Ser ou não-ser...

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NadaSei
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Ser ou não-ser...

Mensagem por NadaSei »

Ontem me aconteceram duas coisas que vivem acontecendo...
Estava eu meditando e recuperei memórias que "aparentam" ser de outra vida, "aparentam" pela estória que contam... mas que podem muito bem ser apenas memórias falsas criadas em sonhos ou coisa do tipo.

Mais tarde, após dormir, despertei levemente sem noção da realidade e aos poucos fui retornando a ela com estranheza e pensando coisas como: "Nossa, as pessoas morrem, o sexo é intenso e extranho, gostamos de beijar a boca de outras pessoas, as pessoas brigam, não sabemos porque estamos aqui, eu já fui criança, etc... As coisas são assim mesmo?"

Essas duas coisas vivem acontecendo comigo, normalmente separadas e com espaços de meses no caso das memórias, e dias no caso do despertar sem noção da vida.

Isso é estranho por mexer com a nossa identidade, com o que somos realmente.
Já recuperei memórias onde ou matava pessoas, era uma assassino em serie. (E já recuperei memórias cotidianas, de coisas sem muita importância também).
Não dá a impressão de ser um "filme", nem de que não era eu de verdade... Em cada lembrança, apesar da personalidade completamente diferente, e de estar fazendo coisas que eu jamais faria, a lembrança tem sempre o "EU" como agente.
Lembro do que "EU" estava fazendo, lembro do porque "EU" fazia aquilo e lembro do que "EU" pensava enquanto fazia, de como "EU" raciocinava para tomar tal decisão.

Nossa "personalidade" não é o que somos realmente, nem nossos pensamentos... isso é bem óbvio durante niveis profundos de meditação, onde o pensamento cessa por completo e nossa "personalidade" parece ir embora totalmente.

Questionando isso tudo, lembrei desses despertares extranhos, onde eu não tenho noção alguma sobre a vida e vou aos poucos recuperando ela.
Cheguei a conclusão de que o problema é ainda maior do que parece.
Não só nossa personalidade muda com o tempo e nossas lembranças se apagam, não só o nosso humor muda e esses sentimentos alteram nossa percepção o tempo todo, mas também a nossa própria noção de "EU" é completamente ilusória.
É ilusória a idéia de continuidade mental que nos garante uma identidade.

O problema não é ter amnésia, ou reencarnar e esquecer o que viveu antes, ou perdem algumas lembranças durante uma vida (como eu hoje, não lembrar algumas coisas da infância e adolescência).
A memória não da identidade alguma ao nosso ser... dá no máximo ilusão de identidade.
Sabe por quê?
Mesmo as memórias que temos bem guardadas, seguras e acessíveis em nossa mente, estão alí apenas armazenadas. Podemos acessa-las a qualquer momento, mas não podemos acessar todas ao mesmo tempo e a todo instante.
Se a minha "auto-biografia" é o que garante minha identidade, o que acontece comigo quando não a tenho carregada na mente o tempo todo?

Já fui favorável a fidelidade, e, nessa época, acabei traindo minha namorada.
Logo após transar deliciosamente com uma menina linda, logo após o ato terminar... eu lembrei da minha namorada e pensei: "O que foi que eu fiz? Tadinha dela..."
Mas durante o ato, em momento algum lembrei dela, em momento algum lembrei que já fui criança ou que gostava de buscar orquídeas na mata... em momento algum recorri a minha "biografia", estava completamente entregue ao ato sexual, concentrado no lindo corpo daquela menina e em sua carinha de safada adorando sentir um pouco daquele prazer. (safada no bom sentido, como em sapeca, mas sexualmente falando).

Nossas lembranças nos ajudam a tomar decisões, mas não as tomamos apenas com base nisso, agimos também com base em nosso humor e outras coisas mais... muito disso vindo de fora...
De resto, estamos o tempo todo "mudando" as lembranças carregadas na mente, mudando o humor, as crenças. Pra recorrer a auto-biografia, temos que "lembrar" disso ou daquilo, mas no geral, estamos concentrados no agora, sem nos importarmos com nada disso, e, quando recorremos a nossa biografia, em momentos diferentes puxamos lembranças diferentes.

