Sobre a confirmação empírica
Enviado: 14 Jan 2006, 13:46
Sobre a confirmação empírica
O único e o melhor método?
Por Fernando Antunes
Seria a confirmação empírica o único método existente para atingirmos a realidade? Se existissem outros, poderíamos dizer que seriam melhores? A partir destas questões eu escrevi este texto no orkut e queria compartilhá-los com vcs.
Tenho percebido que para muitos ateus o critério da verificação empírica é o responsável pela possibilidade de distinção entre o discurso verdadeiro e o discurso falso. Neste texto não estou usando a palavra verificação no sentido positivista, ou seja, no sentido de que a experiência pode provar uma teoria científica, mas num sentido mais amplo no qual mesmo o falseamento entraria, que é a idéia de que o conhecimento verdadeiro deve passar pelo crivo da experiência.
A partir disso, também percebi que é muito comum entre os ateus o discurso de que Deus não existe em virtude da impossibilidade de se fazer alguma experiência dele. Já vi muitos argumentos toscos e outros mais sofisticados neste sentido. Dentre os que mais me chamaram a atenção, e que me parecem mais dignos de comentário está o argumento do dragão invisível na minha garagem de Sagan.
Primeiramente, gostaria de alertar que não sou leitor de Sagan e, portanto, a forma com que mostro seu argumento não seja tão semelhante, mas creio que a essência seja a mesma, pois já debati com muitos dos seus leitores e a partir disso descobri que ele possui um forte argumento contra a existência de Deus baseado na confirmação empírica.
Imagine a seguinte situação. Eu tenho em casa um dragão. Aí vc duvida de mim, e pede pede para ir até a minha casa para conhecê-lo. Eu levo vc na minha garagem e digo que o dragão está alí. Vc olha por todos os lados e não vê nada. Então me diz que não esta vendo nada. Eu respondo que a razão disso é que o dragão é invisível. Vc quer ver ele cuspir fogo, eu digo que o fogo é atermico. Vc quer ouvi-lo e eu digo que ele não faz nenhum barulho. Vc quer tocá-lo e eu digo que ele é imaterial.
Então vc conclui. Ora, a diferença entre este dragão e um dragão inexistente é nula. Portanto este dragão não existe.
O mesmo raciocínio pode ser transferido por analogia a Deus. Se nenhum dos meus sentidos pode percebê-lo então ele não existe.
Tudo bem. Venhamos e convenhamos, se eu quisesse lhe provar que tenho um dragão na minha garagem levando-lhe até lá, e desse todos estas respostas às suas perguntas, certamente, eu não passaria de um grande charlatão. Afinal o próprio fato de eu levá-lo lá já presume a minha aceitação pelo critério segundo o qual eu digo que algo é real a partir da comprovação empírica.
Reconheço que esta anedota de Sagan encontra raízes muito fortes no próprio discurso teísta. Eu também percebi que muitos deles contra-argumentam dizendo que não vemos Deus, mas o sentimos. O argumentos mais tosco que eu já ouvi é aquele faz uma analogia com o ar. Vc não vê o ar, mas sabe que ele existe.
O problema deste argumento é percebido imediatamente. Pois vc não vê o ar, mas ainda assim possui uma comprovação empírica da sua existência. Afinal vc pode tateá-lo.
Um argumento um pouco mais sofisticado, mas não menos ruim, é a analogia com o átomo. Vc não tem nenhuma confirmação empírica imediata da existência do átomo, pois não pode percebê-lo imediatamente. No entanto vc sabe que ele existe.
O problema deste contra argumento é que por mais não percebamos imediatamente o átomo, sabemos que ele existe pois existem efeitos que podem ser constatados empiricamente que só são explicados a partir da existência deste. Ou seja, embora não exista uma confirmação empírica da própria coisa, sabemos que tal coisa existe a partir dos seus efeitos. Já Deus não mostra efeitos tão objetivos. O único efeito que ele mostra, segundo muitos destes teístas, é subjetivo e completamente pessoal, e, portanto, não pode ser compartilhado com mais ninguém.
Como já disse, creio que estes dois argumentos são muito fracos, pois pretendem, de certa forma, refutar o critério da verificaçõa empírica, utilizando-se dele. O que do ponto de vista argumentativo ou é contra-senso, ou falta de sinceridade mesmo. E neste aspecto eu defenderia o argumento de Sagan frente a estes teístas.
