Nova Visão do FMI sobre Alta dos Juros
Enviado: 14 Abr 2008, 11:56
Hora de voltar ao FMI
LEONARDO ATTUCH
Isto é Dinheiro num. 0550
12/04/2008
Agora que o Fundo virou heterodoxo e prega até a queda dos juros no Brasil, chegou a hora de atravessar o labirinto que leva a Washington em busca de conselhos - e não de dinheiro
PRECISAR, NÃO PRECISA. As reservas internacionais andam perto de US$ 200 bilhões, a balança comercial ainda roda no azul e o Brasil segue um regime de câmbio flutuante que torna remota a possibilidade de uma nova crise externa. Apesar de tudo isso, a equipe econômica – em especial a parte ligada ao Banco Central – não faria mal se decidisse visitar o Fundo Monetário Internacional, em Washington. Nem que fosse só para pedir conselhos, em vez de dinheiro. Na semana passada, ao divulgar suas previsões para a economia mundial, num relatório conhecido como World Economic Outlook, o FMI dedicou alguns trechos ao Brasil. Eis o ponto mais relevante: “A valorização contínua das moedas de alguns países, incluindo o real, pode significar um canal de vulnerabilidade, caso haja picos de volatilidade no futuro.” O trabalho, assinado por Simon Johnson, economista-chefe do Fundo, atribuiu essa valorização da moeda aos exageros da política monetária. Os juros brasileiros de 11,25% ao ano, recordistas globais, favoreceriam operações de arbitragem conhecidas no mercado como carry trade. São elas que permitem a um investidor tomar dinheiro em países estáveis, com taxas próximas a 3% ao ano, e aplicar no Brasil com retorno quatro vezes maior – e sem risco. Foi dessa maneira que o financista Warren Buffett, homem mais rico do mundo, revelou ter lucrado mais de US$ 100 milhões no ano passado.
O novo relatório, que elevou a previsão de crescimento do Brasil de 4,5% para 4,8% em 2008, é também um sintoma da guinada ideológica do FMI iniciada desde que o socialista francês Dominique Strauss-Kahn chegou ao poder na instituição. Aos poucos, o Fundo vem abandonando o receituário ortodoxo, do qual o Brasil ainda é o melhor aluno, e tem adotado um discurso mais aberto. “Todos os gênios do Banco Central sempre disseram que a taxa de juros não tinha nada a ver com a valorização do real”, disse à DINHEIRO o economista Delfim Netto. “Será que agora, com esse relatório do FMI, vão mudar de opinião?” No ano passado, o Brasil atraiu cerca de US$ 63,4 bilhões em recursos externos – boa parte em capital especulativo – e o real ganhou 20% em relação ao dólar. Só não se valorizou mais do que a moeda da Turquia – curiosamente, um país que disputa com o Brasil a liderança dos juros altos.
Apesar do alarme disparado pelo FMI, nada indica que o Banco Central tenha escutado. Com a próxima reunião do Comitê de Política Monetária marcada para a quarta-feira 16, as apostas apontam para uma pequena alta da taxa Selic. E a razão principal seria o recrudescimento da inflação. Com a divulgação do IPCA de março na semana passada, a taxa acumulada em doze meses chegou a 4,7% – acima da meta de 4,5%. “O Banco Central não pode dar um aviso e depois voltar atrás”, avalia o economista Ilan Goldfajn, que foi diretor do BC e comanda a Ciano, uma gestora de recursos.
Desta vez, porém, as pressões sobre o Copom são mais intensas e até mesmo o presidente Lula tem enviado recados ao Banco Central. Na quinta-feira 10, ao chegar à Holanda, para uma viagem oficial, Lula falou sobre a inflação, que tem aumentado não só no Brasil, mas no mundo todo, em rasão da alta dos alimentos e das matérias- primas. “Feijão e leite representam, numa inflação de 4,5%, 0,7 ponto. Se não fosse o feijão e o leite, teríamos a inflação a 3,8%. Ou seja, são dois produtos que temos condições de produzir em maior escala”, disse o presidente. A mensagem é clara. Juros mais altos no Brasil não teriam nenhum efeito sobre os preços das commodities agrícolas, que hoje contaminam os índices. Serviriam apenas para onerar a dívida pública e facilitar a vida daqueles que, como diz o FMI, ganham fortunas sem fazer esforço no Brasil.
Abraços,