Somo sempre um "EU" diferente agindo, mas que sente-se continuo e que faz muita coisa no automático, por mero costume, mera rotina e condicionamento.
E isso pode mudar da aguá pro vinho... Mas a sensação de "EU" permanece sempre presente.
Eu mesmo já fui um ateu extrovertido, crente, heterossexual, que acreditava em fidelidade e que tinha uma visão bem existencialista do mundo. Hoje sou um teísta recluso, cético, bissexual, que acredita na promiscuidade e tem uma visão "mistica/metafisica" do mundo.
Só isso já muda tudo... minha personalidade já mudou tanto e tantas vezes... mas ainda sinto a mesma continuidade, sou sempre "EU". De fato, nada diferente daquelas memórias do tal serial-killer cuja personalidade não tem NADA a ver com a minha, mas que ainda assim era "EU"... Nada diferente da sensação de "EU" que tenho ao lembrar de quando era ateu, adolescente ou criança.
Somos seres mutantes sem identidade, sem algo que possa realmente ser chamado de "EU".

Estranhamente somos, mesmo sem sermos.
Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida ao invés da negação - descrédito ao invés de crença - críticos que assumem uma posição negativa ao invés de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim se auto-intitulam "céticos" são, na verdade, "pseudo-céticos".

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Ilovefoxes
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Re: Ser ou não-ser...

Mensagem por Ilovefoxes »

NadaSei escreveu:gostamos de beijar a boca de outras pessoas
Feromonios, você expõe seu nariz bem próximo aos poros da outra pessoa.
NadaSei escreveu:Já recuperei memórias onde ou matava pessoas, era uma assassino em serie.
Desligue a TV na hora de dormir.
Eu deixou ligada ontem, e sonhei com um tiroteio, e tive que aturar explicações de como funciona uma Kalashnikov por personagens do sonho.
NadaSei escreveu:Já fui favorável a fidelidade, e, nessa época, acabei traindo minha namorada.
Logo após transar deliciosamente com uma menina linda, logo após o ato terminar... eu lembrei da minha namorada e pensei: "O que foi que eu fiz? Tadinha dela..."
Mas durante o ato, em momento algum lembrei dela, em momento algum lembrei que já fui criança ou que gostava de buscar orquídeas na mata... em momento algum recorri a minha "biografia", estava completamente entregue ao ato sexual, concentrado no lindo corpo daquela menina e em sua carinha de safada adorando sentir um pouco daquele prazer. (safada no bom sentido, como em sapeca, mas sexualmente falando).
Instinto.

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Lúcifer
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Re: Ser ou não-ser...

Mensagem por Lúcifer »

Bom, das duas, umas. Ou você teve uma lembrança de uma vida passada ou foi o seu cérebro que pegou o que inconscientemente você queria e ele aflorou em seus sonhos porque, inconsciente você estava querendo aquilo .

Sem mistérios. Freud explica.
R$70,00 a hora de 45 minutos.
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NadaSei
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Re: Ser ou não-ser...

Mensagem por NadaSei »

Lúcifer escreveu:Bom, das duas, umas. Ou você teve uma lembrança de uma vida passada ou foi o seu cérebro que pegou o que inconscientemente você queria e ele aflorou em seus sonhos porque, inconsciente você estava querendo aquilo .

Sem mistérios. Freud explica.
R$70,00 a hora de 45 minutos.

Ou então durante os sonhos, nós "questionamos" as situações, interpretando-as.
Digo isso porque nas lembranças em questão, eu era um cara que estuprava e matava mulheres que eu julgava serem "vagabundas".
Primeiro eu as seduzia e, se elas demonstrassem interesse em sexo casual comigo, eu as matava.
Era um tipo de "pregação", o fazia para mostrar o que acontece com meninas "vagabundas", pois eu julgava o sexo como algo sujo e ruim.

Talvez sejam sonhos formados enquanto eu acreditava na fidelidade e, talvez eles sejam em parte responsáveis pela minha visão atual de que o sexo não é sujo e que pensar o contrario, é o que causa grande parte dos nossos sofrimentos hoje.
Afinal, sou totalmente favoravel ao comportamento promíscuo.

Mas em fim, a questão não é o sonho, mas o "EU"... Pois nessas lembranças (sejam elas sonhos, vidas passadas ou outra coisa qualquer), não sinto como se tudo fosse um "filme", existe a mesma ilusão de "EU" como o agente da ação.
A questão então é a nossa identidade, o que somos e se existe realmente algo que possa ser chamado de eu.
Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida ao invés da negação - descrédito ao invés de crença - críticos que assumem uma posição negativa ao invés de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim se auto-intitulam "céticos" são, na verdade, "pseudo-céticos".

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aknatom
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Re: Ser ou não-ser...

Mensagem por aknatom »

Por que vc não tenta começar a pensar que sexo é sujo e não tenta passar a estuprar e matar "vagabundas". Aposto que vc consegue...


OBS: Provocação pura e gratuíta, fugindo do tema do tópico... não preciso de críticas... :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

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Trancado