Eu tb percebo que muitos ateus se dão por satisfeitos com esta reflexão, usando-a como justificação para sua não-crença em Deus.
Contudo, eu creio que, embora o argumento de Sagan seja muito bom, ainda possamos levantar algumas questões a ele. Talvez então a primeira pergunta que deveríamos responder é pq é necessária a confirmação empírica para termos certeza de algo? Pois bem, o que parece-me mais sensato a se responder é dizer que é necessária para distinguir o que é realidade do que é ficção. Por exemplo. Eu tenho uma idéia do que é um pégaso. A partir disso eu posso criar uma tese dizendo que pégasos existem. Qual é a melhor forma de mostrar que esta teoria é falsa? É buscar na experiência alguma confirmação empírica.
Assim compreendemos que a confirmação empírica é o critério que nos faz distinguir a realidade da ilusão. Mas então outra questão se colocaria. Seria a confirmação empírica o único critério para realizarmos tal coisa? Pelo que percebo a resposta da maioria dos ateus seria sim, ou então diria que é o melhor que temos.
Este é o ponto onde eu começaria a apresentar alguma divergência. E portanto caberia a mim mostrar pelo menos um exemplo que mostrasse que existe outro tipo de critério, e que este critério é melhor que o da confirmação empírica.
Pois bem, aceito o desafio para cumprir a tarefa que me cabe.
Se duvidarmos rigorosamente da nossa existência pessoal, rejeitando todas as respostas passíveis de dúvida para ficar apenas com aquela que é indubitável, perceberemos que enquanto duvidamos da nossa existência somos seres duvidando da nossa existência. Então concluímos que somos seres pensantes. Nós temos certeza absoluta que enquanto fazemos tal coisa existimos enquanto seres pensantes.
Esta experiência intelectual pode ser repetida inúmeras vezes. Não existe nenhuma confirmação empírica para isso. No entanto eu tenho uma certeza indubitável de que isso é uma verdade.
Então a partir disso eu posso descobrir um novo critério para distinguir a realidade da ficção. Que é quando conheço uma coisa da mesma forma que conheço que eu existo. Ou seja, quando sei indubitavelmente que algo é verdadeiro. O que não quer dizer que não se possa levantar qualquer dúvida sobre isso, mas que todas as dúvidas podem ser respondidas a partir dela.
Pois bem. Já mostrei que existe um critério alternativo ao critério da verificação empírica. Agora, resta-me mostrar que ele é melhor.
Pois bem. Existe um grande porblema no critério da verificação empírica. Que é o de que nunca podemos ter uma verificação empírica total. Sempre estamos limitados pelo espaço e pelo tempo. Por exemplo. Não podemos ver todos os cisnes do mundo neste momento e portanto não podemos dizer com certeza absoluta que são brancos. E tb não conhecemos todos os cisnes desde o primeiro que existiu até o último que vai existir para concluir a mesma coisa. Por isso o grau de certeza que temos é limitado.
Ora, isso não ocorre no critério que eu expus. Quando conecemos uma coisa indubitavelmente a conhecemos do ponto de vista da totalidade. Isso pq é a própria coisa que se mostra para nós. Tal como eu percebo que eu existo enquanto duvido radicalmente da minha existência.
Assim fica claro que o critério da verificação empírica não apenas não é o único que pode distinguir o verdadeiro do falso como também que ele não é o melhor, na medida que encontra uma limitação que não está presente no outro critério fornecido. Sob este aspecto, podemos dizer com segurança que ele é pior que o critério que apresentei.
E se Deus pudesse ser conhecido da mesma forma? Darei um exemplo de um determinada forma que alguns teístas concebem Deus.
Dizem eles que ou as coisas existem por si mesmas ou existem por outro. Deus é a causa de todas as coisas, portanto não pode ser causado por outro. Consequentemente percebemos, dizem eles, que sua essência envolve necessariamente sua existência, e que, portanto, é impossível concebê-lo como inexistênte. Assim sendo se percebe não apenas a existência de Deus, mas também que é impossível conceber sua inexistência sem que com isso se afirme ao mesmo tempo que ele existe, o que mostra a inconsistência da tese que diz que não existe Deus.
A partir do que foi expostos, percebemos que o argumento da falta de verificação empírica, mesmo sendo forte, ainda é insuficiente para provar a inexistência de Deus, ou mesmo para nos fazer sequer duvidar da sua existência. E que por meio do critério que expus podemos perceber que Deus existe de forma indubitável.
