, nas lojas de comida mais chique.
As desventuras de Nancy são o pesadelo de quase todos os venezuelanos que sofrem com o desabastecimento de produtos básicos, como leite, açúcar e carne. A razão disso pode ser explicada por qualquer estudante de primeiro ano de economia. Em 2003, o governo fixou preços máximos para quase cem produtos. Desde então a inflação disparou e agora produzir um litro de leite é muito mais caro do que vendê-lo. Tanto quem produz como quem importa o produto perde dinheiro, e assim ninguém - à exceção do Estado - pode fornecer os alimentos.
- O leite em pó no mercado internacional é US$6,50 por quilo e na Venezuela o preço máximo é US$5. Quem vai importar com estes preços? - se pergunta um empresário venezuelano.
O Estado importa hoje quase tudo o que o país consome. Paga preços de mercado e os vende a preços subvencionados no país. As perdas são incalculáveis.
Os preços dos produtos regulados subiram quase 11% em 2007, enquanto os não-subsidiados aumentaram 33%, dez pontos percentuais acima do índice de inflação oficial. O governo disse que a escalada da inflação não se deve ao controle de preços, mas a monopólios em alguns setores e à competição desleal de algumas empresas.
Ameaças contra Parmalat e Nestlé após ação da Exxon
Há alguns dias, Chávez ameaçou a Parmalat, da Itália, e a Nestlé, da Suíça, de expulsão se fosse comprovado que elas exercem competição desleal com produtores nacionais. O anúncio foi feito 48 horas depois de a multinacional petroleira ExxonMobile ter conseguido que tribunais de quatro países congelassem ativos da estatal PDVSA no exterior, como reação ao programa de nacionalização chavista.
Chávez tentou enfrentar o desabastecimento este ano criando uma nova rede estatal de distribuição, mas a situação continua crítica. Segundo a consultoria Datanálisis, uma família deve procurar em seis ou sete mercados com sua lista de compras, e, mesmo assim, raramente consegue todos os artigos.
- É impressionante a rapidez com que se espalha a notícia de que um produto escasso chega ao mercado - disse o contador Arnaldo Ávila, de Caracas. - Não passam 15 minutos e centenas de pessoas levam tudo.
Para enfrentar o problema, o governo anunciou que comprará mil toneladas de carne por mês da Argentina. O presidente Hugo Chávez também afirmou que o país importará da Argentina trigo, leite em pó e óleo de soja. O acordo prevê a importação de produtos no valor de US$300 milhões, que seriam pagos através do fornecimento de petróleo para a Argentina.
- Requeremos com urgência uma reserva de alimentos que não temos. Precisamos acelerar a melhora de nossa capacidade de produzir alimentos - disse Chávez, durante a reunião com empresários argentinos.
Entre os principais produtos que fazem parte do acordo estão o leite em pó e a farinha de trigo, o que levou Chávez a dizer que assim que chegar o carregamento inicial será o primeiro a comer um "pão de trigo". Apenas com trigo, o negócio é estimado em US$70 milhões.
A indústria argentina de trigo e carne festejou ontem o acordo. Mas especialistas afirmaram que o negócio não pode ser considerado como uma solução para o problema venezuelano. Nos últimos meses, a Argentina deixou de cumprir acordos de exportação de trigo para o Brasil em duas oportunidades, sob alegação de que, caso exportasse o produto, os preços aumentariam no mercado interno. Isso levou o Brasil a zerar o imposto de importação de EUA e Canadá para garantir o fornecimento.
Quanto ao leite, o governo argentino anunciou ontem um pacote de subsídios de US$30 milhões para os produtores. Raúl Cata, presidente da Associação de Produtores de Leite, afirmou ontem que o incentivo "chegou tarde" e que a produção do país deve cair 10% em 2008.
http://www.midiaindependente.org/pt/blu ... 4695.shtml
Carne, leite e açúcar somem das prateleiras. Governo faz acordo de importação de US$300 milhões com Argentina.
"Perco até quatro horas na fila para comprar leite", diz, resignada, Nancy de Vázquez, que trabalha numa empresa de internet e vive em Sabana Grande, bairro de Caracas.
- Não tenho alternativa, tenho filhos pequenos.
