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spink
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Mensagem por spink »

Eleições na Itália: política sem mulheres
Pródiga em piadas e estereótipos, a corrida eleitoral na Itália evitou tocar nos problemas reais da população feminina

Miguel Mora e Laura Lucchini
Em Roma

"Nossas mulheres são muito mais bonitas que as da esquerda, e além disso, superlicenciadas." A enésima pérola sexista do "Cavaliere", provável próximo primeiro-ministro italiano, ilustra a situação da condição feminina na campanha, na política e na sociedade italianas. Um machismo rampante, a discriminação navegando alegremente. Embora desta vez haja mais candidatas que nunca (25% do total, contra 15% de eleitas em 2006), os estereótipos continuam triunfando. A "mamma", o anjo dos fogões, as "veline" (as dançarinas da televisão com pouca roupa) se impõem como imagem dominante, enquanto o debate sobre os problemas da mulher quase não aparece.

Segundo Flavia Perina, diretora do jornal de direita "Secolo XIX", esta é a campanha "mais machista dos últimos anos". Concorda com ela a ministra em exercício Emma Bonino: "Nem as mulheres falam das mulheres. É inexplicável, mas é verdade. Com a ajuda da Igreja, a Itália continua considerando que o núcleo da construção social é a família, e não os cidadãos. Por isso temos 6 milhões de mulheres fora do mercado de trabalho e não acontece nada. Se houvesse 6 milhões de homens seria uma emergência." "A filosofia continua sendo que a mulher deve ficar em casa, cuidar da família, e se tiver tempo trabalhar", acrescenta a ministra do Comércio e Políticas Européias. "É o que pensam os homens e também muitas mulheres. Não poderemos ser um país desenvolvido se a economia renuncia a 50% da energia laboral."

Mulher passa ao lado de cartazes de campanha eleitoral na Itália


A União Européia está prestes a sancionar a Itália por não aplicar critérios de igualdade em suas políticas trabalhistas e sociais. "A idade de aposentadoria das mulheres é 60 anos, a dos homens 65", diz Bonino. "Eu propus equipará-las gradualmente e dedicar o dinheiro das cotizações para promover a política de incorporação da mulher ao trabalho, mas ninguém parece interessado. Nem a direita nem a esquerda."

Parece que uma vitória de Berlusconi pouco ajudaria a resolver esse assunto. Suas idéias ficaram claras há algumas semanas, quando, em um programa de televisão, ele aconselhou a jovem Perla Pavoncello, que se queixava de sua situação, que procurasse um marido milionário como o filho dele, Berlusconi. Ao ser entrevistada depois, Pavoncello considerou as palavras uma simples piada, e anunciou que votaria no PDL. Berlusconi prometeu que se ganhar incluirá quatro mulheres em seu governo. Em seu último gabinete, de 2001 a 2005, havia só uma ministra com pasta, a atual prefeita de Milão, Letizia Moratti. Entre as seis ministras de Prodi, só Bonino e Livia Turco (Saúde) tinham pasta. As outras (Barbara Pollastrini, Linda Lanzillota, Rosy Bindi e Giovanna Melandri) dirigiam departamento secundários.
ELEIÇÕES NA ITÁLIA

Um homem cola cartazes de candidatos em rua de Roma
VELTRONI, O DEMOCRATA
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POLÍTICA SEM MULHERES
ENTENDA AS ELEIÇÕES

O programa eleitoral do PDL pretende conceder um bônus-bebê de 1 mil euros para as mães e aumentar as penas contra os violadores. Nenhuma palavra mais. O PD promete mais conciliação: um seguro gratuito para as donas de casa, aumentar os lugares nas creches públicas dos atuais 6% para 25%, assistentes de maternidade para as mães desfavorecidas, abrir as escolas primárias à tarde e no verão.

As listas mostram grandes contrastes políticos: a Esquerda Arco-Íris encabeça a aposta da igualdade, com 46% de candidatas; segue-a o Partido Democrático, com 41%, 379 sobre 920. O PDL reduz essa cifra pela metade: 186 de 925. E a católica União de Centro a baixa para 17%.

Renata Polverini, a primeira mulher que chega à secretaria geral de um sindicato, a UGL, de centro-direita, declara-se desiludida por um debate eleitoral que aponta "mais para a idade que a capacidade das candidatas". Só se fala em mulheres por oportunismo, diz. "Vivemos uma emergência de salários, as mulheres estão sendo obrigadas a trabalhar para que as famílias possam subsistir, mas ninguém cuida de promover o emprego feminino." "A sociedade italiana continua sendo machista e por isso não é dinâmica. A culpa é dos políticos e das mulheres. Outros países fazem isso, nós não", opina Bonino. Polverini também acredita que as mulheres são responsáveis pelo machismo dominante e indica duas soluções: "Primeiro, nos livrarmos do papel de 'mamma'. Segundo, na política não devemos esquecer que somos, antes de tudo, mulheres".

Outro tema que parece tabu é a violência de gênero, que afetou 32% das mulheres italianas entre 16 e 70 anos, e que em 2006 registrou 5,4% de vítimas, com 1,1 milhão de mulheres agredidas. Os índices de violência mais altos, segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística, são registrados entre as mulheres mais jovens, de 16 a 24 anos. Maria Grazia Passuello, presidente da Solidea, associação de ajuda a mulheres maltratadas, denuncia que na Itália não há um organismo oficial que se encarregue do assunto: "Prodi promoveu a criação de um observatório nacional da violência de gênero, mas o governo caiu antes que fosse implementado".

Muito mais publicidade teve, por sua vez, a cruzada antiaborto de Giuliano Ferrara, diretor de "Il Foglio" (propriedade da mulher de Berlusconi), apoiada com discrição pela Igreja italiana e com fervor explícito pelo prelado de Toledo, Antonio Cañizares. Ferrara, que pede uma moratória do aborto e equipara a situação da Itália à de países como China ou Índia, foi recebido com tomates e ovos pelas feministas em alguns comícios.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

desculpem-me; tô com preguiça de colocar as imagens e os caracteres abaixo.
não creio ser confuso (para quem quiser, né).
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Trancado