Sujeito o meu texto à "apreciação" de vcs!
O único e o melhor método?
Por Fernando Antunes
Seria a confirmação empírica o único método existente para atingirmos a realidade? Se existissem outros, poderíamos dizer que seriam melhores? A partir destas questões eu escrevi este texto no orkut e queria compartilhá-los com vcs.
Tenho percebido que para muitos ateus o critério da verificação empírica é o responsável pela possibilidade de distinção entre o discurso verdadeiro e o discurso falso. Neste texto não estou usando a palavra verificação no sentido positivista, ou seja, no sentido de que a experiência pode provar uma teoria científica, mas num sentido mais amplo no qual mesmo o falseamento entraria, que é a idéia de que o conhecimento verdadeiro deve passar pelo crivo da experiência.
A partir disso, também percebi que é muito comum entre os ateus o discurso de que Deus não existe em virtude da impossibilidade de se fazer alguma experiência dele. Já vi muitos argumentos toscos e outros mais sofisticados neste sentido. Dentre os que mais me chamaram a atenção, e que me parecem mais dignos de comentário está o argumento do dragão invisível na minha garagem de Sagan.
Primeiramente, gostaria de alertar que não sou leitor de Sagan e, portanto, a forma com que mostro seu argumento não seja tão semelhante, mas creio que a essência seja a mesma, pois já debati com muitos dos seus leitores e a partir disso descobri que ele possui um forte argumento contra a existência de Deus baseado na confirmação empírica.
Imagine a seguinte situação. Eu tenho em casa um dragão. Aí vc duvida de mim, e pede pede para ir até a minha casa para conhecê-lo. Eu levo vc na minha garagem e digo que o dragão está alí. Vc olha por todos os lados e não vê nada. Então me diz que não esta vendo nada. Eu respondo que a razão disso é que o dragão é invisível. Vc quer ver ele cuspir fogo, eu digo que o fogo é atermico. Vc quer ouvi-lo e eu digo que ele não faz nenhum barulho. Vc quer tocá-lo e eu digo que ele é imaterial.
Então vc conclui. Ora, a diferença entre este dragão e um dragão inexistente é nula. Portanto este dragão não existe.
O mesmo raciocínio pode ser transferido por analogia a Deus. Se nenhum dos meus sentidos pode percebê-lo então ele não existe.
Tudo bem. Venhamos e convenhamos, se eu quisesse lhe provar que tenho um dragão na minha garagem levando-lhe até lá, e desse todos estas respostas às suas perguntas, certamente, eu não passaria de um grande charlatão. Afinal o próprio fato de eu levá-lo lá já presume a minha aceitação pelo critério segundo o qual eu digo que algo é real a partir da comprovação empírica.
Reconheço que esta anedota de Sagan encontra raízes muito fortes no próprio discurso teísta. Eu também percebi que muitos deles contra-argumentam dizendo que não vemos Deus, mas o sentimos. O argumentos mais tosco que eu já ouvi é aquele faz uma analogia com o ar. Vc não vê o ar, mas sabe que ele existe.
O problema deste argumento é percebido imediatamente. Pois vc não vê o ar, mas ainda assim possui uma comprovação empírica da sua existência. Afinal vc pode tateá-lo.
Um argumento um pouco mais sofisticado, mas não menos ruim, é a analogia com o átomo. Vc não tem nenhuma confirmação empírica imediata da existência do átomo, pois não pode percebê-lo imediatamente. No entanto vc sabe que ele existe.
O problema deste contra argumento é que por mais não percebamos imediatamente o átomo, sabemos que ele existe pois existem efeitos que podem ser constatados empiricamente que só são explicados a partir da existência deste. Ou seja, embora não exista uma confirmação empírica da própria coisa, sabemos que tal coisa existe a partir dos seus efeitos. Já Deus não mostra efeitos tão objetivos. O único efeito que ele mostra, segundo muitos destes teístas, é subjetivo e completamente pessoal, e, portanto, não pode ser compartilhado com mais ninguém.
Como já disse, creio que estes dois argumentos são muito fracos, pois pretendem, de certa forma, refutar o critério da verificaçõa empírica, utilizando-se dele. O que do ponto de vista argumentativo ou é contra-senso, ou falta de sinceridade mesmo. E neste aspecto eu defenderia o argumento de Sagan frente a estes teístas.
Eu tb percebo que muitos ateus se dão por satisfeitos com esta reflexão, usando-a como justificação para sua não-crença em Deus.
