Lula, o inimigo da cultura
Enviado: 15 Jan 2006, 13:34
"Jornal do Brasil" 15/01/06
Leia, Lula, leia...
Augusto Nunes
Minutos antes do começo da gravação do Roda Viva no Planalto, o jornalista Paulo Markun combinou com Lula o detalhe derradeiro. Na hora do encerramento, exibiria o presente a ser entregue ao entrevistado: uma trilogia com os melhores momentos do programa exibido pela TV Cultura há 18 anos.
Markun explicou que só o primeiro volume estava pronto. Os demais tinham a capa e páginas em branco. Lula folheou um desses com expressão feliz. ''Isso é que é livro bom'', alegrou-se. ''A gente nem precisa ler''. Ninguém se espantou. Ler é pior que fazer exercício em esteira, confessou há tempos o chefe de governo.
Foi uma frase especialmente infeliz. O país se aflige com o analfabetismo, é assolado por um sistema educacional em frangalhos. Milhões de crianças não conseguem estudar. Meninos tão pobres quanto Lula seguem lutando contra a fome para absorver conhecimentos.
Não merecem ser agredidos por quem odeia escrever, nunca leu um livro e despreza o mundo da cultura. Em viagens internacionais, recusa-se até mesmo a consultar duas ou três páginas com dados essenciais sobre o país onde vai pousar o AeroLula.
Sem trabalho regular há décadas, sobrou-lhe tempo para melhorar a cabeça. Não o fez porque não quis. E com o aval de intelectuais petistas que transformaram infância pobre em faculdade. O migrante promovido a líder de massas é um doutor de berço.
Criticar seus freqüentes escorregões é coisa de elitista, repetem patrulheiros. Essa incelência farisaica abrandou a alma irônica do país, antes implacável com tais tolices e tropeços. Já fomos bem menos clementes com governantes trapalhões.
''A perda de vidas é irreversível'', disse Dan Quayle, vice-presidente no governo de George Bush pai. Foi soterrado por gargalhadas. ''Minha mãe nasceu analfabeta'', empatou Lula. A platéia fingiu não ter ouvido. ''Fiz uma viagem à América Latina e só lamentei não ter estudado latim para conversar com as pessoas'', delirou Quayle. Lula invadiu a China com as tropas de Napoleão. Silêncio na platéia.
Debochamos do presidente Ronald Reagan ao ouvi-lo saudar, em Brasília, a boa gente da Bolívia. Reagimos com fleuma britânica ao discurso em que Lula comunicou que a Bolívia não faz fronteira com o Brasil.
Há semanas, Lula apareceu para mais um discurso de improviso sobraçando um papel com anotações manuscritas. Os garranchos atestaram que o presidente ignora a grafia de palavras singelas. A boa formação intelectual não faz de ninguém um estadista. Mas nunca houve um estadista que detestasse leituras e escrevesse como criança.
Leia, Lula, leia...
Augusto Nunes
Minutos antes do começo da gravação do Roda Viva no Planalto, o jornalista Paulo Markun combinou com Lula o detalhe derradeiro. Na hora do encerramento, exibiria o presente a ser entregue ao entrevistado: uma trilogia com os melhores momentos do programa exibido pela TV Cultura há 18 anos.
Markun explicou que só o primeiro volume estava pronto. Os demais tinham a capa e páginas em branco. Lula folheou um desses com expressão feliz. ''Isso é que é livro bom'', alegrou-se. ''A gente nem precisa ler''. Ninguém se espantou. Ler é pior que fazer exercício em esteira, confessou há tempos o chefe de governo.
Foi uma frase especialmente infeliz. O país se aflige com o analfabetismo, é assolado por um sistema educacional em frangalhos. Milhões de crianças não conseguem estudar. Meninos tão pobres quanto Lula seguem lutando contra a fome para absorver conhecimentos.
Não merecem ser agredidos por quem odeia escrever, nunca leu um livro e despreza o mundo da cultura. Em viagens internacionais, recusa-se até mesmo a consultar duas ou três páginas com dados essenciais sobre o país onde vai pousar o AeroLula.
Sem trabalho regular há décadas, sobrou-lhe tempo para melhorar a cabeça. Não o fez porque não quis. E com o aval de intelectuais petistas que transformaram infância pobre em faculdade. O migrante promovido a líder de massas é um doutor de berço.
Criticar seus freqüentes escorregões é coisa de elitista, repetem patrulheiros. Essa incelência farisaica abrandou a alma irônica do país, antes implacável com tais tolices e tropeços. Já fomos bem menos clementes com governantes trapalhões.
''A perda de vidas é irreversível'', disse Dan Quayle, vice-presidente no governo de George Bush pai. Foi soterrado por gargalhadas. ''Minha mãe nasceu analfabeta'', empatou Lula. A platéia fingiu não ter ouvido. ''Fiz uma viagem à América Latina e só lamentei não ter estudado latim para conversar com as pessoas'', delirou Quayle. Lula invadiu a China com as tropas de Napoleão. Silêncio na platéia.
Debochamos do presidente Ronald Reagan ao ouvi-lo saudar, em Brasília, a boa gente da Bolívia. Reagimos com fleuma britânica ao discurso em que Lula comunicou que a Bolívia não faz fronteira com o Brasil.
Há semanas, Lula apareceu para mais um discurso de improviso sobraçando um papel com anotações manuscritas. Os garranchos atestaram que o presidente ignora a grafia de palavras singelas. A boa formação intelectual não faz de ninguém um estadista. Mas nunca houve um estadista que detestasse leituras e escrevesse como criança.