Quando a vida começa?

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spink
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Quando a vida começa?

Mensagem por spink »

Especialistas ainda divergem sobre as pesquisas com embriões


É sob essa pergunta que a sociedade vem colocando o debate sobre o uso das células-tronco em pesquisas genéticas. No entanto, o assunto vai um pouco além da questão ética de experiências com a vida humana e esbarra, entre outras coisas, na indústria médica.

Essa partícula do corpo humano, que dá esperanças a milhões de pessoas que querem ter uma vida normal, também é chamada de célula-mãe ou célula estaminal, já que possui a capacidade de se dividir. Pode, portanto, transformar-se em tecido para diversos órgãos do corpo.

A partir desse princípio, cientistas acreditam que seja possível encontrar a cura de doenças degenerativas e até mesmo de lesões ocorridas no sistema nervoso, possibilitando a reconstituição de matéria perdida. Mas, mesmo com a contra-partida positiva, extrair ou adquirir as células-tronco vem tornando a vida dos pesquisadores mais difícil do que deveria.

As células-mãe podem ser retiradas da medula óssea, sangue, fígado, cordão umbilical e placenta, além de outras partes do corpo. A melhor matriz, no entanto, segundo muitos estudiosos, é o embrião humano. Isso porque o embrião, por si só, já é uma célula-tronco, que tem a capacidade de se transformar em qualquer tecido, até mesmo do sistema nervoso; essa é sua principal característica, não encontrada em outros gêneros celulares.

E é aí que começa o imbróglio ético. Não só setores religiosos da sociedade, mas também parte dos cientistas vêem a utilização dos embriões para as pesquisas como a "destruição de uma vida". A presidente do Instituto de Pesquisa de Células Tronco e PhD em Ciências do programa de Biologia Molecular pela Universidade Federal de São Paulo, Lilian Piñero Eça, está entre os pesquisadores que se colocam contra o experimento científico em embriões humanos.

De acordo com Lilian, de 4 a 24 horas após o contato sexual, o embrião já começa a se comunicar com a mãe. A cientista estuda sinais de células no útero e, segundo ela, pelo menos 100 neurotransmissores são emitidos pelo embrião para os 75 trilhões de células existentes no corpo da gestante enquanto influenciam mudanças hormonais.

“Embrião não é pessoa humana, mas é vida humana. O Tratado Moore-Persaud, o maior tratado de embriologia do mundo, deixa claro na página 18 que o desenvolvimento humano é o encontro do espermatozóide e óvulo formando o zigoto, o individuo vivo com características únicas. Estamos falando do início da vida humana e não da pessoa, mas sem dúvida o início da vida humana”, argumentou.

Os riscos e vantagens da patente

A defesa dos estudos com embriões vai muito além do interesse médico de descobrir a cura para doenças degenerativas, segundo a pesquisadora.

“Eu pego a vida humana e faço células dela. Em 15 dias, o DNA da sua família é multiplicado por milhões, eu faço uma linhagem, que acaba se tornando imortal. Isso é purificado com o passar de um mês, um ano, dois anos, e o gene vai se mantendo no laboratório. Esse DNA, se eu vier a ter muito sucesso, pode ser patenteado e a sua família não vai ver o dinheiro, por exemplo. Só que as pessoas não enxergam isso, pois o que é apresentado é um grão em uma pequena agulha, sendo que aquilo pode vir a ser uma linhagem pura e patenteada até fora do meu país” exemplificou.

O primeiro laboratório do mundo a estudar células embrionárias foi o americano Thomson, em 1998. Antes de Thomson cientistas já haviam utilizado o tecido do câncer de útero da norte-americana Henriqueta Lakes, criando uma linhagem que recebeu o nome de HeLa, em homenagem à paciente.

A família de Henriqueta entrou com um processo contra o laboratório que patenteou o gene, mas perdeu a causa e hoje o HeLa é vendido a pesquisadores do mundo inteiro.

“Um pesquisador japonês, chamado Shinya Yamanaka tem mais de 1,3 mil publicações no mundo sobre células tronco. Ele conseguiu pegar a célula da pele e transformá-la em uma célula-tronco chave e, a partir daí, é possível amplificar os estudos sobre os mecanismos das células sem mexer com o embrião”, defendeu.

Lilian acrescentou, ainda, que as pesquisas tendem a mostrar que uma célula-adulta pode vir a se transformar em neurônio, ajudando na reconstituição de tecidos do sistema nervoso. O que elevaria as possibilidades e permitiria, de fato, mais condições de tratamento e cura.

Já o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e especialista em Medicina Reprodutiva, Dirceu Mendes Pereira, defende o uso de embriões por meio de dois argumentos: primeiro, o fato de as células embrionárias serem potpotentes, ou seja de poderem gerar qualquer célula do organismo; e, segundo, por não considerar que o embrião seja uma vida.

“As células adultas não tem o mesmo alcance porque são apenas pluripotentes (tem a capacidade de se multiplicarem formando tecidos), mas não potpotentes, ou seja, são limitadas. Além disso, nós não consideramos que o embrião seja uma vida, consideramos vida quando já existe o desenvolvimento dos primórdios do sistema nervoso, o que acontece por volta da sexta semana de gravidez. Antes, trata-se somente de uma vida em potencial”, declarou.

Quanto a questão da aplicação de patentes, Dirceu explicou que o governo deve acelerar a aprovação dos processos. “No caso das pesquisas não serem aprovadas, teremos que importar as células, que pagar royalties, por exemplo. Assim, vamos deixar que a nossa comunidade científica se prive dessa fonte de conhecimento”, concluiu.

A dúvida que ainda paira sobre a sociedade

Por mais que os pesquisadores defendam investimentos nos estudos das células embrionárias, desde que as pesquisas começaram nos Estados Unidos, há mais de 10 anos, não foi possível começar testes clínicos porque a multiplicação delas ainda não foi controlada. O resultado foram diagnósticos de tumores em animais de laboratório, utilizados como cobaia.

Por outro lado, cientistas como Yamanaka já conseguiram controlar células tronco adultas que já estão na fase de testes clínicos. É por isso que os estudiosos que defendem apenas a utilização de matrizes adultas acreditam que ainda neste ano essas células possam começar a ser aplicadas no tratamento direto aos pacientes.

Mas não há somente boas notícias: células tronco adultas não podem ser utilizadas em pessoas com doenças vindas de causas genéticas, porque nesse caso a matriz é tirada do próprio paciente (se for recebida de outra pessoa pode haver rejeição). No entanto, cada célula do nosso corpo carrega as mesmas informações genéticas, e aquela doença pode se manter presente e voltar a se desenvolver no momento oportuno.

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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Trancado