Contudo, eu creio que, embora o argumento de Sagan seja muito bom, ainda possamos levantar algumas questões a ele. Talvez então a primeira pergunta que deveríamos responder é pq é necessária a confirmação empírica para termos certeza de algo? Pois bem, o que parece-me mais sensato a se responder é dizer que é necessária para distinguir o que é realidade do que é ficção. Por exemplo. Eu tenho uma idéia do que é um pégaso. A partir disso eu posso criar uma tese dizendo que pégasos existem. Qual é a melhor forma de mostrar que esta teoria é falsa? É buscar na experiência alguma confirmação empírica.
Assim compreendemos que a confirmação empírica é o critério que nos faz distinguir a realidade da ilusão. Mas então outra questão se colocaria. Seria a confirmação empírica o único critério para realizarmos tal coisa? Pelo que percebo a resposta da maioria dos ateus seria sim, ou então diria que é o melhor que temos.
Este é o ponto onde eu começaria a apresentar alguma divergência. E portanto caberia a mim mostrar pelo menos um exemplo que mostrasse que existe outro tipo de critério, e que este critério é melhor que o da confirmação empírica.
Pois bem, aceito o desafio para cumprir a tarefa que me cabe.
Se duvidarmos rigorosamente da nossa existência pessoal, rejeitando todas as respostas passíveis de dúvida para ficar apenas com aquela que é indubitável, perceberemos que enquanto duvidamos da nossa existência somos seres duvidando da nossa existência. Então concluímos que somos seres pensantes. Nós temos certeza absoluta que enquanto fazemos tal coisa existimos enquanto seres pensantes.
Esta experiência intelectual pode ser repetida inúmeras vezes. Não existe nenhuma confirmação empírica para isso. No entanto eu tenho uma certeza indubitável de que isso é uma verdade.
Então a partir disso eu posso descobrir um novo critério para distinguir a realidade da ficção. Que é quando conheço uma coisa da mesma forma que conheço que eu existo. Ou seja, quando sei indubitavelmente que algo é verdadeiro. O que não quer dizer que não se possa levantar qualquer dúvida sobre isso, mas que todas as dúvidas podem ser respondidas a partir dela.
Pois bem. Já mostrei que existe um critério alternativo ao critério da verificação empírica. Agora, resta-me mostrar que ele é melhor.
Pois bem. Existe um grande porblema no critério da verificação empírica. Que é o de que nunca podemos ter uma verificação empírica total. Sempre estamos limitados pelo espaço e pelo tempo. Por exemplo. Não podemos ver todos os cisnes do mundo neste momento e portanto não podemos dizer com certeza absoluta que são brancos. E tb não conhecemos todos os cisnes desde o primeiro que existiu até o último que vai existir para concluir a mesma coisa. Por isso o grau de certeza que temos é limitado.
Ora, isso não ocorre no critério que eu expus. Quando conecemos uma coisa indubitavelmente a conhecemos do ponto de vista da totalidade. Isso pq é a própria coisa que se mostra para nós. Tal como eu percebo que eu existo enquanto duvido radicalmente da minha existência.
Assim fica claro que o critério da verificação empírica não apenas não é o único que pode distinguir o verdadeiro do falso como também que ele não é o melhor, na medida que encontra uma limitação que não está presente no outro critério fornecido. Sob este aspecto, podemos dizer com segurança que ele é pior que o critério que apresentei.
E se Deus pudesse ser conhecido da mesma forma? Darei um exemplo de um determinada forma que alguns teístas concebem Deus.
Dizem eles que ou as coisas existem por si mesmas ou existem por outro. Deus é a causa de todas as coisas, portanto não pode ser causado por outro. Consequentemente percebemos, dizem eles, que sua essência envolve necessariamente sua existência, e que, portanto, é impossível concebê-lo como inexistênte. Assim sendo se percebe não apenas a existência de Deus, mas também que é impossível conceber sua inexistência sem que com isso se afirme ao mesmo tempo que ele existe, o que mostra a inconsistência da tese que diz que não existe Deus.
A partir do que foi expostos, percebemos que o argumento da falta de verificação empírica, mesmo sendo forte, ainda é insuficiente para provar a inexistência de Deus, ou mesmo para nos fazer sequer duvidar da sua existência. E que por meio do critério que expus podemos perceber que Deus existe de forma indubitável.
Sujeito o meu texto à "apreciação" de vcs!