Os vendedores têm ordem de vender só um litro (ou um quilo, no caso do leite em pó) por pessoa, e Nancy tentou uma vez comprar dois levando seu sobrinho. Não pôde:
- Negaram-se a vender para o menino por ser menor de idade. Imagine! Como se o leite fosse nocivo para a criança.
Pelo menos, as filas são democráticas. São vistos pobres nas filas dos mercados estatais da mesma forma que ricos, nas lojas de comida mais chique.
As desventuras de Nancy são o pesadelo de quase todos os venezuelanos que sofrem com o desabastecimento de produtos básicos, como leite, açúcar e carne. A razão disso pode ser explicada por qualquer estudante de primeiro ano de economia. Em 2003, o governo fixou preços máximos para quase cem produtos. Desde então a inflação disparou e agora produzir um litro de leite é muito mais caro do que vendê-lo. Tanto quem produz como quem importa o produto perde dinheiro, e assim ninguém - à exceção do Estado - pode fornecer os alimentos.
- O leite em pó no mercado internacional é US$6,50 por quilo e na Venezuela o preço máximo é US$5. Quem vai importar com estes preços? - se pergunta um empresário venezuelano.
O Estado importa hoje quase tudo o que o país consome. Paga preços de mercado e os vende a preços subvencionados no país. As perdas são incalculáveis.
Os preços dos produtos regulados subiram quase 11% em 2007, enquanto os não-subsidiados aumentaram 33%, dez pontos percentuais acima do índice de inflação oficial. O governo disse que a escalada da inflação não se deve ao controle de preços, mas a monopólios em alguns setores e à competição desleal de algumas empresas.
Ameaças contra Parmalat e Nestlé após ação da Exxon
Há alguns dias, Chávez ameaçou a Parmalat, da Itália, e a Nestlé, da Suíça, de expulsão se fosse comprovado que elas exercem competição desleal com produtores nacionais. O anúncio foi feito 48 horas depois de a multinacional petroleira ExxonMobile ter conseguido que tribunais de quatro países congelassem ativos da estatal PDVSA no exterior, como reação ao programa de nacionalização chavista.
Chávez tentou enfrentar o desabastecimento este ano criando uma nova rede estatal de distribuição, mas a situação continua crítica. Segundo a consultoria Datanálisis, uma família deve procurar em seis ou sete mercados com sua lista de compras, e, mesmo assim, raramente consegue todos os artigos.
- É impressionante a rapidez com que se espalha a notícia de que um produto escasso chega ao mercado - disse o contador Arnaldo Ávila, de Caracas. - Não passam 15 minutos e centenas de pessoas levam tudo.
Para enfrentar o problema, o governo anunciou que comprará mil toneladas de carne por mês da Argentina. O presidente Hugo Chávez também afirmou que o país importará da Argentina trigo, leite em pó e óleo de soja. O acordo prevê a importação de produtos no valor de US$300 milhões, que seriam pagos através do fornecimento de petróleo para a Argentina.
- Requeremos com urgência uma reserva de alimentos que não temos. Precisamos acelerar a melhora de nossa capacidade de produzir alimentos - disse Chávez, durante a reunião com empresários argentinos.
Entre os principais produtos que fazem parte do acordo estão o leite em pó e a farinha de trigo, o que levou Chávez a dizer que assim que chegar o carregamento inicial será o primeiro a comer um "pão de trigo". Apenas com trigo, o negócio é estimado em US$70 milhões.
A indústria argentina de trigo e carne festejou ontem o acordo. Mas especialistas afirmaram que o negócio não pode ser considerado como uma solução para o problema venezuelano. Nos últimos meses, a Argentina deixou de cumprir acordos de exportação de trigo para o Brasil em duas oportunidades, sob alegação de que, caso exportasse o produto, os preços aumentariam no mercado interno. Isso levou o Brasil a zerar o imposto de importação de EUA e Canadá para garantir o fornecimento.
Quanto ao leite, o governo argentino anunciou ontem um pacote de subsídios de US$30 milhões para os produtores. Raúl Cata, presidente da Associação de Produtores de Leite, afirmou ontem que o incentivo "chegou tarde" e que a produção do país deve cair 10% em 2008.
http://www.midiaindependente.org/pt/blu ... 4695.shtml