Ciência e democracia- Paul Feyerabend
Enviado: 01 Mai 2008, 01:20
No espírito de cientistas e de leigos, a imagem da ciência do
século XX é decorrência de milagres tecnológicos, tais como a televisão
em cores, as viagens à Lua, o forno a raios infravermelhos
e de informações vagas, mas nem por isso de menor força — algo
como histórias fantasiosas — a propósito de como surgem tais
milagres.
Segundo essas histórias fantasiosas, o êxito da ciência é o
resultado de combinação sutil, mas cuidadosamente dosada, de
inventividade e controle. Os cientistas têm idéias e dispõem de métodos
especiais para desenvolvê-las. As teorias da ciência foram aprovadas
no teste do método. Proporcionam melhor visão do
mundo que idéias não passadas pelo crivo desse teste.
A história fantasiosa explica por que a sociedade moderna
dá à ciência tratamento especial e por que lhe concede privilégios
que não beneficiam outras instituições.
Idealmente, o Estado moderno é ideologicamente neutro.
A religião, o mito, os preconceitos exercem influência, mas tãosomente
de forma indireta, através de partidos politicamente atuantes.
Princípios ideológicos podem ingressar na estrutura governamental,
mas apenas por meio de um voto majoritário e após
longa discussão das possíveis conseqüências. Em nossas escolas,
as principais religiões são ensinadas em termos de fenômenos históricos.
São ensinadas como parte da verdade, na dependência de
os pais insistirem em mais direta forma de instrução. A eles cabe
decidir quanto à educação religiosa dos filhos. O apoio financeiro
às ideologias não excede o apoio financeiro dado a partidos e a
grupos privados. Estado e ideologia, Estado e Igreja, Estado e mito
estão cuidadosamente separados.
Estado e ciência, entretanto, atuam em estreita ligação.
Somas imensas são gastas no desenvolvimento de idéias científicas.Disciplinas espúrias, como a filosofia da ciência, que não
têm a seu crédito qualquer descoberta, beneficiam-se do crescimento
explosivo das ciências. Até as relações humanas são tratadas
de maneira científica, tal como evidenciam os projetos
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de educação, as propostas de reforma penitenciária e assim por
diante. Quase todos os assuntos científicos são matérias obrigatórias
em nossas escolas. Se os pais de uma criança de seis anos podem
decidir se ela receberá rudimentos de protestantismo ou de
judaísmo ou se não terá instrução religiosa alguma, não gozam esses
pais da mesma liberdade no que respeita à ciência. Física, Astronomia,
História devem ser estudadas. Não podem ser substituídas
por mágica, astrologia ou por um estudo das lendas.
Contra o Método Paul K. Feyerabend
http://www.4shared.com/file/31028992/f6 ... o.html?s=1
século XX é decorrência de milagres tecnológicos, tais como a televisão
em cores, as viagens à Lua, o forno a raios infravermelhos
e de informações vagas, mas nem por isso de menor força — algo
como histórias fantasiosas — a propósito de como surgem tais
milagres.
Segundo essas histórias fantasiosas, o êxito da ciência é o
resultado de combinação sutil, mas cuidadosamente dosada, de
inventividade e controle. Os cientistas têm idéias e dispõem de métodos
especiais para desenvolvê-las. As teorias da ciência foram aprovadas
no teste do método. Proporcionam melhor visão do
mundo que idéias não passadas pelo crivo desse teste.
A história fantasiosa explica por que a sociedade moderna
dá à ciência tratamento especial e por que lhe concede privilégios
que não beneficiam outras instituições.
Idealmente, o Estado moderno é ideologicamente neutro.
A religião, o mito, os preconceitos exercem influência, mas tãosomente
de forma indireta, através de partidos politicamente atuantes.
Princípios ideológicos podem ingressar na estrutura governamental,
mas apenas por meio de um voto majoritário e após
longa discussão das possíveis conseqüências. Em nossas escolas,
as principais religiões são ensinadas em termos de fenômenos históricos.
São ensinadas como parte da verdade, na dependência de
os pais insistirem em mais direta forma de instrução. A eles cabe
decidir quanto à educação religiosa dos filhos. O apoio financeiro
às ideologias não excede o apoio financeiro dado a partidos e a
grupos privados. Estado e ideologia, Estado e Igreja, Estado e mito
estão cuidadosamente separados.
Estado e ciência, entretanto, atuam em estreita ligação.
Somas imensas são gastas no desenvolvimento de idéias científicas.Disciplinas espúrias, como a filosofia da ciência, que não
têm a seu crédito qualquer descoberta, beneficiam-se do crescimento
explosivo das ciências. Até as relações humanas são tratadas
de maneira científica, tal como evidenciam os projetos
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de educação, as propostas de reforma penitenciária e assim por
diante. Quase todos os assuntos científicos são matérias obrigatórias
em nossas escolas. Se os pais de uma criança de seis anos podem
decidir se ela receberá rudimentos de protestantismo ou de
judaísmo ou se não terá instrução religiosa alguma, não gozam esses
pais da mesma liberdade no que respeita à ciência. Física, Astronomia,
História devem ser estudadas. Não podem ser substituídas
por mágica, astrologia ou por um estudo das lendas.
Contra o Método Paul K. Feyerabend
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